Patadas y Gambetas

Sampaoli indica fim de ciclo para um ex-intocável na seleção argentina
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Tales Torraga

Gonzalo Higuaín precisa se mexer. Se ele não se cuidar daqui para a frente, o amistoso de sexta contra o Brasil terá marcado sua despedida da seleção.

Fontes do blog revelaram uma verdadeira desilusão da nova comissão técnica de Jorge Sampaoli com o desempenho do camisa 9 da Juventus não apenas na estéril partida contra o Brasil, mas também nos treinamentos e no trabalho como um todo.

A falta de sintonia mútua resultou na dispensa do atacante para o amistoso das 9h desta terça (13) contra a inexistente seleção de Cingapura, em Cingapura. Higuaín, Messi e Otamendi não vão atuar por já estarem ''em modo descanso''.

O cabeludo auxiliar Sebastián Becaccece e o Pelado Sampa – La Nación/Reprodução

A amigos, Sampaoli afirmou que viu Higuaín lento e desconectado do restante dos colegas. El Pipita saiu da equipe no intervalo e é bem possível que não volte mais.

El Pelado Sampa diz abertamente que seu preferido é Mauro Icardi, 24, pela polivalência. Higuaín, beirando os 30, não tem físico nem técnica para o mesmo.

As escolhas ofensivas de Sampaoli ficaram bem claras em Cingapura.

Ele preferiu manter Icardi, se recuperando de lesão muscular, e dispensar Higuaín. Gonzalo poderia aproveitar a fraca defesa de Cingapura para ganhar crédito com o técnico e com a torcida que não cansa de apontá-lo como responsável pelas três finais perdidas. El Pipita, de fato, desperdiçou gols na decisão da Copa do Mundo contra a Alemanha e nas duas Copas Américas com o Chile, mas vinha sendo um intocável desde 2009, quando foi convocado pela primeira vez, por Maradona.

Higuaín é o quinto maior artilheiro da história da Argentina: são 32 gols em 68 jogos, média de 0,47 por partida. Seus 32 gols são a mesma quantidade do que fez exatamente Maradona. Com Sampaoli, este passado corre risco de não valer nada.

Tanto Higuaín quanto o sequer convocado Agüero não vão jogar só com o nome. Ambos terão uma conversa cara-a-cara com o Pelado Sampa para ouvir, sem intermediários, o nível de compromisso que a seleção agora vai exigir de todos.

Ou se adaptam – e se entregam – ou estão fora.

Simples assim.


Opinião: Argentina volta a ter um técnico de verdade depois de 11 anos
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Tales Torraga

Acabar com a banca do Brasil foi o de menos.

O 1×0 para a Argentina na verdade deveria ser 1×1 – pela bola nas traves ou porque a seleção de ''Tité'', já consolidada, com cara definida, foi melhor durante parte do primeiro tempo e todo o segundo.

Mas o que enche esta Argentina de esperança é saber que pela primeira vez em 11 anos realmente existe um técnico de elite segurando sua prancheta e gritando o gol como gritamos nosotros, así, re locos.

El Pelado Sampa tem um claro plano original de jogo, e ele pôde ser visto na primeira metade desta sexta em Melbourne. Na segunda parte vieram as variantes, e elas serão muitas, sempre de acordo com o adversário.

Sampaoli não está preso a nenhum sistema.

Sua careca brilhante pensa em todas as direções. É o Miguel Najdorf dos nossos tempos. Tem tudo a oferecer a uma seleção argentina que não contava com uma capacidade assim desde El Maestro José Pékerman, ali entre 2004 e 2006.

Que nos desculpem Coco Basile, Diegote Maradona, Checho Batista, Pachorra Sabella, Tata Martino e Patón Bauza.

Especialmente Sabella. Vice no Mundial de 2014, é claro que não esquecemos. Mas sua carreira de técnico foi curta demais, ao contrário do assistente brilhante e duradouro que foi. Nenhum dos seis esteve no nível que Sampaoli propõe desde já.

(''¡Sampa de mi esperanza, por favor!'', exclama hoje a gelada Buenos Aires.)

