Patadas y Gambetas

Brasileiro sonha em ser como argentino, diz Guiñazú
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Tales Torraga

É impossível falar dos argentinos que se destacaram no futebol do Brasil sem citar o volante Pablo Guiñazú, que suou toneladas com a camisa do Internacional e virou um ídolo para os colorados. E em entrevista de dez páginas publicada pela revista ''El Gráfico'' que acaba de chegar às bancas em Buenos Aires, ele define a sua relação com o Brasil com bastante carinho – mas também dando o que pensar.

''Os brasileiros sonham em ser como os argentinos na atitude e na personalidade. Rivalidade? Pode esquecer. Eles nos adoram'', declarou o volante de 39 anos, que segue em atividade pelo Talleres de Córdoba, equipe tradicional do interior da Argentina e que acaba de voltar à Primeira Divisão do país.

Guiñazú e sua famosa raça – Inter/Divulgação

Guiñazú chegou ao Inter em 2007, vindo do Libertad, do Paraguai. Só deixou Porto Alegre em 2012. ''O primeiro que me mostraram é que ali eles gostavam da personalidade e do caráter. O brasileiro chama de 'raça': correr, se atirar no chão, e isso eu tinha do futebol paraguaio, que é muito duro no físico. Em pouco tempo, começaram a vender bonequinhos meus. Me deram um carinho enorme. De cara.''

A adoração colorada por Guiñazú era tamanha que muitas crianças imitavam o seu corte de cabelo – apenas um moicano no centro da cabeça rapada. ''Eu ia buscar os meus filhos no colégio e via os coleguinhas com este cabelo. Não sabia onde enfiar a cara. Pedia sempre desculpas para as professoras'', seguiu à ''El Gráfico''.

''Quando cheguei ao Brasil, me davam cartão amarelo em todos os jogos. Sempre me caracterizei por pressionar e dividir forte, e o jogador brasileiro tem a mania de se jogar muito e de gritar, então antes de eu chegar já se jogavam e gritavam, e assim me deram muitos cartões injustamente. Conversei no clube e mostraram os vídeos aos árbitros, e tudo foi se acomodando.''

''No Brasil, eu roubava a bola e tocava logo para o primeiro companheiro porque eles jogam muito bonito. Jogam muito bem. Trouxe a roda de bobinho para o Talleres justamente por isso.''

A Tite, seu comandante no Inter, muitos elogios: ''É o melhor técnico brasileiro e um dos melhores da América do Sul. É um ser humano espetacular, muito preparado, te ensina maravilhosamente, não me surpreende que esteja tão bem na seleção''.

O volante depois defendeu o Vasco, entre 2013 e 2015. E também fez muitos elogios ao Rio, cidade que aproveitou mantendo um costume bem argentino – quando perdia, não punha o nariz na rua: ''O Rio é muito lindo. Passei anos espetaculares. O clima é ótimo, ter as praias todas perto faz com que você aproveite mesmo. Só não no dia em que perdia. Eu, pelo menos, não saía''.

Aos 37 anos, saindo do Vasco e já defendendo o Talleres, uma cotovelada arrebentou sua mandíbula logo no primeiro amistoso pelo novo clube. Guiñazú iria se aposentar, mas mudou de ideia depois de falar com a mulher: ''Ela me chamou de cagão. Fiquei quase um mês sem comer, mas continuei jogando''.


Bielsa quase foi morto por engano
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Tales Torraga

Houve um tempo em que parecia ser necessária uma dose de loucura para treinar a seleção argentina. A lista de nomes – hoje – assusta. Mas o país se acostumou com as mais diversas esquisitices entre 1983 e 2004, quando a azul e branca foi comandada por Carlos Bilardo, Alfio Coco Basile, Daniel Passarella e Loco Bielsa.

Bilardo nega até hoje, mas entrou para a história pela ''água batizada'' dada a Branco na Copa de 1990. Basile bebia e fumava com os jogadores abertamente, e Passarella chegou para pôr ordem no pedaço com seu famoso autoritarismo: proibiu homossexuais, brincos, tiaras e cabelos compridos na seleção.

