Patadas y Gambetas

‘Sair na mão’. A ‘receita’ de Maradona para o Boca faturar a Libertadores
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Tales Torraga

Em entrevista ao portal argentino ''Infobae'', Diego Armando Maradona afirmou que acompanha tudo o que ocorre no seu Boca Juniors, mesmo trabalhando como técnico no México e precisando ficar acordado em plena madrugada para esperar as reprises dos jogos do clube portenho. E o ex-astro da equipe xeneize sugeriu um polêmico (para dizer o mínimo…) recurso para o time ganhar a sétima Libertadores.

''Em outro dia, me alertou muito que o Zárate mandou o Cardona a la c…. de tu madre [insulto tipicamente argentino] em pleno jogo [na derrota do Boca para o River na Bombonera]. Disse para mim: 'que mal deve estar o vestiário'. O vestiário é simples. Há uma chavezinha, e se querem acabar com a bronca, eu tranco pelo lado de fora e que se caguen a trompadas [algo como ''se arrebentem na porrada'']. Aquele que sair, joga'', afirmou El Diez.

''Esta é a bagunça e eu resolvo em um ambiente fechado com a chave na mão e como comissário. Assim se resolvem os problemas, senão apodrece tudo. Quando saem na mão, você vê que não acontece mais nada.''

Para Maradona, são dois os grandes problemas deste Boca recheado de grandes jogadores e que ainda não convenceu nem na Libertadores e nem no atual Campeonato Argentino, no qual é o sexto colocado: os egos e as atitudes erradas de Guillermo e Gustavo Barros Schelotto, os irmãos gêmeos que treinam a equipe.

''Eles estão dando ouvidos a quem não entende nada de futebol. Comandar um grupo é muito difícil, e os gêmeos não estão conseguindo. As pessoas que estão ao redor dele me dão nojo'', seguiu, sem citar nomes, mas dando a entender que representantes de atletas estavam interferindo no trabalho dos treinadores mediante o alto valor de seus jogadores que precisariam ficar no banco de reservas.

O sempre ácido El Diez não economizou munição também ao seu ex-amigo Carlitos Tevez: ''Ele deixou de ser o jogador do povo. Desde que passou a estar ao lado do ladrão do [presidente] Mauricio Macri, não pode estar com o povo''.


River atinge sua maior invencibilidade. E o que ela significa?
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Tales Torraga

Não é nada fácil ficar mais de 30 jogos sem perder. Em nenhuma época. Considerar a invencibilidade do River Plate, agora em 32 partidas, como ''decorrência dos adversários fracos'' do futebol argentino é faltar com a verdade, até porque toda a campanha da atual Libertadores também não conhece derrotas.

A bola rola na Argentina desde 1891, e só três times alcançaram as três dezenas sem perder: River (três vezes), Boca (duas) e Racing (uma). O River foi fundado em 1901, e a atual racha, como dizem os argentinos, é maior da história do clube.

O Millonario do técnico Marcelo Gallardo não perde neste 2018 desde 24 de fevereiro, um 1 a 0 para o Vélez no José Amalfitani. A série é composta por 17 partidas do Campeonato Argentino, 10 da Libertadores, 4 da Copa Argentina e 1 da Supercopa Argentina. Ganhou duas vezes do Boca e eliminou Racing e Independiente da Libertadores. São, ao todo, 21 vitórias e 11 empates, com 60 gols a favor e apenas 12 contra (!). Scocco é o maior artilheiro: 11 gols, um a cada 110 minutos.

A invencibilidade do River é a quarta maior da história da Argentina, atrás do Boca de 2011 e 2012 (36 jogos), do Racing de Juan José Pizzuti entre 1965 e 1966 (39 partidas) e do Boca entre 1924 e 1926 (51 confrontos).

Houve também o Boca de Bianchi em 1998, com 40 jogos de invencibilidade, mas todos pelo Argentino (perdeu partidas da Mercosul).

O feito de Napoleón – River Plate/Twitter

Gallardo conhece bem o gostinho desta invencibilidade: quando entrou no clube, em 2014, no lugar de Ramón Díaz, esteve 23 jogos sem perder (15 vitórias e 8 empates) – somando-se às 8 do Pelado Díaz, foram, ao todo, 31 partidas.

