Patadas y Gambetas

“Dybala é um ganso, um estúpido”, dispara ex-atacante da seleção argentina
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Tales Torraga

À beira de uma crise de nervos antes da decisão do próximo dia 5 contra o Peru, a Argentina está cada vez mais longe de oferecer tranquilidade aos seus atletas. E para jogar mais gás pimenta na cara da torcida portenha, muitos ídolos do passado não estão medindo palavras – e nem fúria – para atacar as estrelas do momento.

Prova desta exaltação veio da entrevista com El Puma Carlos Morete, ex-atacante de River, Boca e seleção argentina nos anos 70. Ao canal de TV TyC Sports, Morete, hoje com 65 anos, destroçou sem piedade a equipe nacional.

(Vou cometer a falta de educação de manter os palavrões. Deixo-os como exemplo da dificuldade de encontrar ponderação – mesmo na imprensa – e de como a prévia para o jogo contra o Peru está transtornando a opinião pública em Buenos Aires.)

''Faz sentido que Dybala diga que é difícil jogar com Messi? Dybala é um estúpido. Se não pode jogar com Messi, com quem quer jogar? Dybala é um ganso'', detonou Morete, que seguiu disparando para todos os lados.

Dybala comemora gol – Juventus/Divulgação

''A AFA está com cagazo depois de empatar com a Venezuela no Monumental! Trocam de estádio, não sabem o que fazer…Tomam decisões imbecis. São um desastre, são um bando de ladrões. Uns mongoloides. Isso é uma vergonha. Não sei se vamos para a Copa. Estou pessimista.''

A munição mais pesada foi forte no peito do técnico Jorge Sampaoli: ''Se você não vai à Copa, o que faz com Sampaoli? Vai enfiá-lo no c..? O contrataram peidando [gíria que designa embriaguez], fizeram um movimento tão grande e esta questão não fecha para mim de nenhuma maneira. Marcelo Gallardo deveria ser o técnico da seleção nessas quatro partidas da Eliminatória e depois continuar no River''.

El Puma Morete foi afiado também ao analisar o jogo que comove toda a Argentina com a possibilidade de o River reverter o 3×0 obtido pelo Jorge Wilstermann na Bolívia. Morete brilhou no River entre 1970 e 1975, com 105 gols marcados em 200 jogos. Foi a versão de Núñez de Martín Palermo décadas depois no Boca.

''Essa virada deveria ser algo lógico, não um milagre. Mas há tantas surpresas…Quando te dá um cagazo, acontece um montão de coisas. Espero que o River não tenha este cagazo.''

Elogios? Apenas para Lionel Messi.

''É o único jogador que vai me fazer pagar uma entrada e ir até a Bombonera.''


Menotti detona seleção na Bombonera: “Estádio hostil e pesado”
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Tales Torraga

Técnico campeão mundial com a Argentina em 1978, César Luis Menotti é voz autorizadíssima para opinar a escolha da seleção pela Bombonera para a decisão contra o Peru em 5 de outubro, pelas Eliminatórias. E o treinador conhecido como El Flaco – ''O Magro'' – não guardou adjetivos para detonar a iniciativa.

''Nunca entendi os motivos desta mudança forçada'', analisou Menotti ao jornal peruano ''Depor''.  ''Está certo, o estádio do Boca é muito especial, mas se alguém está jogando bem, a torcida ajuda muito. Mas se não está em um bom dia, te vaiam e te complicam.''

Menotti relembrou que El Tigre Gareca, hoje técnico do Peru, é jogador revelado pelo Boca nos anos 80 e foi técnico do Vélez na década passada. Ou seja: tem larga trajetória para explorar as mazelas do lugar. ''Ninguém se deu conta de que o Gareca conhece muito bem a Bombonera, e isso é importante. Lá, não vão receber bem os peruanos e nem ninguém. É um ambiente hostil e pesado.''

