Patadas y Gambetas

‘Levar 6 a 1 do Palmeiras foi tortura’, diz Menotti, técnico do Boca em 94
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Tales Torraga

Quem lê sempre o blog sabe que o gente finíssima César Luis Menotti é figura cativa por aqui. Técnico campeão da Copa do Mundo de 1978, ele nos deu entrevistas saborosas sobre muitos assuntos – destacamos o Brasil x Argentina de 1982 e a sua opinião sobre Pelé ter sido bem melhor que Diego Maradona.

César Luis Menotti em foto recente na sua Rosário natal – Salvador Valente

Mas algo o deixa levemente irritado: falar do 6 a 1 que o seu Boca Juniors levou do Palmeiras na Libertadores de 1994, na pior derrota xeneize na história do torneio.

Eloquente sobre qualquer assunto – e Menotti realmente tem propriedade para falar sobre muitos temas que não um pé e uma bola -, El Flaco, hoje com 79 anos, despista com sutileza as memórias daquela noite de quarta no Parque Antarctica.

''O que eu lembro daquele jogo? Lembro que no domingo seguinte fizemos 6 a 0 no Racing na Bombonera'', contou Menotti ao blog, rindo. ''Era um Boca inconstante, tentei fazer o time jogar pressionando o adversário, mas não deu certo.''

Foi esta a chave do 6 a 1 do Palmeiras – o lateral-direito xeneize Soñora avançava e demorava para recuar, sendo um prato cheio para Roberto Carlos, então com 20 anos, deitar e rolar. ''Fizeram um Carnaval. Aquele 6 a 1 foi uma tortura. Mas aquele Palmeiras tinha un equipazo. César Sampaio, Zinho, Edmundo, Rincón, Evair…¡mamita querida! O que mais posso dizer? Foi um dos maiores bailes que levei, claro, como não? Mas lembre também que na Bombonera ganhamos por 2 a 1.''

(E Edmundo e Rincón ainda não jogaram no Parque Antarctica.)

Embora tenha ocorrido ainda na metade da fase de grupos, a imprensa argentina não perdoou a catastrófica atuação do Boca.

Repercussão da surra palmeirense em 1994 – Reprodução

O mais ácido foi o jornal ''Crónica'': ''Palmeiras ganha o primeiro set: 6-1!''

Os dois maiores diários do país foram menos estridentes. Vale lembrar que o ''Olé'' ainda não existia – seria fundado só em 1996. O ''La Nación'' resumiu a atuação do Boca a uma ''goleada sem respostas''.

O ''Clarín'' aplaudiu o Palmeiras, mas criticou com força os zagueiros do Boca, ''que deram vários gols de presente''.

O Palmeiras atuou naquela partida histórica com: Sérgio, Cláudio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio (Tonhão), Amaral, Mazinho (Jean Carlo) e Zinho; Edílson e Evair. O técnico era Wanderley Luxemburgo (que ainda grafava o nome com W e Y), cumprimentado a sós por Menotti depois daquele jogo. ''Lembro que ele não acreditou naquele placar. Nem eu…'', ri o Flaco (''Magro'') argentino.

A formação do Boca: Navarro Montoya, Soñora, Noriega, Giuntini e Mac Allister; Peralta, Mancuso, Márcico e Carranza; Martinez e Da Silva (Acosta).

Apenas 18.285 pagantes comemoraram no Parque Antarctica os gols de Cléber (21min do primeiro tempo), Roberto Carlos (7 do segundo), Evair (18 e 26min do segundo tempo) e Jean Carlo (32min do segundo). O gol de honra do Boca foi de Manteca Martínez, de pênalti, aos 34min da etapa final.

O Boca seria eliminado logo na primeira fase, e como lanterninha do grupo. O Palmeiras tampouco durou muito mais: caiu ante o São Paulo logo nas oitavas.

O campeão daquela Libertadores foi argentino: o Vélez de Bianchi e Chilavert.

* Atualizado: O Brasil talvez não assimile bem a figura mítica que é Menotti na Argentina e em todo mundo. Ontem (9) à noite, ele lançou a sua escola de treinadores em Buenos Aires. Os presentes? Muitos e de muita trajetória: Jorge Sampaoli, Rodolfo D'Onofrio (presidente do River), Pato Fillol, Nery Pumpido, Julio Villa (campeão mundial em 1978), Juan Pablo Sorín e Leonardo Patadas Ponzio.