Apenas seis clubes foram campeões invictos da Libertadores: Peñarol (1960), Santos (1963), Independiente (1964), Estudiantes (1969 e 1970), Boca (1978) e Corinthians (2012).

Os 32 jogos millonarios sem perder: Flamengo (2 a 2), Chacarita (1 a 1), Patronato (1 a 0), Boca (2 a 0), Belgrano (3 a 1), Defensa y Justicia (3 a 1), Independiente Santa Fe (0 a 0), Racing (2 a 0), Rosario (2 a 0), Emelec (1 a 0), Arsenal (3 a 0), Emelec (2 a 1), Independiente Santa Fe (1 a 0), Colón (0 a 0), Estudiantes (2 a 0), San Lorenzo (2 a 0), Flamengo (0 a 0), Central Norte (7 a 0), Villa Dálmine (3 a 1), Racing (0 a 0), Huracán (0 a 0), Belgrano (0 a 0), Argentinos (0 a 0), Racing (3 a 0), San Lorenzo (1 a 1), Platense (2 a 0), San Martín de San Juan (4 a 1), Independiente (0 a 0), Boca (2 a 0), Lanús (5 a 1), Independiente (3 a 1) e Sarmiento de Resistencia (3 a 1).


Libertadores tem primeira semifinal 100% Brasil x Argentina
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Tales Torraga

River Plate x Grêmio de um lado, Boca Juniors x Palmeiras do outro. A semifinal da atual Libertadores já está na história antes mesmo de começar. A competição que é disputada desde 1961 jamais teve dois confrontos entre brasileiros e argentinos em seu penúltimo capítulo, e os quentíssimos duelos que serão disputados nos dias 23 e 24 e 30 e 31 deste outubro são vistos pelos lados argentinos como uma contagem regressiva para a finalíssima que todos esperam, que é River x Boca.

Será a última decisão com partidas de ida e volta, pois a Libertadores a partir de 2019 terá final em campo neutro e jogo único. Não há, portanto, quem não veja a reedição do ''Superclássico'' como o desfecho perfeito para esta era da competição.

Longe de representar um desprezo a Grêmio e Palmeiras, a projeção para a decisão 100% argentina significa apenas que a rivalidade River-Boca vive o seu ápice depois dos confrontos na Sul-Americana 2014, do gás pimenta na Libertadores 2015 e da decisão entre ambos na Supercopa Argentina deste 2018. É por isso, por exemplo, que o técnico Marcelo Gallardo, do River, não raramente sinaliza o ''três'' com os dedos para ser fotografado como símbolo da sua superioridade perante os xeneizes.

Os três dedos de Gallardo – River Plate/Divulgação

O River levou a melhor nas três ocasiões, e uma frase muito comum hoje na Argentina é dizer que a torcida do Boca ''vê um boneco e chora'', em referência ao apelido de Gallardo, El Muñeco, ''O Boneco'', por seu rosto estilo Chucky.

A pressa que caracteriza a estridente Buenos Aires tem, claro, os seus contrapontos por parte dos mais lúcidos. Alguns programas de debates nas rádios (em especial na Rádio La Red, uma das principais) colocam o Grêmio com favoritismo perante o River, especialmente por decidir a classificação em casa.

O Boca também suscita dúvidas. Apesar de contar com um elenco milionário e despachar o Cruzeiro em pleno Mineirão, os xeneizes foram sempre muito questionados durante a transmissão de TV desta quinta no FOX Sports, que lembrou a eliminação perante o Independiente del Valle na semifinal da Libertadores 2016 para esfriar a euforia das redes sociais com o possível River x Boca da decisão.

A Argentina jamais colocou dois times na final da Libertadores. O Brasil, sim – em 2005 e 2006, com títulos do São Paulo e do Internacional sobre Atlético-PR e São Paulo, respectivamente.

A última decisão Brasil x Argentina foi justamente a do ano passado, 2017, com o Grêmio faturando a taça em cima do Lanús (e em plena Lanús).