O histórico treinador de 78 anos analisou também o verdadeiro assédio moral que Gareca já passa a receber na Argentina por estar na seleção contrária neste importantíssimo confronto: ''Isso é para os imbecis. É preciso ser muito estúpido para hostilizá-lo, porque Gareca tem um compromisso com os seus jogadores, não com nosso país. Não se está brigando por uma fronteira. É um idiota quem pensa que Gareca vai fazer o Peru perder. Sampaoli, sendo argentino, nos ganhou uma Copa América [em 2015, comandando o Chile] e não o acusam de traidor''.

A Argentina jogou 29 vezes na Bombonera – foram 19 vitórias, 8 empates e só 2 derrotas. Os últimos dois confrontos foram em 1997 (1×1 com a Colômbia) e 2012 (2×1 no Brasil no torneio amistoso ''Superclássico das Américas'').


Dá para acreditar sim na virada do River
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Tales Torraga

A desastrosa derrota para o Jorge Wilstermann na altitude de 2.650 metros de Cochabamba representou a pior queda do River Plate de Marcelo Gallardo em um confronto internacional – igualou os 3×0 do Barcelona na final do Mundial de 2015.

River cabisbaixo na Bolívia – Olé/Reprodução

O placar esteve longe de abalar o técnico e o elenco.

''Sabemos que estamos diante de uma semana histórica e vamos a ela com toda a força'', falou o volante e capitão Ponzio. ''Este é o meu maior desafio como técnico'', analisou Marcelo Gallardo.

Os dois têm chapa para bancar o que está por vir.

Este River tem jogadores, tem treinador e tem uma torcida que com certeza vai transformar o Monumental de Núñez em um superlotado caldeirão infernal para o Jorge Wilstermann – que respeitosamente declarou a série aberta.

Por contraditório que pareça, o River foi melhor no jogo – e o Wilstermann, melhor nas áreas, onde o placar se constrói. Os portenhos perderam seis gols claros. ''As que não entraram hoje vão entrar na próxima quinta'', enfatizou Gallardo.

Os números de Wilstermann (verde) e River (azul) – Reprodução

Dificíl imaginar que este River não vá sofrer pelo menos um gol no Monumental. A voracidade vai exigir um time todo no ataque e com os 11 jogadores dispostos a tudo. A equipe deve se preparar para fazer cinco gols – será a versão argentina do Barça x PSG da última Liga dos Campeões diante de uma torcida que desde já se mobiliza para causar uma comoção difícil de se repetir em qualquer outro país.

''Vamos apelar à rebeldia e às fibras mais íntimas dos jogadores'', outra frase para a posteridade de Gallardo. É óbvio que os nervos vão jogar contra e que o Wilstermann já mostrou ante o Atlético-MG que também sabe atuar fora de casa. Mas acabou de fazer dois anos e vale a pena lembrar: o River foi campeão da Libertadores justamente com um 3×0 diante do Tigres, do México, em 2015.

E era uma decisão – na teoria, bem mais difícil que um jogo de quartas.

É difícil? Claro. Dá para passar? Evidente que sim.

Se a semifinal parcial é San Lorenzo x Wilstermann, que ninguém se surpreenda se no fim tivermos o River x Lanús que se apresentava antes do começo. Ojo, eh.


‘La Máquina’ 2? River escala time com dez jogadores de seleção
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Tales Torraga

Está re complicado lidar com a histeria da torcida do River Plate em Buenos Aires. O clube portenho abre nesta quinta-feira (14) sua participação nas quartas de final da Libertadores às 21h45 (de Brasília), quando enfrenta o Jorge Wilstermann na altitude de 2.560 metros da cidade de Cochabamba, na Bolívia.

River embarca para a Bolívia – River Plate / Divulgação

Os fanáticos têm razão em, mais que esperar, praticamente contar com este tetracampeonato da Libertadores. O River titular escalado por Marcelo Gallardo para esta noite tem simplesmente dez jogadores com passagens por suas seleções.

