Patadas y Gambetas

Análise: Messi vai mesmo jogar a Copa?
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Tales Torraga

O massacre espanhol na Argentina acendeu em Buenos Aires um sinal tão vermelho quanto a camisa da Fúria.

Pior ainda que o papelão do time de Jorge Sampaoli, a dúvida que fica na capital portenha é se Lionel Messi vai realmente jogar a Copa do Mundo que pinta como a última da sua carreira.

Não que a atual lesão do astro do Barça seja desastrosa. O problema é que esta Argentina é escandalosamente ''Messidependente''. Nenhum outro time de ponta na história do futebol foi tão agarrado a um único homem como esta seleção.

Sampaoli e seu raciocínio sinuoso já cravaram que esta Argentina é mais ''de Messi que do treinador''.

É justo impor toda esta pressão em uma pessoa só, por mais talentosa?

Ninguém percebe a temeridade que é fazer Messi virar o fio?

Lio vai completar 31 anos durante o Mundial. Será sua quarta Copa do Mundo. Ele é profissional há 15 temporadas. Já é um veterano, e vai precisar bancar uma cobrança brutal dia sim e dia também. A Copa é um mês e nada mais. Imaginar que ele vai ter condições de carregar sozinho 10 jogadores e 44 milhões de fanáticos argentinos nas costas é uma loucura.

Ninguém discute sua técnica – a questão toda é saber como estará seu corpo e sua cabeça no Mundial.

Chegando à final, seriam sete jogos em exatos 30 dias. Com este 6 a 1 no lombo, o que surge desde já é a seguinte equação: pressão enorme + pouco tempo de recuperação = uma bomba-relógio das mais complicadas que Sampaoli e seu estafe precisam desarmar.

E sempre com o risco de alguma patada mais maldosa tirar de campo o craque de quem todos esperam.

Nenhum argentino encontra paz para defender uma seleção golpeada, traumatizada, envelhecida e que agora se vê contra o paredão diante da chance derradeira de dar uma resposta a uma torcida que a cada dia mais mira seu canhão em um único peito.

O ''quadrado mágico'' está nas cordas antes mesmo de sair do vestiário.

Machucados, Agüero e Messi não jogaram nenhum dos amistosos ante Itália e Espanha. Di María mantém sua assombrosa média de lesões pela seleção – bem ao contrário do que apresenta em Paris.

Higuaín acabou de voltar de contusão séria – mas o que mais lhe complica vestindo azul e branco é mesmo a cabeça, como indicou o incrível gol perdido no primeiro tempo de hoje.

A AFA pediu e Sampaoli topou. Enfrentar a Espanha em Madri a semanas da Copa acabou sendo péssimo.

Esta Argentina tem problemas para onde quer que se olhe. Nada que surpreenda quem lê o blog – em dezembro já colocávamos em xeque a própria classificação na primeira fase.

A Argentina reza por Messi – mas precisa se virar com Meza.

Nada contra o bom jogador do Independiente. E sim contra a histeria e a desorganização que desde já se desenham como insuportáveis até mesmo para um gênio.

Não é secar, não é ser bruxo, não é torcer contra: é usar o mínimo de bom senso, artigo cada vez mais raro em solo portenho.

Sobram perguntas e transbordam ajustes – mas a certeza é uma só.

Ou a Argentina olha melhor para si e distribui suas responsabilidades ou Messi – estafado, agoniado, prostrado – vai repetir o filme de tristeza que tem sido a Copa do Mundo em sua vida.

(1 – Que loucura: a Espanha se vingou de Sampaoli, que com o Chile tirou a Fúria da última Copa. 2 – O papelão de Madri é o maior da história da Argentina, que tomou de 6 a 1 outras duas vezes, mas jamais passou disso. 3 – Argentina e Espanha podem voltar a se cruzar nas quartas de final na Rússia. Ninguém por aqui sabe se isso é bom ou ruim.)


