Patadas y Gambetas

Argentina flerta com o maior vexame de sua história
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Tales Torraga

Estava na cara e falávamos disso desde a última semana no Uruguai: o Argentina x Venezuela desta terça seria complicadíssimo. Que ninguém encare o 1×1 como resultado injusto. Os únicos que podem pensar assim são os venezuelanos.

Un pa-pe-lón.

Mais um desespero argentino – Olé/Reprodução

A Argentina não jogou absolutamente nada em Núñez. Os primeiros 20 minutos até iludiram, mas Di María de novo se lesionou e Dybala e Icardi de novo desapareceram. Messi de novo olhou para os lados e não viu ninguém – e quando viu, no caso de Banega, foi para dar força ao colega depois do erro absurdo que permitiu a abertura de placar da Venezuela.

Esta seleção de Sampaoli é tão fraca no ataque que o gol acabou sendo contra, depois de tentativa de Icardi. Este 1×1 teve o sabor, segundo os velhinhos argentinos, do 2×2 contra o Peru na Bombonera em 1969 – aquele Peru afinal era um bom time, ficou entre os oito no Mundial de 1970.

E esta Venezuela não é nada mais que a lanterninha desta Eliminatória.

Perna pesada. Cabeça explodindo. Torcida com as veias do pescoço saltadas. De nada adiantou Sampaoli mexer e mexer na equipe e se irritar com os jornalistas na véspera. Esta Argentina flerta com o maior vexame de sua história, que seria ficar fora da próxima Copa. Nem se compara aos outros. Vivemos os tempos do futebol-novela 24 horas por dia, e esse fracasso seria um golpe muito mais pesado que o 6×1 para a Checolosváquia em 1958, mais que o 2×2 com o Peru em 1969, mais que o 5×0 da Colômbia em 1993.

Ao contrário das décadas passadas, a Argentina apenas agora é esta pretensa rainha do futebol, mas que cada vez mais procura sua coroa no lixo. A possibilidade de não ir à Rússia é séria. Seríssima.

Não bebam outra história. Nem adianta argumentar que a última rodada dupla é tranquila. A Argentina encara o Peru em casa (precisa ser em outro estádio que não o irritante Monumental desta terça) e o Equador na altitude de Quito.

Esta Argentina não joga bem desde os tempos de Tata Martino, e os inventos de Sampaoli não serviram para nada a não ser irritar a torcida. Conquistou dois pontos dos últimos seis. A cisão é séria. A Argentina tem jogadores e deveria ter tempo para ajustar suas peças e montar uma seleção suficiente boa para superar Peru e Equador.

Mas como achar que o time vai melhorar se ele piora a cada jogo?

Falta futebol e falta tranquilidade. Sobra urgência e sobra desespero. Para piorar, os jogadores que poderiam resolver algo estão realmente traumatizados pelo que vem sendo a Argentina nos últimos anos.

Classifica entre os quatro melhores? Termina em quinto e vai para a Repescagem? Ou fica em sexto ou sétimo e não sai de casa? Hoy por hoy, um terço de chance para cada possibilidade.

Dias amargos e muito longos estão por vir até esta definição. De verdade, Sampaoli. Cuide de sua saúde. Daqui até 5 e 10 de outubro, até os jogos contra Peru e Equador.

Que drama, muchachos.


Sampaoli ataca imprensa e escancara pânico argentino para a “quarta final”
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Tales Torraga

Argentina e Venezuela se enfrentam às 20h30 (de Brasília) desta terça (5) na partida que enorme parte da torcida aqui pelos lados portenhos trata como ''quarta final''.

Depois de perder as decisões contra Alemanha e Chile, a Argentina agora se vê nas cordas e apanhando de todos os rivais sul-americanos. A missão do dia é não dar vexame diante da lanterninha Venezuela e não ficar fora da próxima Copa. O último Mundial sem a Argentina foi o de 1970 – eliminada pelo Peru em plena Bombonera nas Eliminatórias de 1969.

Em outros tempos, a partida de hoje (5) seria das mais fáceis para o selecionado argentino e sua constelação de craques de nível internacional AAAA.