Acabar com o 100% do Brasil de ''Tité'' (incrível como um país culto como a Argentina consegue escrever errado nome tão simples, seria trauma de Pelé?) foi menos importante que perceber que 1) pela convocação, e 2) pelas mudanças, que Sampaoli não será morno. Ele será barulhento como o rock que estamos citando há dias. Está em curso uma grande mudança de geração. Só não vê quem não quer.

Mesmo os viejos que seguem, como Di María e Messi, já atuaram diferente.

Di María se colocou bem aberto na esquerda, encarando e tentando cruzamentos venenosos. Messi está menos sozinho, buscando mais tabelas, as poucas que acertou hoje com Dybala já são um bom indício, embora Lio no segundo tempo tenha pensado mais em sua lista de casamento do que no amistoso em si.

O gol foi de Mercado, justamente o primeiro contratado por Sampaoli no Sevilla. Sinal claro: esta Argentina vai contar com a sabedoria – não com a casualidade.

Já não era tempo. Chega de dar vantagem.


Que o Brasil cuide da defesa e das canelas contra a Argentina de Sampaoli
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Tales Torraga

Amistoso? Claro que não. Contra o Brasil nunca é amistoso para a Argentina.

Muito menos agora, no pico de preparação e estresse da batalha contra o Uruguai, em 31 de agosto, no Centenário, pelas Eliminatórias.

Clarín/German Adasti

Que ninguém espere outra coisa a não ser 11 perros argentinos alucinados atrás da bola e dos brasileiros em Melbourne. É, disparado, um dos jogos não-oficiais mais apimentados vividos aqui por esses lados portenhos.

O começo da nova história escrita por Jorge Sampaoli e ilustrada por Lionel Messi deve ser marcada por adrenalina – como o rock que tanto faz a careca de Sampa.

Todos os homens de azul e branco têm muito o que levar a sério nesta sexta.

Desde o camisa 1, Chiquito Romero, que sabe: pelo estilo de jogo de Sampaoli, o goleiro preferido é Nahuel Guzman, pela capacidade com a bola nos pés.

A defesa, então, já está acertada para atuar com a típica rispidez argentina.

Não vai haver deslealdade. É que Gabriel Mercado, Jonathan Maidana e Nicolás Otamendi vão obviamente abusar do roce físico e da intensidade – serão as armas para parar Suárez e Cavani no combate de Montevidéu (e das caneleiras de titânio).

A este trio de zaga vai se juntar também José Luis ''Pela'' Gómez, do Lanús, que se caracteriza tanto pelo fôlego dos 23 anos como em dar tudo em todas as divididas.

Os volantes são cruciais para Sampaoli.

Era assim no Chile com Marcelo Díaz, que lhe oferecia segurança e circulação. Para Pelado Sampa, esta é uma área de campo mais quente que o mate. Vem daí a escolha por dois experientes como Lucas Biglia e Ever Banega. Banega será o 5 clássico, exatamente como jogava no Boca de 2007 com Miguel Ángel Russo.

E ninguém precisa ser muito letrado em futebol para imaginar que o 5 clássico argentino joga de muitas formas – mas nenhuma delas como um santo.

Já falamos de patadas, agora vamos de gambetas, com os quatro fantásticos que Sampaoli escala juntos pela primeira vez: Di María-Messi-Dybala-Higuaín.

Este ataque AAA pode machucar e muito um Brasil que, vale lembrar, vai atuar sem Daniel Alves, sem Marcelo e sem Casemiro. Sampaoli tem uma verdadeira devoção tanto por Di María quanto Messi. E para ele a dupla Dybala-Higuaín é intocável – tão intocável que ele a princípio respeitaria o descanso de ambos depois da final de Cardiff, mas a surra do Real em cima da Juve mudou os planos.

Os planos argentinos são esses.

Os do Brasil, a princípio, são dois: cuidar da defesa. E das canelas.

Esta Argentina vai ser agressiva como um rock n'roll – el nuestro rocanrol, o melhor rock do mundo, e quem discordar é só dar play aqui embaixo.

