Patadas y Gambetas

O novo sonho de Maradona: “Quero aprender a ser simples”
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Tales Torraga

Quieto e bem diferente dos velhos tempos, Diego Armando Maradona, 56, está lutando contra os maus hábitos e buscando ser alguém melhor. Já avô, o ídolo mais rebelde da Argentina – quem diria! – agora se estimula a viver de maneira ''zen''.

O velho Diegote – Fifa/Reprodução

Quem acompanha Maradona nesta cruzada contra a loucura é sua filha mais velha, Dalma, 30. Atriz de TV e teatro em Buenos Aires, ela é adepta do ''mindfulness'', técnica de meditação que prioriza a atenção plena, a consciência e a noção da consequência dos atos. A prática virou a febre da Argentina nos últimos anos.

Com a ajuda do celular, Dalma introduziu a técnica na vida de Diego, que procura seguir à risca o que a filha lhe passa. Deu tão certo que o ex-craque resolveu pedir ajuda a um instrutor especializado para acompanhá-lo nos Emirados Arábes, onde Maradona trabalha hoje como técnico do Al Fujairah.

Órfão de pai e mãe, solteiro e vivendo sozinho, Maradona foi obrigado a olhar para si com uma atenção plena – de fato.

Sua saúde está muito debilitada pela vida de excessos, e hoje ele recorre com frequência aos remédios para dormir. Segundo Dalma, é por isso que Maradona fala tão enrolado quando dá entrevistas depois de tomar uma taça de vinho – a bebida é um ritual para Diego desde os tempos de Napoli.

''Meu pai diz que o sonho da vida dele é aprender a ser simples'', disse Dalma à TV argentina KZO. ''Ele sempre fala que viver tranquilo seria mais difícil que largar as drogas. Sempre que conversamos, digo: pai, não estamos tranquilos agora? O que te falta para aprender a ser assim sempre? Não estamos bem? Vamos seguir.''

Maradona, aos poucos, diminuiu sua presença no noticiário de escândalos da Argentina. As recentes acusações contra ele, como o suposto assédio sexual a uma jornalista na Rússia, também se desfizeram bem mais rápido que antes.

Pai de cinco filhos (dois reconhecidos tardiamente) e avô de Benjamín, de oito anos, Diego tem mesmo muitas razões para viver simples e longe das confusões.

Seu patrimônio foi dilacerado em inúmeros litígios e ele se sente, hoje, na obrigação de prover um sustento farto para a prole. É esta a razão de Maradona abraçar inúmeras funções no seu clube, na Fifa e como garoto-propaganda de marcas parceiras da entidade – como a Hublot, que no ano passado o juntou com Pelé.

O ''Maradona paz e amor'', porém, não vem à tona por iniciativa própria.

A mudança de conduta surge na esteira do brusco rompimento de relações que as filhas impuseram a ele. Diego chegou a dar com o nariz na porta no fim do último ano e não pôde ver o neto. O afastamento ocorreu justamente para Maradona se dar conta do sofrimento que afetava a família com sua bebida e com suas brigas.

Maradona sim se deu conta – e, segundo seu entorno, se esforça para não recair e não sair de perto do neto que o leva para todos os lados, até para o balanço.

Avô é avô. Nos Emirados Árabes, na Argentina e no Brasil.

Reprodução Instagram @gianmaradona

 


Os bastidores da escandalosa saída de Centurión do Boca
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Tales Torraga

Atual campeão argentino, o Boca Juniors está em pré-temporada no Paraguai. O elenco completo e o corpo técnico estavam à espera de Ricardo Centurión quando explodiu, no domingo, o enésimo escândalo do jogador em uma balada.

Centurión fala em coletiva – C5N/Reprodução

Desta vez, Ricky – como Centurión é chamado em Buenos Aires – foi indiciado por agredir e ameaçar de morte um jovem depois de uma briga na qual ele, Centurión, precisou sair escoltado e encapuzado para não ser linchado na porta da casa noturna Capítulo I, em Lanús, na província de Buenos Aires.

A madrugada foi re caliente: amigos e amigas do jogador distribuíram golpes, cusparadas e otras cositas más aos presentes. Óbvio que teria consequências.