Mas tal constelação, na prática, está eclipsada por pernas que tremem assim que põem a camisa azul e branca. Este é o sensível diagnóstico que domina qualquer conversa em Buenos Aires e nas demais províncias argentinas. A pressão sobre este elenco é gigante e afeta terrivelmente qualquer um – veterano ou estreante, recém-chegado ou o comandante de turno que seja.

Sampaoli fala aos jornalistas – Olé/Reprodução

Jorge Sampaoli, em sua segunda partida oficial à frente da seleção argentina, teve um agudo bate-boca com os jornalistas na conferência de imprensa desta segunda (4). Tal postura não se viu nos treinadores anteriores Tata Martino e Patón Bauza – e muitos por aqui encararam este pouco tato de Pelado Sampa como sinal claro de que a seleção está em pânico mesmo ao enfrentar a frágil Venezuela.

Sampaoli retrucou com agressividade uma pergunta sobre uma suposta discussão sua com Lionel Messi depois do 0x0 contra o Uruguai em Montevidéu. Mais uma vez, há sim rumores, sempre negados, de que Messi tenta interferir na escalação e no posicionamento dos colegas – mas que Sampaoli teria ''lhe parado o carro'', gíria argentina para o que no Brasil seria um ''cortar as asinhas''.

''Essas conversas têm má fé e só querem nos tirar do foco principal que é classificar a Argentina para o Mundial'', foi o resumo do que respondeu, ríspido, o treinador, que reconheceu que a pressão – mais que a própria Venezuela – é a grande adversária argentina nesta noite em Núñez.

A Argentina é a quinta colocada nesta Eliminatória e não assegura vaga nem se vencer as três partidas que lhe restam (Venezuela e Peru em casa e Equador no encerramento, fora). Quem faz as contas detalhadas é o jornal ''Clarín'', criando ainda mais nervosismo em uma torcida que está furiosa como jamais de viu nas últimas décadas. O portenho hoje está bem mais intratável com este time do que esteve no ciclo de Diego Armando Maradona como técnico – outro que precisou ''bailar con la fea'' até a última rodada da Eliminatória de 2009.

Sampaoli mexeu bastante na equipe que vem do anêmico 0x0 contra o Uruguai. A Argentina desta terça (5) vai ter: Romero; Mascherano, Fazio e Otamendi; Pizarro, Dybala, Banega e Messi; Acosta, Icardi e Di María.

Diego Maradona disse que vê esta equipe e se assusta, que não entende nada do que propõe Sampaoli. Sua opinião bate com a de muitos torcedores, que já começam a ver El Pelado Sampa muito mais como um ''Professor Pardal'' excêntrico do que alguém coerente em quem confiar.

O bate-boca de ontem também não ajudou na sua aceitação.

Todos por aqui esperam um Monumental de Núñez hostil e que deve jogar contra esses atletas. Para piorar, o canal de TV America, de Buenos Aires, explodiu ontem a notícia de que muitos jogadores da Argentina participaram nos últimos dias de duas escandalosas festas repletas de bebidas e mulheres.

Para piorar 2: Em um 5 de setembro como hoje, há exatos 24 anos, a Argentina passava por um dos maiores vexames de sua história ao perder para a Colômbia por 5×0 no mesmo Monumental de Núñez e pela mesma Eliminatória que vai precisar enfrentar nesta noite. Que triste coincidência.

O dramalhão argentino, repleto de drama e loucura, não poupa nem a Venezuela.

¡Terrible!


Di María vive “tudo ou nada” contra a Venezuela
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Tales Torraga

Primeiro foi Sergio ''El Kun'' Agüero. Depois, Gonzalo ''El Pipita'' Higuaín. Os dois saíram da seleção titular da Argentina – e o terceiro muito cotado a seguir este caminho é Ángel Di María, o ''Fideo'', macarrãozinho que é pela sua magreza.

Di María foi titular e jogou os 90 minutos contra o Uruguai na última quinta em Montevidéu, mas foi um desastre. Tentou 14 cruzamentos e errou – incrível – todos. Saiu só aos 46 do segundo tempo para a entrada de Correa.