Reparem nos semblantes e notem quem ensina e quem aprende…. – Diego Borinsky/Reprodução

Outros que gravaram vídeos foram Pep Guardiola, Bernd Schuster, Jürgen Klinsmann, Xavi Hernández e Javier Mascherano.

Menotti é uma lenda na Espanha e Alemanha. ''Eu mataria por ele'', disse Schuster. ''Aprendi muito com sua experiência e conhecimento'', completou Klinsmann.

Ao Flaco, nossa reverência.


Soco, pisão e pedrada: o Palmeiras x Boca mais louco da história
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Tales Torraga

Palmeiras e Boca Juniors se cruzam esta quarta (11) no Allianz Parque, às 21h45 (de Brasília), no primeiro jogo oficial entre ambos desde 2001. Vale resgatar o que ocorreu 17 anos atrás. Foi o jogo mais louco da história do duelo. E disparado.

Era a partida de volta da semifinal da Libertadores. A ida, na Bombonera, foi 2 a 2, com uma arbitragem escandalosa do paraguaio Ubaldo Aquino. Ele deu um pênalti inexistente para o Boca e ignorou uma penalidade clara para o Palmeiras. Os xeneizes bateram à vontade – especialmente o volante colombiano Serna, o mais violento daquele time. Até o goleiro Marcos sofreu. Caído no gramado, teve a mão pisada covardemente por Burdisso. Os gols do Palmeiras foram de Alex e Fábio Júnior; Barijho e Schelotto – hoje técnico do time – marcaram para o Boca.

(Ironia: o Palmeiras x Boca valia também vaga no Mundial para enfrentar o Bayern. O outro finalista da Libertadores seria o Cruz Azul, e mexicanos não iam a Tóquio.

Era o segundo ano seguido em que o confronto definia a passagem para o Mundial. Em 2000, o Boca ergueu a Libertadores em cima do Palmeiras em pleno Morumbi.)

O baile de Riquelme no Parque Antarctica – Olé/Reprodução

Em entrevista dada em 2012 ao programa Animales Sueltos, da TV argentina América, Juan Román Riquelme, o craque daquele Boca, relembrou detalhes do confronto de 2001. A primeira tensão foi logo na chegada do ônibus argentino ao Palestra Itália, quando fecharam o portão que daria acesso ao veículo. ''A torcida veio para cima do nosso ônibus. Ele trepidava'', contou Román.

Depois, quem trepidou foi o Palmeiras.

Aos 17 do primeiro tempo já estava 2 a 0 para o Boca, com um show inesquecível de Riquelme, de só 22 anos, naquele que talvez tenha sido o maior baile de um jogador argentino em cima de um time brasileiro na Libertadores.

No primeiro gol de Boca, de Gaitán (não confundir com o meia hoje no Benfica), a comissão técnica xeneize simplesmente arrebentou o banco de reservas do Parque Antarctica. O segundo gol foi uma pintura: Riquelme passou por Felipe e Alexandre e chutou rasteiro no canto direito de Marcos.

O Palmeiras descontou aos 36, com Fábio Júnior.

Logo depois, a loucura.

Dois torcedores do Palmeiras deram murro e voadora – trompada en la cara y patada voladora – no bandeirinha colombiano Daniel Wilson, exigindo seis minutos de paralisação do árbitro Óscar Ruiz.

Os argentinos até hoje não entendem como a partida não foi encerrada ali.

Na sequência, o zagueiro palmeirense Alexandre levou um cartão vermelho direto por duas atitudes insanas: um pontapé criminoso no zagueiro Traverso e um pisão na cabeça do volante Serna.

Aí, agrediram o técnico Carlos Bianchi. Expulso na primeira partida, estava em uma cabine do Parque Antarctica, quando tomou uma pedrada que abriu a sua cabeça.

O segundo tempo continuou com o baile de Riquelme, que seguiu levando a melhor sobre as patadas de Argel, Magrão e Galeano – os três, na típica rispidez argentina, enquanto a arte de Román esteve à altura dos maiores craques brasileiros.

''O Galeano me deu um soco na boca. Sem bola. Fui e apertei a mão dele, lhe dando os parabéns. Só queria jogar'', seguiu Riquelme em sua entrevista à TV América, debochando da pressão palmeirense: ''Aquele jogo estava bom, hein?''.

