Patadas y Gambetas

River-Boca reeditam superclássico neste domingo: as 7 histórias mais loucas
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Tales Torraga

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Chegou o fim de semana da expressão máxima da cultura argentina. River Plate e Boca Juniors jogam neste domingo às 18h (de Brasília) no Monumental de Núñez pela 14ª fecha do Nacional, mas o que está em disputa não é apenas o placar.

É uma tradição secular que paralisa o país.

Não é frase feita. Enorme parte dos 40 milhões de argentinos – mesmo torcedores de outros times – vai se juntar às TVs e rádios (sim, rádios!) para viver nova jornada de paixão e intensidade difíceis de compreender longe das fronteiras argentinas.

A comparação é abstrata – toda comparação é -, mas seria como Flamengo e Corinthians, clubes brasileiros mais populares, serem da mesma cidade e terem estádios a 16 quilômetros de distância. E do Amapá ao Rio Grande do Sul vendo.

Na Argentina, é mais que um jogo. Um superjogo. De superclássicos.

Sete histórias mostram:

O rádio de Comizzo
Boca e River jogavam na Bombonera em 1992 e um torcedor também resolveu jogar – um rádio na cabeça do goleiro Comizzo, do River.

Ele pôs os fones e, garante, escutou a narração do pênalti desperdiçado por Hernan Díaz na outra trave. Alguém faria o mesmo hoje com um celular?

A galinha de Tevez
Semifinal da Libertadores 2004. River 1×0, golaço de Lucho Gonzalez. Tevez, aos 43min do segundo tempo, empatou e passaria o Boca à final.

Enlouqueceu, tirou a camisa, imitou uma galinha, apelido maldoso do River, e foi expulso. O 2×1 River saiu aos 50 (!) do segundo tempo. Mas nos pênaltis, e só na última cobrança, deu Boca – o infalível Deportivo Penales de então.

LEIA MAIS: River na Bombonera: cadeados, torcedor-gandula e ameaças

A laranja de Alonso

Laranja. Foi esta a cor escolhida por Loco Gatti, goleiro do Boca, para a bola usada no jogo de abril de 1986 que poderia dar o título nacional ao River.

Poderia e deu. Beto Alonso fez dois gols – um com a laranja, outra com a branca – e o River cumpriu volta olímpica em plena Bombonera embaixo de piedrazos. Insano.

A água na Boca
Boca 2×2 River no Monumental e Boca campeão argentino em 1969. A festa no estádio rival, surpresa, não encontrou hostilidade da torcida, mas sim do clube.

O River abriu as torneiras que regavam o campo para impedir a volta olímpica do Boca. Que, claro, deu a volta igual. Empapados de água. E de alegria.

A bomba de Passarella
Poucos na Argentina chutaram tão forte e tão bem quanto Daniel Passarella. Em 1989, o histórico zagueiro do River mandou no ângulo. De falta e de muito longe. Era o centésimo gol da carreira – na Bombonera, ainda por cima.

LEIA MAIS: Novo Monumental ‘esquece’ sua volta olímpica mais importante

Mas Juan Bava, juiz e torcedor do Boca, anulou. Sem motivo – só o do coração. Cinco meses depois, Bava ainda expulsou Daniel de sua despedida, por reclamar.

O asilo de Palermo
Quartas-de-final da Libertadores 2000. River 2×1 Boca na ida, no Monumental. A dúvida do Boca para a volta era a participação de Palermo após longa lesão.

Técnico do River, Tolo (tolo mesmo) Gallego gozou: ''Palermo? Então vou pôr o Enzo!'', disse, do ídolo aposentado. Na Bombonera, Boca 3×0. Com gol de Palermo.

A pintura de Maradona
Para os argentinos, Diego já era o melhor do mundo em 1981, aos 20 anos.

Golaços como este, deixando no chão Fillol e Tarantini, campeões do Mundial 1978, aumentavam sua fama. Também da do fotógrafo que, correndo atrás de Diego, caiu e eternizou a glória do pibe Maradona no lusco-fusco da Bombonera.

