Patadas y Gambetas

Artilheiro da Libertadores é processado por dopar e matar sua égua
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Tales Torraga

Artilheiro da Libertadores, o argentino José Sand, do Lanús, está sendo processado no país por ''dopagem de animais, jogo clandestino, exercício ilegal de medicina e associação ilícita''. A ação é movida pela morte da sua égua, ''Dona Fantasia'', em páreo do dia 27 de agosto no Jockey Club de Goya, na província de Corrientes.

Sand (esquerda) e Dona Fantasia – Site Todo Notícias/Reprodução

Segundo a Associação de Advogados e Funcionários pelos Direitos Animais (AFADA), a égua que pertencia ao atacante e ao seu irmão, César Sand, caiu desmaida e morta por uma ''parada cardiorrespiratória devido à adoção ilegal de coquetel de drogas aplicado antes da corrida para melhorar o rendimento''.

Depois da morte, um dos advogados da AFADA ordenou a exumação do cadáver da ''Dona Fantasia'', e a autópsia comprovou o uso da substância estricnina, estimulante que causou ''excitação, aumento da circulação de sangue e a aceleração das pulsações da égua''.

Foram encontrados também restos de dipipanona, droga que atuaria como anestésico e analgésico para mascarar a dose de estricnina.

A defesa do jogador afirmou que vai se pronunciar sobre às vésperas do depoimento previsto para 28 de dezembro, mas que deve ser adiado para o fim de janeiro. Sand tem 37 anos e foi o carrasco do River Plate ao comandar a virada do Lanús por 4 a 2 na partida de volta das semifinais. Na ocasião, ele dedicou o triunfo à ''nação burreira que o acompanhava sempre''.


Por que o técnico do Independiente é considerado um gênio na Argentina?
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Tales Torraga

Ariel Holan. Seu nome diz pouco no Brasil. Mas na Argentina, onde brilha, já se fala até na criação da ''escola HOLANdesa'' nesta final entre Independiente e Flamengo. Os dois clubes gigantes se cruzam às 21h45 desta quarta (6) no jogo de ida da picante decisão da Copa Sul-Americana em Avellaneda, na Grande Buenos Aires.

Ariel Holan delira com a ida à final da Sul-Americana – Independiente/Divulgação

Holan tem 57 anos e uma carreira das mais incomuns. Começou no esporte como treinador das seleções femininas de hóquei na grama na Argentina e no Uruguai. Obcecado ao extremo, na virada do século vendeu um carro e comprou um computador de última geração para analisar seus dados. Só andou de carona e transporte público durante quatro anos. Neste período, ganhou o bronze com as meninas uruguaias no Pan de 2003 – melhor resultado da história do país.

Ariel trocou os tacos pelas chuteiras no próprio 2003. Fez vários estágios com técnicos como Daniel Passarella, Jorge Burruchaga e Matías Almeyda. Galgando estágios aos poucos e consolidando sua fama de ''cientista da bola'', Holan integrou o corpo técnico que devolveu o River Plate à Primeira Divisão da Argentina, em 2012. Era o cérebro do novato Almeyda, que iniciava ali sua carreira de treinador.

Holan é técnico principal só há apenas dois anos – foi em 2015 que ele estreou no Defensa y Justicia que, absorvendo seus conceitos, eliminou o São Paulo da Copa Sul-Americana já sob o comando do substituto Sebastián Beccacece.

O treinador é tido pelos colegas como um viciado em conhecimento e um dos maiores estudiosos do esporte argentino, uma rara mescla de sabedoria acadêmica e prática. Explora a tecnologia em detalhes, fazendo os jogadores usarem frequencímetros, GPs e verem depois os treinamentos filmados por um drone. Seus próprios treinos são um capítulo à parte e muito diferentes da maioria, passando trabalhos diferentes aos zagueiros e outros aos atacantes, por exemplo.

Holan com a seleção uruguaia de hóquei – El Gráfico/Reprodução

Sua obsessão foi herdada do pai, um mecânico de carros e aviões que morreu tragicamente – esmagado, quando sua oficina despencou. Holan tinha 19 anos.

Apaixonado pelo Independiente, é figurinha fácil na TV argentina cantando as músicas das arquibancadas e contando os tempos em que vivia em Avellaneda no ombro do pai para torcer para a equipe de Bochini e Pavoni. Por isso Holan chorou tanto quando a equipe se classificou para esta decisão. ''Isto é para o meu pai, que me trouxe aqui com quatro anos'', repetia. ''Quando era criança e o Independiente perdia, íamos dormir em silêncio e só podíamos falar no dia seguinte.''