La Pulga, El Fideo e a tensão- Olé/Reprodução

Di María é grande motivo de chacota aqui pelos lados portenhos. A ira da torcida argentina com ele é tão incômoda que durante o próprio jogo contra o Uruguai ele virou o assunto do momento do Twitter tamanha era a enxurrada de críticas e de gozações com sua pálida atuação.

Jorgelina, que é sua esposa desde 2011, deu diversas e agressivas entrevistas à imprensa argentina defendendo o marido. Uma das grandes insatisfações da torcida com ele é o fato de jogar na seleção com ''a cabeça no Barcelona''.

Sim, a capacidade inventiva por esses lados é gigante.

No Barcelona ou na própria seleção, é fato que Di María precisa cuidar demais da sua cabeça e não sucumbir à enxurrada de críticas que acabou custando os lugares de Agüero e Higuaín. Aos 29 anos, ele também não vê muito mais chão pela frente em uma seleção argentina capaz de enlouquecer qualquer um – e há uma séria preocupação também com Jorge Sampaoli, elétrico por natureza, mas que passou 90 minutos à beira de um colapso em Montevidéu.

O jogo das 20h30 (de Brasília) desta terça (5) no Monumental de Núñez contra a Venezuela não é encarado como fácil por ninguém. A Argentina precisa demais desta vitória, mas seu futebol demonstrado nesta Eliminatória até aqui não é suficiente para apontá-la como favorita.

A opinião geral em Buenos Aires indica uma vitória sofrida e magra – mas que seria suficiente para tirar a Argentina desta inglória quinta colocação que dá passagem apenas para a Repescagem.

Sofrido – e magro por natureza – está também Di María. Ou joga bem nesta terça ou deixa a equipe. Simples assim. Não se vê em Sampaoli um comandante que faça questão de resguardar quem quer que seja em busca de uma classificação que atormenta ainda mais esta fria e chuvosa Buenos Aires.


Argentina mantém ataque e põe Mascherano na defesa contra a Venezuela
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Tales Torraga

O empate sem gols contra o Uruguai não mudou a cabeça de Jorge Sampaoli. O elétrico técnico da seleção argentina comandou um treino neste sábado aqui pelos lados portenhos com a manutenção de seu quarteto ofensivo de ataque, formado por Di María, Messi, Dybala e Icardi.

Treino da Argentina neste sábado – Olé/Reprodução

Sampaoli vai mexer na equipe apenas no sistema defensivo. Entre os zagueiros, Gabriel Mercado, suspenso com três amarelos, será substituído por Javier Mascherano, que finalmente vai atuar na Argentina como joga no Barcelona.

Chamou muita atenção a paciência de Mascherano de ficar no banco e não jogar um minuto sequer em uma partida tão raspada como foi o clássico contra o Uruguai. Sua postura agregadora neste ciclo de treinamentos é uma das grandes virtudes que os argentinos encontram neste atual elenco.

As duas outras mudanças serão entre os volantes, com a entrada de Acosta no lugar de Huevo Acuña e no retorno de Banega, que estava suspenso, assumindo agora o lugar que era de Guido Pizarro.

Em campo, a Argentina que tenta vencer a Venezuela às 20h30 (de Brasília) desta terça-feira (5) no Monumental de Núñez terá: Romero; Mascherano, Fazio e Otamendi; Acosta, Biglia, Banega e Di María; Messi, Dybala e Icardi.

Os torcedores e jornalistas portenhos estão claramente irritados e com medo de esta seleção não se classificar para a Copa. A Argentina segue na perigosa quinta colocação, a que leva somente para a Repescagem.

A conta que é feita por jogadores e torcedores insiste que é possível se classificar direto ganhando as duas partidas em casa – esta, contra a Venezuela, na terça, e contra o Peru, daqui a um mês, na própria Argentina, com cancha a ser definida.

Em outros tempos, tal combinação Venezuela + Peru + casa seria das mais fáceis, mas a Argentina não tem jogado a ponto de merecer o favoritismo contra nenhuma das duas – por loucura que seja imaginar um jogo difícil contra a Venezuela neste momento de verdadeiro colapso total que os venezuelanos vivem.