A primeira delas foi causar a enorme fúria de Guillermo Barros Schelotto, técnico do Boca e responsável pela volta do jogador às pressas da Itália para a Argentina. Centurión já havia feito exames médicos e estava para se juntar ao elenco do Genoa, quando voou muy apurado a Buenos Aires para assinar, na segunda-feira, o contrato com o Boca – e na sequência partir para o convívio paraguaio com os demais jogadores e com os gêmeos Schelotto, os técnicos do clube xeneize.

Guillermo perdeu a paciência. Em uma reunião às pressas com Daniel Angelici, presidente do Boca, na segunda-feira, disse que deixaria o assunto com os dirigentes e que não se comprometeria mais com o comportamento de Centurión. Em resumo: Centurión conseguiu fazer com que Schelotto, um dos personagens mais caprichosos, manhosos e marrentos da Argentina, voltasse atrás em uma decisão sua. Isso dá a real dimensão do que houve nas negociações seguintes.

Alejandro Mazzoni, representante de Centurión na Argentina, foi chamado por Angelici, e o encontro entre ambos nesta segunda durou apenas dez minutos. De acordo com o empresário, o presidente afirmou que precisaria conversar com Schelotto – o famoso ''jogo de empurra''. Nesta terça de manhã, Angelici, segundo a versão de Mazzoni, entrou em contato e reforçou que da parte do Boca as negociações pelo jogador estavam encerradas. Ele que voltasse ao Genoa.

Volvé a empezar, Centu! – Reprodução/Olé

Peça-chave para entender a história, Schelotto havia firmado um pacto com Centurión durante o período na Itália. Ambos trocaram mensagens assegurando que o convívio seria pacífico depois da incorporação do jogador, e que ele seria ''atleta do Boca 24 horas do dia''. Guillermo só não contava que Centurión caísse na farra antes de assinar o contrato e se juntar ao elenco. Centurión, pobre, não entendeu: a medida disciplinar deveria ser seguida assim que ele tocasse o solo argentino – e não somente quando começasse a trabalhar com o grupo.

Schelotto cortou contato com Centurión imediatamente depois da balada – daí a raivosa carta publicada pelo jogador nesta terça. Ricky seguiu o manjado discurso de falar de todos os outros – até a situação social argentina foi abordada em sua mensagem -, mas sem reconhecer que sua conduta é, de fato, assustadora.

(''Soltaram minha mão'', escreveu Centurión, admitindo que ainda é uma criança que precisa se segurar em alguém para atravessar esta enlouquecida avenida chamada vida argentina. Tem 24 anos, recebe milhões? Pois segue sendo uma criança que não sabe o que faz. Un nene, un pibito, un chiquilín que não tem ideia do sofrimento que impõe a si e aos outros com tamanha inconsequência.)

Brigar em boates, ser acusado de dirigir embriagado, bater o carro em alta velocidade na madrugada, ser indiciado por agredir e desfigurar a ex-namorada, posar com armas, vazar nudes, ser contido pelos colegas para não brigar na concentração, dizer que pararia de jogar se não seguisse no Boca.

Centurión fez de tudo – de ruim – em sua passagem pelo Boca. Mesmo com o clube sendo famoso pelas permissões às estrelas, a ponto de determinado momento da história ser chamado de ''Bocabaret'', os dirigentes perceberam que não valia a pena comprar um problema. Muy talentoso e útil em campo, é verdade, mas uma pessoa individualista e indomável em ainda maiores proporções.

O blog apurou que Centurión, apesar de tudo, segue com portas abertas no Genoa.

O clube tem interesse em contratá-lo por 6 milhões de dólares (R$ 19 milhões) e confiar que o jogador, longe de tanta loucura, vai se concentrar em jogar bola e render – esportivamente e economicamente – o que a equipe espera. Ninguém no entorno do jogador considera uma volta ao São Paulo, embora todos estejam chocados com o desfecho da história do atleta com o Boca e não descartem nada.


O dia em que Waldir Peres quase perdeu a orelha na Argentina
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Tales Torraga

Grande goleiro, Waldir Peres foi também a prova viva do quanto os brasileiros sofriam para enfrentar os times argentinos na Libertadores.