''Calenchu'' na Argentina é quem não sabe perder… – Olé/Reprodução

''Com 14 anos eu jogava na favela contra os adultos valendo dinheiro. Era a briga que terminava o jogo. Ninguém me defendia. Por que iria tremer contra o Palmeiras?'', seguiu em sua famosa entrevista, relembrando que nos tempos de pibe ele driblava marcadores que jogavam com um revólver na cintura.

O Palmeiras achou o gol de empate  – 2 a 2, gol contra de Bermúdez – no meio do segundo tempo e igualou o placar da ida. A partida foi para os pênaltis, e o Boca despachou o Palmeiras com uma ajuda polêmica: o roupeiro xeneize Roberto Prado, atrás do gol, lia ao goleiro Córdoba um papel com os cantos preferidos dos cobradores palmeirenses. Defendeu os de Alex e Basílio. Arce chutou no travessão.

Para terminar, poucos brasileiros sabem, mas aquele Boca brigava demais entre si, e os jogadores comemoram a classificação no vestiário xingando os dirigentes (entre eles o então mandatário Mauricio Macri, hoje presidente da Argentina) e pintando camisetas com ofensas até contra os psicólogos.

Por aquele baile, muitos corintianos batizaram seus filhos de Riquelme.

Não sabiam depois onde enfiar a cara quando o ídolo do Boca, de longe, surpreendeu Cássio e tirou o Corinthians da Libertadores de 2013 no Pacaembu.

Um compilado da magia de Riquelme no Parque Antarctica em 2001 está aqui.

***

PALMEIRAS – Marcos; Arce, Alexandre, Leonardo e Felipe (Argel); Galeano, Magrão, Alex e Lopes; Juninho (Muñoz) e Fábio Júnior (Basílio).
Técnico: Celso Roth

BOCA JUNIORS – Córdoba; Ibarra, Bermúdez, Burdisso e Matellán; Pinto (Battaglia), Serna, Traverso e Riquelme; Giménez (Delgado) e Gaitán.
Técnico: Carlos Bianchi

Local: Parque Antarctica, em São Paulo
Árbitro: Óscar Ruiz (COL)
Cartões amarelos: Marcos, Leonardo, Argel, Magrão e Fábio Júnior; Córdoba, Ibarra e Gaitán
Cartões vermelhos: Alexandre e Matellán
Gols: Gaitán, aos 2min, Riquelme, aos 17min, e Fábio Júnior, aos 37min do primeiro tempo; e Bermúdez, contra, aos 22min do segundo tempo
Pênaltis: acertaram Riquelme, Delgado e Bermúdez; Lopes e Muñoz


‘Fui ameaçado de morte pela ditadura’, conta Fillol em livro
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Tales Torraga

Ano de Copa do Mundo é uma festa para o argentino que gosta de ler sobre futebol. E um dos melhores lançamentos futboleros deste 2018 em Buenos Aires é ''El Pato'', a autobiografia de Ubaldo Fillol, o maior goleiro da história do país.

A obra tem 272 páginas, custa 389 pesos (cerca de R$ 65) e é comprada aqui.

Capa da autobiografia de Fillol – Planeta/Reprodução

O trecho mais interessante do livro é a briga de Fillol com o temido almirante Carlos Lacoste, um dos líderes da sanguinária ditadura argentina no fim da década de 1970. Lacoste era o militar responsável pela organização da Copa de 1978 e exercia muito poder no River Plate, clube que Fillol defendeu de 1973 a 1983.

Ambos tiveram uma discussão por dinheiro em janeiro de 1979. Lacoste entendia que Fillol ganhava muito e exigiu diminuir seu salário – fiel ao seu estilo, o goleiro ignorou a pressão. Em um amistoso da seleção naquele ano, em plena Buenos Aires, o almirante cumprimentou todos os jogadores, perfilados, depois do hino.

E Fillol não lhe estendeu a mão.

A pressão virou ameaça quando Lacoste chamou Fillol ao seu escritório privado. O goleiro, afinal, se recusava a assinar o contrato que reduzia o seu salário. Na presença de fuzileiros navais armados, Fillol ouviu: ''Se quer continuar jogando, é melhor aceitar o dinheiro que o River te oferece. Não vamos permitir que o conflito continue. Você é um mau exemplo, as greves estão proibidas neste país''.

Ubaldo saiu sem abrir a boca. E seguiu ganhando o que queria.

