Patadas y Gambetas

Tevez é denunciado por dizer que filho “apanha para não desmunhecar”
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Tales Torraga

O Inadi (Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo na Argentina) informou na tarde desta sexta-feira (19) em Buenos Aires que apresentou uma denúncia contra o jogador Carlos Tevez por discriminação.

Tevez gesticula o ''desmunhecar'' na entrevista ao TyC Sports – TV/Reprodução

O motivo foi a declaração de Tevez ao canal de TV TyC Sports sobre a forma como cria o seu filho, Lito, de três anos. O jogador do Boca afirmou: ''Ele vai comigo ao Fuerte Apache [bairro humilde onde o atleta nasceu]. É pequeno, ainda, mas pense: a mãe, as irmãs, as avós…Ele é o único homem. Se eu não o levo para o bairro comigo para que lhe deem uns tabefes, ele desmunheca''.

Carlitos está concentrado com o Boca para o amistoso deste domingo (21) contra o River Plate. O picante confronto de todos os verões será às 23h10 (de Brasília), em Mar del Plata. A tentativa do Inadi agora é que o jogador se retrate pelo que falou.

Depois da entrevista ao TyC Sports, Tevez não deu nenhuma outra declaração a respeito das suas frases que estão gerando polêmica na Argentina.

Esta não é a única denúncia que envolve o ''Mundo Boca'' neste momento.

Os jogadores colombianos Cardona e Barrios foram acusados de agressão por uma mulher depois de uma festa no último domingo e acabaram afastados do elenco. No clube, porém, o caso já está sendo colocado em segundo plano. Todos contam que ambos serão incorporados já no começo da próxima semana.


Maradona processa peça de teatro que narra seu vício em drogas
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Tales Torraga

Diego Armando Maradona está em Dubai, onde é técnico do Al Fujairah, mas sua cabeça não sai da Argentina. E o que move a fúria do eterno El Diez neste janeiro? Uma peça de teatro que narra de forma surpreendente o seu vício em drogas.

A peça se chama ''Soñadores 2'' e está em cartaz no Teatro Victoria, em Mar del Plata, destino dos mais concorridos neste verão. E que ironia: é justamente o seu sobrinho, ''El Chino'' Maradona, o ator que fala com um psicólogo no palco citando dramas familiares e ''as mulheres, as drogas e a vida do tio em Dubai''. Una locura.

Chino Maradona durante peça – Clarín/Reprodução

''El Chino'', na verdade, é uma gíria na Argentina para descrever qualquer pessoa com os olhos puxados e com uma feição um pouco oriental. O nome verdadeiro do ''Chino Maradona'' é Walter Christian Machuca, e ele é filho de Rita, irmã de Diego.

O parentesco não impede que o ator descreva na peça a situação que ele fala abertamente fora dos cenários: ''É o que sinto e é o que digo no palco: Rocío droga Diego'', reforçou o ator-sobrinho em conversa com o canal de TV El Trece. Rocío Oliva é a atual namorada de Maradona. Ambos estão juntos há cinco anos. ''Cuidei muito de Diego quando estive ao seu lado, e agora sinto que ninguém faz isso.''

Advogado de Maradona, Matías Morla informou que já emitiu uma carta-documento ao sobrinho de Diego por ''calúnias e injúrias'', e que o mesmo se aplica ao Teatro Victoria e à Petón Producciones, encarregada da obra. Todos serão alvos de medidas legais e a audiência de mediação será no próximo dia 8. ''Diego está muito atento a esta questão'', afirmou Matías ao ''Clarín'', maior jornal da Argentina.

''O sobrenome de Chino é Machuca. Maradona é uma marca registrada e ele não tem autorização para usá-la, como faz na marquise do teatro.''

Sobre o uso de drogas de Maradona, o advogado foi taxante: ''São injúrias. Em Dubai não há drogas. Mesmo se ele quisesse, não poderia encontrá-la. Diego não se droga há anos'', finalizou ao ''Clarín''.