O goleiro é Germán Lux, de 35 anos, presença contínua na seleção argentina no ciclo José Pekerman. Era Lux, porém, o goleiro da Argentina na catastrófica derrota por 4×1 para o Brasil na decisão da Copa das Confederações de 2005. O lateral-direito é Moreira, o ''Cafu paraguaio'', com 14 participações pela equipe nacional de seu país. O outro lateral, Milton Casco, foi chamado pela última vez pelo técnico Tata Martino. Atuou pela Argentina em duas partidas nesta Eliminatória.

Os zagueiros são Maidana e Pinola, e ambos jogaram contra o Brasil na estreia de Jorge Sampaoli. Os volantes do River para esta quinta na Bolívia são o corajudo Ponzio (oito jogos pela seleção), Nacho Fernández (outro chamado por Sampaoli), Enzo Pérez (titular da Argentina na Copa de 2014) e Chino Rojas (três partidas com a azul e branca). Na criação, o único jamais chamado para a seleção, mas que talvez seja o principal jogador da equipe no momento: Gonzalo El Pity Martínez, que brilhou como nunca no 3×1 sobre o Banfield na última rodada do Argentino.

O atacante solitário será Nacho Scocco, que fez dois gols contra o Brasil na Bombonera em 2012, quando Alejandro Sabella era o técnico da seleção.

E isso porque nem citamos a saída de Alario – outro habitué recente da seleção – para o Bayer. Ou do técnico Muñeco Gallardo, tido por muitos como o verdadeiro merecedor do cargo que hoje é do desesperado Sampaoli nas Eliminatórias.

É un equipazo. Ninguém pode discutir.

Agora se já é o campeão desta Libertadores ou se é a ''Máquina 2'', como repetem os fanáticos a todo momento, em alusão ao famoso time dos anos 40, aí mesmo só o tempo vai dizer. A resposta começa a vir hoje. Vale conferir.

Atualizando – O 3×0 foi cruel demais com o time de Gallardo, que fez por merecer sair de Cochabamba com um 1×2 ou até 2×2. Que ironia. O River 2017 voltou no tempo e virou o River conhecido por décadas a fio, o River de grandes times que colecionavam grandes derrotas.

A série não está fechada, mas resta só de 10% a 15% de chances de classificação para os de vermelho e branco. Eis imensa oportunidade para este River mostrar que é mesmo tudo isso que sua torcida diz.


Galã, técnico do Racing faz mais sucesso fora que dentro de campo
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Tales Torraga

Diego Cocca, 45, é desconhecido no Brasil – bem ao contrário da Argentina. O técnico do Racing que hoje visita o Corinthians em Itaquera é o grande galã do futebol no país. Suas seguidoras têm até definição própria: são as ''coquetes''.

Diego Cocca, técnico do Racing – Diário Popular/Reprodução

Cocca é tão conhecido pela boa aparência e por se vestir sempre de maneira impecável que seu apelido tanto para jogadores como demais técnicos é ''facha'' – o ''boa pinta'' em português.

A insuperável recepção do público feminino o faz um prato cheio para campanhas publicitárias. Meticuloso, Diego escolhe bem o que representar. Nada de fumo, álcool ou polêmicas. São geralmente empresas de tecnologia ou de produtos de beleza que o procuram para fazer propagandas desde Avellaneda, cidade-bairro de Buenos Aires onde fica o Racing, até companhias maiores da capital argentina.

O próprio Racing, óbvio, aproveita a ''facha'' de Cocca para lucrar.

Em seu primeiro momento no clube, em 2014 e 2015, o treinador foi a estrela da campanha ''Racing positivo''. Além de protagonizar a peça publicitária, a frase foi originária de uma entrevista sua – e passou a ser repetida pontualmente nas conferências posteriores, por supuesto.

A fama de bom pai e bom marido também ajuda. Diego é casado desde os 24 com Bettina. Abraçado a ela, deu parte da volta olímpica quando foi campeão argentino com o Racing em 2014.

Outras características suas são ser sentimental – já chorou em plena entrevista – e culto. É presença constante na TV para falar de livros e conversar com autores.