Está até na capa de hoje do ''Olé''. Cuidem-se, muchachos.


A noite em que o Maracanã gritou “olé!” para a Argentina contra o Brasil
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Tales Torraga

O Brasil x Argentina desta sexta na Austrália está animando os portenhos a resgatar grandes momentos argentinos sobre o Brasil em amistosos. E há um bem histórico por esses lados que os brasileiros talvez até já tenham esquecido.

Foi na preparação para a Copa de 1998, quando a Argentina de Gabriel Batistuta e Daniel Passarella venceu o Brasil de Romário, Ronaldo e do técnico Zagallo.

Piojo López – Reprodução / Olé

O jogo foi bem chato e terminou 1×0 para a Argentina, gol de Claudio “Piojo” López aos 39 minutos do segundo tempo, para total raiva das mais de 100.000 pessoas que encheram o Maracanã. Foi o primeiro triunfo argentino no estádio em 41 anos.

A revolta com o Brasil de Zagallo foi tamanha que o Maracanã explodiu de gritar “olé!” a cada vez que os argentinos tocavam a bola.

Não era, óbvio, por admiração à seleção de Zanetti, Simeone, Ortega e Verón – e sim para detonar a Seleção do Velho Lobo e seu ''vocês vão ter que me engolir''.

O Brasil teve Taffarel, Cafu, Júnior Baiano, Aldair (Cléber) e Roberto Carlos; Zé Elias, César Sampaio, Raí (Leonardo) e Denilson (Edmundo); Ronaldo e Romário.

Ronaldo, Batistuta e a loucura argentina no ''Maracaná'' – Reprodução/Futebol Portenho

O passarellismo argentino na noite carioca: Burgos, Vivas, Ayala e Sensini; Zanetti, Almeyda, Verón, Ortega (Delgado) e Simeone; Piojo López (Pineda) e Batistuta.

A resposta brasileira veio na Copa do Mundo da França, três meses depois. A Argentina parou nas quartas-de-final, na Holanda – vencida pelo Brasil na semi. A seleção de Zagallo acabou varrida na decisão por 3×0 pela França de Zidane.

Quem escreveu bem (e bastante) sobre este amistoso tempos atrás foi o site ''Futebol Portenho''. O resgate está detalhado e caprichado, aqui.


Sampaoli inova e abre treinos da Argentina para troca pública de ideias
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Tales Torraga

Jorge Sampaoli nem bem chegou à seleção argentina e já marcou presença em uma das áreas que mais faz questão de dominar: a tecnologia e a produção de conhecimento coletivo. El Pelado Sampa parou a bola e decretou que não quer se apropriar de nada do que faz. Pelo contrário. Ele quer mais é que todo e qualquer interessado a respeito ofereça ideias e o ajude a comandar a Argentina.

No melhor estilo Loco Bielsa, Sampaoli passou a produzir imperdíveis relatos de seus treinamentos com a Argentina. O conteúdo é público e distribuído pela AFA.

Sampaoli contratou um profissional de comunicação à parte para cuidar apenas daquilo que pretende ter como marca à frente da seleção: produzir muito conteúdo e colocar este conteúdo à prova em eternas discussões.

(E El Pelado Sampa apenas por isso já merece muitos aplausos.)

GERMAN GARCIA ADRASTI/CLARÍN

O ''chefe de imprensa'' pessoal de Sampaoli é Ezequiel Scher, um portenho de apenas 26 anos, mas que tem tudo para dar conta do recado e brilhar.

É um buena onda total, de ótimos relacionamentos com a intrincada mídia do país, e capaz de ocupar o cargo com aquilo que os argentinos exigem tanto quanto um bom futebol: uma boa escrita para ser degustada entre mates e vinhos.

O diário de Sampaoli já está aberto nas redes sociais da AFA para que as sugestões sejam lidas e eventualmente aplicadas caso Jorge assim pretenda.

