Patadas y Gambetas

Análise: Boca e River põem medo. Os outros argentinos, não
Comentários 6

Tales Torraga

Os grupos da Libertadores-2018 estão aí. Vamos então pintar a cor local argentina para saber o que esperar de cada um dos sete representantes do país que mais vezes ganhou a Copa – 24 títulos, contra 18 do Brasil.

Dessas 24 taças, nada menos que 21 delas estarão em campo na edição 2018. Argentinos Juniors, Vélez Sarsfield e San Lorenzo são os campeões ausentes.

Os sete argentos que vão dar briga em 2018 são:

BOCA JUNIORS (adversário do Palmeiras)
Seis vezes campeão / Dez vezes finalista / Está da Libertadores pela 27ª vez
Líder do Campeonato Argentino
Técnico: Guillermo Barros Schelotto (desde mar.2016)
Ocupa a liderança do Campeonato Argentino há mais de um ano. É um grande time, mas entra na Libertadores pressionado demais pela distância de sua última Copa erguida  – só em 2007, quando Riquelme bailou o Grêmio. Vai contar com um ataque poderosíssimo com Tevez, Ábila e Pavón, trio que será abastecido pelo pícaro colombiano Cardona. Os pontos fracos são o goleiro, a defesa e a atual falta de capacidade em mata-matas – o que não condiz com sua tradição copeira.

A Bombonera vai ser o alçapão selvagem de sempre, mas o Boca – necessário enfatizar – vai precisar aprender a lidar com a impaciência da sua torcida, incomodada com o sucesso recente do River. Este é o tema do momento da Argentina: quem chega mais forte à Copa, River ou Boca? Pelo conjunto, Boca. Pela capacidade copeira, River, em que pese os lamentáveis 23 minutos de Lanús.

Scocco e Pavón – Olé/Reprodução

RIVER PLATE (adversário do Flamengo)
Três vezes campeão / Cinco vezes finalista / Participa pela 34ª vez
17 º no Campeonato Argentino
Técnico: Marcelo Gallardo (desde jun.2014)
O time está muy motivado para enterrar o péssimo desfecho de 2017 e a eliminação para o Lanús. A chegada de Pratto a Núñez é tida como certa. O time terá o retorno dos defensores Martínez Quarta e Mayada, suspensos por doping. É uma seleção vestida de vermelho e branco – e com o bônus de ter o técnico que, para muitos, por mérito deveria estar no lugar que hoje é de Jorge Sampaoli.

Inevitável: este River vai dar cada passo sempre olhando para o lado e vendo o que faz o rival Boca para tentar fazer ainda melhor. A má colocação no Argentino é reflexo de duas coisas: 1) Priorizar a Libertadores; 2) Deprimir-se depois da dura queda ante o Lanús. Então, 3), que todos esperem um River mordido e bélico.

INDEPENDIENTE (adversário do Corinthians)
Sete vezes campeão / Sete vezes finalista / Participa pela 20ª vez
6º no Campeonato Argentino
Técnico: não tem
O atual campeão da Sul-Americana tenta sobreviver a um tremendo desmanche que já culminou com a saída do técnico Ariel Holan e com a extremamente provável despedida do craque do time, o atacante Barco, de 18 anos, que ir jogar no Atlanta United. Bastante complicado que a equipe faça bom papel e resgate a mística de ''Rey de Copas''. Está mais para o Independiente de presença pálida que vimos em 2004 e 2011, eliminado logo na primeira fase. Ojo: jogar em Avellaneda vai ser mais difícil para os brasileiros. A torcida está revoltada com as ameaças dos barra bravas e promete se mobilizar para ajudar o time, por pior que ele esteja.

ESTUDIANTES (adversário do Santos)
Quatro vezes campeão / Cinco vezes finalista / Participa pela 15ª vez
13º no Campeonato Argentino
Técnico: Lucas Bernardi (desde set.2017)
É um time que não melhorou nada depois da eliminação na primeira fase na última Libertadores. Pelo contrário: dá para dizer que até piorou. Juan Sebastián Verón já é um presidente questionado, e o time levado a campo não tem jogadores que encantem ou ameacem os brasileiros. Destaques? O goleiro Andújar, o zagueiro Desábato (aquele da cena de racismo com Grafite) e o meia Gata Fernández, liberado pelo Grêmio sem deixar saudades. Muito pouco, convenhamos.