Histórico anima o Boca para decisão contra o Cruzeiro
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Tales Torraga

A fase da equipe não é boa, e até mesmo por isso, os torcedores do Boca na Argentina estão apelando mais ao histórico do que ao presente do clube xeneize na Libertadores em confrontos contra os brasileiros. E o retrospecto em si é mesmo impressionante. Neste milênio, o Boca mediu forças em mata-matas de Libertadores contra equipes do Brasil em 12 ocasiões. E levou a melhor em simplesmente dez.

O primeiro confronto já foi em uma decisão – contra o Palmeiras, em 2000, conquistando o título nos pênaltis em pleno Morumbi. A primeira cobrança foi convertida por Guillermo Barros Schelotto, hoje o técnico da equipe. Em 2001, o Boca deixou mais dois brasileiros pelo caminho – o Vasco nas quartas e o Palmeiras na semifinal.

Os confrontos contra brasileiros voltaram a acontecer em 2003, com outras duas classificações dos xeneizes, que superaram o Paysandu nas oitavas de final e o Santos em uma nova decisão. O São Caetano foi o adversário das quartas de final de 2004, também vencida pelo Boca -e também na cobrança de pênaltis.

Talvez nenhuma vitória do clube sobre brasileiros tenha sido tão emblemática quanto a da final de 2007, quando o Boca atropelou o Grêmio de Mano Menezes com um 3 a 0 na Bombonera e um 2 a 0 no antigo Estádio Olímpico.

No ano seguinte, 2008, o Boca superou o Cruzeiro nas quartas com duas vitórias por 2 a 1, mas viu chegar ao fim a sua impressionante sequência: o Fluminense o eliminou na semifinal com uma vitória por 3 a 1 no Maracanã e um empate por 2 a 2 em La Boca.

Em 2012, o Boca voltou a encarar o Fluminense, eliminando os cariocas das quartas de final com um gol de Santiago Silva no finalzinho da partida de volta, no Rio. Aquela campanha terminaria com derrota para um time brasileiro – o Corinthians, campeão invicto, mas que seria eliminado pelo Boca logo nas oitavas do ano seguinte, 2013.

De 12 definições ante brasileiros neste milênio, o Boca levou a melhor em dez. É uma sequência de respeito. Insistimos: os jogadores que Schelotto têm à disposição são ótimos. Mas o Boca segue sendo um grande elenco que ainda não é uma grande equipe. Uma classificação nesta quinta pode mudar tudo e enfim oferecer a segurança que este Boca ainda não demonstrou nem na Argentina e nem na Libertadores sob o comando do seu explosivo e caprichoso técnico.


Técnico do Boca vai deixar equipe em dezembro
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Tales Torraga

Guillermo Barros Schelotto está em contagem regressiva para deixar de ser o técnico do Boca Juniors. Ele já havia declarado em uma entrevista coletiva no mês passado que não assegurava a sua permanência na equipe para além de dezembro, quando chega ao fim o seu atual contrato. Mas o blog apurou que Schelotto já decidiu sim o que fazer em 2019: será técnico nos Estados Unidos e é quase certo que o time a contar com os seus serviços seja o Columbus Crew, onde jogou entre 2007 e 2010.

Tal definição pode ser uma boa notícia para o Cruzeiro nesta véspera de choque fatal para seguir na Libertadores. Não é segredo para ninguém aqui na Argentina que a relação entre Schelotto e os seus jogadores é no mínimo complicada. Tido pelos seus comandados como alguém pouco claro e muito teimoso, Guillermo não conseguiu se livrar de muitos dos obstáculos que já demonstrava quando era jogador, quando se destacava muito mais por irritar os adversários do que pela sua capacidade com a bola nos pés (que era, convenhamos, muito boa).

Se Schelotto já causava dificuldades quando estava activo y electrico no posto, é provável que tal contagem regressiva para a sua saída faça com que os jogadores não sigam suas ordens com o devido afinco. Claro que isso não dará a vaga por si só ao Cruzeiro, mas o bom ambiente de trabalho necessário aos times vencedores está muito longe da Casa Amarilla, o QG do Boca aqui em Buenos Aires.

