Patadas y Gambetas

Análise: Não é o futebol, estúpido. Somos nós
Comentários 7

Tales Torraga

Centenas de pessoas olham. Estão perplexas, sorridentes, indiferentes, eufóricas. Mas têm duas coisas em comum. Primeiro: ninguém interfere enquanto Emanuel Balbo desce escada abaixo rumo à morte. Segundo: todas elas nos questionam sobre a verdadeira responsabilidade do futebol na tragédia que não será a última.

Reprodução Cadena3 Córdoba

É tentador, até previsível, cair no futebol como culpado do que ocorreu no domingo. Estava em jogo o clássico de Córdoba, Talleres x Belgrano, claro. Um rapaz de 22 anos escapava como podia depois que alguém lhe acusou do imperdoável crime de ser torcedor do Talleres e frequentar a arquibancada do Belgrano.

''Essa polícia de merda / Não quer entender / Que o Belgrano / É o chefe cordobês'', gritam muitos, contemplando o corpo inerte do rapaz.

O círculo fecha perfeito: barbárie, fanatismo, massas descontroladas.

Mas há espaço para outro raciocínio: o futebol acaba de se oferecer, mais uma vez, como cenário para que os humanos mostrem o pior dos humanos.

Que culpa tem o futebol de abrir sua porta a quem vê o outro humano agonizar e reagir como se estivesse vendo um filme?

Se não existisse o futebol, ficariam imediatamente honestos os animais que roubaram os tênis de Balbo, caído, enquanto ele morria?

O futebol argentino está doente há muito. Está doente na violência dos estádios, nos desatinos dos dirigentes, na corrupção, na urgência de ganhar de qualquer jeito.

O verdadeiro problema é que a sociedade argentina está tão doente quanto o futebol. Somos tão intolerantes de segunda a sábado que não há maneira de não sermos intolerantes também no domingo. O outro nos importa tão pouco que o vemos golpeado debaixo do nosso nariz e não nos move um pelo.

Nos irritamos demais com quem pensa diferente. Por que seria normal que um torcedor de outro time ocupasse nossa arquibancada?

Os que exigem parar o futebol para terminar com todos os males deveriam saber que o tema é muito mais complexo. Provavelmente viveríamos uns dias de calma se suspendêssemos os jogos, os shows, as festas eletrônicas, as manifestações políticas, os protestos. Mas a ''sociedade civilizada'' certamente arrumaria algo para os que não entendem de convivência reaparecerem para estragar tudo.

A luta contra a violência no futebol é ineficaz, se é que alguma vez foi política de Estado. Como combater criminosos se eles são pagos para torcer nas Copas?

Falta educação, falta cultura. Falta respeito ao próximo.

É preciso entender. Ou só demonstrar revolta até o próximo morto.

* Com Sergio Danishevsky, de Buenos Aires. Te debo unos mates, Dani!


“Fumava com Buffon e o técnico no vestiário da Itália”, revela Loco Osvaldo
Comentários 14

Tales Torraga

E Loco Osvaldo apareceu!

Quase um ano depois de ser ejetado do Boca Juniors e anunciar a aposentadoria, o picante ex-jogador de 31 anos (!), que largou o futebol para ser vocalista de uma banda de rock (!!), deu uma saborosa entrevista à FOX Sports de Buenos Aires.


Osvaldo é portenho, mas cumpriu a maior parte da sua carreira na Itália. Ele defendeu a seleção italiana de 2011 a 2014, com 14 jogos e 4 gols pela Azzurra.

Em maio do ano passado, foi expulso do Boca pelo técnico Guillermo Barros Schelotto por fumar no vestiário nas quartas-de-final da Libertadores, contra o Nacional, no Uruguai – quando mostrou os testículos para a torcida adversária.

Questionado sobre o cigarro, Osvaldo respondeu: ''Eu vinha de outro mundo. Fumava com Buffon e com o técnico no vestiário da seleção da Itália. Talvez estivesse errado, sei lá. Não gosto dessas coisas meio militares, de ditador, acho que o cigarro foi só um motivo para ele me tirar do Boca. Devia ter outras razões. O importante é que hoje posso fumar o quanto quiser'', debochou, tomando um gole de cerveja em pleno programa – onde fez questão de aparecer com um digno visual roqueiro e promover sua banda, Barrio Viejo, ''Bairro Velho'', pelas suas origens.