RACING (adversário do Cruzeiro)
Uma vez campeão / Uma vez finalista / Participa pela 9ª vez
14º no Campeonato Argentino
Técnico: Chacho Coudet (desde dez.2017)
Incógnita. Esta é a melhor (in) definição sobre o Racing 2018. O técnico acaba de ser apresentado: o explosivo Chacho Coudet, ex-Rosario Central, dos maiores malucos da história da Argentina e do planeta. O craque Lautaro Martínez, atacante de 20 anos, deve ir para a Europa em questão de meses (ou até semanas). Vai ficar tudo nas costas cansadas do guerreiro Licha López, de 35 anos e 3.500 contusões, como cantaria Joaquín Sabina. A única ponderação é a presença do rival Independiente: o Racing vai se superar e brigar com tudo para não ficar por baixo.

ATLÉTICO TUCUMÁN (não enfrenta brasileiros na fase de grupos)
Jamais foi finalista ou campeão / Participa pela 2ª vez
15º no Campeonato Argentino
Técnico: Ricardo Zelinski (desde jun.2017)
É o pequenino briguento. Extremamente esforçado, mas extremamente limitado, como mostrou na final da Copa Argentina há duas semanas, quando perdeu por 2×1 para o River. O técnico é excelente, mas o time não ajuda. Chegar aos mata-matas será um milagre. Passar para as quartas, então, um título para Tucumán.

BANFIELD (pega o Del Valle-EQU pela pré-Libertadores)
Jamais foi finalista ou campeão / Participa pela 4ª vez
16º no Campeonato Argentino
Técnico: Júlio César Falcioni (desde mar.2016)
Pode oferecer perigo com os experientes Dátolo, Bertolo, Mouche e Cvitanich, gente grande e com rodagem por River, Boca e seleção. Tirou a vaga que parecida encaminhada ao San Lorenzo – não é pouca coisa. A preocupação é só com a saúde do técnico Falcioni, na UTI depois de tirar um nódulo na garganta. A equipe diz que espera a recuperação, mas sua presença na Copa é incerta. A estátua do técnico na sede do clube, porém, está garantida e deve ser mostrada em breve.


O triste desmanche do Independiente
Comentários 7

Tales Torraga

Há exatamente uma semana, o Independiente batia o Flamengo, calava o Maracanã e dava a volta olímpica que marcava o renascimento do ''Rei de Copas''.

Sete dias depois, o clube argentino já se vê perdido para 2018.

O técnico Ariel Holan – Independiente/Divulgação

A começar pelo genial técnico Ariel Holan, que nesta tarde oficializou sua saída, conforme antecipou o blog pela manhã. ''É inconcebível que o técnico e a família precisem de escolta policial dia e noite'', escreveu em carta. Holan sofreu muito com a barra brava do Independiente. Os violentos fizeram ameaças a ele há cerca de dois meses, depois que o treinador se negou a dar dinheiro à torcida. Para seguir no clube, Ariel exigiu que o Independiente deixasse de manter tais relações, o que realmente era bem difícil de ocorrer.

É também difícil, quase impossível, que as figuras sigam no time.

Os casos do atacante Ezequiel Barco e do defensor Nicolás Tagliafico são os mais conhecidos, embora outros sete jogadores estejam com as malas quase prontas.

Barco quer jogar no Atlanta United, dos Estados Unidos, mas a diretoria do Independiente quer barrar a negociação. Primeiro, querem a definição de quem será o novo técnico, para depois tentar convencer o jogador a ficar e disputar a Libertadores-2018. Caso não seja possível, a negociação será com o Atlanta para que os US$ 12 milhões já acertados virem algo em torno de US$ 15 milhões.

Capitão do Independiente, Tagliafico também quer sair. Considera que seus 25 anos são perfeitos para ir à Europa. Ajax e Borussia Dortmund já sinalizaram que querem pagar os US$ 6 milhões – valor da sua cláusula de rescisão.

O país que promete fazer uma verdadeira devassa no Independiente é o México. O ótimo meia Maximiliano Meza, por exemplo, está na mira do América  e do Cruz Azul. Os clubes já teriam acenado com uma oferta de US$ 6 milhões – o Independiente aceita vendê-lo por US$ 10 milhões.

Outros que podem trocar a Argentina pelo México são os atacantes Fernández (Tijuana ou Querétaro), Benítez (Tigres) e Gigliotti (América).