Cocca tampouco se envolve em escândalos – e lida com absoluta tranquilidade com a verdadeira vigilância que os paparazzi argentinos exercem sobre sua filha, a lindíssima Abril, de 19 anos, que namora um jogador juvenil do River Plate – clube onde Cocca se formou como jogador e do qual é torcedor assumido. Diego é pai também de Manuel (14), que joga na base…do River, não do Racing.

Cocca e a filha Abril, de 19 anos – Arquivo pessoal

Diego costuma repetir sempre que tem o brasileiro Delém, ex-atacante do Vasco, como um de seus grandes mentores. Era Delém o responsável pelas categorias de base do River quando Diego, então zagueiro, foi lançado por Passarella em 1990. Como quase todos os jogadores de seu tempo, Cocca teve atritos com Passarella, que o dispensou por ter conversado com o goleiro Comizzo, então afastado.

É injusto tratar Cocca como mau treinador – o mais correto é considerá-lo um bom técnico e um insuperável ''senhor-propaganda''.

Muito criticado pela torcida do Racing em seu primeiro ciclo no clube, Diego conduziu a equipe em 2014 a um título que o clube não conquistava fazia 13 anos. Cocca virou até parte de uma famosa bandeira da torcida do Racing – a mais fanática de Buenos Aires, para o blog – ao lado de outros três treinadores gigantes da história do clube, José Pizzuti, Coco Basile e Mostaza Merlo.

Cocca à direita na bandeira – Acervo pessoal

***

Do Racing nesta noite em Itaquera deve-se esperar a perna forte de sempre e uma retranca difícil de furar.

Três jogadores da equipe são razoavelmente conhecidos no Brasil. O bom zagueiro Lucas Orban era do Tigre e foi quem brigou com Lucas na decisão contra o São Paulo pela Sul-Americana de 2012. O volante uruguaio Arévalo Ríos parece irmão de Diego Lugano. Não pela aparência, claro, mas sim pelo temperamento e por ser um digno ''cacique uruguaio'' louco para mandar a equipe al frente.

No ataque, Lisandro ''Licha'' López, de magra passagem pelo Inter de Porto Alegre em 2015, tem técnica para estragar a defesa do Corinthians. A pena é que seu corpo não corresponde. Aos 34 anos e vindo de seguidas lesões, ele cogita abertamente sua aposentadoria.


O que está por trás da escolha da Bombonera para a decisão Argentina x Peru
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Tales Torraga

É oficial desde esta tarde. Argentina e Peru vão se enfrentar na Bombonera no próximo dia 5 pela penúltima rodada das Eliminatórias. A partida estava traçada para ocorrer no Monumental de Núñez, mas AFA, Fifa e Conmebol já se acertaram e farão em breve o anúncio que o preocupante duelo ante os peruanos será no bairro de La Boca – como tanto queriam os jogadores e o técnico Jorge Sampaoli.

Superclássico em La Boca – La Nación/Reprodução

A AFA desde o começo se opôs à mudança, mas se viu muy pressionada pelos jogadores, que mais que pediram – praticamente exigiram atuar na Bombonera. Haverá menos dinheiro nos cofres da Associação: 13.000 entradas a menos para vender e lucrar uma enorme, imensa irritação dos patrocinadores e toda a equipe de logística. Mas os jogadores avaliam que assim vão receber um apoio maior.

Será? Não é este o perfil familiar do torcedor portenho pela seleção. Impossível imaginar que ele fará a Bombonera tremer, como treme nas partidas do Boca.

O que pode haver sim é um aumento de pressão, pois a bronca argentina com esta seleção é a maior dos últimos tempos. Os mais veteranos por aqui dizem que desde 1985, com Bilardo, Maradona e Passarella, que a Argentina não se via tão questionada e sem saber o que fazer. Tanto isso é verdade que a estratégia de jogar em palcos diferentes dos habituais por questões populistas ou esportivas já foi adotada no passado e foi um fracasso. Uma delas foi contra o Brasil, em 2009, quando a seleção de Diego Maradona foi atropelada pelo Brasil de Dunga – um histórico 3×1 em Rosário. A mesma Bombonera foi adotada como palco para tentar frear o mesmo Peru em 1969. Foi 2×2. O Peru se classificou. A Argentina ficou fora.