O superclássico é disputado desde 1913. Os números:

OFICIAIS
Jogos – 242
Vitórias do Boca – 86 (315 gols)
Vitórias do River – 78 (290 gols)
Empates – 78

COM AMISTOSOS
Jogos – 361
Vitórias do Boca – 130 (473 gols)
Vitórias do River – 117 (430 gols)
Empates – 114

NO MONUMENTAL (OFICIAIS)
Jogos – 105
Vitórias do River – 42
Vitórias do Boca – 28
Empates – 35


Tevez prepara terreno para a aposentadoria: “Minha cabeça está uma bagunça”
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A decantada história de amor entre Carlitos Tevez e o Boca Juniors chegou ao fim. E admitido pelo próprio jogador. ''Minha cabeça está muito bagunçada para decidir se vou ou não para a China. Posso também parar de jogar'', admitiu Tevez ontem em entrevista coletiva em Buenos Aires. Foi sua primeira fala pública reconhecendo aquilo que os mais próximos a ele sabem há meses, como o blog vem publicando desde agosto: Tevez não vê a hora de parar com o futebol. Já deu. Ya está.


Embora chocante para a torcida do Boca, a saída de Tevez não significa um desfalque de jerarquia. Seu nível de jogo despencou neste ano. Tevez não foi Tevez principalmente quando o time precisava dele, casos da semifinal da Libertadores contra o Del Valle ou nas quartas-de-final da Copa Argentina contra o Central.

O blog apurou que a única possibilidade de Carlitos rever sua aposentadoria é atender ao pedido da família – especialmente a namorada Vanesa Mansilla, com quem vai se casar neste mês – para ir jogar na China, algo que já descartou.

Inconformada com o ''não'' do Apache no ano passado, a diretoria do Shangai Shenhua praticamente dobrou a oferta: de R$ 78,8 milhões de salário anual, passou para R$ 149 milhões. Pessoas envolvidas na negociação revelaram que há chance de que o acordo seja fechado até com o salário anual de surreais R$ 215 milhões.

Tevez está com 32 anos e com uma persistente inflamação no joelho – uma das principais razões da queda de desempenho na temporada. Mesmo assim, os chineses o querem de qualquer jeito. Têm quase a certeza que vão definir as negociações depois do River x Boca deste domingo, algo que o técnico da equipe, o uruguaio Gustavo Poyet, já foi avisado que deve ocorrer. Carlitos está em xeque.

Não sabe se atende ao próprio desejo de seguir outro rumo de vida ou se faz a vontade da sua família, disposta até a acompanhá-lo na China. Um dos detalhes de sua negociação deixa isso bem claro: ele condicionou sua ida também ao fato de poder contar com quatro casas de alto padrão, para levar irmãos, amigos e os pais.

Surgiu nesta sexta a versão de que as filhas de Tevez não renovaram a matrícula no colégio onde estudam, e que uma das funcionárias deixou escapar a informação de que fariam isso por terem decidido morar na China. Amigos de Carlitos ficaram irritados com a notícia: entendem que é desta maneira, quase coerciva, que a família tenta convencê-lo a se dobrar perante os milhões chineses.

Família, carreira, dinheiro, dores.

Se a cabeça não ficar bagunçada com isso, com o que ficaria, com o Boca?


Campeão mundial pelo Corinthians, atacante decide voltar à Argentina
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Juan Manuel El Burrito Martínez. Lembra? O atacante ex-Corinthians (Vélez e Boca) voltou à Argentina após quase duas temporadas no Real Salt Lake, dos EUA.

Aos 31 anos, disse topar ouvir todas as propostas. Até as do River, embora o clube não tenha interesse específico em contratar um novo atacante. ''Voltar à Argentina é o grande objetivo da minha carreira neste momento, principalmente por assuntos pessoais. Cumpri minha etapa nos Estados Unidos, minha cabeça agora está voltada à América do Sul'', afirmou ao canal de TV TyC Sports.