Há 25 anos: o dia em que Maradona tietou o São Paulo de Telê no Morumbi
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Tales Torraga

POR GIANCARLO LEPIANI*

Há exatos 25 anos, em um sábado nublado, Diego Armando Maradona jogou no Morumbi pela primeira e única vez na história – foi para um amistoso entre o São Paulo e o Sevilla, seu então clube. Por times, Diego já havia atuado no Brasil pelo Argentinos Juniors, contra o Grêmio, e pelo Boca, ante o Flamengo, no Maracanã.

Listamos 13 curiosidades da passagem do craque argentino pelo Morumbi:

– A realização da partida, promovida como jogo de entrega das faixas do título mundial de 1992 ao São Paulo, foi uma iniciativa de uma empresa do próprio Maradona, a Diarma. No contrato com o Sevilla, ele ganhou o direito de organizar oito amistosos com a equipe, ficando com o dinheiro da transmissão de TV.

– Antes do embarque, ainda na Espanha, Maradona fez referência à vitória do São Paulo em Tóquio, meses antes. “Tomaremos muito cuidado diante do campeão mundial, aquele que pintou a cara do Barcelona.” Ele também disse que o amistoso seria uma boa experiência para os mais jovens do elenco do Sevilla – entre eles Diego Simeone, de 22 anos. “Enfrentar uma equipe que ganhou tudo o que disputou é sempre um bom teste. É importante até para mim, apesar dos meus 32 anos.”

– Um dos jogadores brasileiros que mais impressionavam Maradona naquela época era Cafu. “No amistoso com a Argentina, ele fez o que quis com a nossa defesa”, disse, em referência ao 1 a 1 de poucas semanas antes, em 18 de fevereiro, no Monumental de Núñez, comemorando o centenário da AFA.

Maradona cumprimenta Telê no Morumbi – Reprodução/TV

– Maradona e seus companheiros de Sevilla ficaram hospedados no Hotel Brasilton, na Rua Martins Fontes, no centro. Lá, depois de trocar o agasalho da delegação por um colorido conjunto de camiseta e bermuda floridas, ele concedeu uma entrevista coletiva. Num gesto de simpatia, disse que toparia atuar por um clube brasileiro. “Adoraria jogar no Brasil, ao lado do meu amigo Careca, caso ele volte para cá em junho, quando seu contrato com o Napoli terminar.”

Sobre o São Paulo, afirmou: “É um dos melhores times do mundo. No momento, São Paulo e Milan mostram a beleza do futebol. Não é possível dizer quem é melhor porque as equipes ainda não se enfrentaram”.

– Para marcar o jogo do Morumbi, a empresa de Maradona ofereceu ao São Paulo um cachê de 80.000 dólares. Os brasileiros ficariam também com a arrecadação da bilheteria e os direitos de transmissão para o próprio país, enquanto a Diarma ficaria com o dinheiro das TVs da Espanha e da Argentina. Maradona e os sócios já haviam promovido três amistosos do tipo: um contra o Bayern e dois com o Boca.

– Apesar da expectativa da torcida paulista, ansiosa para ver Maradona de perto, Telê Santana minimizava a importância da partida, que classificou de “apenas uma festa de entrega das faixas de campeão mundial”. Sobre Maradona, porém, Telê não poupou elogios: “Quando a bola está em seu pé, tudo pode acontecer. Mesmo agora, depois dos problemas que enfrentou, é um jogador que desequilibra”.

– Maradona estava fora de forma, segundo admitiu o próprio treinador do Sevilla, Carlos Bilardo. “Ele está com 65% de suas condições físicas”, disse o Narigón. Tanto Bilardo como Maradona vinham sendo criticados na Espanha – o Sevilla era apenas o sétimo colocado no Campeonato Espanhol e não vencia havia três rodadas. O único argentino que fazia sucesso com os torcedores naquele momento era Simeone, já ídolo em Sevilha.

– Depois de ter sido acolhido pelo clube como rei cerca de seis meses antes, Maradona estava em atrito com o presidente do Sevilla, Luis Cuervas. Um dos motivos: Maradona havia viajado sem autorização do clube para disputar um amistoso entre Argentina e Dinamarca em Buenos Aires. Ele foi multado pela diretoria e a imprensa local começou a tratar como certa sua saída do clube ao fim da temporada europeia.

