Patadas y Gambetas

Equador expulsa 5 jogadores da seleção depois de perder para a Argentina
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Tales Torraga

A atuação de Lionel Messi foi espetacular, mas não vamos brigar com os fatos: o Equador esteve entregue e sem grandes vontades de fazer frente à Argentina.

E o pior veio nesta quinta-feira (12), com a Federação Equatoriana de Futebol oficializando a expulsão de cinco jogadores ''afastados por tempo indeterminado das próximas convocações do país''.

Dois deles atuam no Brasil: Jefferson Orejuela (Fluminense) e Robert Arboleda (São Paulo), que enfrentaram a Argentina, além de Enner Valencia (Tigres-MEX), Gabriel Cortés (Independiente del Valle-EQU) e João Plata (Real Salt Lake City-EUA).

A razão oficial foi explicada pelo presidente da Federação, Carlos Villacis: ''Todos eles cometeram o ato de indisciplina de sair da concentração da seleção na madrugada de sexta para sábado e voltar às 2h20''.

''Soubemos desta informação no dia da partida contra a Argentina, e só agora pudemos fazer alguma coisa'', falou Alex De la Torre, vice-presidente da Federação.

Segundo apurou o blog, foi um próprio jogador da seleção que ''dedurou'' os companheiros ao informar, a um jornalista equatoriano, da escapada dos colegas.

Escapando também está a coerência dos argentinos, torcedores e jornalistas, que colocam a atuação de Messi ante o Equador no mesmo nível de Maradona contra a Inglaterra em 1986 e Kempes na conquista da Copa frente à Holanda em 1978.

Como colocar este Equador sem vida na dimensão da Copa dos militares e da Guerra das Malvinas vencida por Diego?

Cómo?!


Perdão, criançada. Vocês tinham razão com o Messi
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Tales Torraga

Em todos os momentos, até nos piores, isso aconteceu.

Enquanto ele caía, perdia finais, ''fracassava''.

Enquanto errava pênaltis, fazia gols no Barcelona mas não na Argentina, e não cantava o hino, e olhava para o chão, e não despertava, e ainda renunciava.

Enquanto o mundo falava da gente graças a ele, e a gente falava pestes dele: que não tem a personalidade de Diego, que não é líder, que não te salva nunca.

Enquanto tudo isso ocorria, aconteceu.

Escolinha de futebol em Buenos Aires – Reprodução La Nación

Aconteceu em qualquer campinho de bairro, em qualquer praça e qualquer casa.

Em qualquer escolinha de futebol, e em todos os estádios do mundo com golzinhos improvisados com latinhas e camisetas.

A criançada sempre esteve com a 10. Sempre.

Com a da Argentina ou com a do Barça, mas sempre com a 10 dele.

Foram eles, os menores, que nunca deixaram de acreditar. Que o apoiaram enquanto nós, os adultos, repetíamos que o traje havia ficado grande para ele.

Em todo momento, eles, os menores, nunca duvidaram que este super-herói chegaria a tempo para salvar nosso mundo.

Quanta razão tinham.

* Foi esta a genial – como sempre – coluna do colega Mariano Murphy no ''Olé'' de ontem (11). É com ela que desejamos hoje (12) um feliz Dia das Crianças a todos.


Opinião: Argentina campeã na Rússia. É só copiar o Brasil
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Tales Torraga

Uma domina a Eliminatória com recorde – e cai fora logo na primeira fase da Copa.

A outra se classifica só no sufoco e só no último jogo – com dois gols na sequência, depois de medos e dúvidas, depois de trocar técnico e jogadores.

Festa argentina em Quito – Olé/Reprodução

Que o Brasil abra o olho muy bien.

A Argentina comandada pela então sumidade Loco Bielsa despencou do salto e sequer foi às oitavas do Mundial da Ásia, 15 anos atrás.

Bielsa era sumidade, e esta sumidade agora é Tite.

Faz tempo, claro. O exato período que o Brasil não ganha a Copa na qual se garantiu só com muito sofrimento e só com os gols de Luizão salvando Felipão.