A diretoria azul y oro tampouco vai fazer qualquer esforço para mantê-lo, pois há a avaliação que a atual – e caríssima – equipe montada não rendeu o esperado justamente por dificuldades de relacionamento do corpo técnico com os atletas.

O único ponto de apoio de Schelotto é a torcida. A vitória por 3 a 1 sobre o Colón na Bombonera mostrou que ele segue bastante apoiado pelos fanáticos xeneizes pelo atleta re campeón que foi, mas o nível demonstrado pela sua equipe nesta partida da noite de domingo não inspira maiores confianças. Este Boca mostrou que não é contra o Colón que sofre, e sim nos duelos mais agudos pela Libertadores ou contra o River Plate – que, afinal, fez 2 a 0 no Boca em plena Bombonera há dez dias, animando o Cruzeiro a atingir o mesmo placar no Mineirão nesta quinta.


6 motivos para não perder o histórico River x Independiente de hoje
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Tales Torraga

O blog está a poucos quilômetros do Monumental de Núñez e pode testemunhar: o River Plate x Independiente a partir das 19h30 (de Brasília) desta terça-feira (2) tem mesmo todos os picantes para ser histórico. Mais do que um lugar entre os quatro melhores da América, estará em jogo uma intricada sequência de recordes e idolatrias. A ida, em Avellaneda, no dia 19, terminou 0 a 0.

A terça terá una noche de copas bien argentina, e quem que acompanhar pela TV ou pela internet vai poder conferir seis aspectos especiais:

1) Monumental. Há uma loucura das mais desmedidas aqui na zona de Núñez, lembrando bastante os 8 a 0 no Wilstermann no ano passado. Os torcedores do River passaram a última semana arquitetando em detalhes a entrada do time em campo e as maneiras de trajar a caráter o estádio para esta noite especial.

Os ingressos voaram em um par de horas. O público oficial será de 66.000 pessoas, mas que ninguém se espante se o ''Carnaval de Núñez'', como dito por esses lados, mostrar quase 80.000 fanáticos espremidos para provar que o estádio, com pista de atletismo que seja, é sim um dos mais quentes da Argentina, comparável à Bombonera.

2) Invencibilidade. O River está há nada menos que 30 jogos sem perder. Com mais um confronto, iguala as duas maiores séries invictas da história do clube – uma delas, a que Gallardo herdou de Ramón Díaz e esticou logo em seus primeiros meses de clube, no já distante 2014. Sim, ninguém leu errado: o Muñeco está há mais de quatro anos no comando da sua equipe.

3) O inferno dos Diabos. O Independiente chega a esta noite consideravelmente golpeado. Foi eliminado da Copa Argentina e está só em 14º no Campeonato Argentino. O River briga pelo título em ambas as frentes. O Rojo, como é chamado o Independiente, ganhou a Libertadores pela última vez em 1984 e quer provar que realmente ressurgiu depois da Sul-Americana do ano passado.

4) Técnicos. Gallardo é mesmo o fenômeno que os argentinos pintam. Passa segurança no que fala e faz, e até os mais velhos o colocam acima de Labruna e Ramón Díaz no rol dos maiores técnicos do clube em todos os tempos. Este poço de inteligência e frieza estará diante de um dos maiores adversários contemporâneos, pois Ariel Holan, do Independiente, está invicto diante do seu competente rival. Tem tudo para ser um Karpov x Kasparov em plena Núñez. Gallardo armou melhor o time na ida, mas Holan equilibrou no intervalo. O 0 a 0 acabou sendo justo, em que pese as bolas na trave acertadas pelo ataque do Rojo.

5) Armani x retranca. O goleiro do River tem sido justamente comparado a Pato Fillol, e ele é mesmo um dos grandes responsáveis pela invencibilidade da equipe. Difícil encontrar uma fraqueza mediante tantas virtudes suas.

Já a retranca do Independiente deve trancar sua defesa com cinco homens no fundo para segurar as estocadas do River. Duelos agudos em todas as linhas.