Quase 50 anos depois, não dá para dizer que aprenderam. É uma loucura que uma seleção desesperada por melhorar e jogar bem fique gastando tempo e energia com mudanças de estádio. E o que pior: em um lugar onde os problemas acontecem sempre, e basta conversar com um punhado de argentinos que seja para prever que a partida contra o Peru tem tudo para terminar mal – ou pelo lado argentino ou pelo peruano, que desde já se opõe a jogar no estádio que não cumpre as normas de segurança e que não estava inscrito no prazo válido, como alegam. A burocracia, claro, foi atropelada. Resta saber como farão com os torcedores do Peru que querem 15.000 entradas no estádio onde mal cabem 50.000. Este foi um dos principais temas da comitiva peruana que esteve na Bombonera nesta terça (12). Uma recusa em jogar já lá não se prevê mais. Mas uma novela insana por temas irrisórios já está em curso.

Para piorar de vez o ambiente, um ídolo do futebol do Peru, El Patrón Velásquez, fez um grave alerta e disse esperar de tudo para a partida do dia 5, até suborno ao árbitro, agressão física e envenenamento. Velásquez estava em campo no Peru x Argentina de 1985 que selou a ida de Maradona, Ruggeri e companhia para o México-1986. E contou que os argentinos jogaram com as mãos cheias de pomada de menta para passar nos olhos dos peruanos naquela tarde no Monumental.

Voltando a 2017, a atual Argentina não sabe o que é jogar na Bombonera e em como esta pressão pode ser prejudicial para uma seleção que precisa de paz – e não de mais pressão em um ambiente já insuportável. Os psicólogos portenhos estão na TV e cravam sem meias-voltas: esta mudança de estádio é claro sinal do pânico que ronda o time em não ir para a Rússia-2018. É o famoso tirar o foco do que é importante e de como os jogadores encontraram um tema para se encostar e desviar a atenção do quanto todos estão devendo com a bola rolando.

Messi, Dybala e Icardi, o trio maravilha do ataque argentino, jamais pisou no estádio. Nenhum deles sequer atuou no Campeonato Argentino (sim, sabemos que Dybala jogou no Instituto na Série B, mas na Série A nunca). É estranho – quase catastrófico – que a opinião de jogadores tão pouco conhecedores das mazelas da Bombonera seja tão levada em consideração.

A explicação para tudo isso?

A AFA recém-assumida sabe que em caso de derrota e não ida à Rússia, terá sua morte política decretada. Apesar de ser, em última análise, um tanto quanto sem sentido, o capricho dos jogadores foi levado adiante por uma única razão: para a AFA poder ter uma desculpa e culpá-los depois caso não se classifiquem.

Não há desculpas e não há mais blindagem, jogadores. Agora é 1000% com vocês.

Lavamos nuestras manos.


O Peru está mais do que certo em vetar a Bombonera
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Tales Torraga

O Peru tem toda a razão em se recusar a enfrentar a Argentina na Bombonera no próximo dia 5, como mandou em documento à Fifa neste fim de semana.

Não há muito o que discutir e até os mais fanáticos torcedores do Boca reconhecem. A Bombonera é um estádio selvagem e ultrapassado – e que só continua com os portões abertos graças aos desmandos do futebol argentino.

A opinião pública em Buenos Aires trata a atitude do Peru como medrosa e diz que o visitante não tem direito de escolher onde jogar, e que tais coisas com Julio Grondona, o nefasto e perpétuo presidente da AFA, não aconteceriam.

E queimar os olhos dos jogadores do River com o gás que as mulheres usam para se defender dos abusadores? Aconteceria em outro lugar que não a Bombonera?

Capa do ''Olé'' depois da ''Noite do Gás''

Técnico do Peru, Ricardo Gareca conhece a Bombonera muitíssimo bem.