Desta vez, Messi salvou Sampaoli.

Aquele Brasil tinha Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo. Era un equipazo infernal. E ainda assim quase não foi ao Mundial.

O mesmo passou agora com Mascherano, Dybala, Icardi, Agüero, Di María e este Messi que hoje calou – e fez gritar como nunca – uma Argentina que só ela, só a Argentina, é capaz de matar seu craque-mor. É o unico país no mundo credenciado a tamanha crueldade. Eis excelente chance para pedir desculpas e rever relações.

Sofrer tem suas vantagens. É a chance de se observar o que se fez de mal e corrigir. Foi o enredo do Brasil em 1970, 1994 e 2002. Foi o que a Argentina repetiu em 1986. Dos últimos cinco títulos sul-americanos na Copa do Mundo, apenas a Argentina em 1978, na bola e na marra, não tremeu nos meses anteriores.

Sampaoli terá tempo e terá as peças com as quais sonhou. Terá também a tranquilidade que não teve sequer por minutos desde que assumiu esta Argentina.

O jogo contra o Equador era um trâmite – quem lê o blog sabe disso desde o 0x0 com o Peru. Não somos e nem fazemos ninguém de boludo. O caminho argentino ao Mundial já estava traçado desde a virada do Paraguai sobre a Colômbia.

Sampaoli e Messi agora vão traçar o caminho até a taça.

Já sabem bem por onde começar: olhando para o Brasil de 2002.

Inspire-se na ressurreição de Ronaldo, Gordo Higuaín!

Com este Messi em ''modo Barcelona'', a Argentina está pronta até mesmo para ganhar da Alemanha na final, como naquela vez em Yokohama. 2×0. Dois de Higuaín. O primeiro no frango de Neuer. O segundo no corta-luz de Messi.


Argentina joga “com 12” na decisão contra o Equador
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Tales Torraga

Qué raro! A calma reina na seleção argentina na prévia do jogo mais importante das últimas décadas, o das 20h30 desta terça (10) em Quito contra o Equador.

Ruggeri (boné) e Chiqui Tapia, presidente da AFA – Reprodução Clarín

O blog apurou que jogadores, dirigentes e até o explosivo técnico Jorge Sampaoli estão serenos e espantosamente equilibrados para este compromisso que vai encaminhar a sequência argentina rumo à Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

(O relaxamento é tamanho que até um ''trem da alegria'' com os campeões mundiais Tarantini (1978), Ruggeri e Burruchaga (1986) está deixando o ambiente de Quito mais descontraído e a cobertura da TV repleta de piadas, mirá vos…)

A calma está personificada em Luis Juez, o embaixador da Argentina no Equador.

Juez (esquerda) recebe camisa da seleção / Reprodução TN

Juez é olhado pelo establishment da Argentina como o futuro presidente da AFA. Muitos jornalistas o tratam como um ''Julio Grondona com ética'', em óbvia referência ao eterno mandatário do futebol no país, morto há três anos.

Hábil como um Maradona das esferas políticas e esportivas, Juez foi o braço-direito das façanhas argentinas no Equador neste ano com a classificação da seleção sub-20 e do Atlético Tucumán, que chegou ao país às pressas e bateu, na altitude de Quito, o Nacional para ficar com a inédita vaga na Libertadores.

Advogado, Luis, 64, foi senador da província de Córdoba. Torcedor-símbolo do Talleres, fez questão de recepcionar pessoalmente a seleção e os torcedores que estão no Equador. Organizou um jantar com a melhor carne argentina para toda a delegação e só pediu ''un poco de buena onda'' aos jornalistas que cobrem o jogo.

Querido e carismático, Juez é também o responsável pelo acordo comercial que possibilita a volta da venda da carne argentina no Equador depois de uma década. O embargo vinha desde a crise da febre aftosa em 2006 – e é justamente um frigorífico da sua Córdoba natal que está à frente do retorno das exportações.

Carne argentina no Equador / Reprodução site Agrovoz

A vitória argentina nesta noite é certeza nas casas de apostas.