O colapso, para muitos, vai vir das exigentes arquibancadas do Monumental, que devem explodir de irritação com este time na noite de terça.  Há, nas rádios, uma tentativa de conscientizar o público que vai ao estádio a apoiar – mas só quem jamais esteve na Argentina acredita que isso é possível com a bronca que o povo mastiga desta seleção.

Os 65.000 ingressos colocados à venda estão esgotados há duas semanas. Nas redes sociais, há um certo repúdio à concorrência pelas entradas e tímidas organizações para protestar – como ir embora no intervalo – caso a Argentina volte a jogar mal contra uma adversária tão frágil como a lanterninha Venezuela.

Depois de Venezuela e Peru, a equipe do excêntrico técnico El Pelado Sampa – que faz questão de carregar o cabeludo assistente Sebastian Becaccece para todos os lados – será contra o Equador, na altitude de Quito, em 10 de outubro, no encerramento desta tortura chamada Eliminatórias.


Análise: Melhor do mundo? Ataque da Argentina é pior até que o da Venezuela
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Tales Torraga

Incrível. A Argentina estreou aqui em Montevidéu seu terceiro técnico nesta Eliminatória. Começou com Martino, passou por Bauza, agora é de Sampaoli.

Incrível. A Argentina atacou nesta Eliminatória com Messi, Di María, Dybala, Icardi, Higuaín, Agüero, Pastore, Alario, Correa. No último quarto de jogo deste 0x0 no Centenário, o time chegou a ter cinco homens de frente juntos: justamente Messi, Messi, Dybala, Icardi e Acosta.

Outro fiasco argentino – Olé/Reprodução

E como explicar que este ataque argentino, que os argentinos cansam de repetir que é o ''melhor ataque do mundo, recheado de estrelas das maiores ligas'', tenha só 15 gols em 15 jogos desta Eliminatória, pior até que a Venezuela – com 17?!

Um pouco da resposta veio do próprio gramado do Centenário. Não foi a bola que não chegou a Dybala e a Icardi. Foi o sangue que não chegou às veias de nenhum deles. Complicou? Cruzaram o braço, ao contrário de Suárez e Cavani, que realmente rasparam a cara e a canela em cada dividida.

Messi tentou um pouco mais, verdade.

Incrível que Lio, de caminhante serial, seja agora a referência de atitude para uma Argentina que troca técnicos e jogadores, mas que segue precisando trocar a cabeça, pelo amor de Evita.

É impossível que a seleção tenha tantos jogadores e não tenha um time.

O Uruguai é exatamente o contrário. Não tem jogadores, mas tem um time. O jogador que tem, Suárez, jogando com uma perna só, fez mais sozinho que todos os atacantes argentinos. Que Cristiano Ronaldo tenha chegado nesta quinta a 14 gols marcados nesta Eliminatória – contra 15 de toda a Argentina junta – é um grito no ouvido de que este grupo de jogadores precisa realmente saber onde está.

Saber onde vão estar na próxima terça cada um já sabe: no estádio do River, em um Argentina x Venezuela que já pinta, por difícil que seja admitir, difícil. A bagagem de gols marcados é favorável aos lanternas venezuelanos, difícil que é de acreditar.

Sabe aquele caso de mentira repetida até virar verdade? É o caso deste ''melhor ataque do mundo''. De La Boca até Belgrano, por toda a Corrientes ou pelos argentinos que viajaram ao Centenário: parecia um mantra. Somos los más grandes.

E mal chutaram ao gol em mais de 90 minutos.

Do céu ao inferno, do topo do Obelisco à planta baja. Nada mais argentino.

O empate desta quinta estava na cara que era a opção mais óbvia. Falávamos isso desde terça. O clássico teve um ápice de patadas no começo do segundo tempo, mas passou de mate a tereré assim que o Chile teve a derrota decretada e a Colômbia ficou no empate.

De empate a empate, se arrastando como uma cobra, a Argentina de Messi vai lutando para chegar à Rússia – que não está logo ali. Ojo.


Como o futebol virou o assunto das mulheres no Uruguai
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Tales Torraga

O bairro de Pocitos é dos mais agradáveis de Montevidéu. E como Tostão sempre diz, o uruguaio é, de fato, dos povos mais educados e agradáveis do mundo.