E para consertar as bizarrices do Kaiser, a Argentina escalou ninguém menos que Marcelo ''El Loco'' Bielsa, que já rendeu muitos livros sobre seus inúmeros causos.

Bielsa (sempre de cócoras) na Copa de 2002 – Taringa/Reprodução

Uma dessas situações inusitadas foi contada ao blog por Pablo Cavallero, goleiro da Argentina na Copa de 2002. Cavallero está com 43 anos e trabalha como diretor de futebol no Vélez. Ele conviveu com Bielsa como poucos. Seu relato é imperdível:

''Bielsa era um técnico muito intenso. Ele tinha argumento para tudo, sabia de tudo, era uma enciclopédia ambulante. Mas cansava demais.

A preparação para a Copa de 2002 foi assim: cansativa. Bielsa pensava em futebol 24 horas por dia. A gente dormia e ele não conseguia dormir, e uma forma de Marcelo relaxar passou a ser caminhar e correr ao redor da concentração. Estávamos em Ezeiza [perto do aeroporto internacional de Buenos Aires], em uma área com muita natureza, com muitas árvores. 

Estava escuro, e o prédio de Ezeiza, claro, tinha muita segurança, muitos carros de polícia, aquilo que é perfeitamente possível imaginar em uma situação assim. Era um dos primeiros dias em que Marcelo havia começado a correr e andar. Ele fazia isso sempre com fones de ouvido, sempre escutando palestras ou preleções de futebol. Mas a polícia, claro, estranhou ver alguém no meio das árvores de madrugada. Falavam com ele, e ele não escutava porque estava com os fones. Quando os policiais chegaram para atirar, jogando a luz na cara dele, Marcelo correu para trás de uma árvore, gritando 'por favor, sou o Bielsa, não disparem'.

No dia seguinte, demos risada. Mas vendo hoje, por pouco não perdemos o técnico às vésperas de uma Copa do Mundo por uma tragédia impensada. Que loucura.''

A Argentina terminou a Eliminatória de 2001 com a então melhor campanha da história – 12 pontos de vantagem para o segundo colocado (o Equador) e 13 a mais que o Brasil. Mas Batistuta, Simeone, Ortega, Crespo, Gallardo e companhia foram eliminados ainda na primeira fase da Copa do Mundo do ano seguinte, ganhando da Nigéria, empatando com a Suécia e perdendo para a Inglaterra.


River espera anunciar Pratto ainda nesta semana
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Tales Torraga

Embora o São Paulo afirme publicamente que conta com Lucas Pratto para 2018, o River Plate está confiante em anunciar a contratação do atacante até esta sexta-feira (5). O clube contava com o argentino já nesta quarta (3), quando abre sua pré-temporada, mas o blog apurou que outras negociações mudaram a rotina de trabalho do River – a chegada de Pratto a Núñez, porém, segue considerada certa por todos aqueles que cercam o presidente recém-reeleito Rodolfo D'Onofrio.

O jornal argentino ''Olé'' de hoje (3) traz a mesma informação, e sua matéria de capa já tem até as opiniões do outro atacante, Scocco, sobre sua dupla com Pratto.

Capa do Olé desta quarta (3) – Reprodução

A primeira razão para o desencontro de versões e o atraso da chegada de Pratto está explicada na própria capa do jornal: não há no River quem dê conta de tantas negociações simultâneas. Ontem (2), o técnico Marcelo Gallardo e o clube oficializaram um contrato de quatro anos, e em Núñez há uma verdadeira ginástica para finalizar a negociação com o excelente goleiro Franco Armani, que chega do Atlético Nacional, da Colômbia. O River fechou também a contratação do meio-campista Damián Musto, mas a negociação foi simplesmente cancelada depois de o clube descobrir que o jogador vai precisar cumprir uma suspensão por doping.