Tevez diz que leva filho para apanhar na favela
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Tales Torraga

Carlos Tevez é uma surpresa ambulante neste 2018. Depois de reafirmar que hoje passa cada vez mais tempo no Fuerte Apache, bairro humilde onde nasceu e morou até a adolescência, ele detalhou como está criando o filho, Lito, de três anos.

Tevez pai e filho na Bombonera em 2017 – Telam/Reprodução

''Ele vai ao Fuerte Apache comigo. É pequeno, ainda, mas pense: a mãe, as irmãs, as avós…Ele é o único homem. Se eu não o levo para o bairro comigo para que lhe deem uns tabefes, ele desmunheca'', disse Tevez ao canal de TV TyC Sports.

O atacante do Boca é pai também de duas meninas, Florencia (12 anos) e Katia (8).

Percebendo que as declarações de Tevez iriam criar problemas para o jogador, um dos entrevistadores tentou contemporizar dizendo que ''Era uma tática para se fortalecer perante as dificuldades'', mas Carlitos insistiu no raciocínio: ''Eu o levo ao bairro comigo para ele se desenvolver com os moleques de lá. Para ele jogar bola''.

A declaração de Tevez enfureceu (mais ainda) os portenhos, que não aceitaram de maneira nenhuma o jogador ter mentido abertamente para os chineses, que lhe pagaram R$ 400 mil por dia para ''tirar férias por sete meses'', como ele admitiu.

Os argentinos que vivem na capital interpretaram a fala de Tevez da seguinte maneira: para Carlitos, a homossexualidade é ''um problema'' que ''se conserta'' com um par de tapas na favela. É desta forma – favela – que os portenhos se referem ao Fuerte Apache, um dos bairros mais populosos e violentos da Argentina.

O ''Caso Tevez'' virou debate nas TVs e rádios de Buenos Aires.

''O fato de um ser humano acreditar que batendo em outro pode mudar sua orientação sexual me parece absolutamente assombroso. Tevez é um limitado. O que falta, agora? Que ele leve o filho ao prostíbulo para perder a virgindade com uma veterana? A Argentina não depende da crise econômica. É pior. Depende da crise de educação'', detonou a professora Monica Java em um debate na Rádio Mitre, a mais ouvida de Buenos Aires.

A histeria é maciça, mas reproduzimos também algumas ponderações.

''Tevez foi espontâneo e sincero. No bairro se fala assim, e não apenas nas favelas. Há pessoas que não se contaminam com essa onda extrema do 'politicamente correto' que vivemos'', falou o psicólogo Guillermo Werner, outra referência levada ao ar pela Rádio Mitre para analisar o ''Caso Tevez''. ''Carlos demonstrou muita clareza que se seu filho fosse homossexual, isso seria um choque. Depois você vê o que faz com esta informação, mas o choque do pai ninguém tira.''

''Não creio que Tevez se referiu ao sexual, e sim ao comportamento de vida'', seguiu o filósofo Marcelo Brown. ''Ele não quer que seu filho, por exemplo, tenha vergonha ou nojo de beber em um copo de plástico em uma favela. Ele não se expressou bem, mas provavelmente quis dizer que quer que o filho saiba que na vida nem tudo é fácil, que há pessoas com muitas necessidades.''

(E de pensar que ainda estamos em 17 de janeiro e Tevez sequer reestreou. Seu terceiro ciclo no Boca será aberto às 23h10 de Brasília desta quarta-feira, em um amistoso contra o nanico Aldosivi, em Mar del Plata.)


Cheirei cocaína no peito do meu pai morto, conta ex-atacante da seleção
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Tales Torraga

Um dos livros mais vendidos em Buenos Aires neste começo de 2018 fala de futebol: é ''Este Soy Yo'', a autobiografia de Claudio ''Turco'' García, explosivo atacante do Racing e da seleção argentina nos anos 90. A obra é repleta de drama e traz uma narrativa crua e detalhada sobre sua luta para deixar de cheirar cocaína.

Campeão com a Argentina na Copa América de 1991 e 1993 – até hoje o último título da azul e branca -, García ficou frustrado ao não ir para o Mundial de 1994 e mergulhou fundo no hábito iniciado aos 15 anos. Só largou a droga de vez em 2008.