Como me diz um amigo: imaginem a cabeça da torcida do Boca que menos de um ano atrás via o rapaz em campo e agora o vê cantando nos shows?! Osvaldo integrou até um maiores festivais argentinos, o Cosquín Rock, em fevereiro.

Ironias à parte, a declaração de Osvaldo reabriu em Buenos Aires a antiga discussão sobre fumantes no futebol. Com o tempero extra de ele revelar que compartilhava o momento ''vamos estragar nossa saúde'' com o seu comandante (era Cesare Prandelli) e com a estrela do grupo, o goleiro Buffon, hoje com 39 anos, exemplo de longevidade esportiva. E que o fumo rolava solto em pleno ambiente de trabalho de uma seleção nacional – e de extrema tradição no futebol, como a Itália.


A nossa opinião? Antes de atletas, os jogadores de futebol são seres humanos em constante conflito com suas atitudes. Bilionários, famosos, bajulados, sim, deveriam dar exemplo, mas…humanos. Um ideal é um ideal, um humano é um humano. Os humanos falham. A estrutura do humano é a falha, a falta – inclusive de bom senso e respeito em um ambiente de alto rendimento impondo o ''fumo passivo'' aos demais jogadores que lidam ali, juntos, com os rigores de ser um atleta de ponta.

Adultos são adultos. Fazem o que querem e arcam com as consequências. A ressalva vale mesmo só para o convívio profissional – e o treinador designado em prezar pelo ambiente nesta situação não via problemas. Pelo contrário, fumava junto. Sem patrulhas, óbvio. Não vivemos no mundo perfeito. Tudo o que o mundo de hoje faz questão de jogar na nossa cara é que ele pode ser tudo, menos perfeito.

Os jogadores incomodados com o cigarro também poderiam abrir diálogo e levar, com respeito, suas posições ao técnico. Não são coitados. São igualmente adultos que podem, a todo momento, tomar a iniciativa de ser ou não coniventes.

Outra ressalva: confiamos cegamente no que diz um tipo tan loco como Osvaldo?

E você? O que acha dos jogadores fumantes?

E Loco Osvaldo? Cairia bem no seu time?


Cocaína e ecstasy quase tiraram Verón da Copa
Comentários 11

Tales Torraga

Presidente e jogador do Estudiantes de La Plata, Juan Sebastián Verón foi anunciado ontem (15) como coordenador das seleções de base da Argentina. Exatamente por isso, o episódio mais negativo da sua carreira foi revivido em detalhes nesta semana. Designações + politicagens = Buenos Aires, hermanos.

Em entrevista à Rádio La Red, o chefe de imprensa da seleção argentina na Copa do Mundo de 1998 contou todos os meandros daquela preparação. O áudio está aqui – e nele Eduardo Bongiovanni, responsável pelo elo entre jornalistas e a equipe de Daniel Passarella, confirmou que Verón deu positivo em um antidoping.

O exame foi feito às vésperas do embarque para a França, sede daquele Mundial. O antidoping era uma obsessão do linha-dura Passarella, que tentava evitar a repetição do que acontecera com Maradona e a efedrina na Copa de 1994.

E esta amostra de Verón continha traços de cocaína e ecstasy, o que foi depois confirmado pelo presidente da AFA, Julio Grondona. O ''sim'' de Grondona teve muito mais a ver com uma guerra fria com Passarella, seu inimigo público desde o México-86, do que com o respeito pela torcida argentina às vésperas do Mundial.

(Presidente e técnico que mal se falam? Esto es Argentina, muchachos.)

Seguiu-se então uma agitada série de reuniões que colocaram em dúvida a participação de Verón naquela Copa. Foi sua rapidez mental que convenceu Passarella e Grondona de que o resultado do teste não se repetiria na França: ''De que doping estão me falando se não houve jogo?'', teria questionado La Brujita, de então 23 anos – que ainda estava trocando de time (a Sampdoria pelo Parma).

Os jogadores da Argentina se rebelaram com a notícia do teste – ''furo'' do radialista Claudio Federovsky – e decidiram não falar mais com a imprensa.

(Ou seja: se revoltaram com a divulgação de uma verdade, não uma mentira.)

Verón sempre negou tudo. ''El Lado V'', sua biografia, escrita pelo jornalista Sergio Maffei, narra o encontro na França entre La Brujita e o radialista que noticiou o resultado do seu teste. Quase houve agressão. No quase também ficou a promessa de processo – que jamais ocorreu. O trecho que narra tudo é este.