A estratégia colocada em prática pelo River seria focar no preço dessas outras duas contratações – Musto e Armani -, pois a de Pratto, com o pagamento de 11 milhões de dólares, não haveria a menor chance de barganhar. Segundo levantamento publicado hoje (3) pelo ''Olé'', será a contratação mais cara da história do clube.

Ou seja: é o ''Pratto principal'' do River 2018.

O São Paulo e o representante de Lucas, Gustavo Goñi, afirmam que não receberam propostas pelo jogador – o River sim desliza que a tratativa avançou de tal maneira que há a expectativa do acerto em breve. O desencontro de versões seria um simples caso dos ''ossos do ofício''. Basta lembrar o que foi o triângulo Boca-São Paulo-Genoa por Ricardo Centurión e todo o aborrecimento decorrente.

As negociações dos clubes argentinos com quem quer que seja têm sempre um quê de novela – nem é preciso ir muito longe para lembrar das transações que levaram Lodeiro do Corinthians ao Boca ou de Tevez do mesmo Boca à China.

O ''Olé'' publica um raciocínio semelhante: há uma evidente necessidade de a saída de Pratto do São Paulo ser silenciosa e sensível. Profissional exemplar, ele cumpriu no Brasil um trabalho ainda melhor fora de campo do que dentro. E esta mordaça prestes a ser tirada seria a maneira menos conflituosa de conduzir a sua situação.


O inédito plano de Messi para enfim ganhar uma Copa
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Tales Torraga

O ano novo será de uma vida realmente nova para Lionel Messi, que vai pôr em prática algo que nunca fez: dosar os treinos e jogos para chegar à Copa do Mundo nas suas melhores condições. Ele e o técnico Jorge Sampaoli trocaram mensagens até mesmo nas festas para alinhar a estratégia daquele que deve ser o quarto e último Mundial de Messi, que completa 31 anos exatamente quando a Copa acabar.

Passarella, Messi e Maradona – Olé/Reprodução

Messi sempre foi o tradicional ''fominha'' – aquele que nunca aceita começar a partida no banco de reservas ou não ser relacionado. Mas esta será a tática daqui até a Copa do Mundo. É por isso que o 10 do Barcelona vai usar o Campeonato Espanhol, por exemplo, como mera preparação para as competições que realmente importam, casos da Liga dos Campeões e do Mundial da Rússia.

A ênfase do primeiro semestre de Messi será mesmo descansar o seu corpo de 30 anos. Incrível: ele joga como profissional desde 2003, ou seja, metade da sua vida. ''Entendi que a temporada é larga. Há momentos mais duros que outros. Os anos vão passando e agora sou maior. Antes, o corpo não sentia. Hoje, jogar muitas partidas me faz sofrer. Ainda custo não jogar ou sair de campo, mas percebi que é o melhor'', comentou o argentino ao jornal catalão ''Sport''.

O Messi ''3.0'' já é visto em pílulas. Ao contrário dos últimos anos, ele começou no banco de reservas ante Juventus e Sporting, quando o Barça já estava classificado na fase de grupos da Liga dos Campeões. E ele ainda sequer jogou na Copa do Rei, competição que só deve disputar em 2018 caso chegue à decisão.

É de se esperar um Messi também começando entre os reservas em boa parte do Espanhol. Até aqui, ele atuou em todos os minutos das 17 partidas. É o artilheiro da competição, com 15 gols. O Barça está folgado e com uma impensada liderança de nove pontos para o Atlético de Madri. Exigir Messi é, realmente, desnecessário.

A Liga dos Campeões sim terá o argentino 100%.

Ele já colocou a cabeça em 20 de fevereiro e 14 de março, dias em que o Barça enfrenta o Chelsea. Primeiro, em Stamford Bridge; depois, no Camp Nou.

O resguardo será bem-vindo para Messi também ajudar a sua mulher, Antonella, grávida de seis meses. O terceiro filho do casal é esperado para abril, justamente no período em que a Liga dos Campeões será definida e que a seleção vai arrancar de verdade a sua preparação para o Mundial da Rússia.