Capa da autobiografia de Turco García – Reprodução

O livro tem partes estarrecedoras, como esta:

''Quando meu pai morreu, fiquei tão mal que comprei 30 gramas de cocaína e cheirei na frente de todo mundo no velório. Cheirei no peito do meu pai e lhe disse: 'Gordo f…. da p…, vou cheirar até 4 da manhã, mas não é por culpa sua''.

''Estava triste e cheirava por isso. Quando fecharam o caixão, eu estava muito louco, e fiquei ainda mais violento. Tentei bater nas pessoas que tinham que levá-lo, e eu e meus irmãos saímos na mão por isso em pleno velório. Foi um papelão.''

Lançado pela Planeta, a maior editora da Argentina, ''Este Soy Yo'' tem 216 páginas e pode ser comprado aqui. Custa cerca de R$ 50.

Argentina na Copa América 1993; García é o último abaixado. Vázquez, Franco, Goycochea, Redondo, Altamirano e Ruggeri; Agachados: Craviotto, Acosta, Batistuta, Rodríguez e García – Arquivo/AFA

É leitura recomenda também na percepção de que é possível derrotar o vício mesmo nos casos mais descontrolados.

''As pessoas que agora sabem da minha experiência podem saber também que quando alguém quer, pode. A vida não é só de coisas fáceis, porém tampouco é de coisas difíceis quando alguém se propõe.''

O click de García ocorreu em 2006, quando foi chamado para ser técnico de um time pequeno do interior da Argentina, o Juventud de Venado Tuerto. O descontrole e a nova profissão eram obviamente incompatíveis, e ele aos poucos foi se recuperando até desempenhar a função que exerce hoje, a de olheiro do Racing.

García está com 54 anos e vive nas TVs e rádios contando suas histórias.

Explosivo, ele vivia trocando socos e chutes com os zagueiros. Mas corria demais e tinha um excelente cabeceio. Ficou famoso pela comemoração de um gol seu – de cabeça – em um Racing x Independiente de 1993: simplesmente abaixou o calção e mostrou o traseiro para a torcida do Independiente por longos segundos.

García provoca a torcida do Independiente em 1993 – Arquivo/Planeta


Maradona fez ‘Gol do Século’ machucado, revela médico
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Tales Torraga

O futebol exuberante de Diego Armando Maradona na Copa de 1986 sempre ofuscou um detalhe pouco citado fora da Argentina. Maradona foi caçado naquele Mundial como poucos outros jogadores na história. Levou patadas destruidoras desde a estreia, contra a Coreia do Sul, até o jogo decisivo, contra a Alemanha.

Clássica patada coreana em Maradona em 1986 – El Gráfico/Reprodução

Maradona encarou marcações fisicamente muy duras contra a Itália, na primeira fase, e contra o Uruguai, nas oitavas – empate por 1 a 1 na primeira e vitória por 1 a 0 na segunda. As muitas pancadas minaram seu físico, e ele chegou em frangalhos às quartas de final contra a Inglaterra, partida que transbordava ódio pela Guerra das Malvinas, terminada em 1982 com 649 argentinos mortos pelo batalhão inglês.

Maradona jogou no sacrifício, com as costas arrebentadas, e mesmo assim destruiu a Inglaterra naquela que é a mais emblemática atuação do futebol argentino em todos os tempos. Diego fez um gol de mão e, instantes depois, marcou o ''Gol do Século'', arrancando do seu próprio campo, enfileirando ingleses atrás de si e concretizando o golazo que os argentinos dizem até hoje ''ter valido por dois'', compensando o lance ilegal com a mão que ocorrera exatos quatro minutos antes.

Quem dá detalhes sobre a precária condição física de Maradona para aquela partida é Raúl Madero, o então médico da seleção argentina. ''Estava péssimo, cheio de dores, com dificuldades no corpo todo. Tanto foi assim que colocamos o meu quarto na concentração ao lado do dele, tamanha era sua dificuldade. Sacrifício era pouco. Diego sempre dizia que pela seleção jogaria até com uma perna só. Poucos foram valentes como ele'', comentou Raúl à revista ''El Gráfico''.