Não importa que a seleção não jogue absolutamente nada e não ganhe de ninguém há cinco rodadas. Não se leva em consideração também que a Argentina não vence na altitude desde 2005 – em Quito, desde 2001.

O triunfo argentino nesta noite devolve só R$ 1,36 a cada R$ 1,00 apostado, contra R$ 4,75 do empate e surreais R$ 10,00 da vitória do Equador, segundo o ''Bet365''.

Enquanto a Argentina joga a vida, o Equador do técnico argentino Jorge Célico – que substitui outro treinador argentino, Gustavo Quinteros – joga relaxado, quase pensando nas férias. Só cumprem tabela. Estão no direito. Tranqui tranqui.

Entre Bariloche, Mendoza e Mar del Plata, em janeiro recomendamos Mardel.


Messi jamais venceu na altitude (e isso desespera a Argentina…)
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Tales Torraga

Lionel Messi, de 1,70 metro, não é amigo da altura. Não a física – e sim a altitude que volta a enfrentar nos 2.850 metros de ar rarefeito de Quito, onde a Argentina pega o Equador precisando ganhar de qualquer jeito para ir ao Mundial da Rússia.

Há um detalhe que desespera demais esta Argentina ''Messidependente'' como poucas outras seleções: o gênio do Barcelona jamais venceu na altitude, cenário que será visto no dramático jogo das 20h30 (de Brasília) desta terça-feira (10).

Messi vestiu azul e branco acima do nível do mar em cinco ocasiões, sempre pelas Eliminatórias: duas em La Paz (3.600 metros), duas em Quito (2.850) e uma em Bogotá (2.600). Foi na Colômbia, aliás, que fez seu único gol na altura.

Dessas cinco partidas, Messi empatou duas e perdeu três. E protagonizou a aflitiva cena de ser visto vomitando em La Paz no 1×1 contra a Bolívia em 2013.

Messi vomita em La Paz – Clarín/Reprodução

O jejum de Messi na altitude dura exatos dez anos – desde a derrota por 2×1 para a Colômbia em Bogotá em 2007, quando fez o gol. Depois vieram duas derrotas em 2009: o histórico 6×1 para a Bolívia e o 2×0 para o Equador (o que já dá calafrio…).

As últimas duas idas de Messi à altitude pelo menos não terminaram em derrota. Em 2013, 1×1 contra a Bolívia, em La Paz; depois, 1×1 com o Equador, em Quito.

A altitude não traz boas lembranças a Messi nem quando ele está fora de campo.

Foi em La Paz, em março deste ano, que ele viveu a apreensão de ser ou não escalado na derrota por 2×0 para a Bolívia. Messi xingara o bandeirinha no jogo anterior, o 1×0 sobre o Chile, e acabou suspenso da partida só poucas horas antes.

A Argentina não vence em Quito há 16 anos, desde um 2×0 pelas Eliminatórias para a Copa de 2002. Os gols foram de Verón e Crespo. O técnico era Loco Bielsa.

É justamente do banco de reservas que vem a esperança da atual argentina com a altitude. Jorge Sampaoli foi técnico do Emelec, no Equador, durante todo o 2010.

Deve saber o que fazer em Quito.

Espera-se que saiba também não afundar o navio argentino nesta terça (10).


Como Sampaoli passou de gênio a enganador na Argentina
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Tales Torraga

Jorge Sampaoli estreou na seleção argentina há exatos quatro meses. Comandou a equipe em cinco jogos (dois amistosos e três oficiais). Foi apresentado por Chiqui Tapia, presidente da AFA, como ''o melhor técnico do mundo''.

E hoje é motivo de pesada chacota em Buenos Aires.

Sampaoli em La Boca – Olé/Reprodução

Aqui pelos lados portenhos, basta um – apenas um – dado para bater com força no capitão do barco azul e branco. Nas últimas cinco partidas desta Eliminatória, a Argentina fez apenas dois gols: um de pênalti inventado contra o Chile. E o outro, um gol contra de um jogador suíço naturalizado venezuelano.