E ler os relatos de Sampa, escritos por Scher, já virou uma das delícias do dia:

''Como nosso estilo é de uma cultura de jogo que aponta para a racionalidade, nos parece justo divulgar os detalhes do que estamos fazendo'', descreve parte do relatório de ontem, que chega até a sugerir uma certa poesia nos trabalhos realizados no gramado de Melbourne, na Austrália, onde na sexta enfrenta o Brasil.

''O objetivo do treinamento de hoje era o jogo e a recuperação depois de perder a bola. O que se requer é dominar. Para a recuperação depois de perder a bola, o único que nos resta é viajar juntos. Para jogar, que nos una o passe.''

O rodapé do diário de Sampaoli é também um daqueles brindes que só mesmo as mentes muito elevadas são capazes:

''Este relatório é para treinadores, imprensa e apaixonados pelo jogo''.

Así, de una. ¡Qué golazo!


Como Francescoli virou o discreto mentor de Zidane no Real campeão de tudo
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Tales Torraga

Ex-jogador e ex-técnico do Real Madrid, o argentino Jorge Valdano, hoje com 61 anos, é uma das maiores inteligências do esporte em todos os tempos.

Seu apelido em Buenos Aires diz tudo: ''O Filósofo''.

Em papo com a FOX Sports portenha na semana passada, Valdano contava, com a prosa inigualável de sempre: ''Das grandes surpresas que Zidane sempre me demonstra, a maior é sua faceta de comunicador. Ele é muito tímido. Ele gera muito respeito pelo grande jogador que foi. Zidane escuta muito e fala pouco, e o que ele fala tem um poder muito forte. Quando ele fala, as pessoas nem tossem. Zidane instalou o sorriso no clube em um ambiente antes muito pesado com Mourinho''.

Zidane e Francescoli em evento da Fifa – Divulgação

Zidane, taça após taça, deixou para trás toda e qualquer desconfiança.

E sua facilidade ao lidar com os colegas de trabalho e ter uma positiva voz de comando é a reprodução fiel da mais perceptível qualidade profissional de hoje de seu antigo ídolo e atual grande amigo, o uruguaio Enzo Francescoli, de 55 anos.

O técnico francês venera tanto Francescoli que os contatos entre os dois pelo celular são frequentes – especialmente nos momentos decisivos, quando Zidane encontra, na amizade com Enzo, a relação perfeita para trocar confidências com um confiável interlocutor que está muito longe dos holofotes europeus.

Francescoli hoje é dirigente do River Plate – e o blog apurou com pessoas ao seu redor que a grande conversa fora da rotina da decisão do Argentino entre River e Boca era em como Enzo estava vibrando e colaborando com o amigo merengue.

Zidane, vale lembrar, tem tamanha paixão por Enzo que reproduziu o nome – Enzo – em seu filho mais velho, de 22 anos, que também joga como meia, no Real B.

A final do Interclubes de 1996, quando Zidane e Francescoli se enfrentaram no título da Juve sobre o River, não entrou para a história apenas pelo confronto – mas também por Zidane ter trocado camisas com o ídolo e ter até dormido com o uniforme tão logo o ganhou, e também por meses a fio, como um pijama.

A paixão de Zidane por Francescoli vem dos tempos em que o uruguaio jogou na França, entre 1986 e 1990 – primeiro no Racing de Paris, depois no Olympique.

Francescoli demonstrou ser um expert em comunicação efetiva e silenciosa por uma razão totalmente justificada. Ele foi sócio nos Estados Unidos da GolTV, emissora especializada em esportes, e absorveu todo o conhecimento que pôde, fazendo treinamentos e compartilhando com Zidane tudo o que aprendeu.

Como virou rotina nos últimos anos, Zidane e Francescoli se encontraram no mês passado em Madri. Zinedine foi perguntado sobre o ''mestre Francescoli'' em plena entrevista coletiva depois do Real. E o jornal ''Olé'' não perdoou, cravando perfeito: ''Cai até uma baba da boca de Zidane quando ele começa a falar''.


Sampaoli paga para treinar Argentina: salário será só 50% do que ganha Tite
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Tales Torraga

Jorge Sampaoli foi apresentado ontem (1º) como novo técnico da seleção argentina, mas sua relação com a AFA começou com um desgaste que poucos imaginavam.