– Um dos temas comentados publicamente por Maradona no Brasil, aliás, foi justamente seu futuro. Ele reclamou de uma reportagem da revista ''El Gráfico'' dizendo que ele voltaria ao Boca em junho daquele ano: “Não tenho nada acertado”.

– Maradona e a delegação do Sevilla desembarcaram no Aeroporto de Cumbica na manhã do dia 26 de março. A chegada foi tumultuada, com repórteres, fotógrafos e torcedores tentando se aproximar do astro. Maradona estava bem humorado e tentou atender a todos com simpatia. Ao ver uma jovem torcedora no meio da confusão, Diego interferiu e puxou a garota para que conseguisse tirar uma foto com ele. Em meio ao assédio dos jornalistas, Maradona se afastou do restante da delegação, que seguia rumo ao ônibus fretado que aguardava a equipe. Acabou sendo colocado num táxi e seguindo viagem junto do empresário Juan Figer.

Maradona e Dinho – Juha Tamminen/Sevilla

– A declaração mais curiosa de Maradona na coletiva foi referente ao seu envolvimento com as drogas. Ele disse que “contaram muitas mentiras” a respeito de sua luta contra o vício e que deixar a cocaína “foi bem mais fácil do que dizem”.

– Depois da coletiva, vários jornalistas tentaram entrevistas exclusivas com Maradona, mas foram surpreendidos com um pedido do procurador do astro, Marcos Franchi, que cobrava 15.000 dólares para permitir que ele gravasse outros depoimentos. À noite, Maradona saiu para dar uma volta pelo centro, caminhando até a Rua da Consolação.

– No jogo, quem se destacou foi outro camisa 10, Raí, que marcou os dois gols da vitória do São Paulo por 2 a 0. No primeiro, ele aproveitou belo lançamento de Palhinha para fuzilar o goleiro Unzué; no segundo, anotou de pênalti, após Cafu ter sido derrubado na área. Sem fôlego e marcado de perto por Pintado, Maradona teve atuação discreta, mas mostrou alguns lampejos de sua habilidade. Em seu melhor lance no jogo, aos 22 minutos do segundo tempo, acertou a trave de Zetti num chute seco da entrada da área.

– Depois do apito final, Maradona fez questão de procurar Telê, a quem cumprimentou e disse: “Muchas felicidades, muchas gracias”.

A ficha do amistoso:

São Paulo: Zetti; Vítor, Adílson (Lula), Ronaldo e Ronaldo Luís (André); Pintado (Válber), Dinho e Raí; Cafu (Elivélton), Palhinha e Catê. Técnico: Telê Santana

Sevilla: Unzué; Martagón, Diego, Marcos e Jiménez (Andrades); Del Campo, Rafa Paz (Cortijo), Conte Crespo (Pineda) e Simeone; Maradona e Bango. Técnico: Carlos Salvador Bilardo

Gols: Raí  (2)
Árbitro: Ílton José da Costa
Público: 47.095 pagantes
Renda: Cr$ 1.946.810.000

***

* GIANCARLO LEPIANI, jornalista, é um dos criadores do ''Projeto Tóquio'', que revive o dia-a-dia do São Paulo em 1993 no FacebookInstagram e Twitter.


Para Sampaoli, Argentina é superior ao Brasil na história
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Tales Torraga

O novo livro de Jorge Sampaoli (''Mis latidos'' – ''As minhas batidas'') chega às sempre fartas livrarias de Buenos Aires na semana que vem, mas o blog teve acesso a um trecho que promete gerar muita polêmica. Para o atual técnico da Argentina, o futebol jogado em seu país é ''historicamente o melhor do mundo''.

''Daqui saíram os melhores do mundo: Di Stéfano, Sívori, Maradona, Messi, Kempes e outros como Bochini, Alonso e Madurga. Os dedos das mãos não dão conta. As raízes argentinas não se comparam a nenhum outro país. Os melhores jogadores de criação e do terço final de campo da história são argentinos.''