Como todo gênio argentino, Holan também é bem excêntrico.

Capa do Olé desta quarta (6) – Reprodução

Repete sempre que está no Independiente como treinador, e não como torcedor, e nesta semana deu uma contundente resposta aos que o colocaram em dúvida.

''Nem todo mundo precisa saber o que cada um faz em sua carreira. Eu não me levantei um dia bêbado dizendo: 'quero ser treinador de futebol'. Remei mais de dez anos, mais de uma década, em diferentes cargos e funções dentro deste esporte.''


Mascherano diz que fracassar no Corinthians mudou sua vida: “Foi péssimo”
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Tales Torraga

Em entrevista à revista ''El Gráfico'' que acaba de chegar às bancas de Buenos Aires, Javier Mascherano revelou que a passagem pelo Corinthians mudou radicalmente sua forma de ser. E ele usou como exemplo a Libertadores de 2006 e o famoso cartão vermelho que recebeu diante do River Plate, clube que o revelou.

Naquele mata-mata pelas oitavas, o Corinthians milionário da MSI e de Tevez, Mascherano e Carlos Alberto caiu aos pés de Marcelo Gallardo, hoje técnico do gigante de Núñez. Então com 30 anos, veterano e já repleto de lesões, Gallardo primeiro cavou a expulsão de Mascherano no Monumental. No Pacaembu, serviu os gols para Higuaín (e Coelho!) decretar o 3 a 1 para o River que fez a torcida do Corinthians partir para cima da polícia e tentar invadir o campo.

Capa da ''El Gráfico'' de dezembro – Reprodução

''Marcelo (Gallardo) foi astuto porque o segundo cartão amarelo foi ele que me forçou a receber, exagerando a queda. Aquele meu jogo não foi ruim. Foi péssimo'', relembrou Mascherano à ''El Gráfico''.

O lance trouxe problemas ao volante argentino no Parque São Jorge.

Os corintianos até hoje desconfiam que Mascherano foi expulso de propósito para ajudar o seu River naquele mata-mata: ''Aquele cartão me complicou no Brasil, tanto que os torcedores vieram falar comigo''.

Não era para menos.

O amor do volante pelo River é tão grande que a apresentação em vídeo sobre a história do time, por muitos anos, foi feita justamente por ele no museu do clube.

''Ali, naquele fracasso, percebi que o jogo me transbordou, que eu fiquei totalmente tomado. Sou bastante sensível e me emociono fácil. Choro fácil, também. Fiquei tão perdido que em vez de ir para o vestiário depois da expulsão, dei a volta pelo campo, por trás do gol.''

Mascherano dali em diante decidiu não ''comprometer-se emocionalmente'' com as decisões. Um grande exemplo foi a final do Mundial de Clubes de 2015, quando defendeu o Barcelona de novo diante do seu River. Além de não acenar para a torcida, Masche sequer olhou para os fanáticos que viajaram da Argentina até o Japão e terminaram chorando a derrota do gigante de Núñez – 3 a 0, fora o baile.

Entrevista de Mascherano à revista ''El Gráfico'' – Reprodução/El Gráfico

''Qualquer gesto pode ter qualquer interpretação, e depois do que aconteceu com o Corinthians, preferi me afastar emocionalmente em jogos assim. O torcedor é torcedor, mas como vou ter alguma razão para desrespeitar o River, com tudo o que o clube me deu? Enquanto eu me aquecia naquela final no Japão, repetia para mim mesmo: 'Não vá até lá, não se comprometa emocionalmente, você joga como zagueiro central, se for até lá, você vai fazer alguma cagada e o time vai perder por culpa sua. Pensei nisso o tempo todo, desde a semifinal'.''

Não foi o suficiente para conter a fúria dos loucos.

Irritada pela suposta indiferença, a torcida do River tentou agredir Mascherano. Foi no aeroporto de Tóquio, na triste viagem na qual Messi levou uma cusparada de um dos torcedores e precisou ser contido para não sair na mão com os argentinos.

A entrevista de Mascherano à ''El Gráfico'' é imperdível. São 12 páginas profundas e inteligentes de uma revista que circula entre os exigentes portenhos desde 1919.