''Ele tinha sérios problemas nas costas, passamos a noite toda tratando para que suas condições fossem as menores piores possíveis. Na manhã da partida, lhe dei uma injeção com analgésicos e disse: 'Diego, sonhei que a Argentina vai ganhar e você vai fazer dois gols'.  E ele me respondeu falando que havia sonhado o mesmo. Foi por isso que tão logo o jogo terminou, ele veio correndo me abraçar, me agradecendo pelas injeções, e comentando nosso sonho.''

Raúl Madero abraça Maradona no épico Argentina x Inglaterra – Arquivo pessoal

(A foto acima está na sala da casa de Madero até hoje.)

O médico era a única pessoa com entrada permitida no quarto de Maradona naquele Mundial. E ele intuiu o título muito antes da final contra a Alemanha.

''Estávamos de folga, na primeira fase, e todos haviam saído. Fiquei sozinho na concentração, sem barulho, descansando. Pouco depois, batem na porta no meu quarto. Era Diego, sozinho. Perguntei para ele o que havia acontecido, por que ele não tinha saído. E ele me respondeu: 'Eu poderia estar com uma mulher linda ou tomando o que quisesse, mas eu quero ser campeão do mundo'. Ali percebi que ninguém iria roubar a bola dele e que a Argentina ganharia aquela Copa.''

Testemunhos do blog:

1) Três jogadores que estavam naquele vestiário contam que Maradona passou todo o intervalo contra a Inglaterra de bruços, recebendo massagens nas costas. Só levantou, possuído, quando o zagueiro Tata Brown começou a destruir a parede com a chuteira, dizendo que era aquilo que ele faria com os ingleses. Estava 0x0.

2) Jorge Valdano, há cinco anos, nos disse algo inesquecível: ''Sempre falam que o gol de Maradona só sairia contra a Inglaterra, que seria impossível ele fazer um gol assim contra Uruguai ou Brasil, que o partiriam no meio. A verdade é que os ingleses tentaram de tudo para pará-lo com falta, mas não conseguiram''.

3) Os maradonianos mais empedernidos de Buenos Aires usam, claro, as patadas recebidas por Diego para colocá-lo acima de Pelé. Dizem sempre que Maradona jamais deixou um Mundial carregado como o brasileiro, em 1962 e 1966. E citam a coragem de Diego contra o Brasil em 1990, quando superou as pancadas e acabou com o jogo mesmo com o tornozelo inchado como uma laranja.

Patada voladora de um jogador de Camarões em Maradona em 1990 – Infobae/Acervo

E uma pensata:

É claro que tudo sempre tem mais de uma razão e que tudo é um fluxo incessante. Mas o vício na cocaína não foi também uma forma de Maradona escapar das dores decorrentes das botinadas que levou a vida toda, dos potreros argentinos ao futebol bélico que se jogava naqueles tempos na Espanha, na Itália e nos Mundiais?

Ah sim: Maradona começou a cheirar cocaína em 1984, jogando no Barcelona – justamente quando recuperava o tornozelo quebrado por Goikoetxea meses antes.


Tevez ‘volta a viver’ em favela e preocupa o Boca
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Tales Torraga

Carlitos Tevez anda bem diferente. O atacante xeneize de 33 anos está bem mais sério e introspectivo desde que voltou ao Boca. ''Ele parece aquela pessoa que anda bem concentrada em um objetivo importante'', resumiu o meia colombiano Edwin Cardona, um dos mais próximos a ele neste retorno a Buenos Aires.

Uma das mudanças mais claras está no hábito que retomou: Tevez está passando cada vez mais tempo no Fuerte Apache, onde nasceu e morou até os 14 anos.

''Sempre saio de lá com a sensação de que voltei a viver. É no Fuerte Apache que me sinto mais vivo do que nunca. Recuperei uma fome de vida que há anos não sentia. E é isso que quero levar à Bombonera'', comentou Carlitos ao jornal ''Olé''.