Em campo, a grande razão para ralhar Sampaoli é a sua obsessão por experimentar formações e jogadores quando a situação não é propícia – e sim desesperadora.

Ninguém, por exemplo, entendeu como uma seleção aflita por gols buscou o arco peruano com Papu Gómez (craque do Atalanta!) e um anêmico Benedetto, deixando Dybala e Icardi no banco.

É a loucura das loucuras que Messi, Mascherano, Dybala e Icardi – que brigam por títulos na Europa – estejam ''lutando contra o rebaixamento'' pela Argentina!

É humilhação demais para um povo tão orgulhoso e nacionalista.

Esta Argentina parece maldita, e não faltam sinais negativos que mostram como a ''mufa'' – a famosa ''zica'' – é gigante por esses lados. O acidente de Agüero, a cruel lesão de Gago e o chute de Messi na trave são três cicatrizes abertas que mostram que o corte argentino é profundo e necessita objetividade, não improviso.

É este o atual dilema de Sampaoli.

Insistir em suas invenções e em seu sinuoso raciocínio ou simplificar ao máximo uma tarefa que é sucinta por si só: ganhar ou ganhar do Equador. Ou acabou.

A acidez com o técnico é tal que Pelado Sampa depois do 0x0 com o Peru passou a ser chamado de ''cópia falsa de Agassi'' e ''máquina de vender humo''.

Máquina de vender fumo, máquina de vender fumaça.

A criatividade argentina transborda mesmo nas horas mais pesadas.

Pesada também é a oratória de Sampaoli.

Em sua coletiva depois do 0x0 contra o Peru, ele disparou a resposta que não para de ser repetida pelos argentinos, sempre em tom de muita ironia:

''O jogador precisa ter muita calma e paciência. Se eu divido a palavra, ela vira 'paz e ciência'. Este é o futebol. Às vezes ele te dá, às vezes ele te tira. Às vezes, com muito merecimento, não se ganha. Em outras vezes, sem muito, se vence.''

Ninguém entendeu nada.

Querer demonstrar erudição – sem fazer gols! – é querer ser piada.


Opinião: A Argentina não merece – mas vai para a Copa sim
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Tales Torraga

A Argentina vai vencer o desinteressado Equador na última rodada em Quito às 20h30 (de Brasília) de terça (10). O técnico equatoriano é o argentino (e interino) Jorge Célico, ex-Huracán. O Equador não tem mais o que fazer nesta Eliminatória.

Vai ser presa fácil. Esqueçam. Olvidate. Ya tá.

Por sorte, a Argentina precisa apenas da vitória simples na altura de Quito, onde se sente mal, mas enfrentando um time totalmente ''ganhável'' pela natural falta de ambição. Até um empate pode evitar que Messi nunca mais esteja em uma Copa.

A Argentina vai jogar a vida (leia-se ''Repescagem''). O Equador cumpre tabela, e daqui em diante vamos ouvir falar de mala preta, branca, azul e branca e o que seja.

Desolação de Messi – Olé/Reprodução

O 0x0 da Bombonera com o Peru? Terrível.

Admito a acidez exagerada, impossível ser diferente nesses lados tão fartos em exagero, mas era até mesmo para o Peru ter vencido. Mesmo desfalcado de quatro jogadores. E de pensar que Guerrero quase cravou no ângulo no último lance.

Esta Argentina não está, nem de longe, à altura da história da Argentina.

Tirando Messi e (hoje) Otamendi, os jogadores que vêm da Europa não rendem. Os que atuam no futebol argentino estão um nível claramente abaixo. Não estão jogando contra o Olimpo ou contra o Chacarita. Estão defendendo a seleção.

Difícil encontrar um ponto positivo na Argentina nesta quinta – apenas o de não sofrer a derrota que faria o Peru disparar e tornar a vida argenta impossível.

A Bombonera ajudou – mas a seleção não mudou seu paupérrimo futebol. O estádio murchou mesmo na lesão de Gago. Mais até que nos gols do Chile.