Fillol divulgando seu livro na TV argentina nesta sexta (6) – @ubaldofillol/Reprodução

A obra revela que o goleiro recebia constantes ameaças de morte vindas dos homens de Lacoste – o pai de Fillol, inclusive, foi espancado ao sair do trabalho. ''Naquele tempo eu ria, mas hoje eu sei que também poderia ter desaparecido.''

O restante do livro traça toda a carreira do Pato – que era chamado assim pelo tamanho dos pés 45. De infância carente em região rural a 100 quilômetros de Buenos Aires, o chico Fillol trabalhava amassando pão – foi quando começou a ''defender'' a massa e as rolhas de vinhos atiradas por colegas e clientes.

Aos 13, foi viver sozinho e ganhou o mundo. Brilhou no Quilmes, Racing, River, Argentinos Juniors, Flamengo, Atlético de Madri e Vélez Sarsfield. Defendeu a Argentina nas Copas de 1974, 1978 e 1982 – defenderia também em 1986, não fosse uma briga sua com o técnico Carlos Bilardo na frente de todo o elenco.

Seu livro é essencial não apenas para quem gosta de futebol, mas também a quem quer entender a loucura que era a Argentina na ditadura e na volta da democracia.


‘O argentino sabe jogar tão bonito quanto o brasileiro’, diz Maradona
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Tales Torraga

Diego Armando Maradona deu uma longa entrevista nesta quinta (5) à CNN – e suas declarações foram repercutidas e ampliadas pelas TVs argentinas, que dedicaram longos minutos ao seu presente e principalmente ao seu passado.

Em um dos debates, no TyC Sports, lembraram que Maradona era um fã do futebol brasileiro – exceto do time de 1994, ''um dos mais feios que ele viu jogar''. A polêmica na conversa passou a ser então a eterna comparação da qualidade do futebol brasileiro com o argentino. E citaram um trecho da autobiografia de Maradona, ''Yo Soy El Diego de La Gente'', no qual Diego registra o seguinte:

''Os brasileiros venderam ao mundo que só eles sabem jogar bonito, jogo bonito é o c….. Nós também podemos jogar tão bonito quanto eles. Só não sabemos vender igual'', detalhou El Diez. ''Para o brasileiro sempre está 'tudo bem, tudo legal', e para a gente não é assim, quando não está tudo bem, não está tudo bem, e mandamos à merda. Gosto do jeito de ser do brasileiro. Mas em campo, quero ganhar.''

''É o Meu Rival, assim, com maiúsculas.''

Maradona isolado contra o Brasil 1982: quantos craques numa só foto! – Revista Goles/Reprodução

Outro ponto do debate foi a comparação entre o Brasil de 1982 (que Maradona enfrentou e perdeu por 3 a 1) com o de 1994 (que Maradona deveria enfrentar em uma final, não fosse o doping, segundo o que os argentinos repetem até hoje).

E a opinião de Diego sobre as duas seleções – 1982 x 1994 – é cortante:

''Os brasileiros no campo são f…. porque não traem seu estilo. Isso aconteceu até no período em que eles não ganharam nada, de 1970 a 1994. O Brasil voltou a ser campeão com o time mais feio, mais feio de se ver!, de toda a sua história. O time de 1982 faria no mínimo cinco gols neste de 1994. Mas em 1982 eles foram soberbos contra a Itália, que jogou da maneira encaixada de sempre.''

O momento saudosista no TyC terminou com a leitura do trecho do livro de Diego em que ele analisa: ''Os italianos te matam no contra-ataque, e o Brasil não aprendeu isso em 1982'', seguiram, para arrematar, rindo:

''Em 1982, na Espanha, os brasileiros foram cagados pela Itália. Em 1990, na Itália, por nós, argentinos, nesta jogada que armamos com Caniggia que está entre as minhas melhores lembranças''.

Ficou muito claro no ânimo de todos na rápida conversa: é mesmo melhor falar do passado do que do triste presente da seleção argentina – que segue sem ganhar nada depois de Maradona, neste jejum que muitas vezes parece interminável.


Por que Mascherano virou um problema para Sampaoli?
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Tales Torraga

Antes garantido na lista de Jorge Sampaoli para a Copa do Mundo da Rússia, Javier Mascherano foi a principal vítima do 6 a 1 da Espanha em Madri. Muito criticado pela imprensa argentina – como já havia sido no 4 a 2 para a Nigéria -, ele passou a ser um enorme problema para o atual técnico da seleção.