Para atender às necessidades do gênio e facilitar a chegada do novo rebento, a Argentina decidiu começar os treinos para a Copa do Mundo justamente no complexo esportivo do Barcelona, a apenas 20 minutos de onde o craque mora.

Será, de fato, curioso vê-lo no banco de reservas, cena rara em sua carreira.

Reserva com Pekerman em 2006 – Fifa/Divulgação

É impossível não lembrar da Copa de 2006, quando Messi, então com 19 anos, ficou entre os suplentes e não entrou em campo enquanto a Argentina caía diante da Alemanha naquela dramática quartas de final terminada em briga em Berlim.

***

Maradona cortado em 1978, Messi reserva em 2006, sem Ramón Díaz em 1990, sem Redondo e Caniggia em 1998 (pelo cabelo!), sem Batistuta e Crespo juntos, sem Zanetti, Verón, Cambiasso, Riquelme e Milito em 2010, sem Tevez em 2014…

E a Argentina ainda não entende por que ganhou só duas Copas.


Menotti detona vaidade de Cristiano Ronaldo: “Messi é muito mais simples”
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Tales Torraga

Campeão da Copa do Mundo de 1978, o ex-técnico César Luis Menotti é um dos grandes pensadores do futebol na Argentina. E nesta semana ele fez uma interessante comparação entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

Para Menotti, hoje com 79 anos, o gênio do Barcelona está acima do português por um simples motivo: pensar coletivo e não ter necessidade de autoafirmação.

Messi, Menotti e CR7: Montagem/Infobae

''Messi é um anjo. Além da genialidade que sempre nos surpreende, o que mais me assombra é a simplicidade do seu jogo'', analisou Menotti, em coluna publicada no jornal espanhol ''Sport''. ''Todo o seu futebol está concebido a serviço do jogo coletivo. Messi pode ficar três minutos sem tocar na bola, mas sempre está atento e pensando em como vai ser sua próxima jogada e qual vai ser a participação dos seus companheiros'', seguiu César, que treinou o Barça em 1983 e 1984.

''Quando tem dificuldade para finalizar, Messi não tem dúvidas: busca a assistência. É isso que o faz diferente de Cristiano Ronaldo, que precisa fazer gols sempre para dizer 'eu estou aqui'. Messi não precisa. Não precisa sequer marcar um gol, porque sua presença é a construção do futebol de sua equipe. Ele é muito mais simples.''

''Ver um gol de Messi sem chuteira, como no último clássico, é a expressão máxima de seu compromisso com o jogo coletivo. Tomara que a Argentina tenha este nível na Copa. O seu jogo me encanta e me faz sonhar com o seu crescimento.''

Maior jogador da história do Barcelona, Messi vai viver um 2018 crucial: a Copa do Mundo da Rússia pode ser sua última chance de ser campeão pela seleção adulta da Argentina. Lionel ganhou o Mundial Sub-20 de 2005 e a Olimpíada de 2008. Mas nem ele tem sido capaz de pôr fim ao assustador jejum de títulos da Argentina, que em 2018 completa exatos 25 anos. A última volta olímpica da seleção principal foi – incrível – a Copa América de 1993, com Simeone, Redondo e Batistuta em campo.


O dia em que a torcida do Boca queimou a casa do jogador que foi ao River
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Tales Torraga

Julio Buffarini fechou com o Boca Juniors, para enorme irritação da torcida do San Lorenzo. Maior ídolo da história do ex-clube, é bem provável que Buffa já esteja pensando nos cuidados que vai precisar adotar para viver em Buenos Aires. Ontem (27), na própria capital portenha, um mural seu amanheceu pichado com insultos.

Ofensa a Buffarini – Reprodução/La Nación

São outros tempos, claro. Esta questão irracional de parte da torcida argentina já foi muito pior, mas não custa nada a Buffarini, por exemplo, prestar atenção ao que aconteceu com o zagueiro Oscar Ruggeri, campeão da Copa do Mundo de 1986.