Verón jogou – e bem – o Mundial 1998. Com a camisa 11 e um futebol que unia raça e elegância, esteve em campo durante todos os minutos da Argentina naquela Copa. A seleção azul e branca ganhou de Japão (1×0), Jamaica (5×0) e Croácia (1×0) antes de um duelo épico nas oitavas-de-final contra a Inglaterra. A vitória só veio nos pênaltis – e Verón deixou o seu, na terceira cobrança.

O sonho do título virou um pesadelo que ainda perturba: nas quartas-de-final, perdeu para a Holanda de Bergkamp, que fez o 2×1 aos 44min do segundo tempo.


“Cuide do corpo”. Conselho de Pelé a Maradona é resgatado em documentário
Comentários 24

Tales Torraga

Estreou nesta semana em Buenos Aires o melhor documentário (na opinião do blog) já produzido sobre a carreira de Diego Armando Maradona: ''Maradona, los años felices'' mostra o começo de Maradona no Argentinos Juniors – período em que o mundo viu o mais brilhante Diego da história. É o que muitos ex-jogadores e ''maradonianos'' repetem na Argentina. O blog concorda. O Dieguito ''potrero y gambeta'' do fim dos anos 70 foi ainda melhor que o El Diez que driblou toda a Inglaterra em 1986 e todo o Brasil em 1990. E você? Acha o mesmo?

Ver o documentário é essencial para entender a afirmação. O Maradona pré-Boca (Barcelona, drogas, Napoli e etc) foi, de longe, o maior jogador da história do futebol argentino. Di Stéfano e Messi? Perdón. O que Diego fez dos 16 aos 20 anos jamais foi igualado por alguém que tenha nascido em território azul e branco.

O grande ponto de interesse da produção para os brasileiros é o encontro entre Pelé e Maradona há exatos 38 anos. Em abril de 1979, um fotógrafo da revista ''El Gráfico'', amigo dos dois, levou Diego, de 18 anos, para conhecer seu ídolo Pelé.

(A admiração do pibe pelo Rei do Futebol era tamanha que ele comemorava seus gols imitando o brasileiro, socando o ar. Basta ver as imagens.)

O documentário resgata os bastidores deste encontro.

O fotógrafo/amigo responsável pela aproximação dos dois largou a câmera e começou a chorar, tamanho o magnetismo do momento.

Pelé se despediu de Maradona com um conselho profético que o argentino não conseguiu seguir: ''Cuide do seu corpo''. Em 1984, cinco anos depois, já no Barcelona, Diego começou a cair nas garras da cocaína.

Da série ''Informe Robinson'', dos grandes programas de esporte da TV em todo o mundo, este episódio dos anos felizes de Maradona é melhor que ovo de Páscoa.

está inteirinho aqui  


Menotti detona Batistuta e defende atletas: “Estavam com a cabeça no jogo”
Comentários 13

Tales Torraga

Técnico campeão mundial com a Argentina em 1978, César Luis Menotti, de 78 anos, deu sua opinião sobre o eventual descaso da atual seleção argentina com Gabriel Batistuta. El Batigol revelou semana passada que metade dos jogadores não lhe deu bola quando foi visitá-los no vestiário em partida das Eliminatórias.

''Se acontecesse comigo o que aconteceu com o Batistuta, eu não falaria, jamais criaria esta polêmica. Para quê falar este tipo de coisa em um momento tão delicado?'', questionou El Flaco Menotti na noite de ontem (11) à Rádio Uno, de Buenos Aires. ''Os atletas estão lá para jogar uma partida e estão com a cabeça em outra coisa. Para jogadores deste nível, em plena função de trabalho, me parece irrelevante quem está por ali ou não. Ou antes ou depois da partida. Não importa. Eles estão ali trabalhando. Uma vez estive no vestiário da seleção cumprindo minhas rotinas e nem sabia quem estava por ali. E era o meu filho'', afirmou.

''Tenho admiração pelo Batistuta, mas este não é um comentário para se fazer. Ele esteve muito longe do futebol, disse que não gostava mais do futebol. E disse com sinceridade, mas são coisas que geram certo distanciamento. Você se distancia, você se aproxima e ainda quer o quê? Ser bajulado, aplaudido, reconhecido?''

A opinião do ex-treinador vai na contramão da maioria. Diego Maradona, por exemplo, disse que ''teve vontade de chorar'' ao saber do desprezo a Batistuta.