A classificação à Copa é obviamente matemática. Quem soma mais pontos fica com a vaga. Incontestável. Mas olhar para a maneira como a Argentina conquistou seus últimos pontos é esbarrar em ajudas de arbitragem como as de hoje, quando Biglia e Mercado não foram expulsos e jogaram grátis todo o segundo tempo.

(Sem falar na escandalosa vitória por 1×0 contra o Chile, no último triunfo argentino nesta Eliminatória – em março, já quase sete meses atrás!)

Os paraguaios, tão hostilizados em Buenos Aires, salvaram a Argentina com a virada sobre a Colômbia. Esta Argentina não ganha de ninguém. Nem do Peru, nem do Paraguai, nem da Venezuela e nem da Bolívia.

Ganhou o presente de decidir a vaga contra dois rivais decorativos – um Equador sem vida e uma Nova Zelândia sem nível.

Ou será que o problema da Argentina vai ser continuar dependendo de si mesma?


O Peru é favorito. E não é papo de argentino milongueiro
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Tales Torraga

E chegou a quinta-feira (5) que Buenos Aires mais que esperava – vociferava.

Argentina e Peru abrem o faroeste às 20h30 (de Brasília) na medieval e arcaica Bombonera em clima de guerra, em que pese a depressão portenha com a seleção.

O Peru merece ser olhado como favorito. E não é encenação. Não é transferir responsabilidade. Não é papo de argentino milongueiro.

(No Brasil ainda dizem ''argentino milongueiro'' quando alguém encena demais?)

Bandeirazo peruano em Buenos Aires com o fantasma de 1969 / Reprodução Olé

Explicamos:

PREPARAÇÃO. O Peru se juntou e começou a trabalhar esta decisão numa segunda, dia 25, pela manhã. A Argentina treinou pela primeira vez só na última segunda (2) à tarde. Uma semana e um período de diferença!

O Peru começou com 11 jogadores, todos da liga do país, sem esperar os estrangeiros. A Argentina foi um arrazoado que se juntou na íntegra aqui em Buenos Aires só anteontem (3).

OS ASTROS. Guerrero chegou ao Peru 72 horas antes do previsto. Messi, que joga afinal a classificação à última Copa da sua vida, se apresentou só na antevéspera daquele que os portenhos veem como ''o jogo mais angustiante da sua carreira''.

O DESCANSO. Como começou a treinar antes, o Peru se deu ao luxo de oferecer a terça-feira livre a seus atletas. Já a Argentina se ocupou em testar múltiplas variantes desencontradas e o resultado vai ser um time sem muitas conexões.

A Argentina joga en La Boca del Diablo com: Romero; Mercado, Otamendi, Mascherano e Acuña; Paredes, Banega, Di María, Messi e Papu Gómez; Benedetto.

AJUSTES. O Peru adiou cinco das oito partidas do campeonato local para evitar lesões e deixar todos con la cabeza na Bombonera. A Argentina não mexeu uma partida sequer de seu violento torneio. E perdeu um jogador. Nacho Fernández, volante do River, seria chamado, mas se machucou no insosso 1×1 com o Tigre.

FAÇANHA x FRACASSO. O Peru está diante da maior glória esportiva do país em 35 anos – voltar a uma Copa. A Argentina corre risco do maior fracasso de sua história – ausentar-se de um Mundial depois de quase 50 anos.

Como imaginar vexame maior do que ter o melhor do mundo e sequer ir à Copa?

PLANO x IMPROVISO. Ricardo Gareca comanda o Peru há quase três anos. Já Jorge Sampaoli faz nesta noite sua terceira partida oficial pela Argentina!

Gareca tem um time nas mãos; El Pelado Sampa ainda busca o seu.

COMPROMISSO. Enquanto o peruano Jefferson Farfán tomou um avião privado desde Moscou para tratar mais rápido sua lesão e estar à disposição de Gareca o quanto antes, Kun Agüero arrebentou o carro e a costela ao sair de um show de reggaeton na Holanda na semana passada.