“Errei ao cortar Maradona da Copa de 78”, admite Menotti
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Tales Torraga

Lendário técnico da Argentina campeã em casa da Copa do Mundo de 1978, César Luis Menotti reconheceu pela primeira vez – e quase 40 anos depois! – que errou ao não levar Diego Armando Maradona para aquele Mundial. A ponderação foi feita à Rádio Mitre, em Buenos Aires, e está dando muito o que falar na capital portenha.

El Flaco Menotti e El Dieguito Maradona em 1979 – Arquivo/El Gráfico

''Errei ao não levá-lo, mas depois fomos campeões e ninguém disse nada'', admitiu El Flaco (''O Magro''), como Menotti é chamado até hoje. O ex-treinador está com 79 anos encheu Maradona de elogios, colocando-o bem acima de Lionel Messi: ''Pela seleção, Diego foi o maior de todos. Quando não puderam controlá-lo na Fifa, o assassinaram'', disparou. ''Devo ter sido o técnico que teve Maradona por mais tempo, de 1977 a 1984, porque depois nos encontramos no Barcelona. Diego e eu inventamos um camisa 9 que depois foi um craque, mas não vou dizer quem é.''

Nós dizemos: Ramón Díaz, que começou a carreira no mesmo posto de Maradona.

Menotti, em 1978, precisava relacionar 22 atletas. Concentrou-se com 25, e sua lista final não continha os nomes de Maradona e dos obscuros Victor Bottaniz e Humberto Bravo. Até sua recente reflexão, o ex-técnico dizia sempre que naquela Copa ''precisava de homens, e ele olhava para Maradona e enxergava um menino''.

Diego tinha apenas 17 anos no Mundial 1978. Três meses depois, completaria 18. Mas já era o grande jogador da seleção em 1978, e quem testemunhou a preparação argentina para aquele Mundial jura até hoje que Maradona já era o craque do time. Nem cavalos consagrados como Passarella, Gallego e Tarantini conseguiam pará-lo nos jogos dos titulares contra reservas. Maradona era escalado como suplente para equilibrar as forças – e os reservas ganhavam igual.

Maradona, desta maneira, não pôde repetir Pelé e erguer a Copa aos 17 anos.

Os argentinos que colocam Diego acima de Pelé argumentam sempre que a carreira de Maradona na seleção, com um olhar mais livre e menos aferrado à frieza dos números, é realmente superior à do gênio brasileiro – que, afinal, esteve sempre rodeado de outros gênios do naipe de Didi, Garrincha e Rivellino.

Diego deixou de ser campeão em 1978, aos 17 anos, porque equivocadamente, como reconhece agora Menotti, não foi chamado. Tal experiência certamente favoreceria a Argentina em 1982, naquela que acabou sendo a primeira Copa de Maradona, quando a seleção jogou muito mal porque estava perturbada pela Guerra das Malvinas que ocorria naquele exato e trágico instante.

Em 1986, com uma seleção limitada e que quase não se classificou para a Copa, Diego ganhou o Mundial de um jeito que nem Pelé e nem ninguém até hoje repetiu. Quatro anos depois, foi vice. Perdendo só com um pênalti inexistente e carregando, acima do peso e machucado, uma Argentina fraca que só. Um time de dar pena.

Maradona apanha e deixa o Brasil no chão em 1990 – Fifa/Divulgação

E veio 1994, o seu capítulo final, quando, segundo Menotti, ''a Fifa o assassinou''.

Cortado da primeira e da última Copa. Um título e um vice. Guerras e drogas.

A órbita maradoniana é de arrancar o fôlego mesmo quase 40 anos depois.


Análise: Grupo exige bastante cuidado da Argentina
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Tales Torraga

''A Argentina caiu em um grupo acessível. Mas precisa melhorar o time. Não pode jogar tão mal como está jogando.''

O diagnóstico mais preciso do sorteio desta sexta (1º) em Moscou para a Argentina veio do autêntico (e discretíssimo, convenhamos…) Diego Armando Maradona.

Beijo para a história: Maradona e um Pelé na cadeira de rodas – Fifa/Reprodução

Em tom de brincadeira, Buenos Aires diz que Argentina e Nigéria vai virar um clássico. Se for pela repetição dos confrontos, com certeza. É a terceira vez seguida (!) que os africanos cruzam o Mundial argentino, a quinta das últimas sete. Os duelos em Copas foram em 1994, 2002, 2010 e 2014. A Nigéria foi também a rival da Argentina em duas finais olímpicas (1996 e 2008) e um Mundial Sub-20 (em 2005). Das sete partidas, seis vitórias argentinas – mas todas por um mísero gol de diferença. A derrota na final olímpica de 1996 também foi por um gol.