Martínez fez parte do elenco do Corinthians que conquistou o Mundial de 2012 contra o Chelsea. No começo do ano seguinte, quando o clube contratou Alexandre Pato, decidiu sair da equipe por perceber que teria pouco espaço entre os titulares.

Depois do Corinthians – cuja passagem foi de 19 jogos e 2 gols -, El Burrito foi para o Boca, onde tampouco brilhou. Jogou de 2013 a 2015, e sua principal lembrança com a camisa azul e ouro foi a duríssima patada que levou de Leonel Vangioni logo aos 4 minutos do Boca x River pela semifinal da Sul-Americana de 2014.


Martínez saiu de campo logo depois, com o tornozelo machucado, e todo o Boca condenou aquela que enxergou como atitude proposital do lateral do River para tirá-lo do jogo. O choro de Martínez foi condenado até pela própria torcida do Boca, tão acostumada a aplaudir jogadores violentos como Giunta, Passucci e Serna.


Técnico se demite por torcida fumar maconha nos treinos
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Tales Torraga

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22º entre os 30 times do Campeonato Argentino da Série A, o Olimpo de Bahía Blanca procura técnico. Ontem (5), Cristian Díaz pediu sua demissão, motivada pela frequente presença da torcida fumando maconha nos treinamentos da equipe.

''São por esses torcedores que levanto todos os dias para falar ao meu filho o que se deve ou não fazer, qual o caminho correto para ganhar dignamente a vida'', filosofou Díaz, escancarando os desmandos dos dirigentes do Olimpo.

LEIA MAIS: Por que a droga ronda o esporte na Argentina

Sobre a torcida organizada, chamada na Argentina de ''barra brava'', voltou a atacar: ''São uns inadaptados, fazem mal a todos. Se eles torcem mesmo para o Olimpo, seria melhor que nem saíssem de casa''.

''Os barras não devem estar no clube, e estão. Somos reféns deles. Não faz falta que te deem um soco ou te arranhem o carro para sentir a agressividade. Como priorizo os jogadores e o presidente que me dá trabalho há dez meses, senti que era o momento de olhar para a frente e desejar o melhor a quem me apoiou. E aos barras, desejo o dobro do que me desejam. Cumpriram bem o seu trabalho.''

LEIA MAIS: O cigarro e a maconha no futebol argentino

Díaz tem 40 anos. Ex-lateral-esquerdo de Independiente, Udinese e Huracán, estreou como técnico em 2011 no próprio Independiente.


A incrível ressurreição de Fernando Gago, de aposentado a craque da rodada
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Oito meses depois de romper o tendão e praticamente largar o futebol, Fernando Gago, quem diria?, voltou a jogar. Ou melhor: voltou a jogar o seu melhor futebol como visto ontem na Bombonera no espetacular Boca 4×2 sobre o Racing.

Gago la dejó chiquita, falam hoje em Buenos Aires. Gastou a bola. Fez a pelota circular com perfeição, demonstrou personalidade e liderança, recuou à defesa para dar o primeiro passe ofensivo do time e equilibrou este Boca como poucos volantes conseguiram na Argentina recentemente.

(As referências talvez sejam Ortigoza no San Lorenzo e Videla no Racing, mas Gago, convenhamos, está bem acima de ambos. A melhor comparação talvez seja com Lucho González no River de…2005, olhe quanto tempo!)


A atuação encantadora foi elogiada por todos. Gago foi eleito pelas TVs na noite de domingo como craque da rodada. No ''Olé'' de hoje ele aparece com a nota 9.  Foi só seu segundo jogo desde o retorno – o primeiro, contra o San Lorenzo, na semana passada, também havia sido positivo, mas não tão brilhante como ontem.

Aos 30 anos e atuando em um futebol rústico e incompatível com seu físico combalido, Gago tem escapado das patadas e esbanjado uma rara lucidez.

Lucidez que certamente vai precisar para encarar o próximo desafio, o superclássico de domingo contra o River Plate no Monumental de Núñez.

Foi contra o River que Gago sofreu suas duas graves lesões de tendão – a primeira delas, no mesmo Monumental, sozinho, antes do primeiro minuto de jogo.