De 2009 a 2013, dirigiu o Vélez e cansou de visitar o estádio. El Tigre Gareca foi um atacante revelado pelo Boca e defendeu o clube até 1984, quando precisou lidar com uma das maiores crueldades da Argentina. Foi para o River e a torcida do Boca então passou a cantar ''Gareca tem que morrer / E de câncer sofrer''.

É inevitável pensar que logo vão ameaçar Gareca de morte e escrever para ele ''não esquecer que é argentino e que as rotas de sua família são bem conhecidas'' por todo o país.

Que loucura.

É uma loucura também que esta Argentina tão milionária e badalada queira amedrontar o Peru, que sabiamente já se recusou, em papel timbrado, a colocar os pés na arapuca que seria a Bombonera para este confronto decisivo.

Ou faz sentido enfrentar a Argentina em um estádio onde te cospem e te atiram de tudo em um escanteio, onde as tribunas mais agressivas ficam em cima do banco de reserva adversário, onde a distância entre o campo e a arquibancada ignora qualquer bom senso?

Faz sentido que os argentinos sigam insistindo que ''escolham a cancha que quiserem porque vamos passar por cima'' depois do papelão que foi empatar com a Venezuela no Monumental?

A partida será no Monumental de Núñez, insistimos nisso desde a semana passada, e só uma reviravolta a cada dia mais improvável vai mudar esta sede. Os bastidores argentinos são repletos de falcatruas – é essencial desconfiar sempre das mais diversas versões. Vamos juntos tentando separar la paja del trigo.

Faz sentido que a Argentina garanta a segurança do Monumental depois do que aconteceu na partida que selou a queda do River para a B Nacional, quando os torcedores queimaram o estádio e quando os barras bravas invadiram o vestiário do árbitro no intervalo para ameaçá-lo?

O Peru tem todo o direito de exigir jogo limpo desde agora. Quando mandam seus jogos, os peruanos não elegem a altitude (como Bolívia ou Equador) ou o calor infernal (Venezuela e Colômbia). Merecem nosso respeito.

Por que a Argentina não decide jogar na Europa, onde seus jogadores destroem as defesas todas as semanas e onde se sentem bem, e não nesta verdadeira ciudad de la furia (gracias, Cerati) que virou Buenos Aires desde o jogo com a Venezuela?

Esta versão já circula entre os dirigentes, que avaliam esta possibilidade e pretendem levá-la adiante ou descartá-la oficialmente até amanhã (12).

Jogar na Europa é bizarro? Claro que é.

E a história da seleção argentina? É o quê?!


Por que os argentinos fazem tantos gols nos clubes e não na seleção?
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Tales Torraga

Messi, Dybala e Icardi se apresentaram à seleção argentina para os jogos contra Uruguai e Venezuela imediatamente depois de anotar gols pelos seus clubes. A Argentina ficou no 0x0 com o Uruguai e no 1×1 com a Venezuela.

(…em Buenos Aires e favorecida por um gol contra, que difícil de acreditar.)

Gols imediatamente antes e imediatamente depois, Ontem (9) e hoje (10), Messi, Dybala, Icardi – e até Agüero e Higuaín! – voltaram a balançar as redes.

Por que isso ocorre e por que a seleção atravessa momento tão delicado?

Agüero, Messi e Dybala – Olé/Reprodução

A sensação em Buenos Aires de que os jogadores estão deprimidos e atravessando má fase caiu por terra – é a seleção, única e exclusivamente, que vive ambiente insuportável juntando as três finais perdidas e este papelão nas Eliminatórias.

De tão negativa e tão pressionada, ela está criando um bloqueio mental nesses jogadores ''galácticos'' que rendem impecables em seus clubes e não encontram tempo e nem condições de se adaptar a outro esquema, outro técnico e outros colegas. Nem tempo e nem boa vontade do entorno. Há um verdadeiro rechaço de toda a sociedade argentina a jogadores idolatrados ao extremo em suas equipes.

É quase um caso de bipolaridade, com atletas indo da euforia à depressão sem escalas (e com muitos milhões de dólares e milhões de sentimentos no meio).