Ruggeri foi revelado pelo Boca, mas em 1985 assinou com o River Plate. A mudança foi mais que bem-vinda: em 1986, ele conquistou o Argentino, a Libertadores e o Mundial, além da própria Copa do Mundo, mas passou por um momento terrível fora dos campos. Depois de jogar na Bombonera e fazer um gol pelo River contra o Boca, ele voltou para a sua casa e a encontrou incendiada.

''Foram os torcedores do Boca que queimaram a minha casa, com a minha mãe dentro. Ela precisou sair correndo, e aí queimaram também meu carro'', contou o zagueiro, chamado de El Cabezón, neste relato aqui. ''Eu morava em San Justo e tinha 24 anos, e fui até a casa do Abuelo, que era o chefe da barra brava do Boca.''

O Cabezón Ruggeri no River e no Boca – Reprodução/Clarín

''Eu estava como louco, claro, e o Abuelo me disse que não foi ninguém do grupo, e sim uns outros moleques que não tinham nada a ver com eles. Avisei: 'olha, se acontece qualquer coisa de novo, venho e armo uma bagunça aqui na sua casa. Não me importa nada, sua mãe, seu pai, ninguém''', finalizou o ex-jogador.

O vandalismo foi o último sofrido por Ruggeri – mas nos seus tempos de Boca ele viu a torcida, armada, invadir a concentração em 1981 para cobrar empenho de um time que tinha ninguém menos que Diego Armando Maradona, então com 20 anos.


Sampaoli tentou furar blitz e agredir mulher, diz jornal
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Tales Torraga

A noite de fúria de Jorge Sampaoli segue apimentando o fim de ano na Argentina. Nesta quarta (27), o jornal ''La Nación'', o segundo maior do país, publicou o relato do seu enviado à pacata cidade de Casilda, de 35 mil habitantes, para reconstituir o que fez o técnico da seleção argentina humilhar um agente de trânsito chamando-o de ''idiota que ganhava cem pesos por mês'' na saída do casamento da sua filha.

O papelão de Sampaoli – Reprodução

Segundo o jornal, que traz passo a passo do que ocorreu, o carro no qual estava o técnico da seleção inicialmente tentou furar a blitz que era feita às 5h30, a apenas três quadras do hotel onde estava hospedado. Cinco carros estavam parados aguardado que os agentes fizessem o teste do bafômetro, e o veículo de Sampaoli desviou da fila e tentou passar. Foi contido pelos policiais, e aí o técnico explodiu.

O responsável pelo controle demonstrou que três pessoas precisariam descer do carro que comportava oito pessoas – o máximo permitido era de cinco, pela quantidade de cintos de segurança do veículo.

Depois da triste frase ''Idiota, você ganha cem pesos por mês, estúpido'', Sampaoli, caminhando, teria desrespeitado também uma agente de trânsito. Segundo as testemunhas ouvidas pelo ''La Nación'', tudo ocorreu em ''péssimos modos'', e o jornal publicou que o técnico inclusive tentou agredir a profissional.

(Que modo de se tratar uma trabalhadora em pleno 24 de dezembro, não?!)

Não parou aí: vindo logo atrás, em outro veículo, o preparador físico da seleção, Jorge Desio, teve sua carteira de habilitação apreendida por não ter passado no bafômetro, o que fez Sampaoli insultar ainda mais os profissionais que estavam envolvidos na operação, chamando-os de ''gato'' e ''vigilante'', gírias que em português significariam ''falso'' e ''cagueta''. Sampaoli foi além, e de maneira autoritária mandou os policiais devolverem a habilitação do preparador – nada feito.

Montagem da nota de cem pesos com a cara de Sampaoli, chamado agora de 'Cienpaoli' – Reprodução

O treinador de 57 anos emitiu uma carta pedindo desculpas públicas e telefonou para a prefeitura de Casilda dizendo que se arrependia do ocorrido, mas a Argentina segue ponderando o seu papel de exemplo à sociedade – e de representante mundial do país! – e defendendo até mesmo a sua demissão.