Monica Caffe, de 49 anos, é excelente exemplo. Dona de uma mercearia na esquina das ruas Simón Bolívar e Silvestre Blanco, no próprio bairro de Pocitos, ela distribui sorrisos e muitas cuias de mates aos que passam pelo seu negócio.

Sua rádio sintoniza um programa de debates de futebol. Uma colega lê o ''Ovación'', o caderno de esportes do jornal ''El Pais''. Uma outra presente combina com as amigas em qual bar vão ver o clássico das 20h desta noite contra a Argentina.

Cinco mulheres, uma bandeira e uma paixão – a seleção / Foto: Patadas y Gambetas

Sem exagero: o futebol é o assunto preferido das mulheres uruguaias quando a seleção está em campo. ''Este é um mérito do técnico Tabárez. Ele realmente uniu o país à seleção. Você percebeu quantas mulheres telefonam para os programas de rádio para conversar sobre futebol com os locutores? Queremos saber todos os detalhes. Aqui é assim. No Brasil não é? Mas vocês têm tudo…'', sorri Monica, muy amable como sempre. Amable e apaixonada pelo seu país: tanto é assim que ela fez questão de sair na foto acima olhando para a bandeira, e não para a câmera.

O vínculo feminino com a seleção uruguaia é forte também entre as adolescentes – que contam, entusiasmadas, que se juntaram entre muitas amigas para torcer pelo país até no Mundial Sub-20 disputado em junho, mesmo com os jogos disputados na Coreia do Sul: ou seja, na madrugada ou muito cedo. E no inverno.

''O que o futebol nos mostra é que com união é sim possível que o Uruguai, país tão pequeno, consiga destaque mundial'', afirma a socióloga Carola Rabellino, de 48 anos, também empolgada para o clássico. ¨Obdulio Varella, Ghiggia e os jogadores do Maracanazo são grandes heróis para a gente justamente por isso, por traçar um caminho para o povo. E isso estava adormecido. A seleção esteve mal por muitos anos. Agora, com Tabárez, nos juntamos a este processo. Os homens sempre foram mais do futebol, até por cultura, mas hoje as mulheres estão juntas igual.''

É uma afinidade das mulheres uruguaias então com a seleção, não com o futebol?

''A seleção é uma porta de entrada para o futebol local'', analisa Elena Gorriti, professora da Faculdade de Psicologia de Montevidéu. A faculdade fica na Tristán Narvaja, rua onde é armada a tradicionalíssima feira do centro da capital uruguaia.

''Todos concordam que o futebol hoje é mais novela que futebol. Todos querem ver o boné que usa Suárez, que cuia usa Messi para tomar o seu mate'', analisa a psicóloga. ''E isso, claro, encanta também as mulheres e os homens de igual forma. O que as mulheres daqui estão fazendo com a seleção é observar mais o futebol local, é saber quem joga no Nacional, no Peñarol, no Defensor.''

''Mas não pelos clubes, principalmente para saber qual é o futuro da seleção.''

Quando o Maestro Óscar Tabárez se refere ao êxito do ''processo'' da seleção, é exatamente disso que ele fala. De como o povo todo, sem exceção, abraçou esses 11 uruguaios correndo como alucinados que dan patadas não só nos adversários – mas sim nas limitações inevitáveis deste Uruguai tão pequeno quanto encantador.


Juntos, Messi, Icardi e Dybala escancaram a pobreza da Argentina
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Tales Torraga

E chegou o dia que imensa parte da Argentina esperava. Às 20h, contra o Uruguai, Lionel Messi, Paulo Dybala e Mauro Icardi vão enfim formar o ataque mais forte do mundo – desculpas, Brasil, isso nem tem o que discutir.

Messi e Icardi – Olé/Reprodução

De Messi nem é preciso falar. O sucessor de Maradona no trono do futebol mundial é também o maior jogador da história do Barcelona. E ele agora terá ao lado as maiores estrelas no complicadíssimo Campeonato Italiano.

Estrela na Espanha, estrelas na Itália.

O protagonismo deste trio galáctico é indiscutível aqui em Montevidéu.

É indiscutível também que os três juntos escancaram a pobreza do nosso futebol, pois nem Messi, nem Dybala e nem Icardi disputaram o Campeonato Argentino.