HISTÓRIA E MOMENTO. O Peru jamais foi adversário fácil para a Argentina em Eliminatórias. Em 1969, tirou a azul e branca da Copa de 1970 justamente na Bombonera com um 2×2. Outro 2×2, em 1985, classificou a Argentina ao Mundial em uma partida violenta e suja. E teve também o 2×1 Argentina no sufoco total em 2009 – 2×1, gol de Palermo no dilúvio de Núñez, quando Maradona deu até peixinho.

A fase peruana é muito melhor: ganhou os últimos três jogos, enquanto a Argentina perdeu da Bolívia (!) e empatou com Venezuela (!!) e Uruguai.

DETALHES. O Peru cuidou de tudo: até da sua água lacrada. Teve também o carinho de trazer ídolos do passado à Bombonera para animar e oferecer boas ideias. A Argentina, em compensação, mandou Sampaoli à Europa. E só. Nomás.

BOMBONERA. Loucura total, a Argentina não fez reconhecimento do gramado, algo apontado como grave pela maioria dos comentaristas das TVs portenhas. Qualquer um que esteve na Bombonera sabe que o estádio tem campo visual muy diferente de qualquer outro – e muitos dos europeus, Messi inclusive, jamais atuaram lá.

O apoio do torcedor também precisa ser levado em consideração. Ele vai virar um ódio nu e cru sem muito esforço.

A decisão pelo estádio dividiu o país bem quando a Argentina deveria se unir.

Dos volantes mais ''cavalos'' da história do Boca, Blas Giunta disse a barbaridade de que ''na Bombonera, Messi vai dar carrinho até com a cabeça''.

O que ele precisa é driblar e fazer gol, loco!

Hernán Crespo, histórico camisa 9 do River e da seleção argentina das Copas de 1998, 2002 e 2006, deu uma entrada por trás e com maldade no ufanismo e na mística em torno do estádio: ''A Bombonera fede. E treme porque é mal feita''.

Não comprem esta história do apoio argentino – eles estão brigando entre si desde antes da partida, como brigam entre si desde os tempos do General San Martín.

Os peruanos sim estão bem mais integrados. Jogadores e torcida se uniram na saída da equipe em Lima e na chegada a Buenos Aires. Os torcedores de vermelho e branco fizeram quatro grandes banderazos aqui na capital argentina.

E os portenhos? Nenhum. Só o Obelisco pintado de azul e branco. Efeito zero vezes cero. Ele hoje se pinta da cor que a gente quiser – basta pagar.

(Fica a sugestão ao Palmeiras quando ganhar o Mundial.)

***

O alívio para Messi e companhia com tudo isso?

A Argentina jamais se deu bem com o favoritismo. É melhor deixá-lo com o Peru.

Bilardo e Maradona eram dados como mortos em 1986 e fizeram a mais brilhante Copa de um jogador que o mundo já viu. O Brasil era ganhador fácil do confronto do Delle Alpi em 1990, e ''están llorando desde Italia hasta hoy''.

Loco Bielsa concretizou a Eliminatória mais perfeita da história e caiu logo na primeira fase em 2002. Nas Copas Américas sem Brasil e Uruguai, e diante de um Chile, convenhamos, limitado, Messi e companhia eram favoritos.

E deu no que deu. O que vai dar na Bombonera hoje?

Muita gente passando mal – de alegria ou de raiva. Ou jogadores virtuais campeões em 2018 ou fracassados que merecem exílio nas Malvinas.

A extenuada careca de Sampaoli – TN/Reprodução

Sem meio-termo. Aqui é assim.

Do topo do Obelisco ao fundo do Rio Riachuelo – aquele que, segundo Crespo, faz a Bombonera feder, além de tremer.

Salve-se quem puder.


Argentina tem 70% de chances de ir direto à Copa; veja as possibilidades
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Tales Torraga

Buenos Aires tem céu aberto e surpreendentes 25 graus nesta lindíssima quarta (4). O sol é propício para calentar os portenhos e mudar a depressão de um povo que está a ponto de estalar de tristeza ou de raiva com Lionel Messi e Jorge Sampaoli. Não há volta atrás. A capital já vive, com as vísceras, as horas que antecedem este histórico Argentina x Peru das 20h30 (de Brasília) desta quinta (5) na Bombonera.