Do confete ao chicote – isso é a Argentina. Já há na imprensa portenha até um termo para batizar o que passa com esta seleção: mochila psicológica.   

O ''quarteto fantástico'' da seleção antes formado por Di María, Messi, Agüero e Higuaín perdeu os dois últimos nomes para as entradas de Dybala e Icardi. E não é inacreditável que cinco desses seis tenham anotado gols justamente depois da seca da seleção? Exceto Di María, machucado, todos cumpriram com suas funções.

Messi marcou três contra o Espanyol. E em quatro jogos pela seleção, no 2017 todo, fez só um gol – de pênalti inexistente contra o Chile!

Agüero deixou o seu contra o Liverpool. Pelo Italiano, Dybala e Higuaín marcaram um cada no 3×0 da Juve no Chievo, e Icardi fez um para a Inter contra o Spal.

Os artilheiros na ''Bota''? Dybala e Icardi, com cinco gols cada! E Higuaín foi visto feliz e tranquilo nesta semana – afinal, não foi arrastado para o calvário argentino.

Técnico da seleção, Jorge Sampaoli vai dar a resposta nesta semana se vai contar com um ''preparador mental'' para as partidas que vão decidir o futuro argentino contra Peru e Equador, nos dias 5 e 10 de outubro, em Buenos Aires e em Quito.

Os gols estão todos aí, Pelado Sampa, mas não no seu time.

Sabemos que você também está sem tempo de trabalho e que está na mesma bipolaridade – da glória do Sevilla para o total desastre argentino. Um dos mais estridentes apresentadores da TV daqui, Martin Liberman, nesta semana gritou mais que nunca querendo o ''Sampaoli do Chile'', não ''esta fraude agora na Argentina''.

A seleção está no ponto exato da gíria portenha que ironiza algo muy pero muy complicado de fazer:

Nos cuesta un Peru!


Argentinos usam Del Potro para atacar Messi
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Tales Torraga

A relação entre a Argentina e Lionel Messi está baqueada como nunca aqui pelos lados portenhos. O 1×1 com a Venezuela escancarou a enorme irritação da torcida, da imprensa e de ídolos do passado com o craque do Barcelona.

A voz geral é uma só. A seleção só vive esta calamidade porque Messi, o craque calado, não faz jus ao seu papel de capitão. Não comanda os seus companheiros em campo e não tira os olhos do chão – como realmente não tirou durante quase todo o segundo tempo do jogo contra a Venezuela no Monumental de Núñez.

É a apatia desta seleção comandada pelo apático Messi que colocou o time neste buraco. E nem o ''timing'' colabora com esta situação.

Justo enquanto a Argentina ainda assimilava o vexame e o empate para a Venezuela em casa, o país parou na frente da TV, do celular e do rádio para vibrar com a incrível vitória de Juan Martín del Potro sobre Roger Federer no US Open.

Festa e depressão – Montagem Olé/Reprodução

As comparações passaram a ser inevitáveis. ''Se dois ou três jogadores da nossa seleção tivessem o coração de Del Potro, não teríamos críticas e nem problemas'', escreveu no Twitter o Matador Mario Kempes, herói do título do Mundial de 1978.

A fase de Messi tampouco inspira o respaldo técnico que ele sempre ofereceu à seleção argentina. O seu 2017 é o ano pior desde que Lio vestiu a azul e branca.

Em quatro jogos, marcou apenas um único e miserável gol. Em 2016, foram oito; em 2015, quatro. Em 2014, outros oito. ''Ele está mudando de posição, está deixando de ser artilheiro para ser quem dá o passe. Algumas atuações suas foram boas. Já outras, bem fracas'', cravou Leopoldo Luque, outro atacante da Argentina de 1978.

Rebeldia, garra, coração, huevos, trabar con la cabeza, ganar como sea, ganar sí o sí. É claro que nem o futebol e nem o tênis se resumem a essas coisas. É claro também que colocar Messi e Del Potro na mesma quadra ou no mesmo campo é um sinal do desespero argentino do momento. Já há bem-humoradas campanhas nas redes sociais por aqui pedindo para Jorge Sampaoli convocar Delpo como centroavante para o jogo contra o Peru e aproveitar o seu 1,98 metro para fazer, de cabeça, o gol que classificaria a Argentina para o Mundial.