Tevez (terceiro acima) com os amigos do Fuerte Apache – Reprodução/Facebook

A quatro minutos da Avenida General Paz, rodovia que corta Buenos Aires, o Fuerte Apache é um dos bairros mais populosos de toda a Argentina. Cerca de cem mil pessoas moram lá. Embora o seu entorno seja de prédios populares, há muitas casas improvisadas com madeiras e outros materiais. A maioria dos portenhos se refere ao Fuerte Apache como uma ''villa'' – uma favela, no Brasil.

Carlitos foi filmado jogado uma pelada com os amigos por lá justamente na virada do ano. Não são poucos os argentinos que olham a sua volta ao Fuerte Apache como uma forma de ''limpar a barra'' com a torcida do Boca e com os portenhos. Sua saída à China e sua volta ao Boca foi caracterizada por muitas frases vazias – a sensação geral que hoje se tem na Argentina é que tudo o que Tevez faz tem algum interesse escondido por trás. Já faz cada vez mais tempo que ele deixou de ser o Jugador del Pueblo, o adolescente raçudo que encantava o país com sua coragem em desafiar as patadas dos zagueiros e driblar os duros destinos da vida.

Tevez em pelada no Fuerte Apache – Reprodução/Instagram

O Boca, por vias das dúvidas, está de olho bem aberto na permanência de Tevez no Fuerte Apache. O blog apurou que não há, no clube, nenhuma vontade de controlar a vida do atacante e o que ele faz nas horas de folga. A única preocupação xeneize que já foi posta em prática é com o seu estado físico antes e depois dos jogos – os jogos profissionais e os de brincadeira com os amigos.

Argumentam sempre que é necessário ter uma sensibilidade gigante para evitar lesões e dar ao corpo o descanso necessário. É, afinal, o que a maioria absoluta dos atletas profissionais faz quando está fora da rotina de treinos e jogos.

A grande dificuldade do Boca deste ano vai ser colocar Tevez sob alguma rédea.

O atacante é amigo do presidente Daniel Angelici, com quem tem linha direta para tratar qualquer assunto. Contrariar um ''homem do presidente'' nunca é simples. O clube precisa encontrar o quanto antes um tom a se adotar com este Tevez tão plural e tão desafiador para os próprios colegas de trabalho ainda em pleno janeiro.


Mascherano diz que errou ao brigar com Marcelinho: “Pecados da juventude”
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Tales Torraga

Poucos se lembram, mas Javier Mascherano, que vai fazer 34 anos em junho, chegou ao Corinthians com apenas 21, em 2005. Era un pendejo. Um fedelho. Em 2006, aos 22, já com uma Copa do Mundo como titular da seleção argentina, trocou patadas com Marcelinho Carioca – de 35 – e abandonou um treino no Parque São Jorge, jogando o colete no chão e deixando o técnico Geninho falando sozinho. O argentino foi contido por Paulo Almeida, peça-chave para a briga ficar só naquilo.

Briga parou na capa do jornal ''Olé'' de 11.ago.2006 – Reprodução

Mascherano acaba de relembrar o ocorrido à revista portenha ''El Gráfico'' e não tem vergonha em admitir o erro. ''Sair do treino, depois das patadas no Marcelinho, foi um pecado da juventude. Totalmente. Era um momento em que as coisas no Corinthians não estavam bem nem comigo e nem com Tevez, mas eu não deveria reagir assim. Errei. Nos deram uns dias de suspensão. Foi justo.''

O Corinthians naquele instante brigava para não cair para a Série B, e o que ruiu na verdade foi a permanência de Tevez e Mascherano no clube. Ambos saíram logo depois da chegada do técnico Emerson Leão, ainda naquele agosto de 2006.

Mascherano falou também que escondeu uma lesão ao chegar ao Brasil – este sim um grave pecado, prejudicando o clube e quase lhe custando a Copa do Mundo.