6) Pity x Meza. Pity Martínez é dúvida para sair jogando, em virtude de um problema muscular, mas sua entrada se justifica com seu futebol de verdadeiro camisa 10 do River – a torcida já até criou um cântico em homenagem às suas ótimas partidas contra o Boca. As rádios repetem que desde a aposentadoria de Riquelme, nenhum outro 10 argentino mostrou futebol tan exuberante.

Já Meza, do Indepediente, é o jogador todo-terreno que faz tudo – e bem. Deixa de brilhar, mas jamais de surpreender pela capacidade de marcar e atacar e ainda por cima levar perigo ao gol adversário. É, sem dúvida, um dos jogadores mais completos da Argentina hoje em dia.


Pausa
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Tales Torraga

Até o dia 2!


River faz o que o Cruzeiro precisa fazer
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Tales Torraga

Tevez e Pratto sumiram, e Pity Martínez e Scocco brilharam na Bombonera neste domingo de clima impecable em Buenos Aires. A vitória de 2 a 0 do River Plate sobre o Boca Juniors no principal jogo do futebol argentino deixou três aspectos em evidência:

1) O Boca pode ter um verdadeiro timaço, mas o River, como Pratto já ressaltou, impõe mesmo mais caráter e atitude; 2) Os xeneizes não possuem um líder em campo e nem à beira dele. O técnico Guillermo Barros Schelotto virou um freguês de carteirinha de Marcelo Gallardo, que, com os dois deste domingo, marcou nada menos que cinco gols nas duas últimas vezes em que pisou na Bombonera; 3) A arbitragem foi um verdadeiro desastre, com sete árbitros (o juiz principal, os assistentes de linha e os árbitros atrás dos gols) e 70 erros.

O torcedor do Cruzeiro pode realmente ficar bem animado com o que foi visto hoje à beira do Rio Riachuelo. O Boca titubeou todo o tempo e demonstrou que não consegue mesmo gerar confiança em momentos importantes. Há um verdadeiro pânico ao não conseguir colocar em campo aquilo que é visto fora dele – um time estrelado e milionário que é presa fácil para o River desde a chegada de Gallardo. Embora a torcida tenha feito a sua parte e transformado a Bombonera em uma jaula insana, o time se encolheu de maneira constrangedora depois de cada um dos dois gols – dos golazos, em especial o de Scocco, un Scoccazo em plena Bombonera.

Schelotto armou mal o time e teve escancarada a sua falta de ascendência sobre o grupo com a quase briga entre Zárate e Cardona no final do jogo – com ambos à beira da expulsão porque estiveram a centímetros de sair na mão no momento em que o time mais precisava de cabeza no lugar para tentar diminuir a diferença – tal descontrole, óbvio, pode ser muito aproveitado pelo Cruzeiro, que vai encarar um time queimado (e queimando) por dentro, com o qual uma mera faísca pode desatar uma explosão de proporções inimagináveis para todo o alarde que a diretoria faz com este elenco.

Por fim, e por falar em Cruzeiro, vale ressaltar que o time brasileiro não é o único apunhalado pela arbitragem na Bombonera. O árbitro Mauro Vigliano ignorou o jogo violento do Boca e uma cotovelada animal de Cardona – de propósito e na cara de Enzo Pérez – ainda no primeiro tempo. Houve, porém, um pênalti não marcado ao Boca também no começo da segunda etapa. Un desastre, todo.

O River mantém a sua invencibilidade – já são impressionantes 29 partidas sem perder, somando a Copa Argentina, o Campeonato Argentino e a Libertadores. O Boca mantém o seu drama de demonstrar que tem muito pé-de-obra para pouco raciocínio.

Lidar com a típica histeria gerada por derrotas assim não vai fazer nada bem a Schelotto e companhia, enquanto Gallardo segue demonstrado que faz por merecer a chapa de melhor técnico do país (para muitos argentinos, El Muñeco só perde para Jurgen Klopp no posto de treinador mais competente do mundo).


Ainda sobre o melhor Boca da história
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Tales Torraga

Bien, bien, bien, vale esclarecer e vale ainda mais pedir gentilmente para que o leitor repare, por favor, no que consta na descrição do blog, à direita:

Aqui a Argentina decime qué se siente nas patadas e gambetas (dribles) de seu futebol. Cor local, reflexão e informação. 