A AFA, por enquanto, não vai fazer nada. O blog apurou que a entidade considera o ocorrido ''um assunto de sua vida pessoal'', embora a própria AFA tenha usado os seus canais de comunicação para expressar as desculpas do transtornado técnico.

Como sempre ocorre em casos assim, as redes sociais explodiram de memes humilhando o treinador que, de fato, mostrou a sua pior cara. Que um profissional de destaque mundial faça tais coisas em uma das raras aparições em sua tranquila cidade-natal de 35 mil habitantes diz, de maneira péssima, quem ele de fato é.

Alejandro Fantino, um dos apresentadores de maior visibilidade da TV argentina, chamou Sampaoli de ordinário, resumindo a triste noite de Casilda com a frase ''por mais no alto em que você esteja, você está sempre sentado sobre sua bunda''.

A eventual demissão de Sampaoli mobilizou filósofos e psicólogos, que desde ontem cedo estão nas TVs e nas rádios de Buenos Aires para analisar o assunto.

A opinião mais ponderada veio de Miguel Wiñazki, filósofo e jornalista, que não aceitou as desculpas públicas do treinador: ''As palavras de Sampaoli sobre o salário de alguém são tremendas, essa coisificação de acordo com o dinheiro é terrível. E o que é o discuso oficial de Sampaoli? É uma coisa mentirosa e eticista. Ele tem tatuagem do Che Guevara no braço e age assim. É um falso'', analisou.

Sampaoli ganha 140 mil dólares por mês (cerca de R$ 465 mil), enquanto um policial, segundo o programa ''Terapia de Notícias'', que convidou Wiñazki, apenas 800 dólares (R$ 2.650). ''Sampaoli é um caso da pós-moralidade. É dizer que o falso é verdadeiro'', finalizou o filósofo, que acaba de lançar o livro 'Pós-moralidade' e demonstrou não acreditar em nada do pedido público de desculpas do treinador.


Sampaoli humilha policial, e parte da Argentina pede sua demissão
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Tales Torraga

''Idiota, você ganha cem pesos por mês, estúpido!''

Foi assim, com esta frase nojenta, que o treinador Jorge Sampaoli, da seleção argentina, precisou ser contido por amigos para não agredir um policial na madrugada deste domingo (24). O entrevero ocorreu na saída do casamento de sua filha, Sabrina, em Casilda, sua cidade-natal. O vídeo do descontrole está aqui.

Sampaoli estava em um Ford Focus com outras sete pessoas, quando um policial parou o veículo que estava sendo conduzido por sua mulher. Ela fez o teste do bafômetro – que deu negativo – e, antes de seguir viagem, o policial pediu para que todos descessem do carro porque no veículo havia mais gente que o permitido.

Sampaoli é contido – Reprodução

Foi aí que o técnico explodiu, e a discussão caiu terrivelmente na Argentina.

Humilhar qualquer um por dinheiro é péssimo em qualquer lugar. Mas em uma Argentina sempre contando os pesos para fechar o mês, o gesto é ainda pior.

Foram muitos, por exemplo, os que comemoraram há um mês a lesão do atacante Darío Benedetto, do Boca Juniors, em jogo contra o Racing. Benedetto passou o jogo desprezando os zagueiros dizendo a eles que ''com o dinheiro que tinha, poderia contratar todos para jogar no quintal da sua casa''. Benedetto estourou o joelho na mesma tarde. Sua volta ao Boca deve ocorrer só em junho.

Já há, na Argentina, quem defenda a demissão de Sampaoli. O treinador daqui por diante não vai ter paz. O povo argentino é tradicionalmente rebelde com os deslizes dos poderosos, e Sampaoli é só isso – um poderoso, não alguém admirado.

Em países civilizados, figuras públicas ganham muito mais que ''cem pesos por mês'' também para dar exemplo. Mas Sampaoli está na média de uma sociedade que explode por caprichos inúteis, como não aceitar que um profissional faça aquilo que é obrigatório e que contrarie o seu ''jeitinho argentino''. Muy triste.