Em jogo de tamanha adrenalina e de tanta pressão pela vitória, observar suas ações e seu duelo com o sempre agressivo Ponzio já será o grande assunto da semana.

Gago x Ponzio é um tema e tanto, verdade, mas o equilíbrio do Campeonato Argentino depois de 12 rodadas também merece menção. O Estudiantes segue em primeiro, com 27 pontos – e com Boca, San Lorenzo e Newell's nos calcanhares.


Brigas, lições e lágrimas. As histórias de Mário Sérgio na Argentina
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Mário Sérgio Pontes de Paiva passou por três clubes em 1979. Começou o ano defendendo o Botafogo, se transferiu para o Rosário Central e depois voltou ao Brasil para brilhar pelo Inter. Em Rosário, foi recebido como um craque.

A torcida do Central até criou uma música para comemorar sua contratação: ''Assopre o apito e a corneta / Botafogo nos vendeu Mário Sérgio'', cantavam.

Foi uma relação conflituosa de meros cinco meses – e de histórias bem curiosas.

Mário Sérgio e Paulo Cezar Caju em 1983 no Grêmio

Mário, 28, chegou ao Central em abril e saiu em setembro. Em maio, jogou suas duas únicas partidas oficiais, sempre partindo do banco de reservas. Ganhou do Estudiantes por 3×1 no Gigante de Arroyito e perdeu por 0x1 para o Colón em Santa Fé. Somando as duas partidas, completou apenas 50 minutos pelo clube.

Atuou em outros dois amistosos também em maio. Foi titular (e substituído no intervalo) na vitória de 3×0 contra a Lazio e de novo reserva no 4×1 ante o Grêmio.

Era treinado por Ángel Zof, maior técnico da história do Central, acostumado a jogadores combativos e disciplinados, virtudes que Mário Sérgio não demonstrou em sua passagem argentina, logo esgotando a paciência do treinador.

Mário passou a fazer então o que revelou anos depois à revista 'Placar': brigar com colegas, com dirigentes e com o próprio técnico para forçar sua saída (abaixo).

Também à 'Placar', disse ter aprendido e incorporado ao seu futebol aquilo que caracteriza até hoje a forma argentina de jogar: a combatividade.

REPRODUÇÃO PLACAR (imagem do site FUTEBOL PORTENHO)

No material do Futebol Portenho (aqui) e do UOL (aqui), Mário Sérgio admitia o quão frustrante foi sua passagem pelo Central por três principais razões: 1) A saudade da esposa, que ficou no Rio enquanto ele chorava sozinho em Rosário, cidade famosa por ter as mulheres mais bonitas da Argentina; 2) A violência dos colegas durante os treinos; 3) Sua dificuldade para se comunicar em espanhol.

A equipe do Central que o recebeu era das melhores da Argentina, tanto que ficou famosa como a ''Sinfônica''. Conquistaria o título nacional em 1980. Mas Mário Sérgio não esteve nem perto de aproveitá-la. Estava determinado em voltar para perto da mulher no Brasil e integrar o Inter que ganharia o Brasileiro de 1979.

Um dos colegas de Mário Sérgio naquele Central era o zagueiro Patón Bauza, companheiro de defesa de José Van Tuyne, que disputou a Copa América de 1979 e a Copa do Mundo de 1982 pela seleção argentina.

Ao blog, Van Tuyne relembrou assim a passagem de Mário Sérgio pelo Central: ''Era um jogador tão habilidoso em campo quanto calado e chateado fora dele''.

Questionado sobre a violência afirmada por Mário Sérgio nos treinos, Van Tuyne respondeu: ''Não não, não havia nada específico contra ele. Era nossa forma habitual de jogar, talvez um pouco mais brusca do que ele estava acostumado, mas nada era feito de propósito, isso jamais. Até porque depois ele foi jogar, e jogou bem, em um futebol também ríspido, no futebol gaúcho'', seguiu o ex-zagueiro.