Que ninguém espere jogo fácil. O último amistoso entre as duas seleções terminou em um vergonhoso 4 a 2 para a Nigéria no mês passado.

O confronto contra a Islândia será o primeiro da história, e a Argentina já jogou contra a Croácia inclusive em Copas – a de 1998, quando venceu com gol de Pineda por 1 a 0, na fase de grupos, quando estava classificada para as oitavas.

Ao todo, Argentina e Croácia se enfrentaram quatro vezes, com duas vitórias argentinas, um empate e um triunfo croata.

Ou seja: históricos apertados contra Nigéria e Croácia e duelo inédito contra uma Islândia que não é nada boba – eliminou a Inglaterra na última Eurocopa e conseguiu se classificar para esta Copa do Mundo como campeã de seu grupo.

Onde está a moleza?

Esta Argentina precisa desconsiderar a falácia de sempre. Que é grande, que é favorita, que vai melhorar, que tem Messi. O futuro é incerto. Qualquer futuro é. Convém focar no presente, que é bastante preocupante – e o argumento de que Jorge Sampaoli começou seu trabalho há pouco tempo requer maior reflexão, pois a pior partida do time foi justamente a última, o 4 a 2 para a Nigéria.

Por falar nele: Sampaoli demonstrou a sua famosa obsessão ao analisar o sorteio. Descreveu em detalhes como jogam Croácia e Islândia. Da Nigéria, nem precisava falar tanto, pois foi seu último amistoso. Reconheceu que enfrentar times entusiasmados e sem pressão pode ser um grande complicador – foi a pressão, vale lembrar, que fez a Argentina perder para Bolívia e Paraguai e empatar em casa com Venezuela e Peru. Palavras dos próprios técnicos e jogadores.

A Argentina precisa ter atenção máxima desde já. É um time traumatizado e envelhecido, de média de idade acima dos 30 anos. Convém ter paciência e fugir desde já das brigas que tanto marcam (e atrapalham) a história da seleção.

O blog comentou todos os 18 jogos da Argentina nas Eliminatórias – há, portanto, um lastro para ponderar. Sampaoli, Messi e colegas que se cuidem de verdade e desde já. Ou vão se juntar a Itália e Holanda para acompanhar as oitavas pela TV.

Maradona contra a Nigéria em 1994 – Fifa/Divulgação

O grupo da Argentina nas Copas:

2018 – Islândia, Croácia e Nigéria
2014 – Bósnia, Irã e Nigéria (Argentina em 1º)
2010 – Nigéria, Coreia do Sul e Grécia (Argentina em 1º)
2006 – Costa do Marfim, Sérvia e Holanda (Argentina em 1º)
2002 – Nigéria, Inglaterra e Suécia (Argentina em 3º)
1998 – Japão, Jamaica e Croácia (Argentina em 1º)
1994 – Grécia, Nigéria e Bulgária (Argentina em 3º)
1990 – Camarões, URSS e Romênia (Argentina em 3º)
1986 – Coreia do Sul, Itália e Bulgária (Argentina em 1º)
1982 – Bélgica, Hungria e El Salvador (Argentina em 2º)
1978 – Hungria, França e Itália (Argentina em 2º)
1974 – Polônia, Itália e Haiti (Argentina em 2º)


Renato bate recorde na Argentina
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Tales Torraga

O Brasil finalmente tem um campeão da Libertadores como jogador e técnico. E Renato Gaúcho merece uma menção à parte pela sua persistência. Além de ser o primeiro profissional a obter este título duplo pelo país, ele passa a ser também o campeão que levou mais tempo entre as conquistas como jogador e técnico.

Festa de Renato em Lanús – Olé/Reprodução

Renato tinha 20 quando vestiu a camisa 7 na conquista gremista de 1983. Faria 21 anos um mês e meio depois. Hoje técnico, com 55, precisou esperar 34 anos para repetir a Copa à beira do gramado. O intervalo é quatro anos maior que o do uruguaio Luis Cubillas, tricampeão como jogador e bi como treinador. Entre a primeira e a última conquista do uruguaio se passaram exatos 30 anos.