Existia a ameaça de chuva e de gramado ruim no arcaico estádio da caixa de bombons no bairro de La Boca. Mas tal temor não existe mais.

Faixas e cartazes no bairro de La Boca – Blog Patadas y Gambetas

O que existe sim é um extenuante falatório sobre as chances argentinas de ir ou não ao Mundial. Os jornais e as TVs portenhas repassam as 59.049 combinações possíveis para as últimas duas rodadas. Vamos explorar a situação azul e branca.

Segundo os cálculos publicados pelo ''Clarín'', maior jornal da Argentina, a seleção do explosivo e extenuado Jorge Sampaoli tem 70% de chances de avançar direto ao Mundial – 69,6%, para ser mais precisos. E o pessimismo predomina!

As combinações que dariam a ida à Repescagem representam um total de 23,2% de possibilidades, e apenas 7,13% dos resultados possíveis deixariam a Argentina fora da próxima Copa do Mundo pela primeira vez desde 1970.

O que complica esta conta é que uma derrota nesta quinta (5) para o Peru faria esta última possibilidade disparar para a casa dos 20% a 30%.

A Argentina é a atual quinta colocada e hoje iria para a Repescagem contra a Nova Zelândia. A seleção está com 24 pontos e embolada com Uruguai (27), Colômbia (26), Peru (24), Chile (23), Paraguai (21) e Equador (20). Todos os números e todos os próximos jogos estão aqui.

Matematicamente, nem uma goleada sobre o Peru assegura a classificação argentina – afinal, perder de goleada do Equador em Quito na próxima terça-feira poderia eliminar a seleção do mesmo jeito.

Por outro lado, golear o Peru – com diferença de pelo menos três gols – e contar com outros resultados já faria a Argentina garantir pelo menos a Repescagem.

Os argentinos precisam rogar para José Pékerman e a sua Colômbia contra o Paraguai em Barranquilla. Caso o Paraguai vença, enfrentaria a Venezuela em Assunção na rodada final com excelentes chances de classificação.

Outro bom panorama para os argentinos é torcer para o Equador contra o Chile. Caso haja empate, bom para a Argentina. Em caso de vitória do Equador, excelente. Desde que, claro, a seleção de Sampaoli bata o Peru. Muitos consideram este resultado, o triunfo argento sobre os peruanos, como o placar mais difícil de todos.

E o blog concorda totalmente.

Os otimistas – e eles estão mais raros que os dólares aqui na Buenos Aires total ciudad de la furia – arriscam um Argentina 3×0 Peru,

Ay!

Além deste atropelo em La Boca, os outros dois resultados que dariam vaga argentina na Repescagem seriam Colômbia 0x0 Paraguai e Chile 1×2 Equador.

Escutar Cerati é sempre inspirador. Hoje, ainda mais. Cante, gênio:

Estamos al borde de la cornisa
Casi a punto de caer
No sientes miedo
Sigues sonriendo
Sé que te excita pensar hasta donde llegaré


Por que os argentinos andam tão bravos com Messi?
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Tales Torraga

Lionel Messi chegou. Finalmente. O astro do Barcelona (e pendência eterna na seleção) tocou o solo argentino às 4h de hoje, antevéspera da decisão contra o Peru que pode deixar a Argentina fora da Copa pela primeira vez em quase 50 anos.

(A última ausência azul e branca no Mundial foi no México-1970, despachada justamente pelo Peru. Outra coincidência? O duelo decisivo acabou sendo realizado exatamente na Bombonera escalada agora para sufocar os peruanos.)

Não é preciso ser versado nem em futebol e nem em Argentina para saber que sufocados, mesmo, estão os argentinos. Os peruanos têm muito a ganhar; os argentinos, muito a perder, e nem Messi está escapando da verdadeira fúria vivida aqui às vésperas de um jogo tão importante.

A irritação portenha com Lio é coletiva e está longe de ser papo de fanático.