Outra lembrança de Van Tuyne da passagem de Mário Sérgio pelo Central é sobre a desconfiança com a qual ele encarava seus companheiros de equipe: ''Ele dava sinais claros de que não gostaria de estar ali, depois de um tempo ficou muito difícil de se aproximar dele, não havia contato, diálogo, nada'', seguiu Van Tuyne, hoje 61 anos, aposentado e vivendo em uma Rosário em guerra contra o narcotráfico.

As únicas conversas em um determinado tempo giravam em torno da política: ''Ele gostava de saber como a gente atuava em sindicatos, sobre como era nossa negociação com os dirigentes para fazer valer os direitos do jogador. Nossas tentativas de conversa com ele foram em cima disso, mas era difícil o papo fluir''.


Argentina vai ensinar tênis nas escolas públicas
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Tales Torraga

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Campeã da Copa Davis no último domingo, a Argentina vai fazer do tênis uma atividade esportiva de grade curricular nas escolas públicas a partir de 2017.

O blog apurou que será este o tema da reunião já agendada para as próximas semanas entre Diego Gutiérrez, vice-presidente da Associação Argentina de Tênis, e Esteban Bullrich, o muy receptivo ministro da Educação e Esportes do país.


O encontro foi determinado na última quarta-feira por Mauricio Macri, presidente da Argentina e grande entusiasta do tênis. Macri costuma postar fotos suas praticando o esporte e afirmou, na Casa Rosada, que se debulhou em lágrimas com as vitórias de Juan Martín del Potro e Federico Delbonis pela Davis no último domingo.

O plano argentino já tem uma referência: o que fez a Grã-Bretanha depois de ganhar a Davis do ano passado, quando, segundo o país, 16 mil crianças começaram a jogar tênis pela ocasião. Foi a primeira Davis dos britânicos em 79 anos.

A síntese da ideia argentina é a seguinte: ''No tênis, houve um antes e depois de Guillermo Vilas. Agora, precisa haver um antes e depois da Copa Davis'', é o que se escuta dos dirigentes depois da épica conquista do fim de semana em Zagreb.

Presidente da Argentina, Macri participa de clínica de tênis com Nadal (ao fundo)

A meta argentina é consolidar o tênis como segundo esporte, atrás só do futebol.

Não há números oficiais, mas matéria publicada nesta semana pelo ''Clarín'', principal jornal da Argentina, estima o número de praticantes hoje no país em 2 milhões. É esta a base dos cartolas para desenvolver crianças, mulheres e tenistas amadores para primeiro atingir 2,5 milhões e, depois, chegar aos 3 milhões.

O que anima a Associação de Tênis da Argentina é a óbvia comoção em torno do título da Davis. As audiências somadas da TV Pública e do canal especializado TyC Sports indicam que quase 1,9 milhão de pessoas, em 540.000 lares, sofreram, vibraram e explodiram com os jogos da Davis por todo o território nacional no domingo.

Tal popularidade já oferece um evidente lucro.

A Associação Argentina de Tênis começou a trabalhar na renovação e na busca de patrocinadores que engordem seus cofres. O mote agora é ''vender o tênis, e não a Davis, cuja competição será um mero veículo para promover o esporte''.

A Argentina perdeu a chance de massificar o tênis depois das épocas de Vilas, de Gabriela Sabatini e da ''Legião'', melhor geração de tenistas da história do país – com Coria, Gaudio, Nalbandian, Cañas, Chela, Zabaleta, Acasuso e tantos outros.

''Vai ser imperdoável se o tênis argentino deixar escapar o quarto trem de sua história'', argumentou, com toda a razão, o ''Clarín'' também nesta semana.


“Atlético Nacional age com demagogia”, ataca cartola argentino
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Tales Torraga

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Presidente do Huracán e mundialmente conhecido como um dos cartolas mais polêmicos da Argentina, Alejandro Nadur atacou forte o Atlético Nacional.

Rompendo o sentimento de luto e contrariando a opinião pública, ele disse que o clube ''faz demagogia'' ao oferecer o título da Sul-Americana à Chapecoense.