Além das taças como técnico e atleta, Renato também tem dois vices, um em cada situação. Em 1984, era ponta do Grêmio que perdeu para o Independiente. Em 2008, comandava o Fluminense batido pela LDU nos pênaltis no Maracanã.

Os títulos conquistados por Renato são valiosos também pela origem dos adversários: os uruguaios do Peñarol em 1983 e os argentinos do Lanús nesta semana. O Brasil está exatamente entre os dois vizinhos no pódio de títulos.

A ordem de conquistas por país agora é Argentina (24), Brasil (18) e Uruguai (8).

Confira os campeões da Libertadores como jogador e técnico:

Renato Gaúcho (1983 e 2017 – 34 anos de intervalo)
Luis Cubillas, uruguaio (1960, 61 e 71, como atleta, e depois 79 e 90 – 30 anos)
Marcelo Gallardo, argentino (1996 e 2015 – 19 anos)
Nery Pumpido, argentino (1986 e 2002 – 16 anos)
José Omar Pastoriza, argentino (1972 e 1984 – 12 anos)
Roberto Ferreiro, argentino (1964 e 1965, como atleta, e depois 1974 – 10 anos)
Juan Martín Mujica, uruguaio (1971 e 1980 – 9 anos)
Humberto Maschio, argentino (1967 e 1973 – 7 anos de intervalo)


Análise: Maior Brasil e menor Argentina se cruzam na final da Libertadores
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Tales Torraga

Exatos dez meses e seis dias depois do pontapé inicial, a inflada Libertadores 2017 chega ao fim nesta quarta-feira (29) propondo profundas reflexões. A primeira delas diz respeito à própria duração do torneio. O blog considera um estorvo. O mundo atual vai na contramão de qualquer evento tão pausado e que demore tanto para terminar. Nem a temporada de Fórmula 1, que percorre o mundo todo, é tão longa.

Lanús x Grêmio: o fim, enfim – Olé/Reprodução

O outro ponto tem a ver com o inchaço desta edição.

O Brasil alinhou oito representantes, a maior quantidade de todos os tempos. Chapecoense, Palmeiras, Santos, Flamengo, Atlético-PR, Atlético-MG e Botafogo também largaram para a competição que hoje vê o Grêmio na final e com a possibilidade de conquistar seu terceiro título, ficando ao lado de São Paulo e Santos como os maiores campeões de Libertadores da história do Brasil.

Circula na Argentina a seguinte piada: os times brasileiros enchem a Libertadores de inscritos e de dinheiro. Mas o campeão é um argentino como sempre.

Nem sempre, é verdade, e a prévia do embate entre o gigante Grêmio e o nanico Lanús oferece desde já importantes assuntos sob uma lupa mais profunda.

A primeira é a verdadeira façanha atingida pelo Lanús, um clube minúsculo de verdade, com menos sócios (40.000) do que a capacidade do seu estádio (47.000).

Para se ter noção do tamanho do Lanús, sua quantidade de sócios é praticamente um quarto do que os maiores clubes da Argentina, River e Boca, detêm. Como avaliar a proeza do Lanús? Como uma prova de que o dinheiro segue não sendo tudo. Ainda há espaço para gente com o pé no chão – e a cabeça não apenas nos cifrões. O time pinta para grandes coisas já há alguns anos. O blog escreveu em 6 de fevereiro que o Lanús era o argentino mais perigoso desta Libertadores. A diretoria e os jogadores colaboraram. Ninguém foi vendido. E os que ficaram suaram toneladas e ''jogaram pela glória'', algo que a Argentina cansa de ensinar.

A campanha argentina nesta Libertadores, vale lembrar, começou com os jogadores em greve geral por falta de pagamentos e com os clubes em total inatividade no campeonato nacional. O país alinhou seis clubes nesta Copa. Godoy Cruz (!), Atlético Tucumán (!!), Lanús, Estudiantes, San Lorenzo e River Plate.

O único clube do país que realmente despontou como candidato a ganhar a Copa foi o River, como repetimos mais de uma vez. Mas o time de Gallardo e Ponzio tanto se viu na decisão antes do tempo que levou a famigerada virada na semi.