Menotti voltou a atacar a AFA: ''O que fizeram com o Bauza foi uma hipocrisia. Meu sonho era que o Patón jogasse tudo para o alto, batesse forte a porta e fosse embora''. E defendeu os jogadores: ''De que lugar eles podem ser os responsáveis pelo que acontece? Não entendo. Foram eles que levaram a seleção às finais''.

El Flaco deixou também uma frase para reflexão: ''Querem administrar o futebol como um negócio, mas o futebol é outra coisa. O futebol é do mundo da cultura''.


Reviravolta: Simeone dribla Sampaoli e pode assumir a seleção argentina já
Comentários 15

Tales Torraga

Patón Bauza tropeçou na língua e caiu. Desde ontem à noite, não é mais o técnico da seleção argentina, e a escolha certa por Jorge Sampaoli ganhou uma novidade comemorada em Buenos Aires: Chiqui Tapia e Marcelo Tinelli, presidente e secretário da AFA encarregados da escolha do novo treinador, vão aproveitar a gira pela Espanha no fim desta semana para ouvir El Cholo Diego Simeone sobre suas pretensões de assumir a Argentina. E o blog apurou que as chances de Simeone dizer ''sim'' são muito maiores que semanas atrás.


Tudo porque o cunhado de Diego, o preparador físico Carlos Dibos, que trabalhou na seleção de 2006 a 2008, escancarou na TV há dez dias as razões da recusa de Simeone em assumir a equipe. Segundo seu cunhado, havia uma forte influência especialmente de Mascherano na lista de convocados, algo que El Cholo não concordava e preferia passar longe. Dibos surgiu depois de anos de anonimato, e suas intenções ao revelar tais bastidores foram bastante questionadas – quase duas semanas depois, as razões estão bem claras. Sua entrevista serviu para preparar o terreno para Simeone e alertar a opinião pública sobre tais condutas na seleção.

A Argentina está obviamente enfraquecida pela falta de resultados, e as condições para Simeone assumir como técnico agora são muito mais favoráveis e aprovadas pelo torcedor: será sobre uma folha em branco, algo que a nova AFA terá de bancar frente aos líderes entre os jogadores – simplesmente Messi e Mascherano.

Pois são Messi e Mascherano os maiores aliados de Sampaoli na chegada à equipe pós-Patón, o que deixa a associação em uma estrada de mão-dupla e sem saber muito bem o que fazer. Com Sampaoli está tudo entre o encaminhado e o acertado, mas há o dissabor de arcar com uma multa rescisória de 1,5 milhão de euros – algo que com Simeone, segundo o que o blog soube, não seria tão complicado.

El Cholo tem contrato com o Atlético até junho de 2018, mas sua saída exclusivamente para a seleção custaria só um terço deste valor de Sampaoli. Simeone é, óbvio, um técnico de maior renome que El Pelado Sampa, mas sua cifra seria menor por uma dívida de gratidão do clube com o seu magnífico trabalho.

Soa estranho – mas se não fosse assim, a AFA nem chegaria perto dele.

A atual Liga dos Campeões também não seria um entrave para Simeone. Se o ''Aleti'' for à final, como no ano passado, o técnico ficaria amarrado ao clube até 3 de junho, assumindo a Argentina logo na semana seguinte, frente ao Brasil do 100% Tite, no amistoso do dia 9, em Melbourne (Austrália).

Sampaoli, enquanto isso, espera.

A nova AFA, sob o trabalho de Tapia e Tinelli, vai buscar Simeone também como uma resposta para a imprensa e para a torcida. Se El Cholo recusar, a escolha por Sampaoli, hoje inegavelmente o segundo treinador argentino mais importante na Europa, estaria plenamente justificada. Se Simeone aceitar, haverá uma suavização das finanças e o começo de um novo ciclo – que seria realmente histórico e com o selo de vanguarda, algo que a associação está desesperada para agarrar.

Esta sanha dos dirigentes por mudanças é também um enorme trunfo caso Simeone tome as rédeas da Argentina para si e resolva antecipar o desafio que define como ''o sonho de sua vida'': comandar seu país em uma Copa do Mundo.

E o Mundial da Rússia no ano que vem teria um quê ainda mais épico.

A Copa de 2018 é enxergada por toda a Argentina como a última da carreira de Lionel Messi, que terá 31 anos durante a competição.''Faça um penteado para a foto'': é esta a brincadeira da capa do jornal ''Olé'' desta terça em Buenos Aires reforçando as chances de Simeone no lugar do careca Sampaoli, que jamais comandou clubes na Argentina – este é o principal argumento daqueles que são contrários à sua contratação.