Até mesmo pratas da casa, como o zagueiro Alan Franco e o lateral-direito Fabricio Bustos, estão prestes a sair. Franco pode parar no Atlético-MG, e Bustos já é cobiçado por olheiros de times europeus.

Sem Holan, o técnico escolhido para comandar o esquálido Independiente 2018 será Eduardo Domínguez, genro de Carlos Bianchi e ex-Huracán. O plano A era Jorge Almirón, do Lanús, que já acertou com o Atlético Nacional, da Colômbia.

* Atualizado às 12h33 com a saída oficial de Holan


Por que o Boca disfarça tanto a volta de Tevez?
Comentários 4

Tales Torraga

A novela do futebol argentino neste sufocante verão em Bueno Zaires (ja) estreou nas rádios e TVs do país: Carlitos Tevez vai voltar ao Boca Juniors, mas o clube e o jogador vão disfarçar tudo até o último momento.

Por que o presidente do Boca detonou publicamente o seu vice na imprensa?

Por que o representante de Tevez, figura rara na imprensa, aparece duas vezes seguidas em espaço de horas para dizer ''que não há nada com o Boca e que ele pode até se aposentar''?

Por que o Boca mandou um comunicado dizendo que ''o jogador tem um contrato vigente com o Shenhua'', assegurando estar distante de qualquer negociação?

Puro despiste.

As negociações exigem estratégias. Disso, até os baderneiros de ontem na 9 de Julho sabem muito bem. E a postura do Boca é ficar distante, desinteressada, consciente de que os chineses estão totalmente decepcionados com Carlitos, arrependidos de pagar US$ 40 millhões por um ano para um pessoa que nem um dia demonstrou vontades de estar ali.

É óbvio.

O Boca sabe que demonstrar interesse significa pagar pela saída de Tevez, e o clube não quer (e não pode) abrir a carteira. O ''Olé'' foi feliz nesta terça (19): o que o Boca está fazendo não é nada além de ser cuidadoso com as palavras.

O falatório xeneize mudou da água da torneira para o malbec depois do otimismo extremo do vice Horacio Paolini, amigo e vizinho de Tevez. Ele declarou na semana passada que a volta de Carlitos seria um presente de Natal e terminaria de ser definida ainda em 2017. Daí veio a bronca pública do presidente do Boca. Daí vieram as declarações do empresário de Carlitos e o comunicado do Boca.

Os chineses estão do outro lado do mundo, mas seguem ligados na Argentina.

A tática do Boca nada mais é do que repetir um enorme sucesso do rock argentino dos anos 80, da banda Sumo:

Mejor no hablar de ciertas cosas…


Até os jornais argentinos se rendem a Kaká: “O último rei se vai”
Comentários 4

Tales Torraga

A rivalidade não impede em absolutamente nada que os argentinos adorem os principais craques brasileiros. Ronaldinho, por exemplo, talvez seja tão adorado em Buenos Aires quanto é em Belo Horizonte. Sem o menor exagero. Os argentinos têm verdadeira loucura por Ronaldo e Roberto Carlos, também. Não chega a ser uma loucura – mas a admiração por Kaká sempre foi constante, e o tom da imprensa argentina neste começo de semana reflete este respeito muito bem.

Schiavi marca Kaká na final do Mundial de 2003 – Olé/Reprodução

Quem sintetiza a figura de Kaká para os argentinos é o jornal ''Clarín'', o maior do país: ''Kaká se aposenta. O último rei antes dos monstros se vai'', é a manchete do diário, lembrando que Kaká foi o último a ganhar o prêmio de melhor jogador do mundo antes de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo – há exatos dez anos, em 2007.

''O adeus de um craque. Kaká se retira do futebol profissional'', foi a discreta homenagem do ''La Nación''. Bem diferente do ''Olé'', de linha muito mais irônica – mas, ao contrário do que os brasileiros pensam, a ironia é destinada a tudo e todos, e não só aos vizinhos e aos rivais.

''Adeus à magia de Kaká'', foi a manchete escolhida pelo ''Olé'', que derreteu-se em elogios ao ex-jogador de São Paulo, seleção e Milan, entre outros.

Kaká é lembrado na Argentina por ter feito duas finais de Mundial contra o Boca, perdendo em 2003, nos pênaltis, e ganhando em 2007, por 4 a 2, inclusive com um gol seu. ''Aprendi muito em 2003. Os times argentinos realmente jamais pensam que o jogo está terminado'', resgatou o ''Olé''.

