Patadas y Gambetas

‘Pude roubar ou me drogar, mas escolhi o futebol’, diz Centurión
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Tales Torraga

O ex-são-paulino Ricardo Centurión voltou a ser aquele que a torcida do Racing se acostumou a ver: um jogador rápido, habilidoso e cheio de coragem. O seu bom momento na equipe o coloca também como um prato cheio para os meios de comunicação que exploram a sua sinuosa história de vida – e um desses relatos, dado à Rádio Mitre, nesta semana, em Buenos Aires, é mesmo para se registrar.

Essas são algumas das lembranças de Centurión, de 25 anos e 2.500 dificuldades:

Centurión no Cilindro, estádio do Racing – Olé/Reprodução

''A Villa Luján [favela onde nasceu] é muito importante para mim, nunca vou esquecer de onde saí, mas já não posso ir mais para lá. As pessoas de lá me veem como símbolo de dinheiro, mas, que engraçado, ainda me têm como o Centurión do bairro. Não entendem que eu cresci e segui minha vida em outros lugares. Desejo o melhor para eles, quero que todos se deem bem. Não estou ausente, não os desprezo, não é absolutamente nada disso. Eu só estou levando a minha vida, com as minhas obrigações que a rotina de hoje exige.''

''Devo muito à minha avó, Yaya, que me levou pela mão para fazer testes no Racing quando eu era criança. Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos. Antes, eu morria de vergonha quando minha mãe ia ao estádio. Eu ficava paralisado. De verdade. Tinha bloqueio. Só estava acostumado com a minha avó. Agora, não.''

''Pude roubar ou me drogar, mas escolhi o caminho do futebol. A minha mãe se matava trabalhando o dia inteiro em um hotel para levar uma p… de um pão para casa, então por isso também me esforcei tanto.''

''O golpe mais duro da minha infância foi quando estava nos aspirantes do Racing e um amigo de infância morreu massacrado em uma briga de bairro. Era uma madrugada de segunda-feira. Ele perdeu a vida dele e a minha mudou em todos os sentidos. De vez em quando vou vê-lo no cemitério quando posso e quando estou bem. Quando alguém está na favela e quer crescer, a sociedade mesma não te deixa e te julga. Você precisa ser muito forte para sair dela.''

''A melhor decisão foi voltar ao Racing. Eu me sinto em casa. Sabia que ia me adaptar muito rápido. Não quero falhar a mim mesmo, ao clube, à minha família e às pessoas que confiaram em mim. Aqui estou cômodo e me sinto bem. Termino o treino e vou tomar mate com as pessoas e conversar. Isso me deixa contente.''

''O mundo Boca é terrível, porque ele triplica tudo o que você faz, de bom e de ruim. E isso eu não entendi ou não quis ver quando estava lá. Sigo falando com Gago, com Bou, com Pérez, com Benedetto, mas com Tevez não.''

''Erros, todos nós cometemos. Hoje, trato de escolher melhor as pessoas com as quais convivo. O que tento hoje é ficar tranquilo e não ser refém do que passou.''


Vídeo do São Paulo cria problema gigante para Pratto no River
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Tales Torraga

''Eu era torcedor do Boca. Fanático. Via todos os jogos pela TV e, quando podia, ia ao estádio. Foi o melhor Boca da história, entre 1998 e 2003. Ganhou tudo.''

Sempre ponderado em seu discurso, Lucas Pratto deixou o coração xeneize falar à vontade na descontraída entrevista que deu ao canal do São Paulo no YouTube em 1º de abril do ano passado. Dez meses depois, já bem longe do Morumbi, mas vestindo outra camisa vermelha e branca, a do River Plate, o atacante que é medido a cada passo como a contratação mais cara da história do clube de Núñez está pagando o preço das suas palavras. A sua declaração de amor ao arquirrival ''viralizou'' e não há torcedor do Boca hoje em Buenos Aires não saia por aí falando que o River gastou 11,5 milhões de euros em um atacante que aprendeu a jogar…na arquibancada da Bombonera, gritando os gols de Palermo.

Pratto hoje e ontem – Montagem/Divulgação

Por incrível (e triste) que pareça, vai ser de bom tom que Pratto comece a cuidar de sua segurança na Argentina a partir de agora. A rivalidade entre River e Boca está atingindo níveis realmente insuportáveis, com as redes sociais reverberando ódio e ameaças de lado a lado durante todas as horas do ano.