Simeone treinou River, Racing, Estudiantes e San Lorenzo – onde trabalhou com o excêntrico Tinelli, daí a porta escancarada para o encontro dos próximos dias.


Pagar três técnicos ao mesmo tempo: o custo da atual desorganização da AFA
Comentários 3

Tales Torraga

Edgardo Bauza vai ser demitido hoje – quem lê o blog sabe que ele deu adeus ao cargo já no dia seguinte à partida contra a Bolívia em La Paz.

A ironia extrema da sua saída é que a AFA, mergulhada em crise e sem dinheiro, vai provar de sua própria desorganização ao buscar a vaga para a Copa do Mundo tendo que cobrir as despesas de três treinadores.

A associação ainda não quitou suas dívidas com Tata Martino, dispensado em agosto, e seus colaboradores processaram a AFA pedindo US$ 3 milhões.

O dinheiro de Bauza é menor, mas igualmente custoso para os cofres da associação. Patón vai exigir que lhe seja destinada integralmente a multa prevista em contrato, algo em torno de US$ 900.000.

E há também o custo que vai gerar a contratação de Sampaoli. Para sair do Sevilla, a multa de rescisão é de 1,5 milhão de euros. Os valores que a AFA calcula para manter sua vinda são igualmente altos – uma cifra razoável é que toda sua comissão técnica custaria cerca de R$ 1 milhão por mês.

Em crise em campo e pagando três treinadores ao mesmo tempo. De novo: a Argentina está flertando com o desastre. Ela participa de todas as Copas do Mundo desde 1974. Mas a Rússia 2018 é uma grande ameaça a esta sequência. Sem Messi e a partir de hoje, oficialmente, sem treinador. Duro, eh?!


Por que desconfiar do “apoio” da AFA a Bauza
Comentários 5

Tales Torraga

Que ninguém leve muito a sério o discurso de Chiqui Tapia, presidente da AFA, sobre o futuro de Edgardo Bauza à frente da Argentina. Se prefere garantir o treinador para a opinião pública, nos bastidores a conversa com Patón tem outros tons – o de negociar/forçar a sua saída sem pagar os US$ 900.000 de rescisão.

É este o selo da nova AFA: contrariar, diante dos microfones, o que os próprios dirigentes falam quando os mesmos estão desligados.

Seria esta a versão portenha do ''pós-verdade''?


As opiniões dos dirigentes sobre o trabalho de Bauza nos oito jogos até aqui são negativas, e há o que muitos em Buenos Aires chamam de ''operação desgaste'' para forçar seu pedido de demissão e se livrar da multa por dispensá-lo. A estratégia é assegurá-lo em frente às câmeras e detoná-lo nos bastidores para que ele sinta a pressão da imprensa e da torcida e pegue seu boné mediante a explosão da opinião pública ser muito contrária à sua permanência, como reforçado agora.

Seu valor de rescisão é um dinheiro que a AFA gostaria de economizar, até por ter recebido anteontem uma ação judicial dos ajudantes de campo de Tata Martino pedindo US$ 3 milhões em pagamentos que não foram feitos.

O jornal ''Olé'' publicou nesta quinta (6) que a tática da nova AFA também é economizar ao máximo na contratação do novo treinador – e que os próximos compromissos, apenas em junho, ajudam a Associação neste objetivo.  Embora Sampaoli seja o nome preferido tanto da AFA quanto de Messi e Mascherano, não está descartada a possibilidade de alguma opção diferente – e mais barata – ser colocada em prática. A saída de Pelado Sampa do Sevilla custaria cerca de 1,5 milhão de euros, outra quantia que vai custar para sair dos cofres da Associação.

Nos últimos dias, um nome que ganhou muita força no noticiário foi o de Marcelo Gallardo, do River Plate, que vem declarando que não pensa em sair do clube.

O ''La Nación'' tampouco acredita na continuidade de Bauza. Diz que o espaço até a próxima reunião, na semana que vem, sem data definida, é propício para aumentar a agonia do treinador e desidratar suas forças para seguir no cargo.

Patón não está disposto a ceder. A AFA não está disposta a seguir com ele. Enquanto isso, o tempo passa. Com Messi suspenso e o treinador sob suspense. A Argentina flerta com o improviso – e logo com o desastre. E tudo isso pode sair mais caro que os processos e as rescisões: ver a Copa do Mundo da Rússia pela TV.