Capa do livro de Sampaoli – Editoria Planeta/Divulgação

Como a capa indica, o livro compila as ideias do treinador, que não menciona o penta do Brasil e não fala de Pelé, Ronaldo ou quem quer que seja. Sampaoli apenas repisa o discurso da ''soberania argentina'' – vigente e forte em pleno 2018.

''Tendo os melhores da história que abasteceram o futebol do mundo, você se dá conta que o futebol é o Rio da Prata.''

(como dizem em Buenos Aires: epa!)

''Temos que defender esse estilo. E se o representamos, a torcida vai se aproximar. Sabemos que temos os melhores, precisamos conseguir estabelecer a diferença com o nosso estilo de jogo.''

Em outro trecho, Sampaoli remarca:

''O desafio é impor esta superioridade com base na essência que permite que o futebol argentino seja muito respeitado na história. A Argentina esteve no topo mundial graças aos jogadores que fizeram isso possível. Não é só ganhar a Copa do Mundo e não é só o festejo de uma noite. É o respeito do rival.''

''Há muitas variantes que fazem com que isso seja possível ou não. Ganhar apertado e esquecer a nossa história não é o mesmo que impor nosso jogo e ganhar o respeito.''

''Mis latidos'', que dá nome ao livro, é também a música da banda de rock Don Osvaldo, cujo cantor, Pato Fontanet, é amigo e ídolo de Sampaoli. Já é possível comprar a obra de 192 páginas aqui. O preço é de 249 pesos (cerca de R$ 42).

Espera-se uma boa adesão portenha às ideias e às batidas de Sampaoli. O seu livro está sendo lançado pela editora Planeta, a maior da Argentina.


Opinião: Vitória argentina não deve iludir
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¡Aleluya! A Argentina ganhou sem Lionel Messi pela primeira vez em quase dois anos (desde a estreia da Copa América Centenário contra o Chile em junho de 2016). Vamos ignorar o 6 a 0 do ano passado em Cingapura – Cingapura não vale.

Só não vamos desconsiderar que a grande figura em campo nesta sexta em Manchester foi o goleiro Willy Caballero, que provou merecer um lugar na Copa.

Comemoração do gol de Lanzini em Manchester – Reprodução/Olé

O gol de Banega, o do 1 a 0, saiu quando a Argentina estava entregue à Itália. E o gol de Lanzini, o 2 a 0, só ocorreu depois de um contra-ataque que nem deveria existir: a jogada italiana anterior só não terminou em 1 a 1 por milagre.

(A Argentina, aliás, poderia perfeitamente ser a deprimida Itália neste instante – poderia ser ela, a azul e branca, a grande ausente desta Copa, não fosse o salvador 3 a 1 nos reservas do entregue Equador em Quito. Não custa lembrar.)

Caballero não deve ser considerado o único ponto alto argentino. Os laterais – Bustos e Tagliafico – provaram que também podem ser boas opções aos titulares Mercado e Rojo. Fazio e Otamendi formam uma dupla de zagueiros de respeito.

Os problemas argentinos vêm do meio para a frente.

Biglia e Paredes, os dois volantes, oscilaram demais. A criação com Lanzini e Lo Celso também. Banega entrou bem. A Argentina só armou o suficiente para vencer depois que ele foi a campo.

Di María teve certa pressa na definição das jogadas, e Higuaín voltou a mostrar que na Juventus ele é um – e na seleção, ainda um pouco perturbado, outro.

O 2 a 0, visto de maneira crua, e ponderando a ausência de Messi, pode sugerir que a Argentina já está na trilha daqueles que apostam que a seleção é uma das favoritas ao título, e que Messi vai dar adeus às Copas erguendo o troféu do tri.

Não é para tanto. A Argentina ainda busca uma atuação mais auspiciosa.

Com Messi, ela pode vir contra a Espanha na próxima terça em Madri. Bater no peito e se iludir com o 2 a 0 sobre a Itália não vai ajudar em nada. Jorge Sampaoli ainda tem muito o que fazer para a Argentina merecer um espaço entre as favoritas.