Não foi à toa, por exemplo, que Buffarini – que se destacou no San Lorenzo, mas hoje defende o Boca -, declarou semana passada que tem medo de andar na rua. A Buenos Aires dos celulares e das cabezas gachas, como é chamada a geração que parece não respirar longe de uma tela, está perdendo qualquer capacidade de reflexão. Para buscar a fama entre os seus pares, um inadaptado qualquer pode perfeitamente agredir quem quer que seja e postar aos seus amigos como uma proeza digna de registro. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o técnico do Boca, Guillermo Barros Schelotto, que no ano passado quase entrou em uma briga coletiva na saída de uma clínica no dia seguinte a uma derrota para o River.

Os meios de se criar problemas podem ser novos, mas a gigante intolerância mútua entre River e Boca é tão antiga na Argentina quanto o mate e o alfajor. Os mais velhos lembram bem do caso do zagueiro Óscar Ruggeri, que trocou o Boca pelo arquirrival e teve a sua casa queimada nos anos 80.

Voltando a Pratto, lidar com a desconfiança gerada por sua infância bostera é mais uma barreira que ele vai precisar superar desde que chegou ao River, há 40 dias.

Antes mesmo de estrear, Lucas sofreu uma lesão no joelho. O atacante fez até aqui três partidas, nenhuma delas completa, e ainda não balançou as redes pelo novo clube. Por falar em redes, as únicas movimentadas por ele foram as sociais, que não contam mais com o número 12 – ligado ao Boca, pois assim se chama sua barra brava. Largar o 12 foi um pedido – quase imposição – da torcida do River.

Lucas e a mudança nas suas redes sociais – Reprodução

Pratto, vale lembrar, jogou nas divisões de base do Boca e tentou a sorte como profissional da equipe em 2009 e 2010, levado justamente por Palermo. Fez 21 partidas e 7 gols. Hoje do outro lado da calçada, diz que não voltaria ao clube.

(Será?!)


Recopa pode dar ao Grêmio o que nenhum time brasileiro conseguiu
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Tales Torraga

Primeiro o Lanús, agora o Independiente. O Grêmio tem diante de si na Recopa Sul-Americana um feito jamais obtido por um time brasileiro: conquistar dois títulos seguidos contra equipes argentinas, naquela que é a maior rivalidade do continente.

A Recopa será do Rojo ou do Grêmio? – Olé/Reprodução

A decisão que será aberta às 22h (de Brasília) de hoje (14) no Estádio Libertadores da América, em Avellaneda, na periferia de Buenos Aires, vai ser a 37ª entre brasileiros e argentinos, segundo a contagem da Conmebol. E há uma soberania argentina no retrospecto: são 21 conquistas (58,3%), contra 15 dos brasileiros.

O único brasileiro a repetir finais contra argentinos foi o Cruzeiro – duas vezes, em 1976 e 1977 e de 1988 a 1992, mas jamais ganhando as decisões em sequência.

Histórica para o Grêmio, a Recopa pode ser épica também para o Independiente do excelente técnico Ariel Holan, uma das cabezas mais brilhantes da Argentina.

O Rojo – como é chamado pela sua camisa vermelha, igual ao rival Colorado… – encara a Recopa com a chance de empatar com o Boca no topo das conquistas internacionais entre os clubes argentinos. O Independiente hoje tem 17 taças, contra 18 dos xeneizes. O líder brasileiro é o São Paulo, com 12 conquistas.

As 36 finais Brasil x Argentina até hoje, segundo a Conmebol:

– Libertadores 1963: Santos x Boca Juniors
– Libertadores 1968: Estudiantes x Palmeiras / Anos 60: 1×1
– Libertadores 1974: Independiente x Sao Paulo
– Libertadores 1976: Cruzeiro x River Plate
– Libertadores 1977: Boca x Cruzeiro / Anos 70: 2×1 Argentina (3×2 no geral)
– Libertadores 1984: Independiente x Grêmio
– Supercopa 1988: Racing x Cruzeiro / Anos 80: 2×0 Argentina (5×2)
– Supercopa 1991: Cruzeiro x River Plate
– Master 1992: Boca Juniors x Cruzeiro
– Libertadores 1992: São Paulo x Newell's
– Supercopa 1992: Cruzeiro x Racing
– Libertadores 1994: Vélez Sarsfield x São Paulo
– Supercopa 1995: Independiente x Flamengo
– Conmebol 1995: Rosario Central x Atlético Mineiro
– Recopa 1996: Grêmio x Independiente
– Supercopa 1996: Vélez Sarsfield x Cruzeiro
– Conmebol 1997: Atlético Mineiro x Lanús
– Supercopa 1997: River Plate x São Paulo
– Recopa 1998: Cruzeiro x River Plate
– Conmebol 1998: Santos x Rosario Central
– Conmebol 1999: Talleres de Córdoba x CSA / Anos 90: 7×7 (12×9)
– Libertadores 2000: Boca Juniors x Palmeiras
– Mercosul 2001: San Lorenzo x Flamengo
– Libertadores 2003: Boca Juniors x Santos
– Recopa 2006: Boca Juniors x São Paulo
– Libertadores 2007: Boca Juniors x Grêmio
– Sul-Americana 2008: Internacional x Estudiantes
– Libertadores 2009: Estudiantes x Cruzeiro / Anos 2000: 6×1 Argentina (18×10)
– Sul-Americana 2010: Independiente x Goiás
– Recopa 2011: Internacional x Independiente
– Libertadores 2012: Corinthians x Boca Juniors
– Sul-Americana 2012: São Paulo x Tigre
– Sul-Americana 2013: Lanús x Ponte Preta
– Recopa 2014: Atlético Mineiro x Lanús
– Libertadores 2017: Grêmio x Lanús
– Sul-Americana 2017: Indep'diente x Flamengo / Anos 2010: 5×3 Brasil (21×15)

***

Os títulos internacionais de…

…Boca – 18 (6 Libertadores, 4 Recopa Sul-Americana, 3 Mundial de Clubes, 2 Copa Sul-Americana, 1 Supercopa, 1 Copa Master e 1 Copa Nicolás Leoz)

…Independiente – 17 (7 Libertadores, 3 Copa Interamericana, 2 Mundial de Clubes, 2 Copa Sul-Americana, 2 Supercopa e 1 Recopa Sul-Americana)

…São Paulo – 12 (3 Libertadores, 3 Mundial de Clubes, 2 Recopa Sul-Americana, 1 Copa Sul-Americana, 1 Supercopa, 1 Copa Conmebol e 1 Copa Master)

…Grêmio – 5 (3 Libertadores, 1 Recopa e 1 Mundial de Clubes)

O líder neste ranking é o Real Madrid, com 24 conquistas.


Maradona x Sampaoli: Como um pedido de foto desatou a guerra entre os dois
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Tales Torraga

Diego Armando Maradona e Jorge Sampaoli jamais foram amigos, mas mantiveram um diálogo muy amable até um ano e meio atrás, quando houve o episódio que quebrou a relação e fez Maradona passar a chamar o técnico de ''traidor''.

O blog apurou que Maradona e Sampaoli estiveram perto de trabalhar juntos no Sevilla em 2016 – Jorge era técnico do time e deu o seu aval para Diego, então desempregado, ser embaixador do clube em ocasiões específicas. Maradona não aceitou, argumentando que tinha interesse em falar de trabalho apenas se o vínculo cogitasse também uma participação na organização técnica da equipe.

Maradona entrevista Sampaoli em 2015 – Reprodução TV

Diego, em entrevista ao jornal portenho ''Diario Popular'' neste final de semana, reforçou que o incômodo entre ele e o Pelado Sampa, como Sampaoli é chamado em Buenos Aires, virou rompimento em novembro de 2016, quando El Diez foi à Croácia para torcer pela Argentina na decisão da Copa Davis. Na ocasião, Maradona recebeu uma ligação de Sampaoli insistindo na proposta do Sevilla e propondo que os dois se juntassem para uma sessão de fotos porque o clube queria homenageá-lo – Diego, afinal, fez 25 jogos e 14 gols pelo Sevilla em 1992.

Diego interpretou este pedido de maneira bastante diferente.

Ele entendeu que Sampaoli já estava acertado com a AFA para ser o técnico da seleção argentina – que era então Patón Bauza, como seria pelos seis meses seguintes -, e que o chamado de Jorge na verdade era para que os dois aparecessem juntos em fotos como uma maneira de Sampaoli começar a criar vínculos com a torcida argentina, que até então não dava muita bola para ele.

