Patadas y Gambetas

Por que o técnico do Independiente é considerado um gênio na Argentina?

Tales Torraga

Ariel Holan. Seu nome diz pouco no Brasil. Mas na Argentina, onde brilha, já se fala até na criação da ''escola HOLANdesa'' nesta final entre Independiente e Flamengo. Os dois clubes gigantes se cruzam às 21h45 desta quarta (6) no jogo de ida da picante decisão da Copa Sul-Americana em Avellaneda, na Grande Buenos Aires.

Ariel Holan delira com a ida à final da Sul-Americana – Independiente/Divulgação

Holan tem 57 anos e uma carreira das mais incomuns. Começou no esporte como treinador das seleções femininas de hóquei na grama na Argentina e no Uruguai. Obcecado ao extremo, na virada do século vendeu um carro e comprou um computador de última geração para analisar seus dados. Só andou de carona e transporte público durante quatro anos. Neste período, ganhou o bronze com as meninas uruguaias no Pan de 2003 – melhor resultado da história do país.

Ariel trocou os tacos pelas chuteiras no próprio 2003. Fez vários estágios com técnicos como Daniel Passarella, Jorge Burruchaga e Matías Almeyda. Galgando estágios aos poucos e consolidando sua fama de ''cientista da bola'', Holan integrou o corpo técnico que devolveu o River Plate à Primeira Divisão da Argentina, em 2012. Era o cérebro do novato Almeyda, que iniciava ali sua carreira de treinador.

Holan é técnico principal só há apenas dois anos – foi em 2015 que ele estreou no Defensa y Justicia que, absorvendo seus conceitos, eliminou o São Paulo da Copa Sul-Americana já sob o comando do substituto Sebastián Beccacece.

O treinador é tido pelos colegas como um viciado em conhecimento e um dos maiores estudiosos do esporte argentino, uma rara mescla de sabedoria acadêmica e prática. Explora a tecnologia em detalhes, fazendo os jogadores usarem frequencímetros, GPs e verem depois os treinamentos filmados por um drone. Seus próprios treinos são um capítulo à parte e muito diferentes da maioria, passando trabalhos diferentes aos zagueiros e outros aos atacantes, por exemplo.

Holan com a seleção uruguaia de hóquei – El Gráfico/Reprodução

Sua obsessão foi herdada do pai, um mecânico de carros e aviões que morreu tragicamente – esmagado, quando sua oficina despencou. Holan tinha 19 anos.

Apaixonado pelo Independiente, é figurinha fácil na TV argentina cantando as músicas das arquibancadas e contando os tempos em que vivia em Avellaneda no ombro do pai para torcer para a equipe de Bochini e Pavoni. Por isso Holan chorou tanto quando a equipe se classificou para esta decisão. ''Isto é para o meu pai, que me trouxe aqui com quatro anos'', repetia. ''Quando era criança e o Independiente perdia, íamos dormir em silêncio e só podíamos falar no dia seguinte.''

Como todo gênio argentino, Holan também é bem excêntrico.

Capa do Olé desta quarta (6) – Reprodução

Repete sempre que está no Independiente como treinador, e não como torcedor, e nesta semana deu uma contundente resposta aos que o colocaram em dúvida.

''Nem todo mundo precisa saber o que cada um faz em sua carreira. Eu não me levantei um dia bêbado dizendo: 'quero ser treinador de futebol'. Remei mais de dez anos, mais de uma década, em diferentes cargos e funções dentro deste esporte.''