''Saí do River e o Corinthians estava em pleno campeonato. Não parei. Meu pé começou a doer, e eu comecei a mancar. No princípio, doía só nos últimos minutos de cada jogo. Depois, a dor foi aumentando e incomodando no intervalo. Depois, chegava em casa e não podia caminhar. Era uma dor terrível na frente do pé, mas não queria dizer nada no clube pela obrigação que sentia: era recém-chegado, gastaram muito dinheiro comigo.''

(Foram US$ 15 milhões. Tevez havia custado US$ 19 milhões.)

''Em um jogo contra o Inter, estirei a coxa por correr desestabilizado e pedi ao médico para fazer um estudo do pé, e aí saiu uma necrose terrível. Por não parar, veio esta fratura por estresse, o osso queria se curar e eu não deixava. Operei na Argentina e parei por oito meses. Voltei no tempo exato para a Copa de 2006.''


Análise: Só a arrogância explica a fila de 25 anos da Argentina
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Tales Torraga

Estamos a cinco meses da Copa do Mundo, e os pensamentos sobre futebol sufocam o verão de Buenos Aires ainda mais. A Argentina completa, neste 2018, exatos 25 anos sem conquistar um título. Convém olhar para si.

Sobram pessoas indignadas e dispostas a tudo para finalmente acabar com esta fila, para a Argentina ganhar todos os campeonatos – como se isso fosse um direito próprio, um mérito indiscutido, como se cada adiamento deste direito acontecesse meramente pela maldade de alguns jogadores, alguns dirigentes e alguns técnicos.

Como se outro país superar a Argentina em algo não fosse uma possibilidade real.

As soluções propostas assustam muito. A qualidade de pensamento que domina a Argentina é de chorar de pena. Sempre tem que ser drástico, sempre tem vingança e ódio, sempre tem uma mente débil, sempre tem uma assustadora arrogância.

Batistuta e Bielsa sofrem em 2002 – Revista Ambito/Arquivo

Que a Argentina perca é uma das possibilidades – uma possibilidade mais que visível hoje, cinco meses antes do Mundial.

Que jogador hoje está fora da seleção e é tão superior assim?

E é uma superioridade que só se vê agora, porque o campeonato se desenvolve, as vitórias vêm, e todos viram gênios.

A Argentina é uma das melhores equipes do mundo. Uma das cinco, seis ou dez melhores. E quando enfrenta times que não estão entre os melhores, ganha sempre. Quando cruza com alguns dos melhores, às vezes ganha, às vezes perde. Isso é previsível. É muito mais fácil ganhar do Panamá que do Brasil.

''É preciso convocar só os jogadores que atuam aqui, na Argentina'', me dizem, e questiono ''São tão melhores? Os que jogam na Europa jogam todos os domingos contra o Cristiano Ronaldo, e os daqui não têm esta possibilidade de choque, e tampouco se vê muitos gênios por aqui''.

Querem jogadores que tenham fome! O que é isso, um ''jogador com fome''?

De fome, de fato, a Argentina vai bem.

Em vez de matar verbalmente, a hora é de dar paz aos jogadores. Chega de ofensas. Chega desta estupidez de achar que a Argentina é invencível.

O futebol é um esporte de falhas. Todos os jogos são. Se você é um guarda de trânsito e comete um erro, é capaz que te demitam. Sua função não permite o erro. Mas no futebol você comete erros e erros. O problema é você errar e precisa lidar com uma multidão gritando ''este não tem que jogar mais!'', só porque errou um pênalti, errou um gol, porque fez um gol contra.

O choro de Messi em 2016 – TV/Reprodução

Não se pode expulsar um jogador da seleção só porque a torcida não gosta como ele joga ou só porque ele cometeu um erro. Não. O futebol não é isso.

Isso deveria ser muito simples de entender. Perder precisa ser uma possibilidade a se observar sempre. O que fazemos se perdemos? Expulsamos todos?

Alguém tem que ser responsável!? Por quê? Perdemos, por que só um tem que ser responsável se todos jogaram o melhor que puderam?

O que faço? Perdemos e me entrego à delegacia?

Não é assim. A vida não é assim, a menos que você tenha seis anos.

O mundo não funciona assim.