A esquizofrênica ideia de Maradona gerou o distanciamento repentino. E, pior que isso, detonou uma guerra verbal por parte de Diego. Até uma guerra de verdade, a das Malvinas, é citada por Maradona para atacar Sampaoli, questionando seus anos à frente da seleção do Chile. Em uma tortuosa lógica própria, os chilenos são vistos com desconfiança por parte da Argentina pela ajuda à Inglaterra no conflito de 36 anos atrás. Vem daí também a insistência de Maradona em atrelar a figura de Sampaoli a um ''traidor'', que é a maneira depreciativa que muitos portenhos usam para falar – e como falam… – dos chilenos e do respectivo papel nas Malvinas.

Sampaoli, resta saber até quando, não entra na troca de farpas. Prefere enfatizar o que Maradona fez em campo, mas não sem antes falar também que considera Messi superior. ''Lionel é melhor que Maradona, Pelé ou qualquer outro'', costuma repetir, certamente alimentando a ira de um Diego que parece precisar ser bajulado – e se autodenominar – como o maior de todos os tempos com uma bola nos pés.


‘Meu irmão se perdeu na droga e me roubou’, conta campeão mundial pelo Boca
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Tales Torraga

Jogador ''cuja cabeça explodia de tanta violência'', segundo ele próprio, Antonio ''El Chipi'' Barijho é amado pelo Boca Juniors, que não cansa de celebrar sua loucura como atacante reserva no Mundial de 2000 e nas Libertadores de 2000 e 2001.

Chipi Barijho em 2004 – Olé/Reprodução

Poucos, porém, sabiam que enquanto ele rodava o mundo correndo atrás das Copas, atravessava também sérias brigas com o irmão 12 anos mais velho.

''A gente dividia um quarto. Lembro bem: tínhamos um balde de tinta, uma televisão apoiada em cima e um guarda-roupa pequeno. Mas aí ele começou a se perder na droga. Às vezes, vinha chapado e levava o que conseguia'', contou Chipi ao canal de TV TyC Sports. Ele hoje é técnico das divisões de base do Huracán. Está com 40 anos – o irmão, José Luís, está com 52 e é procurado pela polícia por tráfico.

''Ele nunca me roubou dinheiro porque eu escondia bem. Isso começou quando eu tinha 17 anos e precisava sair para me concentrar pelo Huracán. Eu ia treinar com muita raiva, não queria aceitar a vida que eu tinha. Posso dizer que no Huracán eu era duas vezes mais rebelde do que fui no Boca. Cresci na pobreza extrema.''

Barijho perdeu contato com o irmão: ''Ele segue na droga, segue lutando. Foi tudo muito sofrido, muito duro para a gente. O futebol salvou minha vida. Eu era um índio louco, não tinha regra nenhuma, era totalmente desordenado. Por isso posso olhar no olho de cada um dos meninos que treino. Eu tenho o que ensinar a eles''.


‘Pela Espanha, Messi já teria três Copas’, diz ídolo inglês
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Tales Torraga

Uma das grandes ironias portenhas é dizer que Lionel Messi é ''catalão, não argentino'' por sua maneira mais controlada – e menos sanguínea – de ser. Tal acidez está longe de deixar de existir. Basta percorrer os cafés do microcentro e perceber que o interminável assunto anda mais vivo que nunca depois das opiniões do inglês Gary Lineker, artilheiro da Copa de 1986. O hoje respeitadíssimo comentarista europeu ofereceu uma interessante projeção sobre o que seria de Messi caso ele escolhesse vestir a camisa vermelha no lugar da azul e branca.

Montagem de Messi com a camisa da Espanha – Reprodução/Cronometro Deportivo

''Se Messi se naturalizasse espanhol antes de estrear com a Argentina, a Espanha teria ganhado ainda mais: três Copas do Mundo e três Eurocopas'', disse Gary em entrevista ao jornal espanhol ''Mundo Deportivo'', imaginando a Fúria erguendo os Mundiais de 2006, 2010 e 2014, em um grande exercício de otimismo.