Sampaoli indica Argentina sem Dybala e Icardi na Copa
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Salvo surpresa, Lionel Messi não será titular no amistoso das 16h45 (de Brasília) desta sexta (23) contra a Itália em Manchester. E há também uma grande chance de ele sequer entrar em campo, pois está sentindo um incômodo nos músculos adutores das duas coxas.

E a não ser que ocorra também uma surpresa nas próximas semanas, Paulo Dybala e Mauro Icardi não serão chamados por Jorge Sampaoli para a Copa do Mundo. O próximo Sampaoli reconheceu que ambos não renderam o esperado – em campo e fora.

Icardi e Dybala no Argentina x Uruguai do Centenário – AFA/Divulgação

''Quando assumi, Icardi foi o escolhido, mas com o tempo entendemos que havia uma grande diferença entre o que acontecia no seu clube e o que acontecia aqui'', falou Sampaoli aos jornalistas argentinos ontem em Manchester.

''É um caso parecido com o de Dybala. Na seleção, o tempo de adaptação é curto. Temos que decidir nossa escolha na maneira como os jogadores se relacionam com os seus companheiros.''

''Já para Dybala, o ideal é que ele cresça com os jogadores que temos aqui, e não caia. Em seu time, sua rebeldia rendeu muitos pontos. Aqui, os que estão na equipe, fazem as coisas melhor que ele.''

Icardi e Dybala sequer foram chamados para os amistosos de hoje (contra a Itália) e da terça contra a Espanha, em Madri.

A Argentina que sai a campo hoje em Manchester contra a Itália deve ter a seguinte formação titular: Wilfredo Caballero; Fabricio Bustos, Nicolás Otamendi, Federico Fazio e Nicolás Tagliafico; Lucas Biglia e Leandro Paredes; Manuel Lanzini, Ever Banega e Angel Di María; Gonzalo Higuaín.

A seleção vai jogar com sua camisa negra recém-apresentada.


Independiente denuncia rede de prostituição na sua categoria de base
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Tales Torraga

Argentina e Itália fazem amanhã (23) um badalado amistoso em Manchester, mas a capa desta quinta do jornal ''Olé'', o principal diário esportivo argentino, é esta.

Capa do Olé nesta quinta (22) – Reprodução

''Que apodreçam no inferno''. E a história é mesmo estarrecedora.

O Independiente formalizou uma denúncia – tornada pública em Buenos Aires na noite desta quarta –  depois de apurar que jogadores de 14, 15 e 16 anos das suas categorias de base foram levados, nos últimos quatro meses, a fazer parte de uma rede de prostituição. O principal suspeito pelo recrutamento e pela exploração sexual dos menores é um jogador juvenil do próprio Independiente.

A denúncia teve como origem o depoimento de um dos jogadores do esquema – de apenas 14 anos. Ele contou tudo em prantos a um dos psicólogos do Independiente. A denúncia já está registrada na UFI (Unidade Fiscal de Investigação) de Avellaneda, município onde está instalado o clube.

O escândalo foi revelado pelo jornalista Gustavo Grabia, no canal de TV TyC Sports. Grabia é conhecido no Brasil por ser autor de um famoso livro sobre a Doce, a barra brava do Boca, traduzido para o português.

O caso está registrado como ''abuso de menores e facilitação de abuso''. Sabe-se até agora que 20 jogadores do clube recebiam cerca de 1.000 pesos (cerca de R$ 160) para se prostituir com homens mais velhos em um apartamento de luxo no bairro de Palermo, um dos mais chiques da capital, no período escolar, à tarde. Na denúncia, aparece também o nome de um árbitro de jogos juvenis como cliente.

O aberrante caso é o primeiro do tipo na Argentina.

O responsável pela denúncia: Fernando Berón, coordenador da base do Independiente – Divulgação

Fernando Berón, coordenador das divisões de base do Independiente, foi quem apresentou a denúncia e é quem promete levar a história adiante. A Argentina sempre está a um passo de comoções – e a que se instala agora é justificável.