Tudo porque a dirigência da Associação Argentina de Futebol resolveu jogar pesado com o treinador e com sua famosa ansiedade. Absolutamente tudo foi rediscutido no contrato assinado na manhã desta quarta-feira. Prazos, termos e, claro, valores. Muitos valores.

E é onde moram as cifras que Sampaoli demonstra estar assumindo a Argentina realmente por amor à pátria – em que pese a pouca confiança nos empregadores.

Sampaoli e Chiqui Tapia, presidente da AFA – Divulgação

De acordo com o jornal ''La Nación'' e com fontes consultadas pelo blog, Sampaoli precisou engolir uma redução drástica em seus salários. Sua pedida inicial era R$ 8,12 milhões por ano, valor individual que não incluiria seus 11 assistentes. O contrato acabou assinado por R$ 5,5 milhões anuais. E a quantia vai servir para pagar também os oito ajudantes, três a menos do que o pensado – e esses profissionais serão bancados pelo próprio Pelado Sampa, o careca Sampaoli.

(Tite, seu adversário no amistoso do dia 9, recebe R$ 10,5 milhões, quase o dobro do que seria o rendimento bruto de Sampaoli, sem o desconto de seus assistentes.)

A grande manobra da AFA com Sampaoli, por sinal, foi devorar sua conta bancária para pagar a multa rescisória ao Sevilla.

A saída custou R$ 5,47 milhões – deste valor, Jorge tirou R$ 3 milhões do próprio bolso. Este é o valor do bônus de desempenho que ele receberia por classificar o Sevilla à Liga dos Campeões e por terminar o Campeonato Espanhol em quarto.

Sampaoli pediu ao clube para usar este valor no abatimento da rescisão. A AFA, assim, vai pagar em parcelas os R$ 2,47 milhões restantes ao Sevilla, prometendo também zerar o ''investimento'' com Sampaoli, que agora lida com o desconforto de confiar em quem só está fechando a torneira quando a questão é o dinheiro.

A AFA ainda deve salários a Tata Martino e a Carlos Bilardo – e Sampaoli, aos 57 anos, iniciando sua trajetória na seleção, talvez não encontre portas abertas na volta ao mercado europeu em caso de frustração com o seu país.

O aperto nas contas acabou significando também o recuo na estratégia para adoçar Lionel Messi: até segunda ordem, Pablo Aimar, seu ídolo de infância, não será um dos assistentes de Sampaoli neste começo de ciclo.

Pelo menos a duração do acordo foi do agrado de Sampaoli. Seu vínculo com a seleção argentina vai durar até a Copa de 2022, que será disputada no Catar.


O Jorge Sampaoli que o Brasil não conhece
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Tales Torraga

A era Jorge Sampaoli na seleção argentina começa nesta quinta (1º) com sua apresentação no prédio da AFA no bairro de Ezeiza, pertinho do aeroporto internacional. Ansioso, obcecado e camaleônico são três boas definições para este homem de 57 anos que vive, a partir de hoje, o grande sonho de sua vida.

Contamos sete histórias desconhecidas no Brasil que mostram como El Pelado Sampa, enfim, chegou lá – como grande argentino luchador y corajudo que é.

Sampaoli nos tempos de jogador amador – La Nacion/Reprodução

O MARADONA DE CASILDA. Sampaoli era canhoto e baixinho – o suficiente para ser chamado de Maradona em sua cidade, Casilda, na província de Rosário. Mas não era a qualidade de seu futebol nos campos de várzea que o fazia ser comparado a Diego, e sim sua verdadeira obsessão pelo jogo. Falava sobre futebol 24 horas por dia e estava sempre por dentro de tudo o que rolava na Argentina e no exterior. De tão ansioso, chegava à banca de jornal mais perto da sua casa antes mesmo de ela abrir. ''Jorge era insuportável, andava sozinho repetindo escalações em voz alta'', contaram seus vizinhos da época às TVs argentinas nesta semana.

