Patadas y Gambetas

‘Pude roubar ou me drogar, mas escolhi o futebol’, diz Centurión

Tales Torraga

O ex-são-paulino Ricardo Centurión voltou a ser aquele que a torcida do Racing se acostumou a ver: um jogador rápido, habilidoso e cheio de coragem. O seu bom momento na equipe o coloca também como um prato cheio para os meios de comunicação que exploram a sua sinuosa história de vida – e um desses relatos, dado à Rádio Mitre, nesta semana, em Buenos Aires, é mesmo para se registrar.

Essas são algumas das lembranças de Centurión, de 25 anos e 2.500 dificuldades:

Centurión no Cilindro, estádio do Racing – Olé/Reprodução

''A Villa Luján [favela onde nasceu] é muito importante para mim, nunca vou esquecer de onde saí, mas já não posso ir mais para lá. As pessoas de lá me veem como símbolo de dinheiro, mas, que engraçado, ainda me têm como o Centurión do bairro. Não entendem que eu cresci e segui minha vida em outros lugares. Desejo o melhor para eles, quero que todos se deem bem. Não estou ausente, não os desprezo, não é absolutamente nada disso. Eu só estou levando a minha vida, com as minhas obrigações que a rotina de hoje exige.''

''Devo muito à minha avó, Yaya, que me levou pela mão para fazer testes no Racing quando eu era criança. Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos. Antes, eu morria de vergonha quando minha mãe ia ao estádio. Eu ficava paralisado. De verdade. Tinha bloqueio. Só estava acostumado com a minha avó. Agora, não.''

''Pude roubar ou me drogar, mas escolhi o caminho do futebol. A minha mãe se matava trabalhando o dia inteiro em um hotel para levar uma p… de um pão para casa, então por isso também me esforcei tanto.''

''O golpe mais duro da minha infância foi quando estava nos aspirantes do Racing e um amigo de infância morreu massacrado em uma briga de bairro. Era uma madrugada de segunda-feira. Ele perdeu a vida dele e a minha mudou em todos os sentidos. De vez em quando vou vê-lo no cemitério quando posso e quando estou bem. Quando alguém está na favela e quer crescer, a sociedade mesma não te deixa e te julga. Você precisa ser muito forte para sair dela.''

''A melhor decisão foi voltar ao Racing. Eu me sinto em casa. Sabia que ia me adaptar muito rápido. Não quero falhar a mim mesmo, ao clube, à minha família e às pessoas que confiaram em mim. Aqui estou cômodo e me sinto bem. Termino o treino e vou tomar mate com as pessoas e conversar. Isso me deixa contente.''

''O mundo Boca é terrível, porque ele triplica tudo o que você faz, de bom e de ruim. E isso eu não entendi ou não quis ver quando estava lá. Sigo falando com Gago, com Bou, com Pérez, com Benedetto, mas com Tevez não.''

''Erros, todos nós cometemos. Hoje, trato de escolher melhor as pessoas com as quais convivo. O que tento hoje é ficar tranquilo e não ser refém do que passou.''