O abuso de menores vai na contramão daquilo que o país enxerga como uma ''superprofissionalização'' de seus futuros talentos. Os clubes argentinos investem há pelo menos uma década em um verdadeiro batalhão de psicólogos, dentistas, nutricionistas e demais estudiosos para polir – e depois vender – suas promessas.

As ''pensões'', como são chamados os alojamentos dos clubes, são vitais.

É ali que a formação humana ocorre – em condição sentimentalmente desgastante e de muita distância da família. Os jovens ficam sempre na mão de terceiros.

A proteção é falha. E gera trauma eterno a quem mal começou a vida.

* Atualizado às 11h40: O blog apurou que a rede de prostituição é mais ampla e que o Independiente é só um dos clubes com menores explorados sexualmente. Já há uma frente de investigação para checar também outras instituições argentinas.


Os ingleses vão torcer para a Argentina?
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Argentina e Itália farão um badalado amistoso nesta sexta (23) no Etihad Stadium, em Manchester. A casa do Manchester City deve estar lotada. Segundo a AFA, todos os 55.000 ingressos para o jogo das 16h45 (de Brasília) já foram vendidos.

Mais do que qualquer observação técnica, a grande dúvida que agita as conversas em Buenos Aires é saber se os ingleses, afinal, vão torcer para a seleção argentina.

A equipe de Jorge Sampaoli vai jogar na casa do Manchester City, onde o zagueiro Otamendi e (principalmente) o atacante Agüero são ídolos. Mas Agüero não deve ir a campo – está com dores no joelho e deve ser preservado. A seleção já o escalou, porém, para ele ser o elo entre a equipe e o público. Os portenhos não querem perder a oportunidade de ver, ao menos por um instante, a inusitada cena que é tratada como a ''rendição inglesa à capacidade argentina''. Mamita querida!

Agüero e Otamendi comemoram pelo City – Manchester City/Divulgação

Ao contrário do que muitos pensam, os grandes rivais da Argentina no futebol são os ingleses, e não os brasileiros.

Nesta avaliação, pesa demais a lamentável Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982 e que terminou com 649 soldados argentinos mortos pelos ingleses que recuperaram o arquipélago. O próprio técnico Jorge Sampaoli é visto entre os portenhos como um típico anti-britânico. Foi por conta desta animosidade entre os dois países que ele recusou o cargo de treinador do Chelsea há duas temporadas.

Argentina e Inglaterra já se enfrentaram em Copas em cinco ocasiões, com três vitórias inglesas (em 1962, 1966 e 2002), uma argentina (em 1986, com os gols – de mão e de placa – de Maradona) e um empate em 1998 pelas oitavas de final, quando a Argentina de Passarella eliminou a Inglaterra nos pênaltis.

Na Corrientes ainda dá para encontrar… – Reprodução

(Fica a dica de leitura: Argentina vs. Inglaterra – Mundiales de Fútbol y otras guerras, obra do jornalista inglês David Downing apenas sobre esta rivalidade.)


Os bastidores do escândalo que pode levar Centurión à cadeia
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Tales Torraga

A semana começava fresca e tranquila em Buenos Aires quando as TVs dispararam o seu ''alerta de notícias'' – a versão portenha do sinal sonoro do ''Plantão da Globo''. Ricardo Centurión voltava a se envolver em um escândalo incluindo bebida e direção irresponsável. Mas desta vez foi pior. Ele foi filmado oferecendo um suborno ao agente de trânsito para ''acertar'' tudo por ali mesmo.

Escândalo de Centurión na TV argentina – Reprodução

Centurión foi parado pela polícia de Lanús às 8h10 (de Brasília) desta segunda (19) por furar várias vezes o sinal vermelho – em alta velocidade – em regiões onde crianças haviam acabado de entrar no colégio. É mesmo surpreendente que o operativo tenha sido noticiado em minúcias. A ata da sua infração está aqui. A própria prefeitura de Lanús fez questão de divulgar o ocorrido via Twitter – de acordo com ela, para conscientizar a população de que ninguém está impune.