O jornal ''Clarín'' narrou todo o descontentamento de Sampaoli com Mascherano, publicando que a ida do defensor para a Rússia estaria inclusive sob grande dúvida.

A dupla vai se ver na Rússia? – AFA/Divulgação

''As revoluções nunca foram pacíficas, algum morto precisa haver'', cravou o jornal, antecipando que o nível de Mascherano não seria suficiente para levá-lo à Copa.

Que Mascherano está longe do seu auge, isso é claro.

Aos 33 anos, a mudança do Barcelona para os chineses do Hebei Fortune, há três meses, tampouco permitiu que ele melhorasse.

Mas está claro também que ele é o que os argentinos chamam de ''subcapitán de Messi''. Tem experiência, sabe ler o jogo e pode ajudar a conduzir o grupo a uma direção que seja mais produtiva para todos.

E é um amigo muito próximo de Lionel Messi. Se Sampaoli quer Messi satisfeito, há uma quase obrigação de se convocar Mascherano – para deixá-lo entre os reservas, que seja. Jorge não pensa em fazer como Alejandro Sabella, que contrariou esta lógica e não chamou Ever Banega para o Mundial do Brasil.

O ''Clarín'' foi além – Sampaoli já teria até o nome do substituto de Mascherano. E ele seria Matías Kranevitter, ex-River, hoje no Zenit, da Rússia.

Sampaoli não costuma dar importância ao que publica a imprensa da Argentina ou de qualquer outro lugar do mundo. Mas desta vez ele realmente perdeu a paciência no prédio da AFA em Ezeiza, segundo o blog apurou.

Para o entorno do técnico, a versão publicada pelo ''Clarín'' nada mais é do que uma pressão – ''plantada'' e indireta – dos dirigentes da AFA que estão incomodados com o baixo rendimento de Mascherano. O técnico não deu declarações públicas sobre o tema, mas o blog pôde saber que tirar Javier da lista dos 23 nomes que vão para a Rússia não passa pela cabeça do treinador.

O raciocínio é bastante simples de entender: Mascherano, para Sampaoli, é ''experiente e é um líder positivo que pode desempenhar muitas funções''.

Os radialistas portenhos não pensam o mesmo. Na Rádio La Red, uma das principais de Buenos Aires, há até uma campanha para tirar Mascherano e, se a ideia for agradar Messi, levar Lavezzi no lugar do Jefecito. A lista dos 23 convocados será fechada no dia 6 de junho. E o falatório vai ser gigante até lá.


Testículos em carne viva: a loucura do zagueiro do Boca em uma Libertadores
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Tales Torraga

O Boca Juniors completa, nesta terça (3), 113 anos de sua fundação. E para provar que é o clube argentino mais valente – que pone más huevos, como dizem os xeneizes -, uma história das mais inusitadas está sendo repetida por dois a cada três bosteros neste aniversário em Buenos Aires.

E ela tem a ver com o zagueiro Rolando El Flaco Schiavi, que passou pelo Grêmio e que deveria ser um ídolo também para os corintianos: foi ele quem errou o passe que deu o segundo gol a Emerson Sheik na decisão da Libertadores de 2012.

Schiavi e suas dores – Taringa/Reprodução

Schiavi é um símbolo bélico do Boca, clube que defendeu de 2001 a 2005 e em 2011 e 2012. Zagueiro que se orgulhava de ser violento inclusive com os companheiros nos treinos, ele acabou sendo vítima de uma brincadeira (?) das mais maldosas em uma concentração.

Foi na Libertadores de 2003, a que o Boca conquistou em cima do Santos.

Boca e Independiente Medellín jogariam na Colômbia pela primeira fase, quando ocorreu o que Schiavi contou à TV Arroban:

''Na concentração, eu era o responsável por encher as garrafas de água quente para tomar mate e levar para os companheiros. Enchi a dos companheiros, normal, enchi a minha, normal, e quando fui colocar água quente no meu mate, percebi que alguém tinha soltado um pouco da tampa. Derramei toda a água quente aqui (sinalizando para os testículos).''

''Fiquei com uma dor terrível. Me matava. Era a véspera do jogo. No dia seguinte, chamei o doutor e mostrei para ele. Estava em carne viva, tinha uma porção de bolhas. Fiz um curativo com gaze e um monte de pomadas, e aí fui para o campo.''