''Em 2007, foi um dos melhores jogos da minha vida. Fiquei bem surpreso com a torcida do Boca. É uma torcida que canta o jogo todo. Foi espetacular.''

A ESPN, por fim, destacou a boa relação de Kaká com Messi e uma declaração sua de 2007, repleta de elogios: ''Messi está entre os cinco melhores de todos os tempos. Pensa e executa numa velocidade incrível. O que ele faz é único, é um prazer vê-lo e enfrentá-lo'', mostrou a TV, enquanto exibia um golaço de Kaká pela seleção contra a Argentina em 2006, em amistoso vencido pelo Brasil por 3 a 0 em Londres. Era a reestreia de Alfio ''Coco'' Basile no comando da azul e branca.


Técnico do Lanús pode parar no Brasil
Comentários 6

Tales Torraga

Jorge Almirón viveu dias intensos depois de perder a Libertadores para o Grêmio. Primeiro, deixou o Lanús, que comandava desde 2015. Dias depois, foi anunciado pelo Las Palmas, da Espanha, que ontem (14) divulgou que não daria sequência ao acerto com o treinador por ele não cumprir os requisitos agora exigidos pela Federação Espanhola para a contratação dos técnicos.

Resultado: Almirón procura emprego e virou uma opção aos clubes do Brasil.

Aos 46 anos, tem uma parcela de mérito na atual fase do Independiente. Foi com ele que a equipe subiu da Série B para a A na Argentina em 2015, pouco antes de ir para o Lanús e ganhar Argentino (2016) e  Supercopa Argentina (2017).

Almirón pretende inicialmente trabalhar fora da Argentina. Algo que deixa os treinadores do país mergulhados na incerteza é a constante troca de treinadores – neste Campeonato Argentino, em 13 rodadas já haviam sido 15 os técnicos demitidos dos 30 clubes que disputam a principal competição do futebol do país.

Em contato com o blog, o representante de Almirón disse que o treinador está disposto a ouvir convites de clubes brasileiros, e que a possibilidade de cruzar a fronteira seria uma honra para um profissional que admira demais o futebol praticado no país. Não há, porém, razão para pressa. O treinador agora pretende priorizar o convívio com a família até janeiro.


Suderj informa: Argentina 21×15 Brasil em finais
Comentários 13

Tales Torraga

A conquista do Independiente em cima do Flamengo no novo Maracanazo ampliou a vantagem dos argentinos nas finais contra o Brasil para 21 a 15 (58,3% a 41,7%).

Festa argentina e lamento carioca no Rio – Olé/Reprodução

O Brasil vive um inédito domínio nos anos 2010. Está 5 a 3 para os times do país nas decisões contra os clubes vizinhos nesta década.

A lista geral convida a algumas reflexões.

A primeira é a queda da falácia que cansa de repetir que a soberania argentina foi construída nos anos 1960 e 1970, quando as TVs não mostravam a barbárie que tais equipes realizavam contra os rivais em seus estádios. Puro desconhecimento. O grande salto do confronto ocorre no período que vai de 1999 a 2007, quando a Argentina ganhou todas as seis finais que fez contra times brasileiros.

(Alguém ainda tem coragem de falar de barbárie depois de ontem?)

E que ironia: a única equipe do Rio a chegar a uma final contra times argentinos é o Flamengo, que agora tem três derrotas e nenhuma vitória em tais decisões.

As 36 finais Brasil x Argentina, segundo a Conmebol:

– Libertadores 1963: Santos x Boca Juniors
– Libertadores 1968: Estudiantes x Palmeiras / Anos 60: 1×1
– Libertadores 1974: Independiente x Sao Paulo
– Libertadores 1976: Cruzeiro x River Plate
– Libertadores 1977: Boca x Cruzeiro / Anos 70: 2×1 Argentina (3×2 no geral)
– Libertadores 1984: Independiente x Gremio
– Supercopa 1988: Racing Club x Cruzeiro / Anos 80: 2×0 Argentina (5×2)
– Supercopa 1991: Cruzeiro x River Plate
– Master 1992: Boca Juniors x Cruzeiro
– Libertadores 1992: Sao Paulo x Newell´s
– Supercopa 1992: Cruzeiro x Racing Club
– Libertadores 1994: Vélez Sarsfield x São Paulo
– Supercopa 1995: Independiente x Flamengo
– Conmebol 1995: Rosario Central x Atlético Mineiro
– Recopa 1996: Gremio x Independiente
– Supercopa 1996: Vélez Sarsfield x Cruzeiro
– Conmebol 1997: Atlético Mineiro x Lanús
– Supercopa 1997: River Plate x São Paulo
– Recopa 1998: Cruzeiro x River Plate
– Conmebol 1998: Santos x Rosario Central
– Conmebol 1999: Talleres de Córdoba x CSA / Anos 90: 7×7 (12×9)
– Libertadores 2000: Boca Juniors x Palmeiras
– Mercosul 2001: San Lorenzo x Flamengo
– Libertadores 2003: Boca Juniors x Santos
– Recopa 2006: Boca Juniors x Sao Paulo
– Libertadores 2007: Boca Juniors x Gremio
– Sul-Americana 2008: Internacional x Estudiantes
– Libertadores 2009: Estudiantes x Cruzeiro / Anos 2000: 6×1 Argentina (18×10)
– Sul-Americana 2010: Independiente x Goiás
– Recopa 2011: Internacional x Independiente
– Libertadores 2012: Corinthians x Boca Juniors
– Sul-Americana 2012: Sao Paulo x Tigre
– Sul-Americana 2013: Lanús x Ponte Preta
– Recopa 2014: Atlético Mineiro x Lanús
– Libertadores 2017: Gremio x Lanús
– Sul-Americana 2017: Indep'diente x Flamengo / Anos 2010: 5×3 Brasil (21×15)


O Independiente já é campeão. Só falta erguer a taça
Comentários 56

Tales Torraga

Nada de Boca, River ou Lanús. O time argentino que vai terminar 2017 se sentindo um campeão é o Independiente, do genial técnico Ariel Holan. Desfigurada depois de tantos fracassos e desmandos, a equipe que mete a pata hoje no Maracanã tem muito mais do Independiente glorioso dos anos 70 que da lamentável versão pirata do clube que perambulou pela Segunda Divisão três anos atrás.

E é impossível separar Holan deste renascimento.

Técnico só há dois anos (!), ele já é olhado como o melhor da Argentina na arte de lidar com os egos. Nem Gallardo e muito menos Schelotto chegam perto. Holan não tem nenhum craque. Mas tem nas mãos o elenco mais unido do futebol platino.

O vislumbre de Holan ocorreu ainda em janeiro, quando dispensou os medalhões El Tanque Denis e Cebolla Rodríguez. Percebeu que precisava de sangue fresco e novos líderes. Trouxe Walter Erviti (ex-Boca e Banfield) e Emmanuel Gigliotti (outro ex-Boca). Ambos não foram titulares logo de cara – e Erviti ainda hoje não é. Mas criaram sempre soluções, e não problemas. A grande virtude de Holan é germinar um excelente ambiente de trabalho, onde todos se sentem importantes. Grupo horizontal. Não há ordem de valores.

Um grande exemplo vem da camisa 9. Gigliotti, Leandro Fernández e Lucas Albertengo têm nível semelhante e fazem grande rotação. O que prevalece é o bem comum. Com Holan, sempre joga quem está melhor. Ele cansa de repetir que todas as posições estão abertas, e que são os jogadores que a conquistam nos treinamentos. Qualquer um, do primeiro ao último, lutam por um lugar.

Outro reserva que merece ser citado é o goleiro Damián Albil, de 38 anos, quando muito escalado como terceira opção. Pois é ele um dos grandes líderes deste Independiente, um tipo amado pelos colegas, especialmente os mais jovens, que encontram nele o confidente ideal antes das decisões.

Holan, claro, fez questão de levar 1000% do elenco ao Rio. Mesmo os que ainda não jogaram na temporada estão por lá. O treinador foi além. Convidou os grandes nomes do emblemático Independiente para acompanhar a equipe no Maracanã. Um deles, o atacante Daniel Bertoni, campeão da Copa do Mundo da Argentina em 1978, mal desceu do avião e pediu para tomar caipirinha. Pura onda.

Holan (dir.) com os ídolos do Independiente rumo ao Rio: Bochini, Bertoni, Santoro e Pavoni – Arquivo

É este o espírito do Independiente nesta quarta-feira (13) de final. Ganhando ou perdendo para o Flamengo, já voltou a se sentir grande, uma conquista equivalente às mais importantes da sua história.