Não pode ser também que as crianças de seis anos, ou aqueles que pensam como elas, sejam os mentores ideológicos da sociedade. Está mais do que na cara que a Argentina tem muita chance de perder. E o que ocorre? Todos propõem monumentos a todos os titulares e reservas, para depois pedir a cabeça de todos.

Com que cara alguém tem coragem de pedir alguma coisa a Messi, se não a sua família e os seus amigos? Ninguém tem direito a pedir nada a ele.

Deem ao futebol o valor que ele tem. É um valor muito alto, muito lindo, é um jogo maravilhoso. Mas de nenhum modo pode ser a obsessão apaixonada de gente que está mal da cabeça.

E depois ficam todos consternados – olhem um pouco para o mundo para saber o que é uma tragédia.

Perdemos. O que vamos fazer? Chorar? Ficar bravo por que o filho está chorando?

Vai ver o que você anda pensando e metendo na cabeça dele. Só isso.

* Com o inigualável Alejandro Dolina, de Buenos Aires


Pratto faz gol de placa ao ser um pai presente
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Tales Torraga

E Lucas Pratto chegou ao River Plate. A transferência já vinha ''picando'', como dizem os argentinos, desde novembro, quando tocamos no assunto pela primeira vez. Mas o que chamou a atenção de todos os portenhos – brasileiros também, supomos – foi a sinceridade do jogador ao se despedir do San Pablo.

''Faço isso para ficar mais perto da minha filha. Não faço isso pelo dinheiro ou para ficar mais perto da seleção. Minha filha tem sete anos e quero ser um pai presente. Cresci sem a figura paterna. Não quero que minha filha passe pelo mesmo.''

Mais claro, impossível.

Pratto nunca foi um jogador alienado. Sempre deu para perceber, desde sua chegada ao Atlético-MG, que sua cabeça não se resumia só a treinos, gols e jogos.

Moldar a carreira às necessidades da filha, a pequena Pia, é um digno gol de placa.

É claro que a filha poderia vir a São Paulo e seguir sua vida aqui, mas apenas os que desconhecem os argentinos cogitariam isso. Por uma razão simples e cortante como a fala de Pratto: as raízes argentinas são muito mais fortes que as normais.

E isso é uma qualidade? Ou um defeito neste mundo cada vez mais globalizado?

Que cada um tenha a sua resposta – e urge que os clubes brasileiros encontrem a sua antes de despejar milhões em contratações que duram pouco e terminam mal.

(Não é o caso de Pratto, registre-se.)

Um pai tipicamente argentino veste o uniforme do provedor – dá atenção e carinho, encurta as distâncias e oferece tudo aquilo que ele, Pratto, não pôde ter. Embalar a pequena Pia e carregá-la pelo mundo, forçando sua adaptação, não seria, jamais, um raciocínio genuinamente argento – e Lucas, como já falamos, já demonstrou mais de uma vez que é um tipo pensante, não um mero chutador de bolas.

En las buenas y en las malas mucho más, así somos.

Lucas com a mãe, o irmão e a filha – Reprodução/Facebook

Que não tome-se o discurso de Pratto como ''tribunero''. Ninguém joga para a torcida colocando a família no meio por esses lados. Lucas faz aquilo que os argentinos em geral fazem – e tal comportamento não é comum fora da Argentina.

Não é comum, por exemplo, Riquelme abandonar a seleção argentina e deixar de disputar uma Copa do Mundo porque ''sua mãe sofria'' ao vê-lo na seleção. Não é comum, também, que um técnico promissor como o ex-zagueiro Nelson Vivas, que vinha fazendo ótimo trabalho no Estudiantes, recuse proposta do Chile e largue o futebol porque sua filha que nove anos assim lhe pediu na semana passada.

Não é comum ouvir alguém jurando ''por Dalma e por Giannina'' – filhas de Maradona, aquelas que El Diez citou assim que foi cortado da Copa de 1994 dizendo que não havia cheirado cocaína na preparação para aquele Mundial.

Em vez de alguém ''jurar pela mãe'', como é comum no Brasil, na Argentina jura-se também por ''Dalma e por Giannina''.