''Você tem ideia da dor que eu sentia? Você tem noção de como eu dava carrinho, como abria a perna, como eu tinha medo de levar uma bolada? Bem, não sei do que eu tinha mais medo, se era de tomar um bolada bem aqui ou de o Bianchi [Carlos, o treinador] ficar sabendo. Foi uma loucura. Voltei ao normal só dois meses depois.''

O Boca perdeu aquela partida por 1 a 0. Mas Schiavi ganhou o amor incondicional dos xeneizes por não largar a camisa nem com os testículos pegando fogo.


‘Não planejo nada. O futebol não se estuda’, destaca Sampaoli em livro
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Tales Torraga

''Mis Latidos'' (''Minhas Batidas''), o polêmico livro de Jorge Sampaoli, já está à venda nas livrarias de Buenos Aires. Chegou discretamente e não ocupou nenhum espaço especial, como era de se esperar depois do 6 a 1 imposto pela Espanha.

Alguns trechos da obra contêm uma sinceridade que deve transformar a vida do técnico em um verdadeiro inferno até a Copa do Mundo da Rússia.

O blog antecipou semana passada um ponto do livro cravando que a tradição da Argentina no futebol não se comparava a nenhum outro país, nem ao Brasil. Mas Sampaoli foi muito além. Em uma Argentina que preza demais pelo conhecimento e pelo estudo – e que se orgulha demais disso -, ele admitiu na sua obra que é uma pessoa 1000% intuitiva e 0% capaz de estudar e se planejar.

''Eu não planejo nada. Tudo surge na minha cabeça quando tem que surgir. Brota naturalmente no momento oportuno. Odeio o planejamento.''

É chocante que tais palavras sejam registradas por um técnico que convenceu a AFA a gastar milhões na atualização de tecnologia para…estudar dados.

''Se eu planejo, me ponho no lugar de quem trabalha no escritório. Sou o mesmo de 1991. O futebol não se estuda: se vive e se sente. Parto disso. Eu sou da rua: negar isso é impossível. É estranho que tenham me colocado a etiqueta de uma pessoa que planeja.''

O sincericídio de Sampaoli é profundo:

''Talvez minhas conversas soem como a de uma pessoa super estudiosa. Nunca fui estudioso. Nem na escola, nem na faculdade, nem no curso de treinador. Eu não posso ler um livro. Viro duas páginas e já fico entediado. Escrevo três coisas em um papel e me canso'', destaca outro trecho.

(Seria Sampaoli a versão argentina de Renato Gaúcho, que ''não precisa estudar''?)

''Mis Latidos'' também dispara fortes críticas à imprensa argentina: ''Tata Martino perdeu as duas Copas Américas porque o país está colonizado pelos meios de comunicação''.

E revela a enorme paixão de Sampaoli pelo ex-presidente argentino Juan Domingo Perón: ''Vejo discursos de Perón e aprendo o que pode gerar um condutor, um líder. Há um dom que deve ter alguém que ocupa este tipo de lugar – a capacidade de comover. Alguém precisa se comover antes de comover o outro''.

O livro está repleto de frases dos rocks das bandas Callejeros, La Renga e Los Redondos. E há também uma inusitada análise sobre a final da última Copa.

''A Alemanha não ganhou porque foi melhor que a Argentina. Ganhou porque foi mais fria. Se o futebol for assim, saio dele. Não me sinto parte. Vou tentar brigar da minha maneira.''

Produzido pela Planeta, a maior editora da Argentina, ''Mis Latidos'' tem 192 páginas e está à venda aqui. Custa 249 pesos (cerca de R$ 42).


Argentina convoca ídolo de Messi para apagar incêndio
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Tales Torraga

As sequelas do 6 a 1 da Espanha sobre a Argentina passaram a envolver até quem não entrou em campo em Madri. Na esteira do que o blog publicou na quarta, falando do racha entre Jorge Sampaoli e os jogadores, houve uma discreta manobra para melhorar a relação entre o corpo técnico e os atletas – e este movimento tem tudo para agradar Lionel Messi.

A partir de agora, Sampaoli e os jogadores terão um novo ''elo'' na excruciante tarefa de manter uma relação produtiva de trabalho daqui até a Copa do Mundo.

A estreia da Argentina será em 16 de junho, contra a Islândia. Arredondando, estamos a dois meses e meio dela.

E será Pablo Aimar, hoje técnico da Argentina Sub-17, o responsável pela função.