É um importante sintoma que esta Libertadores tão, mas tão longa, termine em tal anticlímax. Os jornais argentinos pouco tratam da decisão. Dão mais relevância à chegada do Independiente à final da Sul-Americana. Só o ''La Nación'' traz um conteúdo mais farto a respeito do Lanús, mas exatamente na linha ''quem te viu e quem te vê, antes jogava em estádios sem arquibancadas e agora vai decidir uma Libertadores''. O tom da TV, que ontem enfrentou uma greve geral, é o mesmo. Vamos, Lanús! Termine com isso para falarmos logo de River e Boca.

Bolsos e tamanhos à parte, a Argentina, claro, vê o Lanús campeão.

1) O time jogou melhor que o Grêmio na partida de ida; 2) Já virou placares bem mais complicados; 3) Os argentinos ganharam 10 das 12 finais de Copa disputadas em seu território; 4) Esta Libertadores caótica e desproporcional em integrantes e duração já tem um padrão: o de apresentar campeões inéditos. O Lanús seria simplesmente o quinto campeão calouro nos últimos dez anos, se juntando a LDU (2008), Corinthians (2012), Atlético-MG (2013) e San Lorenzo (2014).

(E nem falamos da loucura e do clima de ''vida ou morte'' que vai transformar a Fortaleza em um caldeirão insano nesta noite. Deixamos para depois do jogo. Uma ótima final de Libertadores a todos. O fim, enfim. Logo nos vemos em Camboriú.)


Lanús amplia capacidade de estádio na véspera da final
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Tales Torraga

A poucas horas de decidir a Libertadores da América pela primeira vez em sua história, o Lanús se prepara para receber, na finalíssima das 21h45 (de Brasília) desta quarta (29), contra o Grêmio, muito mais torcedores do que está acostumado.

Nesta segunda (28) e terça (29) era possível ver no estádio a retirada de cadeiras do setor Emilio Chebel para aumentar a capacidade disponibilizada aos torcedores. O Lanús não informou a quantidade de ingressos que foi colocada à venda, e as entradas estão praticamente esgotadas. O preço delas variou de 300 a 2000 pesos (entre 50 e 333 reais). A capacidade oficial do Estádio Néstor Díaz Pérez, mais conhecido como ''A Fortaleza'', é de 47.027 pessoas. O clube diz não ver problemas em tais reformas – alega que ''tudo está sendo feito sob supervisão da Conmebol e com a intenção de garantir as melhores condições possíveis ao público''.

Ampliação de arquibancada do Lanús – Sentimiento Granate/Reprodução

Nas ruas de Lanús e nas redes sociais há uma reclamação constante sobre a falta de entradas para a decisão, e tal sensação faz o clube se precaver contra invasões e outras maneiras que a torcida certamente vai tentar encontrar para não ficar fora de partida tão importante. O clube e a população de Lanús mantêm uma relação muito próxima e cordial, e há uma grande dúvida – por enquanto pacífica – sobre o que fazer com os torcedores que não conseguirem as entradas.

Não há, pelo menos por enquanto, um discurso de ódio e de revide aos gremistas pelos maus-tratos sofridos no jogo de ida, em Porto Alegre. A torcida grená sabe que chegar à final da Libertadores pela primeira vez é o maior cartaz possível para um clube que tem várias ações sociais – e que preza, mais que os resultados, pelo bem-estar da população.

Pelo menos na véspera, ninguém em Lanús cogita violências como as de 1997, quando o Atlético-MG foi massacrado em uma batalha campal por outra final, mas da então Copa Conmebol.

Convém ouvir as promessas com uma certa desconfiança.

O discurso pacífico deve ser modificado à medida em que a final for se aproximando, e a possibilidade de título inédito para o Lanús pode alterar este tom. A estadia dos jogadores do Grêmio em Buenos Aires, por enquanto, está sendo tranquila. Os 5.000 torcedores gaúchos esperados em Lanús vão chegar à cidade na manhã e tarde desta quarta-feira (29), quando a hospitalidade grená será realmente colocada à prova.


Presidente do Lanús promete estátua a atacante
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Tales Torraga

Relaxado e otimista, o Lanús realizou apenas treinos leves neste final de semana. Como pediu para adiar o seu jogo deste domingo contra o Godoy Cruz pelo Campeonato Argentino, a equipe que decide a Libertadores nesta quarta, às 21h45 (de Brasília), contra o Grêmio, pôde se concentrar apenas na preparação para a finalíssima – enquanto o Grêmio precisou dividir suas atenções com o confronto que fez com o Atlético-GO. Jogando com os reservas, o tricolor gaúcho ficou no 1 a 1.