Estão aí as Madres e as Abuelas de Mayo para lembrar sempre o quão sofrida é a relação familiar argentina. Pratto passou por isso em sua própria casa. Seu pai abandonou o lar e construiu outra família quando o jogador tinha ainda um ano. Lucas nasceu em 1988, quando a Argentina ainda engatinhava depois de uma ditadura das mais sangrentas e que segue contando desaparecidos em pleno 2018.

Que Pratto tenha sucesso – principalmente na criação da pequena Pia. Mas é bom que ele amanse a torcida do River. Não pegou bem ele chegar ao clube que investiu tanto dinheiro em sua chegada sem sequer citá-lo na despedida do São Paulo. Tal gesto, em Buenos Aires, costuma-se chamar ''guiño''. Uma piscadinha.

'Felices los quatro' é um hit do cantor Maluma. A paródia foi parar na capa do jornal ''Olé'' desta terça (9). E este sorriso, Lucas? – Reprodução

É bom Pratto ficar com o olho bem aberto. Ojo. Com a chegada de Tevez e com a cobrança deste River millonario de verdade, como poucas vezes se viu na história.

Mas se o coração está feliz ao ficar perto da filha, tudo vai ser consequência.

Como – ojo! – resistir a esse olhar?! – Infobae/Reprodução


Por que os argentinos estão debochando tanto da volta de Tevez?
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Tales Torraga

E Tevez voltou ao Boca. Quem lê o blog deve ter dado risada do anúncio oficial, pois postamos ainda em 21 de agosto do ano passado que já estava tudo certo.

Era plenamente possível antecipar também o verdadeiro escárnio argentino que o jogador recebe agora. Tevez precisa se cuidar, pois corre sério risco de apanhar de algum inadaptado – e esse tipo de revoltado brota pelos bueiros portenhos. Até Maradona e Messi já levaram socos, cabeçadas e cusparadas em algum momento.

Tevez, antes de deixar o Boca, em novembro de 2016, mentiu descaradamente na rádio e na TV dizendo que ''não poderia abandonar o Boca, que não jogaria a Libertadores, passar uma temporada na China, enchendo o bolso de dinheiro, e depois, com a classificação garantida, voltar à Argentina para jogar a Copa''.

Foi, ipsis litteris, exatamente o que ele fez.

Fez também um péssimo uso da palavra, um precedente perigoso que coloca para sempre mais uma interrogação em tudo o que ele falar ou realizar.

O que Tevez fez na China está entre as maiores vergonhas da história do futebol. Ele recebeu R$ 400 mil por dia (!!!), mas simplesmente se recusou a jogar em um nível decente. Fez só quatro gols no ano todo e engordou tanto que viveu machucado. Foi colocado no time reserva e…simplesmente não apareceu.

E sua magreza na apresentação ao Boca, treinando antes mesmo do anúncio oficial, foi realmente chocante, um desrespeito profundo a quem lhe pagou tanto.

Que ninguém caia na mentira do ''Tevez é um ídolo histórico do Boca e está sendo muito elogiado'', pois a irritação com ele é gigante – dos bosteros ou não.

''Nada resiste ao arquivo'', é uma máxima forte também em Buenos Aires, e as contraditórias entrevistas de Tevez são reproduzidas sem parar. Muitas artes nas redes sociais também batem forte no seu duplo discurso e na questionável maneira que o Boca voltou a abrir as suas portas a um jogador que mais parece um parceiro comercial do clube do que um atleta no qual se deva confiar – vide o fiasco na Libertadores-2016, sendo eliminado pelo Del Valle em plena Bombonera, e no recente péssimo exemplo dado na China.

Arte debochando de Tevez – Reprodução/Twitter

O mais irônico é saber o significado do número da sua atual camisa: 32.

Segundo a Quiniela, loteria argentina que guarda certa semelhança com o Jogo do Bicho, o número 32 significa o…dinheiro!

Quem te viu, Fuerte Apache, quem te viu, Jugador del Pueblo…

El Jugador del Sueldo. E da mentira.