E é esta postura que pode deixar a vida de Centurión impossível.

A sua tentativa de suborno foi o principal assunto da capital argentina na noite de segunda. No começo da tarde, o seu constrangedor vídeo já era repetido sem parar nas TVs e nos portais. Soube-se também que o carro do jogador – um BMW preto – acumulava multas que chegavam a 40 mil pesos (R$ 6.515).

Victor Blanco, presidente do Racing, reclamou: ''Parecia que estavam esperando-o. Ele sempre vai estar mais exposto à opinião pública, mas o clube vai cuidar dele''.

Pelas notícias que circulam nesta terça (21) na capital argentina, é bom o Racing reforçar as atenções com os advogados e as intenções de preservar o seu atleta.

Centurión desorientado em plena manhã de segunda – Reprodução de vídeo

Segundo o jornal ''Clarín'', o maior do país, Centurión já foi denunciado pela tentativa de suborno, crime cuja penalidade prevista no artigo 258 do Código Penal é de um a seis anos de prisão. O próprio presidente do Racing mudou o discurso ao Fox Sports: ''Ele tem uma doença. Precisamos ajudá-lo a sair, não crucificá-lo''.

''Vamos tomar todos os cuidados para ajudá-lo na parte médica e tratar que isso não volte a acontecer'', deslizando que o jogador tem problemas com a bebida.

Centurión foi titular no baile de 5 a 0 do Racing sobre o Patronato no domingo – e a goleada serviu para dar folga a todo o elenco na segunda e terça. O jogador não será punido pelo clube e vai se reapresentar amanhã (21) normalmente.

O Racing é o sexto no Campeonato Argentino, a apenas dois pontos do terceiro colocado, o Godoy Cruz. A equipe estreou na Libertadores goleando o Cruzeiro por 4 a 2. Centurión vem brilhando e sendo um dos destaques da equipe ao lado do excelente atacante Lautaro Martínez e do corajoso zagueiro Donatti.

Em seis jogos pelo Racing nesta temporada, Centu fez quatro gols e deu cinco assistências. O seu alto nível em campo vinha sugerindo até mesmo uma convocação para a Copa do Mundo – o que deixa de fazer sentido a partir de agora.

O objetivo de Centurión para os próximos meses é escapar ileso das pressões que podem levá-lo até mesmo à prisão. Sua ficha é extensa demais para um muchacho de 25 anos, com outros casos de bebida ao volante e até de violência de gênero.

É óbvio que jogadores de futebol não costumam parar na cadeia – nem na Argentina e nem em qualquer outro país. Centurión, por exemplo, custou quatro milhões de euros ao Racing – é a negociação mais cara da história do clube, que vai claramente defendê-lo com firmeza. Mas a tensão social e política que se vive hoje em Buenos Aires sugere que desta vez pode ser diferente. O caso já começou com uma midiática bastante incomum. Resta acompanhar os desdobramentos.


Por que Scocco está sendo comparado a Messi na Argentina?
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Tales Torraga

''Intratável''. É esta a palavra que mais se escuta e se lê em Buenos Aires para definir o espetacular momento do atacante Nacho Scocco. Ele foi o autor dos dois gols que deram neste domingo (18) a vitória de 3 a 1 do River Plate sobre o Belgrano em um Monumental de Núñez eufórico e superlotado para comemorar o título da Supercopa Argentina obtido contra o Boca Juniors na semana passada.

A loucura desatada pelo inédito título em cima do Boca está fazendo com que os portenhos abusem do seu famoso exagero ao olhar para Scocco e enxergá-lo, para o River, com a mesma importância que tem Messi na seleção e no Barcelona.

Os números usados para tal equiparação nas rádios e nos debates na TV são, na verdade, a média de gols de Scocco com a camisa do River – com os dois de ontem, ele agora leva 21 gols em 32 jogos pelo clube, um excelente promedio, como dizem os argentinos, de 0,65 gols por partida.