''Em outros lugares, neste momento, ele estaria desempregado'', afirma o ótimo editorial desta terça-feira (26) do jornal ''La Nación''.

Trechos:

''Esta frase revela uma visão de mundo inaceitável. Não se deve permiti-la no futebol argentino e muito menos na sociedade argentina. Como o agente não fez o que ele esperava, o técnico da seleção optou por denegri-lo jogando na cara seu poder e sua superioridade econômica. Isso não fala bem dele, um dos homens mais importantes e influentes do país. Poucas coisas denigrem mais o ser humano que humilhar o mais débil.''

''Amante das frases complexas e do excesso de palavras, Sampaoli não precisa de uma coisa e nem outra para recuperar sua imagem. Não lhe resta outra alternativa a não ser um 'errei, peço desculpas' para seguir sonhando com a final de 15 de julho, meta de tantos que ganham cem pesos.''

''Sampaoli demonstra estar distante da sensibilidade social, algo que sempre se preocupou em transmitir, e que sempre lhe gerou a adesão dos políticos. O esportista muitas vezes não quer ser exemplo, mas essencialmente o é. Não é uma pessoa a mais, um anônimo. E a lei cabe ao técnico da seleção de futebol.''

A AFA ainda não se pronunciou sobre a noite de fúria de Sampaoli.

* Atualizado às 14h04: Sampaoli divulgou uma carta pelos canais da AFA ''pedindo perdão pelo mau exemplo'' e dizendo ''que uma pessoa não é aquilo que ela ganha''. O treinador prometeu procurar o policial para dizer o mesmo pessoalmente. Pela manhã, Jorge já havia ligado para a prefeitura de Casilda, no mesmo tom. A carta não diminuiu a fúria dos torcedores nas redes e nas TVs. Eles seguem defendendo sua renúncia e dizendo que vão torcer contra a seleção.

O blog apurou que a AFA não pensa em punir o treinador de nenhuma maneira porque ''o assunto ocorreu em sua vida privada''.


A nova (e enorme) preocupação da seleção argentina
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Tales Torraga

Jorge Sampaoli descansa em Casilda, sua cidade-natal, mas sua careca nos últimos dias passou a fervilhar com uma preocupação essencial para a Copa do Mundo do ano que vem: a seleção argentina fecha 2017 simplesmente sem goleiro.

A fase do atual titular, Sergio Romero, é tétrica. Nesta semana, o Manchester United perdeu por 2 a 1 para o Bristol City, da segunda divisão, e foi eliminado da Copa da Liga Inglesa. Esta era a única competição que Romero disputava pelo clube. E o que é pior: o argentino falhou feio no segundo gol e jamais saiu do banco de reservas tanto pelo Campeonato Inglês quanto pela Liga dos Campeões.

O dono do posto é o espanhol David de Gea.

Sampaoli sempre teve Romero como titular, mas tal certeza deixou de existir.

Aos amigos, o treinador já fala abertamente que pretende testar Nahuel Guzmán, campeão mexicano com o Tigres e titular absoluto da equipe. Outras opções citadas por Sampaoli são Agustín Marchesín (do Santos Laguna e eleito melhor goleiro no México pelo segundo ano seguido) e Gerónimo Rulli, da Real Sociedad.

Que loucura: desde a chegada ao United, em 2015, Romero teve mais presença na seleção do que no clube. Ele fez 36 partidas pela Argentina, contra 33 em três temporadas pelos Diabos Vermelhos. É difícil questionar o papel do goleiro pela seleção. Ele fez uma ótima Copa em 2014, e não há nenhum outro arqueiro que desponte com um nível que permita tirá-lo da equipe sem maiores reflexões.

Romero também vive um dilema: sair do United e pegar ritmo para a Copa do Mundo? Ou seguir no clube inglês recebendo 1,5 milhão de euros por temporada?