Muchachos, o que colorimos, refletimos e informamos é o que os argentinos analisam, refletem e geram de informação. E qualquer um que esteve por aqui ou que tenha contato com a forma de pensar dos argentinos sabe que nosotros somos raros, complexos, eufóricos, exagerados, vamos do céu ao infierno en siete segundos.

E o que isso explica?

Para muitos, nada. Normal. Vida que segue. Para poucos, é a deixa para entender melhor como é a cabeza do país que é o maior campeão da Libertadores.

Pegando como exemplo o ''melhor Boca da história'', este de ontem que venceu o Cruzeiro por 2 a 0 na Bombonera. Não acordei um belo dia borracho pelos Bosques de Palermo pensando no que escrever para gerar cliques e armar peleas. Esta análise não saiu da minha ressaca – e sim de uma das vozes mais influentes do rádio argentino. Estamos falando de Alejandro Fantino, da Rádio La Red, que era o narrador dos jogos do Boca na Era Bianchi, e quem quiser acompanhar o seu rico raciocínio é só clicar abaixo.

Fantino fala de qualidade de elenco, e a sua opinião é pesada e vale reflexão (afinal, para isso vivemos, não?).

Eu, Fantino e qualquer um que tenha vontade de buscar informações sabe que o Boca de 2007, para ficar em uma só formação clássica, tinha Riquelme, Palermo e Palacio como titulares. Un equipazo, claro. Mas que perdia consideravelmente a qualidade se precisasse recorrer aos reservas. Vamos lá, quais eram os suplentes: Insúa (!), Guglielminpietro (!!), quem mais?

O Boca atual se dá ao luxo de escalar Zárate, Pavón e Benedetto e deixar fora Gago, Tevez, Cardona e Wanchope Ábila! Riquelme merece nota 10, Palermo merece nota 9 – mas quando ausentes, cediam espaço a jogadores nota 4 ou 5. No atual Boca, quando um jogador nota 8 deixa o campo, entra um outro nota 7,5. Espantoso, che.

É sobre isso que falamos. É sobre esta pressão que o Boca precisa assimilar.

O pensamento argentino possui cinco ganhadores do Prêmio Nobel. Precisamos respeitá-lo.

A questão toda é a seguinte: como o Boca monta um elenco que é visto – socialmente cobrado, exigido, brigado… – como o melhor de sua história, passa este sufoco, perde para o Palmeiras e quase fica fora ainda na primeira fase?

Já comentamos antes: apesar da pompa de bicampeão buscando o seu inédito tri na Argentina, este Boca andava bem meia-boca e o despejo de dinheiro poderia causar até a saída do atual presidente do clube.

Ah sim, 1: interpretar os posts só lendo os títulos não é justo (especialmente com a sua inteligência).

Ah sim, 2: tranquilos, muchachos, por favor!

Ah sim, 3: enquanto o Brasil reclama do VAR e da verdadeira e enorme maldade que fizeram ontem com o Cruzeiro na Bombonera, a Argentina já projeta em detalhes como será este Boca x River que se apresenta como muy probable final da Libertadores. Recorremos de novo ao Fantino – não por nenhuma predileção específica, apenas por sua transcendência na Argentina.

Convenhamos que AFA e Conmebol não poderiam delirar mais com uma última e épica decisão de Libertadores – jogos ida e volta, locais e visitantes – com um Boca x River na decisão.

Nada novo.

Ainda em fevereiro relatávamos que a Argentina já enlouquecia com o complô pró-Boca que se avizinhava.


Cruzeiro enfrenta o melhor Boca de todos os tempos
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Tales Torraga

Buenos Aires está em uma semana de clima divino para aquele que olha mais para o céu maravilhoso da capital argentina e menos para o verdadeiro caos que ronda o clube mais popular do país. O Boca Juniors nesta quarta (19) recebe o Cruzeiro às 21h45 (de Brasília) em uma Bombonera infernal e lotada – de gente e de pressão sobre uma equipe que conquistou quatro Libertadores em oito possíveis na década passada e que desde 2007 não a ganha mais.