Olhar para este promedio é algo que qualquer portenho futbolero aprende desde criança. Um atacante só merece ser considerado bom se sua média for de no mínimo 0,4. A média 0,5 é para gênios de carreiras consagradas como Batistuta ou Crespo. E o 0,6 é mesmo guardado para intratáveis como este Scocco 2018.

Mesmo não sendo titular no Campeonato Argentino – ainda está tratando uma lesão nas costas -, ele já soma nove gols, apenas dois atrás do artilheiro geral, o uruguaio Ribas do Patronato.

Os números de Messi que são usados como parâmetro na comparação com Scocco são os da seleção (média de 0,55). Os que são apenas do Barcelona (0,88), convenhamos, nem os portenhos se atrevem a comparar.

O que abastece esta equiparação é também o fato de Scocco fazer muito com pouco – quase o mesmo que ocorre com Messi hoje em dia, que anda muito, corre pouco e tem sido letal como nunca foi na carreira.

Scocco, ontem no Monumental, começou no banco de reservas, entrou no lugar de Mora e cravou dois gols em oito minutos. Contra o Boca, também como suplente, na primeira bola que tocou, já mandou para a redes do arquirrival, decretando o placar de 2 a 0 e o título que tornam compreensíveis quaisquer exageros.

Nacho está a dois meses de completar 33 anos – e por enquanto não é levado em consideração por Sampaoli para a Copa, até pela fartura argentina no ataque.

Mas mantendo esta média nas próximas semanas, suas chances aumentam bastante. De 0 a 10, hoje digamos que suas possibilidades de ir ao Mundial são de 4 – disparariam para 8 caso a fase persista. Scocco é um jogador maduro e que não faria cara feia ao ficar no banco para fazer exatamente o que faz hoje no River – tocar poucas vezes na bola e  ter a responsabilidade de ser decisivo ainda assim.


Fiasco contra o River tira Tevez da Copa do Mundo
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Tales Torraga

Carlitos Tevez simplesmente não foi visto em campo. Com ele em ''modo chinês'', o Boca não encontrou forças para brigar com um River Plate que segue de ressaca e comemorando sem parar o título da Supercopa Argentina conquistada sobre o rival de toda a vida na noite da última quarta (14) em Mendoza.

O vexame de Tevez na decisão vai lhe custar mais que uma gozação eterna – que já começou no formato de memes que não param de se multiplicar por toda a Argentina. O seu ''apagão'' simplesmente o tirou da Copa do Mundo da Rússia.

Tevez lamenta, o River comemora – Reprodução TV

Tevez vinha sendo levado em consideração por Jorge Sampaoli muito superficialmente. Pessoas que convivem com o técnico argentino revelaram ao blog que o grupo para a Copa só seria mudado pelo jogador que causasse um impacto grande o suficiente que justificasse a mudança nos processos cumpridos até agora.

Citando exemplos, os ''agregados'' da seleção serão Lautaro Martínez (craque do Racing) e Franco Armani (o novo Fillol do River) – jamais Tevez, que nada fez de bom nesta decisão contra o River para balançar as convicções de Sampaoli. Convenhamos: o técnico está devidamente abastecido com Messi, Di María, Agüero, Higuaín, Dybala e Icardi.

Embora o comando da atual seleção argentina seja moderado com as palavras, o blog soube também que Tevez segue sendo visto como alguém que detona conflitos com os colegas muito facilmente – a razão que já o havia tirado da Copa de 2014.

O próprio torcedor do Boca está muito irritado com ele não só pela pífia atuação na decisão (que o River comemorou muito mais que a própria Libertadores conquistada em 2015). Mas também porque Tevez não mediu palavras para criticar publicamente os companheiros, em especial o meia colombiano Cardona, que é justamente o jogador com quem Carlitos demonstra ter maior amizade hoje em dia.

Esta versão ácida de Tevez perante os outros jogadores já havia sido mal digerida pela comitiva de Sampaoli. Carlitos, há cerca de um mês, se lançou desastradamente à seleção dizendo que para uma Copa o técnico ''precisaria de homens, não de meninos'', se colocando acima de Lautaro Martínez, que tem apenas 20 anos – enquanto ele, Tevez, já está com 34.