CAIXA DE BANCO. Sampaoli corria atrás da bola e atrás do sustento para seus sonhos esportivos. Trabalhou como caixa do Banco Santa Fe em Casilda justamente para bancar suas aventuras jugando la pelota. Tinha 19 anos. Aos 20, depois de brigar com um torcedor do Boca em plena agência, foi mandado embora.

FANÁTICO PELO RIVER. O hoje técnico da seleção argentina sempre foi um apaixonado torcedor do River Plate. Sua obsessão era tamanha que ele pintava seu quarto com o vermelho e branco do clube e deu ao cachorro da família o nome de Beto Alonso. Ia sempre ao Monumental de Núñez – mas não tinha dinheiro para pagar a entrada, e aí pulava as catracas com os demais colegas de Casilda.

BIELSA A TODO MOMENTO. Muita da obsessão de Sampaoli é inspirada em outro grande excêntrico argentino: Marcelo El Loco Bielsa. Até hoje Jorge costuma correr e fazer musculação, duas coisas que tem como verdadeiras religiões, ouvindo áudios de palestras de Bielsa – atuais ou antigas, não importa.

Sampa e a famosa foto da árvore – Diário de Rosário/Reprodução

O LOUCO DA ÁRVORE. El Pelado Sampa era técnico da várzea de Rosário quando foi expulso e precisou sair de seu posto em um campo que sequer arquibancada tinha. Ele não se fez de rogado. Escalou uma árvore que tinha logo atrás do muro que separava o campo da calçada e ficou comandando sua equipe, o Alumni, de Casilda, de lá. Sampa tinha 35 anos. A foto é clássica.

FILHO DA RUA. Sampaoli sempre foi autodidata e sempre teve uma frase das mais fortes para definir seus métodos de ensino: ''As ruas foram a minha universidade e as pessoas, principalmente as mais humildes, meus melhores mestres''. Dizia que mais aprendeu em um ano convivendo com a barra-brava do River do que em sua vida toda ao lado de jogadores de futebol.

LEVA O ROCK NA PELE. Jorge é tão apaixonado pelo rock argentino que tem duas tatuagens com referências às suas músicas e discos preferidos. De Prohibido, do grupo Callejeros, tatuou o refrão ''No escucho y sigo''. E de Oktubre, mítico álbum dos Redonditos de Ricota, simplesmente resolveu ''fechar'' o antebraço.

Para ouvir: Prohibido e o álbum Oktubre.

Sampa com seu ''Oktubre'' – El País/Reprodução

 


Doping, suborno e ameaça de morte tumultuam o final do Campeonato Argentino
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Tales Torraga

Quando apresentamos o atual Campeonato Argentino, no já distante agosto, falávamos que este seria o “Torneio dos Loucos”, e o que está acontecendo agora, na reta final, mais do que confirma esta previsão – mostra que a insanidade argentina está batendo um recorde por semana.

Em campo, o campeonato está excelente, histórico.

River x Central no último domingo em Núñez – Olé/Reprodução

A quatro rodadas do fim, o Boca é o líder com quatro pontos de vantagem para o River. Mas o clube de Núñez tem um jogo a menos, que será cumprido justamente nesta quarta-feira às 20h15 (de Brasília) contra o Atlético Tucumán, em Tucumán.

É aí que começa a loucura.

O técnico do Tucumán é Pablo Lavallén, jogador prata da casa do River e confesso torcedor do time. Pois os torcedores do próprio River ameaçaram matar ele e a família caso o Tucumán vença e atrapalhe o Millo na caçada ao Boca.

Este não é o único escândalo desta partida.

É do conhecimento de todos que o Boca vai destinar uma “mala branca” ao Tucumán para incentivar o time na batalha desta quarta. Tal atitude foi antecipada pelo Cabezón Oscar Ruggeri, ex-capitão da seleção argentina, e o River condenou a atitude relembrando os casos de suborno e guerra de interesses do Boca sobre os árbitros, que estariam plenamente acuados nessas rodadas finais.

Somando-se a esta balbúrdia, veio a confirmação de um preocupante doping.