Mas que ninguém imagine outra coisa que não um time alucinado e louco de vontade de não deixar a Copa escapar. ''Somos Independiente, um time ganhador e de perna forte'', falou Holan, em êxtase, antes de chegar ao Rio.

Na sua camisa, acima do coração, estava escrito ''1905 – Rey de Copas''.

Impossível não respeitar.


Boca e River disputam contratação de Buffarini
Comentários 5

Tales Torraga

Julio Buffarini está com os dias contados no São Paulo. Sem espaço no clube, o lateral-direito de 29 anos é o protagonista de uma verdadeira guerra nos bastidores entre Boca Juniors e River Plate. Os dois gigantes argentinos querem contar com o seu futebol em 2018, ano em que disputam a Libertadores. Além de reforçar o time, o que está em discussão é a possibilidade de enfraquecer o rival, algo que na Argentina mexe com o ânimo popular como talvez nenhum outro país do mundo.

Quem larga na frente nesta possibilidade é o Boca, que admitiu a possibilidade de maneira oficial. ''Ele sempre nos interessou'', afirmou o presidente do clube, Daniel Angelici, ao diário ''Olé''. ''É um jogador internacional, embora nesta posição a gente já tenha Peruzzi e Jara'', completou o técnico Guillermo Barros Schelotto.

O River sai um pouco atrás.

O clube precisa primeiro resolver a sua caótica eleição presidencial, que já foi cancelada uma vez e está prevista para finalmente ocorrer neste domingo em Núñez. A expectativa geral indica a reeleição de Rodolfo D'Onofrio, mandatário do River desde 2014, quando tomou o lugar que era do nefasto Daniel Passarella.

Além de esperar a definição sobre quem será seu presidente, a possibilidade do gigante portenho de contar com Buffarini passa pela boa vontade de seu representante, Darío Bombini, o mesmo que cuida da carreira do volante Leonardo Ponzio, o grande ídolo do River nos últimos anos.

Levado ao São Paulo por Patón Bauza, Buffarini custou US$ 2 milhões (cerca de R$ 7 milhões) aos cofres do clube. Seu salário é considerado alto. Como sequer vinha sendo relacionado, sua permanência em 2018 é praticamente descartada.


O que está por trás da volta de Higuaín à seleção?
Comentários 6

Tales Torraga

Gonzalo Higuaín e Jorge Sampaoli enfim se acertaram, e Pipita vai voltar a ser convocado para a seleção argentina. Sua presença na Copa do Mundo da Rússia é certa. Ele só não vai disputar o Mundial se sofrer alguma contusão. Depois de seis meses, sua relação com os jogadores e com Sampaoli foi refeita e é, hoje, positiva.

Reunião entre Higuaín, Beccacece e Sampaoli – AFA/Reprodução

Lembramos: Higuaín foi convocado por Sampaoli para os primeiros amistosos do seu ciclo, contra Brasil e Cingapura, em junho. Ele jogou muito mal contra o Brasil e foi afastado do compromisso seguinte. Recém-chegado, o técnico detectou que o atacante estava saturado da seleção – por isso houve tantos testes com jogadores que não vinham sendo convocados, como Benedetto e Icardi, para ficarmos só em dois nomes. O combinado entre Sampaoli e Higuaín era o famoso ''dar um tempo''. O elétrico técnico é um admirador do futebol de Higuaín, mas reconhece como ninguém que deixá-lo à vontade seria o melhor. Há uma massiva hostilização argentina contra Pipita, castigado verbalmente de maneira cruel até hoje pelos seus eternos gols perdidos na final contra a Alemanha e nas duas derrotas para o Chile.

O contato telefônico entre Sampaoli e Higuaín é constante. Os dois são usuários pesados de tecnologia e trocam longas mensagens de áudio por WhatsApp. E na semana passada, de maneira definitiva, Higuaín deu o seu ok a Sampaoli para ser convocado para os amistosos de março, diante de Itália e Arábia Saudita. A preparação final da seleção do Pelado Sampa será em maio e junho, com partidas já acertadas contra Bolívia (na Bombonera) e Israel (em Barcelona).

A atualidade de Higuaín na Juventus é muito boa – em se tratando de clubes, ele, de fato, é um goleador do qual só os muito exigentes têm algo a criticar. Nesta temporada, em 18 jogos, Higuaín marcou 11 gols. Na última, foram 32 em 55 jogos. Sua média geral defendendo Real Madrid, Napoli e Juve é de 0,60 gol por partida – é um número positivo em qualquer período da história.