São argentinos meio truchos, meio falsos, pois fizeram carreira apenas fora do país. Sabemos, claro, que Dybala é cria do Instituto de Córdoba, de onde saiu com 19 anos sem jamais ter jogado uma única partida sequer na Primeira Divisão.

Que este trio trucho tenha como único exemplo de vivência argentina un par de partidos na Segundona é realmente uma pá de cal em uma nação que vive e sofre o futebol como nenhuma outra. A Argentina é um tango sem fim.

O tempo de Passarella no River e de Maradona no Boca já está enterrado, tudo bem, não há saudosismo e nem problema em reconhecer que as coisas mudam, o tempo passa e o capital europeu mastiga há décadas o pé de obra sul-americano.

Que Messi, Dybala e Icardi exibam um rotundo zero quilômetro no futebol do país da seleção que defendem é a prova cabal que nosso asado encheu de larvas.

O canibalismo primeiro mundista nem precisa ser discutido. A Argentina só precisa olhar para si e mirar sua pobreza – muito mais que capital, e sim moral e estrutural.

Messi deixou a Argentina rumo à Catalunha aos 13 anos. Icardi fez o mesmo aos 15. Dybala, otra vez, trocou Córdoba pela Itália aos 19.

Di María tampouco serve de contraponto. Também deixou a Argentina aos 19 rumo a Portugal – e saindo desde Rosário, e não da orgulhosa Buenos Aires. Cria do Central, deu adeus ao time depois de apenas 39 jogos e 6 gols marcados.

Mascherano, Higuaín e Agüero podem bancar a queixa que seja: deixaram seu suor e seu sangue nas canchas de acá com as camisas de River e Independiente.

Para completar a nova loucura argentina, Jorge Sampaoli tampouco treinou algum time do país. Sua prancheta teve que viajar por Peru, Equador, Chile e Espanha.

Esta Argentina é 0% argentina (tudo bem, 0% é exagero, mas somos exagerados, os uruguaios também, ¿Qué quieres que te diga?)

É claro que é sempre muito mais fácil falar que a fila de quase 25 anos sem título – lá se vão 24 e contando… –  é responsabilidade do pecho frío Messi e do gordo boludo Higuaín que errou gols nas três finais perdidas.


Entenda por que Uruguai x Argentina será o “clássico da mordaça”
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Tales Torraga

De um lado, Messi e Dybala. Do outro, Cavani e Suárez, que tenta se recuperar milagrosamente de uma lesão no joelho. Entre todos, um ponto de contato que dificulta demais o trabalho da imprensa aqui em Montevidéu e em Buenos Aires: a ''mordaça'' que Argentina e Uruguai impõem aos jornalistas.

As duas seleções se cruzam nesta quinta (31), às 20h (de Brasília), no mítico Estádio Centenário, pelas Eliminatórias.

Os jogadores da Argentina não falam com os veículos de comunicação desde novembro, quando foi noticiado que o atacante Ezequiel Lavezzi fumou maconha na concentração antes da partida contra a Colômbia.

Sampaoli e Messi – Clarín/Reprodução

O responsável por levar a notícia ao conhecimento público foi o radialista portenho Gabriel Anello. Lavezzi – que não foi convocado desta vez – ameaçou processar o radialista. Ficou só na ameaça. O que persiste desde então é a greve de silêncio.

O único que fala pela seleção argentina é o técnico Jorge Sampaoli, que ontem em Buenos Aires deu uma entrevista coletiva clara e cheia de detalhes, numa postura mais profunda e embasada que as loucuras de Patón Bauza, que chegou a bradar que ''não sabia o que fazer depois de ganhar a Copa com a Argentina''.

A mordaça uruguaia é um pouco mais sensível e tem a ver com a Tenfield, empresa que detém os direitos de transmissão do futebol uruguaio na TV.

A seleção desde março está em lítigio com os valores desembolsados pela Tenfield. Por isso, há a recusa geral de falar com os jornalistas da emissora e qualquer empresa ligada ao grupo que ela representa.

Entrevistas no campo de jogo? Nem pensar.