Craque do River Plate no fim dos anos 90, quando brilhou como meia-atacante, Aimar era tão bom que conquistou a admiração de uma criança que seria o seu fã mais famoso. Mesmo nascendo em Rosário e defendendo a base do Newell's, Messi passou a torcer para o River, tentando imitar os rápidos e habilidosos movimentos do El Payasito (''O Palhacinho'', como Aimar era chamado pelo riso que seu futebol oferecia à sempre exigente torcida do gigante de Núñez).

A chegada de Aimar à seleção era uma bola cantada – o blog antecipou as negociações ainda em maio do ano passado, dizendo que a sua presença seria uma maneira óbvia de bajular Messi em sua última Copa do Mundo.

A novidade na questão é que Aimar entra no corpo técnico de Sampaoli não pelo que fez passado – e sim pelo que faz no presente.

De intelecto bien acima da média, Aimar, hoje com 38 anos, é respeitadíssimo pelos jogadores – e na esteira do cansaço com Sampaoli já há também um incômodo dos atletas com as manias de seu braço-direito, o cabeludo Sebastián Becaccece. Segundo os jogadores, o auxiliar gesticula demais nos jogos e nos treinos, o que acaba atrapalhando o que deveria ser um momento de concentração exclusiva.

Já Aimar não é nada expansivo. Pelo contrário.

Gosta de ficar quieto, preza por opiniões respeitadoras, sabe a hora de falar – e o que falar – e entende bem as necessidades e caprichos dos craques – como ele foi no River, no Valencia, no Benfica e na Argentina das Copas de 2002 e 2006.

É, portanto, uma possibilidade sua de obter uma revanche pessoal com este tormento que virou a Copa do Mundo para os argentinos nas últimas décadas.

Aimar integrou a seleção de forma discreta – quase imperceptível – e descompromissada nos amistosos contra Itália e Espanha. Percebendo o seu bom trânsito com os atletas, Sampaoli propôs para ele seguir. E Pablo já topou.

Sua chegada à seleção significa a ''escalação'' de uma bela cabeça pensante. De ricas conversas, bons livros, escreveu até um de contos, La pelota de papel, muito bom, e também boas músicas – estrelou um clipe, Hacer un puente, do La Franela.

A incorporação de Aimar põe ainda mais tempero naquela que surge desde já como a grande história humana do Mundial da Rússia.

Messi vai tirar a Argentina da fila e se despedir da Copa dando a volta olímpica ao lado do seu ídolo de infância?

(Arrepia só de pensar.)


Sampaoli é chamado até de ‘cagão’ na TV argentina
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Tales Torraga

O 6 a 1 imposto pela Espanha em Madri continua deixando a Argentina perplexa. E o destempero nas TVs do país é digno de estudo para quem quer se aprofundar na linguagem dos meios locais e na maneira como os argentinos demonstram não ter pudores para recorrer aos palavrões – insultos ou malas palabras, como dizem.

O momento de maior acidez veio de Alejandro Fantino, um dos apresentadores mais assistidos do país. Em um editorial (!) no canal de TV América, ele chamou Jorge Sampaoli de ''cagão'' pela extrema sorte de poder contar com Lionel Messi em sua equipe e não ter a coragem de tirar Javier Mascherano do time titular. Fantino lembrou que em 2015 ele já destacava a falta de nível de Mascherano para a função – o que agora, segundo o apresentador, acarreta em papelões como o da Espanha.

Fantino passou 21 minutos (!!) atacando Sampaoli, tratando-o de ''vendehumo'' (gíria para pessoa falsa, que tenta ''vender fumaça'') e ''cuatro de copas'' (o equivalente ao ''Zé Ninguém'' no Brasil).

O novo livro de Sampaoli – que por enquanto está com lançamento mantido para semana que vem em Buenos Aires – não passou em branco. E a consideração do apresentador foi igualmente dura:

''Sampaoli pretende fazer um ensaio filosófico sobre 11 homens correndo atrás de uma bola. O que ele quer, reescrever os ensaios de Montaigne? Deixe de enrolar, hermano, vá treinar futebol…'', finalizou.

As colocações muy pesadas de Fantino passaram longe de ser as únicas.

Em outro programa, o jornalista Luis Ventura, também de grande audiência, e também da TV América, chamou Sampaoli de ''pelotudo'', o equivalente a ''tonto'' ou ''estúpido'', mas com uma conotação ainda mais pesada e negativa.