As estatísticas de Higuaín pela seleção tampouco são ruins: são 32 gols em 69 jogos (0,46 de média), quinto maior artilheiro, empatado com Maradona.

Além da motivação particular de Pipita, o que condiciona sua volta à seleção é o carinho que os demais jogadores têm por ele. Messi, Mascherano, Di María e Agüero tomam o Mundial da Rússia como a última chance de ganhar uma Copa com a seleção. E este sentimento de revanche, algo tão forte na cultura argentina, mobiliza todos eles nas novas boas-vindas a Higuaín – talvez o jogador que mais vai se alimentar deste espírito. Mais que vencer os rivais, eles já destinaram o alvo. Querem vencer os críticos argentinos que infernizaram suas vidas nos últimos anos.


Tevez: a maior decepção da história da Argentina
Comentários 7

Tales Torraga

Há exatamente um ano, Carlitos Tevez destruiu o River Plate no histórico 4 a 2 que representou sua saída do Boca rumo à China. O então técnico da seleção era Patón Bauza – pressionado com força pela maior torcida da Argentina para convocá-lo.

Desde então, Tevez desapareceu do país e do radar da seleção.

Tevez lamenta na Copa de 2010 – Olé/Reprodução

Entre a fartura de opções para o ataque argentino na Copa do Mundo do ano que vem, seu nome não consta nem como a alternativa Z. Sua idade – 33 anos – não é desculpa. Mascherano, por exemplo, está com os mesmos 33. Esta Argentina está forrada de jogadores acima dos 30 anos. A média de idade da seleção é de 31.

O presente de Tevez sim que é inexistente: brigado com o Shanghai Shenhua por ficar gordo e ser afastado, sua volta ao Boca está para ser anunciada oficialmente.

Por que Tevez então não dá um gás final na carreira e joga o Mundial da Rússia?

Porque os argentinos têm um verdadeiro rechaço por ele na seleção. Claro: aqueles que não deixam a camisa do Boca interferir na avaliação. A imagem do menino que venceu a favela para triunfar com a azul e branca jamais se consolidou. Em um debate ontem (7) na Fox Sports da Argentina, Tevez foi considerado a maior decepção da história da seleção argentina. E não é para menos.

Carlitos ganhou o ouro olímpico de Atenas-2004 sendo um craque monstruoso. Fez oito gols em seis jogos. Na carência pós-Maradona, era ele, Tevez, o escolhido.

Que nada.

Participou do vice argentino na Copa América daquele próprio 2004 – como esquecer suas firulas no escanteio antes de Adriano fazer o gol no último minuto e empurrar a Argentina para uma ladeira que parece ainda não ter chegado ao fim.

Parecia presságio. A carreira de Tevez na seleção é perfeitamente resumida em uma estatística: 0,17. É esta sua média de gols com a azul e branca. Foram míseros 13 em um total de 76 partidas entre 2004 e 2015. 11 anos, 13 gols.

Este jejum argentino em vigor tem muito de Tevez. Além do vice da Copa América de 2004, esteve também na Copa das Confederações de 2005 e no outro vice da Copa América de 2007. A Argentina foi batida pelo Brasil nas três finais.

Mas foi outra batida – de pênalti – que decretou seu fim na seleção, quando ele desperdiçou a cobrança que classificou o Uruguai para a semifinal da Copa América de 2011, realizada na Argentina e organizada por supuesto, para o país vencer.

Tevez jamais teve bom ambiente na seleção adulta. Com 20 anos, foi filmado cantando para a ''seleção ir para a puta que pariu''. Nesta Copa América de 2011, brigou com os colegas e até com Julio Grondona, o presidente da AFA.

Quando quis ir à Copa do Mundo de 2014, já era tarde.

Ninguém o queria por perto – nem o historicamente conciliador Sabella. Os dois Mundiais disputados por Tevez, em 2006 e 2010, também haviam sido fracos. Jogou oito partidas e marcou três gols. A quantidade encontra justificativa na fraqueza dos adversários. Foi um gol na Sérvia (2006) e dois no México (2010).

''Tevez faria os gols que Higuaín e Palacios não fizeram na final com a Alemanha!''

Será? Mesmo?