Tais opiniões repercutiram imediatamente nas TVs e nas rádios de Buenos Aires, que contra-atacaram com um discurso piegas de que ''mais vale perder pela Argentina do que vencer pela Espanha'', destacando a paixão que cada povo destina ao seu futebol. Foi muito relembrada também a recusa de Messi ao convite da Federação Espanhola em 2004 e 2005 – ele estrearia pela Argentina em agosto de 2005, quando o técnico era José Pekerman.

Hoje com 57 anos, Lineker enfrentou Diego Maradona no auge. E não titubeou ao colocar Messi acima de Diego: ''Os números, a quantidade de gols…Messi marca em quase todos os jogos. Diego, nem tanto. Messi passa a bola tão bem como Maradona, dribla tão bem como Maradona, mas marca mais gols'', seguiu.

''Messi faz quatro ou cinco coisas em um jogo que jamais vi na vida. É o melhor de todos os tempos. Nunca pensei que veria alguém melhor que Maradona. Os times que têm Messi jogam com 13 em campo.''

Lineker elencou também Espanha, França, Brasil e Argentina como favoritas ao título do Mundial da Rússia, surpreendendo ao desconsiderar a Alemanha.

''Não vejo uma grande Argentina. Mas se ela conseguir ter alguma organização, com Messi é sempre possível vencer.''


Famoso por choro contra o São Paulo, atacante hoje enfrenta AVC e falência
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Tales Torraga

Esforçado atacante do Newell's Old Boys, Julio Zamora ganhou fama na Argentina por ser o retrato da derrota para o São Paulo na Libertadores de 1992. Sua imagem em prantos no chão do vestiário do Morumbi foi eternizada pela revista ''El Gráfico'' naquela que virou uma das fotos mais emblemáticas do país daqueles tempos. Zamora tinha motivos para tamanha dor: instantes antes, convertera seu pênalti diante de Zetti e dos 105.185 torcedores presentes ao estádio naquela noite.

O choro de Zamora no vestiário do Morumbi – El Gráfico/Reprodução

O atacante tinha 26 anos e vivia o seu auge – em 1993, seria convocado para defender a seleção argentina e ganharia a Copa América, título que a azul e branca não voltou a repetir desde então. Sua carreira foi longa: Zamora correu atrás da bola até 2000, quando pendurou as chuteiras vestindo a camisa da Platense.

O seu nome estava bastante esquecido na Argentina até novembro passado, quando virou notícia por uma triste razão: técnico do Real Potosí, da Bolívia, ele sofreu um AVC em plena partida contra o Universitário, um adversário local.

Zamora parou de trabalhar e começou a encarar um drama bem pesado.

Berizzo, Martino, Scoponi, Gamboa, Pochettino e Saldaña; Berti, Lunari, Llop, Zamora e Mendoza – Newell's/Arquivo

''O contrato com o Real era até o fim do campeonato, mas quando me internaram [em novembro], o clube parou de me pagar a mim e aos ajudantes'', disse Zamora ontem (6) ao canal de TV TyC Sports, da Argentina, chorando. ''Eu e minha família penhoramos tudo o que tínhamos. O que ganhamos com o futebol, perdemos. E agora o que está em jogo é o meu carro. Os dirigentes do Potosí sequer me telefonam. Estou com problemas na visão, e mal enxergo. Os médicos disseram que vai levar um tempo para eu me recuperar, mas pelo menos eu estou vivo.''

O ex-atacante tem uma dívida de 20 mil dólares com o hospital que o tratou na Bolívia – segundo ele, o Potosí não quer assumir os gastos.

Julio está com 51 anos. ''Espero que os dirigentes assumam suas responsabilidades. Se eu estivesse em uma condição tranquila, não reclamaria nada, mas eles fizeram um projeto comigo, e agora dizem que não têm dívida nenhuma. Isso é o que mais me dá bronca.''

Tanto o Newell's quanto o Cruz Azul do México, onde também jogou, estão ajudando o ex-atacante financeiramente.

Zamora chora na TV – Reprodução / TyCSports

Julio segue morando na Bolívia. É a maneira que encontrou de reforçar o processo que move contra o Real Potosí. O Newell's já abriu uma rifa e já se colocou à disposição para pagar o seu transporte caso ele queira voltar à Argentina.