''Eu tenho minhas reservas sobre a direção do Atlético Nacional, não é o momento de fazer demagogia. Isso [dar o título] vai decidir a Conmebol, sem dúvidas, mas não é o momento de fazer demagogia'', afirmou Nadur ao programa Crack Deportivo, da Rádio AM 1130 de Buenos Aires, sendo logo criticado no país pela falta de sensibilidade ao abordar o tema desta maneira e em momento de tamanha dor.

''Estou convencido de que sim, houve demagogia. Por conhecê-los, estou seguro que sim. Não quero falar do tema agora, quero falar da dificuldade dos familiares.''

Nadur teve muitas discussões com o Atlético Nacional na última Libertadores. O Huracán escapou da tragédia e sobreviveu por milagre a um acidente de ônibus na Venezuela. Ali, segundo o presidente, os colombianos não aceitaram mudar a data da partida que fizeram entre si em 23 de fevereiro, em Buenos Aires.

O Atlético Nacional venceu o Huracán na ocasião por 2×0.


Ante la realidad de la muerte
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Tales Torraga

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Sólo hay una respuesta digna frente a la finitud humana
y ante la realidad de la muerte:
cuidarnos, acompañarnos, ayudarnos.

FOTO: AFP


Lesões, glórias e idolatria. Por que Guga e Del Potro são tão parecidos
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Tales Torraga

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E o ''Maradona es más grande que Pelé'' chegou ao tênis.

É fácil, extremamente fácil, encontrar em Buenos Aires torcedores que, desde a conquista da Copa Davis no último domingo, já colocam Juan Martín del Potro como o melhor tenista sul-americano da história, acima até de Gustavo Kuerten.

A diferença de idade de ambos é de 12 anos. Guga nasceu em 1976 e está com 40; Del Potro, 28, nasceu em 1988.  Enfrentaram-se profissionalmente uma única vez.

E a ''Torre de Tandil'' ganhou do ''Surfista do Saibro '' por 7/6 e 6/2 na primeira rodada do Masters Series de Indian Wells, na quadra dura, em 2007, ano em que Guga enfim desistiu de tentar superar as persistentes lesões no quadril.

Guga e Del Potro em exibição realizada no Uruguai em 2012

Colocar Del Potro acima de Guga, como parte da Argentina faz desde domingo, tem mesmo ares da rixa entre Pelé e Maradona. Não apenas por Guga e Delpo não terem sido contemporâneos, mas também pelo tenista brasileiro, assim como Pelé no futebol, exibir números superiores aos do argentino.

Kuerten ganhou Roland Garros três vezes, em 1997, 2000 e 2001. Foi número um do mundo por quase um ano todo – exatas 43 semanas entre dezembro de 2000 e novembro de 2001. Del Potro conquistou um único Grand Slam, o US Open de 2009, e tem como melhor ranking a quarta posição obtida em janeiro de 2010.

Os argumentos argentinos para relativizar esses feitos são dois.

O primeiro é o fato de Del Potro ter, na visão de muitos, uma concorrência mais pesada que a enfrentada por Guga – embora o brasileiro seja de uma geração na qual precisou encarar Sampras, Agassi, Kafelnikov, Safin e Hewitt, entre outros, Del Potro se colocou lado a lado a lendas da história como Roger Federer e Rafael Nadal, ambos derrotados na campanha que o levou ao título do US Open com apenas 19 anos. Nadal foi batido na semifinal; Federer, na decisão por cinco sets.

Há também Novak Djokovic e Andy Murray, ambos vencidos por Delpo em 2016 em jogos épicos na Olimpíada (Djokovic) e na Davis (Murray, em plena Escócia).

Muitos argentinos veem os títulos de Guga em Roland Garros sobre Sergi Bruguera (1997), Magnus Norman (2000) e Alex Corretja (2001) como conquistas nas quais os adversários não faziam parte do primeiro time do tênis – com a óbvia ressalva brasileira de Guga ter vencido Agassi e Sampras na Masters Cup de 2000, evento que Del Potro chegou à final e perdeu para o russo Nikolay Davydenko em 2009.