A Argentina está toda paralisada e não fala de outra coisa. As outras coisas que surgem – como Juan Martín em Nova York – surgem para traçar paralelos com a seleção. O calendário parece que parou no tempo e que só existe o 5 de outubro, data da partida contra o Peru.

É o maior drama esportivo da Argentina em todos os tempos – os de antes nem se comparam. Há uma novidade, uma ironia, uma polêmica, uma reclamação a cada instante. E isso porque os jogadores nem falam à imprensa (e nem em campo).

Vão – de qualquer jeito – precisar passar a também não ouvir.


Impasse por dinheiro arrisca vaga argentina na Copa
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Tales Torraga

As pulsações continuam elevadíssimas em Buenos Aires depois do papelão que foi empatar com a Venezuela no Monumental de Núñez. O 1×1 da noite passada humilhou tanto os portenhos que não haverá mesmo outro assunto daqui até 5 de outubro, quando a Argentina enfrenta o Peru – e de novo no estádio do River.

E é a própria escolha do estádio para a próxima partida que mostra como esta Argentina está correndo atrás da cenoura errada.

Segundo apurou o blog, tanto a comissão técnica da seleção quanto os jogadores detestaram o ambiente do estádio e manifestaram interesse em trocar de sede. É fato: o Monumental nesta terça parecia um teatro, e o silêncio predominou na maior parte do jogo. A frieza foi maior até que de uma partida vivida na Europa. Este é um dos selos portenhos da atualidade: algo no me gusta? Vou ignorá-lo.

O clima em Núñez foi tão raro que o narrador Mariano Closs, das vozes de maior peso da rádio argentina, passou a partida ironizando aquele que citou como ''das maiores geladeiras já vistas, um teatro que escancara a distância entre a torcida e esses jogadores''.

A tentativa de mudar de sede para o decisivo (e complicadíssimo) jogo contra o Peru não vai para a frente por mero impasse financeiro. Nesta quarta, surgiram notícias aqui pelos lados portenhos que duas novas sedes estavam sendo trabalhadas, a Bombonera ou o Estádio Mario Kempes, em Córdoba.

Mas nenhuma vai ser colocada em prática.

A razão? Esta AFA (sigla da Associação de Futebol Argentino) que é comandada por Chiqui Tapia desde março fechou um contrato com o River para alugar o Monumental por um preço simbólico. E é claro que a grande capacidade do lugar interessa a todos: foram colocados à venda 61.688 ingressos para a partida contra a Venezuela, com preços entre R$ 50 e R$ 500 – e todos se esgotaram duas semanas antes da partida. Estima-se que a bilheteria da partida de ontem conferiu cerca de 30 milhões de pesos (em torno de R$ 4,28 milhões) aos cofres da entidade.

Capa do Olé de hoje (6)

A AFA, vale lembrar, está cheia de dívidas e brigando até por centavos – e daí vem a situação de conflito entre os interesses financeiros da associação e o pedido esportivo dos atletas por una cancha más caliente. E tudo isso com um inacreditável pano de fundo, a louca pressão que a Argentina vive de agora até o fim das Eliminatórias com a considerável possibilidade de sequer ir ao Mundial.

Outra razão para a Argentina continuar em Núñez é a logística. O CT da AFA fica em Buenos Aires, e ir para outra província em jogo tão decisivo seria improdutivo neste sentido. A AFA tampouco pensa em pisar na Bombonera, onde perdeu a vaga para a Copa de 1970 justamente para o Peru que reencontra no dia 5.

Mesmo com a verdadeira irritação dos jogadores e de Jorge Sampaoli, a Argentina, salvo alguma reviravolta, vai seguir no Monumental, que ontem fez jus ao apelido que os rivais do River cansam de repetir ao ironizar o estádio.

Foi o ''Mudomental'' de Núñez como o blog jamais viu.