(Que gigante gesto de dignidade e solidariedade seria dado ao mundo se o São Paulo e os são-paulinos também colaborassem de alguma maneira…)


Por que só se fala em um complô pró-Boca na Argentina?
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Tales Torraga

A Argentina começou a semana ardendo em fúria e reclamações contra os erros de arbitragem em favor do Boca Juniors, líder do campeonato nacional, seis pontos à frente do San Lorenzo. Tais discussões são interessantes também ao Palmeiras, que vai enfrentar Tevez e companhia na fase de grupos da Libertadores.

Boca e San Lorenzo se cruzaram anteontem (4) no Nuevo Gasómetro em jogo que terminou 1 a 1 e com toda a sensação de que o Boca iria vencer: o Ciclón terminou a partida com nove jogadores. O primeiro expulso saiu ainda aos 42 do primeiro tempo – foi o volante Quignón, por acertar uma patada no tornozelo de Carlitos.

O San Lorenzo reclama – com razão – de três lances cruciais nesta partida apitada por Silvio Trucco: 1) o gol do Boca, marcado por Tevez, estava impedido; 2) a segunda expulsão do San Lorenzo ocorreu em um lance que nem falta foi; 3) o experiente zagueiro Fabricio Coloccini sofreu um pênalti que o árbitro não deu.

Contra o Talleres – ou seja, na partida exatamente antes do duelo contra o Boca -, o San Lorenzo também teve outros dois jogadores expulsos, e o árbitro ainda deixou de mostrar o cartão vermelho para um atleta rival. O Talleres ganhou: 2 a 0.

Capa do Olé desta terça (6) – Reprodução

O técnico Pampa Biaggio, os jogadores, os dirigentes e o presidente do San Lorenzo, Matías Lammens, espumaram publicamente depois do clássico contra o Boca. O raciocínio deles e dos demais clubes é bastante claro: o futebol argentino hoje é comandado apenas por gente de forte ligação com o time azul e ouro.

O atual presidente da Argentina, Mauricio Macri, é um ex-mandatário do clube. O hoje presidente da AFA, eleito há menos de um ano, é Claudio Chiqui Tapia, notório torcedor boquense. E o que é mais chamativo: mesmo com tantas reclamações, ele esteve na festa de aniversário de Tevez nesta segunda (5) em Buenos Aires. E o vice de Tapia na AFA é justamente o atual presidente do Boca, Daniel Angelici.

(Até o cantor Vicentico, um dos mais famosos da Argentina, entrou na onda: fez gestos de ''roubo'' ao imitar a camisa do Boca em um show em Córdoba.)

Os opositores indicam que o River Plate, arquirrival do Boca, já sentiu na pele os efeitos da ''máfia bostera'', como a desconfiança tem sido tratada pelos rivais – o River, afinal, foi eliminado pelo Lanús na semifinal da Libertadores do ano passado com uma arbitragem escandalosa e com muitos erros em favor do time que depois não ofereceria resistência ao Grêmio, especialmente na segunda partida da final.

Tapia, presidente da AFA, de branco, no aniversário de Carlitos – Twitter/Reprodução

Outro exemplo da atual força política do Boca é a mudança da seleção argentina da sua eterna casa, o Monumental de Núñez, para a Bombonera.

Tanto Marcelo Gallardo, técnico do River, quanto Rodolfo D'Onofrio, presidente do clube, deram declarações públicas neste começo de ano dizendo que iriam encarar 2018 ''com a guarda alta'', justamente para se precaver de tais favorecimentos.

Angelici, presidente do Boca, responde o mesmo a todos: ''Quem tenha provas, que as apresente na Justiça''. A mesma Justiça, afinal, que só cruzou os braços quando revelaram as escutas indicando favorecimento ao Boca contra o Corinthians na Libertadores de 2013 ou contra o Vélez em 2015.

* Atualizado: Pollo Vignolo, principal narrador da TV argentina, afirmou nesta tarde que quase apanhou da torcida do San Lorenzo no último domingo, e que dessa forma não vai mais aos estádios. O inconformismo anti-Boca está desatando ameaças a jornalistas e trocas de farpas entre dirigentes e jogadores pelas redes sociais. Já há quem defenda nas TVs e nas rádios uma paralisação do campeonato para acalmar os ânimos, ou o uso daqui por diante do árbitro de vídeo, que seria implantado só na próxima edição do sempre tumultuado Argentino.

O Boca joga a próxima rodada em casa – domingo, 20h15 (de Brasília), contra o Temperley. Neste caos, é de se esperar uma pressão desumana sobre o trio de arbitragem que for designado para trabalhar na Bombonera.