Em outra análise, o experiente jornalista esportivo Ernesto Cherquis Bialo tratou Sampaoli de ''xavequeiro que não tem nível para dirigir a Argentina''.

Como remarcou o ex-jogador e hoje comentarista Jorge Valdano, o clima da seleção ''é o mais negativo desde 1958, quando a Argentina foi eliminada da Copa do Mundo pela Tchecoslováquia também por 6 a 1 e os jogadores receberam uma chuva de moedas de uma multidão que foi ao Aeroporto de Ezeiza só para isso''.

A falta de tato da imprensa já é vista também na AFA.

O jornal ''Clarín'' traz hoje uma ótima matéria mostrando que há doses preocupantes de cansaço e desconfiança dos dirigentes da associação no trato com Sampaoli – que, hiperativo demais, recebeu dos cartolas o apelido de ''Chispita'', o ''Faisquinha''.

É claro que está embutida a maldosa comparação com a personagem infantil da novela mexicana do começo dos anos 80 que tinha o mesmo nome.

O ''Clarín'' traz também um diagnóstico bastante preciso da atual Argentina:

''A adversidade faz este grupo mostrar o que tem de pior''.


Sampaoli e jogadores racham depois do 6 a 1
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Tales Torraga

Imposible ser diferente. O ''papelão de Madri'' causou um desgaste interno na seleção argentina que já é chamado pelo jornal ''Clarín'', o principal do país, de ''uma quebra na intimidade do elenco''.

Em resumo: os jogadores pensam uma coisa e Jorge Sampaoli outra – e todos os envolvidos puderam dizer isso às claras, segundo apurou o blog.

Pessoas que estiveram na concentração da Argentina em Madri relataram que o clima pós-vexame não era o de um amistoso – e sim de uma eliminação na Copa do Mundo. Parecia um velório. Os mais experientes – Mascherano, Romero e Otamendi – eram os mais abalados. Mascherano, por exemplo, às seis da manhã já era visto no hall do hotel, embora a van que os levaria ao aeroporto só sairia dali às dez.

Messi não participou da reflexão post mortem – ele deixou Madri pouco depois da partida em um avião privado ao lado de Piqué, Iniesta e Alba.

A versão publicada pelo ''Clarín'' e confirmada pelo blog dá conta de que a divergência entre Sampaoli e os jogadores tem a ver com a maneira como a Argentina encarou este amistoso. Para os atletas, a formação  da equipe foi aberta demais – afinal, Sampaoli já filosofou que quer remarcar terreno no mundo todo ''com a incomparável superioridade argentina'', e o 6 a 1 serve como um banho de humildade parecido com o do 7 a 1 da Alemanha no Brasil.

(Imaginem o enfado local para o lançamento do livro de Sampaoli na semana que vem! Como vender as ideias de alguém que acaba de ser arrasado?)

A Espanha tem uma equipe que joga bem e que se conhece de longo tempo. A Argentina sequer tem um time para chamar de seu, e o técnico está no cargo há menos de um ano.

Os mais irritados consideram que Sampaoli expôs demais a Argentina com um posicionamento incompreensível. Há críticas também ao agendamento de um amistoso contra a ótima Espanha em Madri a semanas da Copa. Há uma verdadeira esquizofrenia que não condiz com o momento argentino, que quis jogar de igual para igual com a Espanha. Resultado? Um atropelo histórico que gerou sequelas técnicas e vai gerar óbvias sequelas no relacionamento entre os protagonistas.

Ao elenco, Sampaoli fez um mea culpa e prometeu rever tudo o que falhou no vexame de Madri. O técnico se conteve e evitou retrucar dizendo que os jogadores precisariam assumir responsabilidades antes de falar de táticas e de sistemas.

Não dá, porém, para isentar o Pelado Sampa, como o treinador é chamado em Buenos Aires. A Argentina terminou a partida com três estreantes em campo, seis atletas com menos de quatro partidas pela equipe e nenhum – nenhum! – nome experiente na criação ou no ataque.

Os 11 jogadores que entraram para a história da pior maneira e ouviram o apital final contra a Espanha foram: Caballero; Mercado, Otamendi, Rojo e Tagliafico; Biglia e Pablo Pérez; Pavón, Meza e Acuña; Lautaro Martínez.

A definição mais certeira veio de Jorge Valdano: ''Um time com parafusos frouxos''.

Os argentinos mais ácidos dizem que nem sequer dá para chamar de time.