Há a diferença clara também de estilo de jogo e de preferência de pisos.

Enquanto Guga foi o típico tenista sul-americano que se dava melhor no saibro que nas demais quadras, Del Potro rompeu paradigmas (segundo argumento argentino) e obteve seus êxitos em quadras duras. Foi assim na final da Davis, no seu título de US Open e na medalha de prata conquistada na Olimpíada do Rio.

(Olimpíada que nunca esteve nem perto de sorrir a Kuerten, convenhamos.)

Delpo é também um ótimo jogador de grama. Nela, conquistou o bronze na Olimpíada de 2012 e fez semifinal em Wimbledon em 2013 – o melhor desempenho de Guga na superfície foi chegar às quartas-de-final em 1999.

Enquanto o grande feito de Guga foi popularizar o tênis no Brasil – um papel mais para Guillermo Vilas que para Del Potro -, a proeza de Delpo foi nascer e crescer dentro de um ambiente de tradição como é o tênis na Argentina e levá-lo ainda mais para o alto com a inédita conquista da Copa Davis, algo que o país teimava em conseguir – tanto com ele em quadra como com os antecessores.

O melhor desempenho de Guga na Davis foi uma semifinal, em 2000, quando perdeu para a Austrália na grama de Brisbane.

Há em favor de Guga uma atuação nos bastidores da Davis que mudou toda uma geração de dirigentes quando ele boicotou a competição no começo da década passada; Del Potro fez algo parecido: desentendimentos com antigos cartolas causaram seu afastamento da competição que voltou a jogar este ano depois de quatro temporadas de ausência. Mas não houve necessariamente um boicote.

A mudança do comando ocorreu devido à morte de Arturo Grimaldi, o presidente com quem Del Potro tinha suas desavenças.


Outros dois pontos de contato – ou atrito, depende de quem os olhar – entre Guga e Del Potro dizem respeito às lesões e ao carisma de cada um.

Primeiro, as contusões. Guga sofreu com o quadril por cinco anos, de 2002 a 2007, até fazer seu tour de despedida e se afastar do tênis profissional em 2008. Ao todo, exibe uma carreira de 358 vitórias, 195 derrotas, 20 títulos e US$ 14,8 milhões.

O quadril de Guga foi o punho de Del Potro, que não vinha o deixando competir com regularidade desde 2010. Guga e Delpo passaram pela mesma quantidade de cirurgias para lidar com suas lesões – três.

LEIA MAIS: O poder da simplicidade, entrevista exclusiva com Guga

Mesmo com as idas e vindas, Delpo já exibe carreira com uma extensão semelhante à do brasileiro: 346 vitórias, 140 derrotas, 19 títulos e US$ 16,2 milhões em prêmios.

Por fim, o carisma.

Guga até hoje é reverenciado como um dos mais simpáticos tenistas em todo o mundo, e gerou uma imensa comoção no Brasil quando competia.

Na Argentina também. Guga contou muitas vezes com a torcida de Buenos Aires a seu favor quando enfrentava tenistas da casa como Coría, Gaudio e Zabaleta.

O caso de Del Potro é diferente. ''Ele não tem o carisma de Guga e nem é tão querido. Reverteu sua imagem e voltou a nascer. Mas está longe de ser um ídolo'', relativiza o jornalista argentino Ariel Ruya, editor do jornal ''La Nación''.

LEIA MAIS: Como Del Potro superou o ciúme, o pânico e a depressão

O grande plus recente de Del Potro é sofrer, sofrer, sofrer, não se entregar e triunfar, algo que os argentinos aplaudem de pé e para sempre – havendo carisma ou não.

Se aos olhos portenhos o Brasil segue a terra da alegria e da descontração – olhe que coisa mais linda, mas cheia de graça… – a Argentina é a pátria do esforço e da entrega – ponga huevos que ganamos, es un sentimiento, no puedo parar.

Guga e Del Potro estão aí, cada um à sua maneira, provando isso uma vez mais.

* Com Fábio Aleixo, de São Paulo. Gracias por tanto, Mitazo!