* Atualizado às 20h30: Há instantes, Bauza convocou uma entrevista coletiva para a segunda-feira. Será para anunciar os motivos da sua saída? Não há outra razão que justifique um convite formal à imprensa. Vem aí um novo (e longo) fim de semana de suspense e rumores, muchachos.


Batistuta lamenta frieza de vestiário argentino: “Nem me deram bola”
Comentários 41

Tales Torraga

Comandante de ataque dos últimos títulos da Argentina, Gabriel Batistuta fez uma revelação que está dando o que falar em Buenos Aires nesta quarta-feira (5).

Ele contou qual foi sua experiência ao visitar o vestiário da seleção em uma partida das Eliminatórias no ano passado: ''Entrei e a metade nem me deu bola. Houve certa frieza. Foi assim. Encarei como algo de geração, eu com esses garotos não tenho nada a ver'', afirmou Batigol ao canal de TV TyC Sports. ''Gostaria que tivessem me cumprimentado, não por quem eu sou, mas sim porque alguma vez joguei ali, no lugar deles, e dividi este ambiente.''

Segundo maior artilheiro da história da seleção argentina, só superado no ano passado por Lionel Messi, Batistuta ainda tentou colocar panos quentes na polêmica: ''Não acho que os garotos tenham me desrespeitado, eles simplesmente não sentiram nada especial. O Bilardo foi um dos técnicos que ganharam a Copa com a Argentina, quis ver um jogo e não lhe deram entradas. Isso sim é uma barbaridade'', concluiu Batistuta, de 48 anos e hoje apaixonado por golfe – disputar torneios na modalidade toma grande parte do seu tempo em Buenos Aires.


Rival do São Paulo encarou o Boca na Bombonera e já foi assaltado em treino
Comentários 2

Tales Torraga

A classificação no Argentino – 22º entre 30 times – chega a enganar. O Defensa y Justicia que às 19h15 de hoje enfrenta o São Paulo pela Sul-Americana é um time difícil de ser batido. E vem de provar isso exatamente contra o líder Boca Juniors, que suou muito para vencê-lo por 1×0 no último sábado em plena Bombonera.


O Defensa chegou a brigar pelo título do Argentino anterior, quando era comandado pelo ex-técnico de hóquei Ariel Holan, hoje no Independiente. O desempenho da equipe – sem posições fixas e com jogadores atuando em múltiplas funções –  ganhou elogios até de Javier Mascherano, que citava o clube da cidade de Florencio Varella, na província de Buenos Aires, como uma versão a ser copiada.

A saída de Holan desmantelou a equipe hoje dirigida por Sebastian Beccacece. Ex-ajudante de Jorge Sampaoli na seleção chilena, tem apenas 36 anos e um marcante look argentino, de cabelos longos e lisos. É tido como um dos galãs do futebol no país e competente treinador da nova safra. Suas equipes se caracterizam pelo toque de bola e pela velocidade. Dos 13 gols marcados pelo Defensa no Argentino, dez saíram dentro da área, sendo quatro de cabeça.


A essência do toque de bola faz com que o artilheiro da equipe no Argentino seja o meio-campista Stefanelli, com quatro gols em dez partidas jogadas. No ataque do Defensa há uma grande promessa: El Tanque Kaprof, 22 anos, cria do River que está emprestado ao clube para ganhar rodagem.

A campanha do Defensa y Justicia no Campeonato Argentino é de 5 vitórias, 5 empates e 7 derrotas em 17 partidas jogadas. São 17 gols sofridos (média exata de 1 por jogo) e 13 marcados. O grande líder da equipe em campo é o ex-seleção Jonás Gutiérrez, descrito com brilhantismo pelo colega Menon neste perfil aqui.

Nada brilhante foi o quilombo que o Defensa atravessou no mês passado. Enquanto treinava, a equipe teve sua sede invadida por ladrões armados que fizeram a limpa nos objetos dos jogadores, levando dinheiro, celulares e até um carro.

O São Paulo leva vantagem na questão campo. O estádio do Defensa y Justicia é um caldeirão insuportável para o adversário onde só cabem 8.000 pessoas.

A partida desta quarta vai ser em Lanús, a cerca de 20 quilômetros da sede do clube, com uma pressão infinitamente menor vinda dos 47.000 lugares das arquibancadas – muitas delas provavelmente vazias, em que pese ser a estreia internacional do Defensa y Justicia em sua história.