Os jogadores também exigem que sejam consultados antes de dar entrevistas em frente aos banners de publicidade. Foi o que ocorreu no Complejo Celeste, Centro de Treinamento uruguaio, nesta terça-feira.

Suárez mudo e cabisbaixo no Complejo Celeste – Tenfield/Reprodução

Os dois jogadores escalados para falar, Diego Godín e Matías Vecino, o fizeram em frente a um cartaz onde só havia o logotipo da AUF (a Associação Uruguaia de Futebol), da Fifa e da Conmebol. A Tenfield não participou – ela só teve acesso ao técnico Óscar Tábarez e ao médico da seleção, o doutor Alberto Pan.

Apesar da reclamação dos patrocinadores, que perdem dinheiro e espaço considerável de exposição na mídia, não há uma queixa específica do público na capital uruguaia – em Buenos Aires sim, um pouco mais, mas nada que anime a mudança de postura dos jogadores.

Os atletas de ambos os lados seguem inundando suas redes sociais com conteúdos que vão desde o desaparecimento de um preso político na Argentina até as cuias para tomar o mate – a versão uruguaia e argentina do chimarrão que é consumido com tanto entusiasmo no Rio Grande do Sul.

Uruguai (terceira) e Argentina (quinta na classificação) não demonstram nesta semana o espírito de batalha que sempre caracterizou o Clássico do Rio da Prata.

Por mais que os discursos proponham ofensividade e a Argentina pretenda escalar um time que ataque bastante, a opinião geral – como mostramos ontem – insiste que um empate seria muito conveniente aos dois países, que em caso de derrota se arriscam também a lidar com a acidez e com o revanchismo da imprensa local.

Empate em campo, empate fora – 0x0 com os jornalistas.

Walter Abrahão e seu ''oxo'' estão bem vivos por aqui.


Empate “armado” de 2001 ronda o Uruguai x Argentina desta quinta
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Tales Torraga

''Se não armam este empate de 2001 com a Argentina, o Uruguai completaria a terceira Copa do Mundo seguida sem disputar. Sim, foi um acerto. Aqui no Uruguai todo mundo sabe bem. A Argentina já estava classificada…''

O autor da declaração bombástica foi ninguém menos que o ex-técnico uruguaio Juan Ramón Carrasco em entrevista à Rádio Aspen, de Buenos Aires. Em 14 de novembro de 2001, Uruguai e Argentina se enfrentaram pelas Eliminatórias para a Copa de 2002, e o 1×1 (vídeo aqui) teve seus dois gols no primeiro tempo, aos 18 com Darío Silva (para o Uruguai) em aos 44 com Piojo López (para a Argentina). O árbitro foi o alemão Markus Merk. Victor Púa era o técnico do Uruguai; o treinador da Argentina naquela ocasião no Estádio Centenário era Marcelo ''El Loco'' Bielsa.

Era a última rodada daquelas Eliminatórias. O Uruguai terminou em quinto e precisou superar a Austrália na repescagem para jogar o Mundial da Ásia.

Darío Silva comemora gol na Argentina em 2001 – Olé/Reprodução

A reminiscência deste empate ''acertado'', segundo as palavras do técnico uruguaio que assumiu a seleção em 2003, ressurgiu em Montevidéu nesta semana do ''clássico das patadas'' entre Uruguai e Argentina, que se enfrentam nesta quinta (31) às 20h (de Brasília) no Estádio Centenário.

Qualquer conversa sobre a partida na tranquila capital uruguaia dá a entender que tal desfecho vai voltar a acontecer – afinal, a igualdade convém às duas seleções, e o tempo em que ambas eram inimigas ferrenhas está cada vez mais para trás.

Hoje, Uruguai e Argentina são rivais esparsos apenas nas Eliminatórias e na Copa América. Até o jornal ''El País'', o maior do Uruguai, se rendeu à evidência favorável ao empate e ao antecedente de 16 anos atrás em uma longa matéria publicada neste domingo sobre o histórico do clássico.

É claro que a tese favorável ao empate é ouvida apenas fora dos muros do Complejo Celeste, onde treina o Uruguai, e do CT de Ezeiza, onde a Argentina se prepara em Buenos Aires.