Vice da Copa-14, técnico volta a estádio pela 1ª vez desde aquela derrota
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Tales Torraga

E Alejandro Sabella reapareceu. Treinador que levou a Argentina à final da Copa do Mundo de 2014, ele estava afastado dos gramados desde a derrota para a Alemanha na decisão disputada no Maracanã naquele 13 de julho – há quase quatro anos. Sabella só voltou a pisar en una cancha neste domingo (4), na vitória de 4 a 2 do Estudiantes sobre o Newell's Old Boys no Estádio Único de La Plata.

Alejandro Sabella – Reprodução/TV

Para muitos portenhos, e não sem uma grande dose de razão, a seleção argentina acabou com a saúde de Sabella – depois do Mundial, ele teve sérios problemas de pressão e de coração, e em 2015 foi internado para tratar de um câncer na laringe.

Alejandro está com 63 anos e foi visto com uma aparência bem melhor que a de junho do ano passado, quando uma imagem sua bastante debilitado foi publicada pelo filho em uma rede social. Tanto ele quanto a família prezam pela discrição. Nada que surpreenda quem o conheceu. Sabella é, disparado, um dos personagens mais humanos e inteligentes do futebol argentino, um senhor cuja mente vai muito, mas muito além das bolas e dos gramados. Un maestro total.

Sabella no Estádio Único – Twitter/Estudiantes

O ex-técnico ganhou a maior ovação da tarde quando os alto-falantes do estádio anunciaram a sua presença em uma das tribunas do estádio onde costuma jogar o Estudiantes. Sabella não deu entrevistas e ninguém da sua família cogita uma breve volta ao trabalho. Ex-jogador de River e Grêmio, Alejandro teve uma passagem também pelo Corinthians: era assistente de Daniel Passarella quando ambos comandaram o time por apenas dois tumultuados meses em 2005.

(O Estudiantes é o nono no Campeonato Argentino depois de 14 de 27 rodadas. Os cinco primeiros são Boca Juniors, San Lorenzo, Unión, Independiente e Talleres.)


Tevez: ‘Quero virar zagueiro para devolver tudo que me bateram’
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Tales Torraga

A sinceridade de Carlitos Tevez já virou gíria em Buenos Aires. Quando uma pessoa diz algo chocante ou espontâneo, logo comete um ''Tevezcídio'', a versão portenha do ''sincericídio''. E o atacante do Boca está mesmo caprichando na construção deste personagem verborrágico e muitas vezes divertido – como foi nesta sexta-feira (2) ao falar sobre sua aposentadoria ao canal de TV TyCSports.

Tevez na Bombonera em sua volta ao Boca – Olé/Reprodução

''Vou jogar mais três anos onde estou e aí viro zagueiro'', comentou Tevez, que fará 34 anos nesta segunda (5). ''Sim, aos 37 anos vou para a caverna [ri], e saio jogando tranquilo. E o atacante de costas eu jogo pro alto. Afinal, foi o que sempre fizeram comigo, não? Vai chegar a hora de descontar'', seguiu, comentando e dando risadas, mesclando ironia e sinceridade, para terminar: ''As pessoas ficariam em dúvida se sou um rústico ou um lírico. Seria uma revolução no futebol''.

A sua presença entre os zagueiros seria mesmo uma questão de vontade e de capacidade técnica – a falta de físico não seria uma barreira. Tevez mede 1,73 metro – quase igual a Mascherano, de 1,74 metro, defensor de anos no Barcelona.

E o que pensar da sua nova declaração inusitada?

Que convém não descartá-la tão imediatamente. Tevez, afinal, tem uma lógica própria que recusa um dos maiores salários do futebol mundial na China – onde ganhava cerca de R$ 400 mil por dia – para retornar ao Boca e às patadas argentinas. ''Sentia falta dos golpes. Voltei a me sentir vivo também por eles.''

Carlitos vai então se fartar neste domingo (4) com o picante clássico entre San Lorenzo e Boca, às 20h15 (de Brasília), no Nuevo Gasómetro. O Boca lidera o Campeonato Argentino, seis pontos (33 a 27) à frente do segundo colocado – o próprio San Lorenzo. Surpresa: Unión, Talleres, Huracán e Belgrano completam os seis primeiros. Estamos na 14ª rodada de um total de 27.