Esta fila de 11 anos é um verdadeiro pesadelo para os xeneizes, que perderam espaço internacional para o River Plate e resolveram se reforçar com tudo e un poco más. Na pausa para a Copa do Mundo, por exemplo, chegaram ao clube o atacante Zárate, o meia colombiano Villa, o central Izquierdoz, o goleiro Andrada e o lateral uruguaio Olaza.

Não é mero ufanismo azul y oro: este Boca é uma verdadeira seleção, chamada de ''Dream Team'', ''Galácticos'' e muito mais por toda a Argentina. Cruzar com um xeneize no país por esses dias é escutar aquilo que vem servindo de tema para os intermináveis debates nas rádios: este é o melhor Boca da história, ao menos em termos de elenco. De fato, o clube tem peças suficientes para montar dois times e meio de jogadores de elite para enfrentar qualquer equipe – incluindo as brasileiras.

Essa fartura que coloca o atual Boca acima do equipazo de Riquelme, Palermo e Carlos Bianchi, porém, se encaixa no velho dito ''tudo o que é em excesso faz mal''. Há uma verdadeira obsessão em torno da Libertadores e em torno das cifras despejadas em busca dela. Só neste último mercado de passes foram US$ 20 milhões em contratações – se somarmos as últimas três (2015, 2016 e 2018) Libertadores, todas sob o comando do mesmo presidente, Daniel El Tano Angelici, tal cifra decola para os US$ 65 milhões despejados em 38 reforços.

Em campo, pasó de todo.

Exemplo 1: trocaram de goleiro quatro vezes  (Orión, Sara, Rossi e agora chegou Andrada). 2: formaram cinco duplas de zaga (Tobio, Cata Díaz, Torsiglieri, Insaurralde, Goltz e Magallán são alguns que jogaram). 3: A camisa 10 vagou entre Lodeiro, Tevez, Centurión e Cardona, que ainda não terminou de convencer.

O Boca que derrapa fora da Argentina fincou com força a sua bandeira no território local. Ganhou três Campeonatos Argentinos desde 2015 e comemorou outro ''tricampeonato'', seu terceiro balanço consecutivo de superávit.

A pressão está toda sobre o técnico Guillermo Barros Schelotto, no cargo desde março de 2016. Os bons jogadores brotam mesmo por todos os lados: Pavón, Barrios, Magallán, Nández e Benedetto têm futuro europeu e devem ser os próximos a fazer as malas – vão render, juntos, mais de 50 milhões de euros. A economia argentina voltou a viver um caos total. O dólar hoje vale 40 pesos, e tal cotação significa que o grupo vai ser desmanchado já nos próximos meses.

Mais um motivo de pressão para este Boca? O clube ter seis Libertadores conquistadas e estar a apenas uma de igualar o recorde de sete, hoje com o Independiente.

É bem provável que o Boca suba as arcaicas escadas em direção ao gramado da Bombonera nesta quarta com o seguinte 11 inicial: o goleiro será o recém-chegado Andrada, ex-Lanús; Jara, Izquierdoz, Magallán e Olaza formam uma linha de defensores totalmente nova e desentrosada. O meio-campo conta com Barrios, Nández e Pablo Pérez como volantes (trio de muita patada e questionável chegada) e Zárate abastecendo os dois atacantes, o ótimo Pavón e o oportunista Benedetto, enfim recuperado da lesão no joelho que o tirou de campo por dez meses.

Tevez é reserva, e está sereno/positivo como poucas vezes se viu. Outras boas opções de mudança vindas do banco são o zagueiro Goltz, os laterais Buffarini e Mas, o volante Gago e os meio-campistas Cardona, Villa e Almendra.

O Boca tem time, camisa, torcida, estádio, dinheiro e enorme influência nos bastidores. Só não tem nenhuma paz. Por isso, quase foi eliminado na primeira fase. Por isso, uma previsão bem sensata é uma repetição da campanha de 2016, chegando até a semifinal e não passando disso.

Schelotto está em xeque. E não demonstra recursos que possam transferir otimismo aos xeneizes mais sensatos, que duvidam demais da sua capacidade de conduzir o elenco e administrar as pressões das partidas mais importantes.