Os leitores do blog sabem bem da nossa opinião sobre a decantada ''escola argentina de goleiros'': ela jamais existiu. E é curioso que o problema da seleção ocorra numa data importante para o maior goleiro da história do país, o inigualável Pato Fillol – o excelente e muy amable Amadeo Carrizo que nos perdoe.

Fillol x Maradona em 1980 – Olé/Reprodução

Fillol despediu-se do futebol há exatos 27 anos. Tinha 40, e jogava pelo Vélez. Ninguém pendurou as luvas como ele: no Monumental, contra o River pelo qual brilhou, defendendo um pênalti e impedindo o título argentino do clube de Núñez.

''Foi o melhor goleiro que vi'', postou ontem Diego Armando Maradona.

Nós também, Diez. Nós também…


River conta com a chegada de Pratto até o dia 3
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Tales Torraga

A chegada de Lucas Pratto ao River Plate é uma questão de dias. O blog apurou que a diretoria portenha trabalha para o atacante se juntar aos colegas em Buenos Aires já na reapresentação do clube, no próximo dia 3.

Recém-reeleita, a presidência do River quer satisfazer o técnico Marcelo Gallardo e vingar-se da duríssima eliminação para o Lanús na Libertadores. ''Vamos gastar muito e fazer o que for possível para agradar Marcelo'', afirmou o vice-presidente do clube, Jorge Brito. Estima-se em Núñez que cerca de US$ 20 milhões (R$ 66 milhões) serão desembolsados para trazer os reforços que quer o treinador.

Pratto é a prioridade absoluta – tanto que Gallardo fez questão de almoçar com ele há poucos dias, mas o River vai atrás também do atacante Silvio Romero (hoje no América-MEX), o meia-atacante Lucas Zelarayán (também do América-MEX) e o ótimo volante Damián Musto (ex-Central e hoje no Tijuana-MEX).

O jornal ''La Nación'' publicou nesta sexta (22) que só basta um detalhe para o River formalizar a proposta ao São Paulo. Decidir se oferece US$ 6 milhões (R$ 19,8 milhões) pela metade do passe ou US$ 10 milhões (R$ 33 milhões) pela totalidade. Há um ano, o São Paulo gastou 6,2 milhões de euros (cerca de R$ 23 milhões) por 50% dos diretos do jogador que então estava no Atlético-MG. O Tricolor, porém, se prepara para comprar mais 15% de Pratto e mantê-lo no próximo ano.

''Lucas sente muitas saudades da sua filha e sabe que, se joga na Argentina, tem mais chances de ir para a Copa'', afirmou seu representante, Gustavo Goñi, ao ''La Nación'', reforçando o que o blog cita há mais de um mês. ''Lucas sonha em ganhar a Libertadores. O River vai jogá-la. O São Paulo não'', concluiu Gustavo.

O ''La Nación'' inclusive reproduz um diálogo de Pratto com torcedores do River no último fim de semana. Ao escutar, no casamento de Buffarini, pedidos para se transferir para o clube, Pratto respondeu, de acordo com o jornal: ''Vou fazer todo o possível para vir''. História essencial que na Argentina jamais passa batido: Pratto, com 20 anos, teve uma passagem tímida pelo Boca. Sua chegada ao River é também uma maneira de golpear o rival, que não o valorizou e o deixou escapar. Repete, assim, o exemplo do zagueiro Maidana, hoje um dos caciques em Núñez.

O caso de Maidana é ainda mais particular.

Maidana com a testa enfaixada – Taringa/Reprodução

Campeão da Libertadores 2007 pelo Boca, o zagueiro se juntou ao River em 2010 e caiu com o clube para a Série B. Cansou de rasgar a cara e a cabeça e virou um soldado vermelho e branco. Criou tamanha empatia com a torcida que fez questão de tatuar no braço os títulos conquistados pelo River na Série B e na Libertadores.

Vem aí um 2018 histórico para River e Boca. Que não termine em gás pimenta.