Na imensa euforia que toma conta de Lanús nas horas prévias a esta decisão, o presidente do clube, Nicolás Russo, supreendeu com uma promessa que já mexe com os ânimos de um dos grandes nomes da equipe para esta final. Ele afirmou que o atacante Lautaro Acosta, de 29 anos, terá uma estátua na sede do Lanús.

Acosta contra o Grêmio – Lanús/Divulgação

A inauguração da estátua até já tem data: 3 de janeiro. Acosta é considerado o jogador mais importante da história do Lanús. Cria do clube e com bastante chances de integrar a seleção argentina na Copa do Mundo da Rússia, ele é de uma família que pratica diversas outras modalidades no Lanús. ''Acabamos de nos classificar para a final e, mesmo emocionados com a vitória sobre o River, ele pediu a mim e a outros dirigentes para fazermos uma reunião para falar das Divisões Inferiores. Acosta cresceu muito como pessoa'', declarou o presidente ao ''Clarín''.

O mandatário do Lanús promete que Lautaro não vai deixar a equipe, por mais que receba propostas do Cruzeiro, do México e da Arábia Saudita. ''Ele vai seguir aqui. E no futuro vai ser técnico e presidente do Lanús'', concluiu Nicolás Russo.

O Lanús treina na manhã desta segunda e já inicia a concentração para a partida de quarta (29). O time já está definido para a decisão. Suspenso com três amarelos, o zagueiro Diego Bragheri vai ser substituído por Marcelo Herrera, que era titular da equipe no começo do ano. Herrera é um defensor firme. Tem 25 anos e 1,85 metro.

Há uma enorme comoção em Lanús, município que fica na periferia de Buenos Aires, e isso vai ser perceptível também nesta segunda (27) com a venda e retirada dos ingressos para a finalíssima na sede do clube. O próprio técnico da equipe, Jorge Almirón, faz questão de pedir a presença dos torcedores em entrevistas e em imagens que circulam nas redes sociais, como esta, do diário ''Olé''.

Almirón pede apoio da torcida em cartaz – Olé/Reprodução

O próprio ''Olé'' é um bom termômetro para avaliar a confiança do torcedor argentino – e não só do Lanús – para esta decisão contra o Grêmio. Em enquete na home no site do diário, a confiança na virada é gigante, como mostra o resultado.

Enquete no site do ''Olé''


Lanús vai à Conmebol por maus-tratos em Porto Alegre
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Tales Torraga

O Lanús vai apresentar à Conmebol nesta sexta-feira (24) uma queixa formal sobre ''os maus-tratos que sua torcida recebeu em Porto Alegre''.

O clube junta testemunhos e documentos para apontar as falhas no sistema de segurança da decisão da última quarta-feira (22). De acordo com o Lanús, os torcedores da equipe argentina chegaram a Porto Alegre percorrendo avenidas repletas de gremistas, que apedrejaram os ônibus dos seus fanáticos.

Torcedores do Lanús nas redes sociais narram a truculência em Porto Alegre, e tais mensagens vão servir para o clube embasar a queixa – que deve conter também a tentativa de agressão que o goleiro Andrada sofreu de um gandula.

Será igualmente motivo de protesto do clube argentino o fato de oito dos 45 ônibus da sua torcida ter entrado na Arena do Grêmio apenas no final do primeiro tempo. O Lanús argumenta que tal atitude foi uma ordem da polícia gaúcha.

E a saída foi ainda mais tumultuada.

A torcida do Lanús só deixou a Arena do Grêmio às 2h (de Brasília), porque a ordem era esvaziar a arquibancada local antes do visitantes. Quando os argentinos chegaram aos ônibus, muitos estavam quebrados – e, na saída da cidade, voltaram a ser apedrejados, de acordo com o relato dos torcedores.

Segundo o jornal ''Olé'', o ônibus que levava os jogadores do Lanús também foi alvo de pedradas na chegada ao estádio – a diretoria não quis confirmar esta informação ao blog por preferir se concentrar na queixa que vai formalizar nas próximas horas.

A hostilidade que espera o Grêmio na Argentina já é das maiores.

As redes sociais estão repletas de mensagens em tom de ameaça como ''agora os visitantes vão ser eles'', em referência ao Grêmio decidir a Copa em Lanús na próxima quarta (29).

Há também a ampla divulgação de onde o Grêmio vai se hospedar em Buenos Aires, com um convite a se fazer foguetório no local.