Na tarde de ontem (2), o principal programa de esportes da TV portenha, o ''90 Minutos de Fútbol'', do Fox Sports, dedicou 12 minutos à discussão sobre as razões que fizeram Paolo Guerrero, a estrela peruana, se apresentar tão cedo ao técnico Ricardo Gareca, no último sábado (30), e Lionel Messi aparecer tão tarde, tão em cima da hora, só agora, aqui em Buenos Aires.

A versão oficial da chegada tardia diz respeito a uma falha técnica no avião privado que trouxe Messi e Mascherano. Tanto os jornalistas do programa como qualquer outro torcedor com bom senso argumentam que tal falha de logística é imperdoável, e que a AFA, de fato, deveria ter um plano A, B, C e D para trazê-lo à Argentina.

É bastante questionável também a falta de iniciativa de Messi de não se valer da condição de maior jogador da história do Barcelona e não negociar uma antecedência sua na chegada à desesperada seleção da qual é capitão. Ele fez isso em 2009 antes de enfrentar o Brasil na sua Rosário – e é verdade que não adiantou, pois a Argentina de Maradona foi atropelada pelo Brasil de Dunga por 3×1.

Nos últimos dias, houve um verdadeiro clamor pedindo para Messi honrar a braçadeira e chegar antes à Argentina. O pedido foi encabeçado pelo ex-zagueiro Óscar Ruggeri, hoje um dos principais comentaristas da TV de Buenos Aires.

Em vão.

''Você, que é jornalista, me diz onde Messi está, vou lá dar um soco nele'', me pede, com rosto vermelho, o sempre muy amable Ezequiel Galeno, 65, dono da banca de jornais daqui de Don Torcuato que sempre nos atende com a maior cortesia e que expressa o ânimo geral com a chegada apressada de Lionel.

''Por que os jogadores do River se fecharam numa concentração para virar o jogo contra o Wilstermann? E por que este infeliz deste Agüero foi ver um show de reggaeton na Holanda sabendo que seria titular e que a Argentina precisa dele?''

É esta a metralhadora verbal que a seleção precisa lidar nesta semana – e o apoio tão buscado na Bombonera pode ser um fósforo riscado caso o Peru aproveite este estado de ânimo tão adverso para sair na frente do marcador.

¡Mamita querida, que locura!

É triste pensar que Messi acaba de sair de uma Catalunha colapsada para chegar a uma Buenos Aires caótica poucas vezes se viu em termos de futebol. Ele deu de ombros. Mal chegou, tomou café da manhã com Sampaoli e treinou em Ezeiza.

Já está habituado. A relação argentina de amor e ódio com ele é antiga.

Afinal, Messi levou uma cusparada em um aeroporto no Japão depois de ganhar o Mundial de Clubes em cima do River e foi agredido com um soco na cara quando andava tranquilo por Rosário em 2011.

Este é o retrato da atual Argentina. As pessoas tanto padecem de ponderação que insultam, pedem, exigem e aplaudem – e tudo ao mesmo tempo. A estátua de Messi em Buenos Aires foi destruída no ano passado poucos dias antes do banderazo pedindo para ele voltar à seleção. Quem consegue entender?

Notórios em cantar vitória antes do tempo, os argentinos hoje cantam derrota. Mesmo os famosos vídeos motivacionais caíram no vazio. ''Tudo bobagem'', falam.

Não são poucos os torcedores que vaticinam que a partida de Messi às 20h30 de quinta (5) na Bombonera será o seu adeus à seleção em Buenos Aires.

O raciocínio é tortuoso, mas faz sentido.

Bastaria a Argentina não somar os pontos que precisa diante de Peru e Equador (terça que vem, em Quito) e ficar fora do Mundial. Neste cenário, Messi, de 30 anos e 300 decepções com a seleção, não teria grandes razões para seguir este calvário com a camisa que um dia foi de Don Diego Armando Maradona – e que jamais, jamais mesmo, se apresentaria para uma partida tão decisiva tão em cima da hora.

La pelota siempre al Diez – Arquivo AFA/Reprodução