O discurso oficial de ambas as seleções mantém em fogo alto o orgulho que cada um dos países tem ao se comparar com o vizinho praticamente gêmeo e tão próximo em território e cultura. ''Uruguai e Argentina são irmãos de diferentes placentas'', é a inteligente definição que se ouve nos dois países.

O Uruguai está sem Suárez e passa a ser um time fácil de ser batido, como prova ao chegar a esta semana vindo de três derrotas – para Peru, Chile e Brasil. A Celeste não somou nenhum ponto neste 2017. É o pior cenário possível para um clássico.

A Argentina, vale lembrar, perdeu a última partida para a Bolívia em La Paz, um 2×0 que resultou na queda de Patón Bauza. Uma semana antes, havia batido o Chile em Núñez – 1×0 – em um dos maiores sufocos de todos os tempos, jogo que vai ser lembrado também para sempre pelos erros da arbitragem em favor da Argentina.

É mais que óbvio que o ponto a favor seria, para ambas as seleções, muito mais interessante, desde já, que arriscar uma vitória, perder e comprometer a classificação à Copa do Mundo.

O Uruguai está em terceiro lugar nas Eliminatórias, com 23 pontos, com a Argentina na quinta posição, com 22. A classificação está insana: Colômbia (24 pontos), Uruguai (23), Chile (23), Argentina (22) e Equador (20) formam uma escada entre o céu e o inferno com três vagas em disputa e um acesso à repescagem. É fato: qualquer migalha – ou melhor, qualquer empate – vai valer muito no majestoso Centenário do Parque Battle às 20h de quinta.


Surras do Brasil travam Uruguai e Argentina para o clássico
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Tales Torraga

Montevidéu e Buenos Aires ainda lembram bem do atropelo imposto pelo Brasil ao Uruguai e à Argentina nessas Eliminatórias. Na capital uruguaia, o temor deste começo de semana é que a Celeste desmorone – como desmoronou depois do segundo gol no 4×1 do Brasil – caso a Argentina saia na frente no clássico das 20h (de Brasília) de quinta (31) no Estádio Centenário.

Em Buenos Aires, onde a Argentina se juntou nesta segunda, o eco do doloroso 3×0 do Mineirão é reconhecer que Messi jamais pode ficar isolado – a armadilha uruguaia de cercá-lo precisa ser evitada a qualquer custo, e o 10 do Barcelona vai precisar estar sempre ''plugado'' aos colegas Dybala e Icardi.

O Maestro Tábarez – Ovación/Reprodução

A seleção uruguaia também treinou nesta tarde. Foi no ''Complejo Celeste'', Centro de Treinamento que fica em Canelones, cidade onde nasceu Diego Lugano. A prática não contou com Luis Suárez, que segue tratando o joelho lesionado, e o tema medo foi abordado pelo técnico – e maestro – Óscar Tabárez na coletiva.

No melhor estilo uruguaio, ele refutou qualquer temor, mas reconheceu que a Argentina chega em melhor momento e pode tomar a iniciativa do jogo de maneira preocupante. ''Não precisamos falar mais do que o necessário para reconhecer que um rival com Messi, Dybala e Icardi pode fazer um grande estrago e que com eles precisamos ter toda a atenção, algo que, sem dúvida, não tivemos no jogo contra o Brasil'', sintetizou o técnico de 70 anos, que não teme a pressão do Centenário para pedir a entrada de Suárez durante a partida: ''Já tenho idade suficiente para pautar minhas decisões pela razão, e não pela emoção''.

Messi, Icardi e Dybala – Olé/Reprodução

Jorge Sampaoli ainda não falou com a imprensa em Buenos Aires. O elétrico treinador reconhece que tirou todas as lições dos confrontos anteriores para evitar que a Argentina caia nas armadilhas uruguaias, mas a reação emocional dos jogadores, tão desgastados por tantas desilusões com o país, é algo bastante trabalhado por ele e seus colaboradores nesta semana prévia do grande clássico do Rio da Prata. Há, óbvio, uma grande preferência para a confirmação da ausência de Suárez. Sampaoli reconhece que a mística do atacante uruguaio em um Centenário lotado e em clima de batalha, pode definir as coisas em favor da seleção da casa.