Quem deu positivo em um teste foi o excelente zagueiro Figal, do Independiente, que enfrentaria justamente o Boca neste domingo em um daqueles jogos de realmente arrebentar as caneleiras. Ele foi flagrado com substâncias diuréticas que eliminariam os resultados da droga no corpo.

Nesta lista de embaraços, ainda sequer mencionamos a greve dos jogadores contra a falta de salários no começo deste ano.

Toda a loucura ao redor do gramado não tira a monstruosa comoção que a reta final deste campeonato está gerando. Desde o Apertura 2008, com o título do River do Cholo Simeone sobre o Boca, que os dois gigantes argentinos não brigavam assim, pata a pata, pela principal conquista do país.

(Houve também o Torneio Final de 2014, claro, mas ali o River de Ramón Díaz já estava seguro à frente do Boca de Carlos Bianchi e terminou cinco pontos à frente.)

Querem três exemplos desta loucura toda?

1: Emiliano Díaz, filho e assistente do histórico técnico do River Ramón Díaz, foi filmado estraçalhando uma camisa do Boca na Arábia, onde trabalha hoje.

2: Esta briga Boca x River pelo título fez dois comentaristas quase saírem na mão ontem no Fox Sports Rádio portenho.

3: Para quem se encanta com ''aeroporco'' ou ''aerofla'', o River foi recebido por 5.000 torcedores na chegada a Tucumán na noite de ontem.



Vejam o que falta para cada um dos candidatos na reta final deste enlouquecedor Campeonato Argentino:

BOCA (53 PONTOS)
Independiente (C), Aldosivi (F), Olimpo (F) e Argentinos Juniors (C)

RIVER (49 PONTOS)
Atlético Tucumán (F), San Lorenzo (F), Racing (C), Aldosivi (C) e Colón (F)

NEWELL’S (48 PONTOS)
Argentinos Juniors (F), Lanús (C), Belgrano (F) e Godoy Cruz (C)

BANFIELD (48 PONTOS)
Gimnasia (F), Rosário Central (C), San Lorenzo (F) e Racing (C)

C = casa / F = fora


Como Maradona está por trás do calvário de Centurión na Argentina
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Tales Torraga

Mais que o pedido de prisão e a escandalosa rejeição que passou a sofrer em toda a Argentina pela acusação de agredir sua ex-namorada, Ricardo Centurión, 24, passou a lidar com o pior dos inimigos para um jogador de futebol na Argentina: ninguém menos que El Diez Diego Armando Maradona, 56.

A desavença entre Maradona e Centurión não tem nada a ver com o episódio de violência doméstica – e sim com uma relação que dá o que falar em Buenos Aires.

Segundo o apresentador de rádio e TV Jorge Rial, um dos mais assistidos do país, Centurión e Rocío Oliva, ex-namorada de Diego, mantiveram um romance, o que desatou a raiva do Diez ao ser trocado justamente pelo atual camisa 10 do Boca.

O apresentador garantia que Maradona havia ligado para Daniel Angelici, presidente do Boca, exigindo a cabeça de Centurión. E ontem, na Casa Amarilla, o CT da equipe, a primeira coisa que Angelici fez ao chegar de longa viagem foi se reunir com o jogador – tanto que virou hoje a capa do jornal “Olé”.


Maradona passou a ser um homem-forte dos interesses do futebol argentino pela proximidade com Gianni Infantino, presidente da Fifa. Diego é praticamente seu braço-direito para assuntos na América do Sul. Outra desavença de Maradona, com o apresentador Marcelo Tinelli, acabou custando inclusive a saída do inimigo da diretora recém-formada pela AFA, a Associação Argentina de Futebol.

Maradona tratou Centurión como um “bêbado e drogado”, segundo Jorge Rial, o que não deixa de ser incômodo de ouvir mediante o triste passado de Diego.

Triste também é a outra ironia deste caso.

Centurión tem uma tatuagem justamente de Maradona em sua panturrilha.

Centurión no São Paulo – Taringa/Reprodução

Quando falamos que a Argentina é o país do futebol mais louco do mundo, é disso que estamos falando, entre muitas otras cositas más.