Em uma das ocasiões em que esteve em Buenos Aires, Waldir Peres quase ''ficou sem orelha'', como nos contou certa vez, chorando de rir.

O jogo que Waldir sempre detalhava aos chegados era a final de 1974, quando o São Paulo visitou o Independiente, então quatro vezes campeão da América. O Rojo era o bicampeão vigente, ganhador da Copa em 1972 e 1973.

O São Paulo venceu de virada a primeira partida daquela final – 2×1 no Pacaembu, gols de Pedro Rocha e Mirandinha para o Tricolor (e de Saggioratto para o Rojo).

A segunda partida foi na casa do Independiente, a Doble Visera, em Avellaneda, com 55.000 fanáticos, borrachos y locos superlotando os espaços.

Logo aos 9 minutos, Waldir tomou a pedrada que abriu sua cabeça e exigiu a ida ao vestiário para costurar e enfaixar a cabeça. Tomaria mais uma, no segundo tempo, de um pedaço de concreto, perto da orelha, agressão que Waldir sempre repetia – com ar moleque e certa dose de exagero – quando lhe perguntavam sobre as intimidações sofridas naquele tempo. ''Bolinha de gude, pau, cimento, os argentinos jogaram de tudo em mim. Não tinha punição, o juiz não parava o jogo, só tinha expulsão quando praticamente matavam um'', contava o ex-goleiro.

Waldir repetia sempre que levara outras pedradas, mas as paralisações do árbitro uruguaio Ramón Barreto foram duas – foi esta também a quantidade que publicou a ''Folha de S.Paulo'' no dia seguinte à final.

Aproveitando que o São Paulo não contava com seu goleiro 100%, o Independiente ganhou em Buenos Aires por 2×0, gols de Bochini e Balbuena.

Waldir embarcou para o jogo-desempate de Santiago com a cabeça ainda enfaixada, como mostra a histórica foto do ''Jornal da Tarde''.

Três dias depois, não teve pedrada e não teve torcida selvagem. Em campo neutro e contando com um verdadeiro timaço, o Independiente venceu o São Paulo por 1×0 no Estádio Nacional – gol de Pavoni -, conquistando o penta.

A soberania argentina na Libertadores neste tempo era a maior da história.

Em 1974, suas conquistas eram nove (cinco com o Independiente, três com o Estudiantes e uma com o Racing), contra quatro do Uruguai (três do Peñarol e uma do Nacional) e duas do Brasil, ambas com o Santos de Pelé, em 1962 e 1963. O país voltou a ganhar a competição em 1976, com o Cruzeiro de Palhinha e Raul.


Folga
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Tales Torraga

Até o dia 24!


Opinião: E quem disse que a Libertadores dos anos 60 e 70 não existe mais?
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Tales Torraga

E deu River Plate em um dos jogos mais loucos e violentos da história recente da Libertadores. O Defensores del Chaco viu um faroeste digno do nome. O Guaraní e o time portenho repartiram patadas do minuto 0 ao 90 – e com todos os lamentáveis ingredientes que dão à Libertadores essas cores tão intensas quanto amadoras.

Pinola divide com os jogadores do Guaraní – Olé/Reprodução

Intensa porque terminou com oito cartões amarelos e com o River jogando com uma estratégia muy clara: Vai me bater? Eu te bato mais. Uma rinha de galo com os de Núñez reativando as armas e o ambiente que fizeram a Argentina saltar na tabla de campeões com tantos títulos e tanto escândalo nos anos 60 e 70.

A vitória do River por 2×0 em Assunção começou com diversas agressões verbais entre os presidentes – fruto da animosidade mútua pelo doping que abalou o clube de Buenos Aires e fez o Guaraní falar abertamente até em sua exclusão da Copa.

A Libertadores ''anos 60 e 70'' seguiu com Chilavert (¡El Gordo Chila, por favor!) trocando tapas com a torcida do River em pleno voo Buenos Aires-Assunção.

A grande suspeita da dopagem argentina voltou a aparecer com a divulgação, no meio do jogo, de que todo o River, todos os 18 jogadores, seriam chamados para um antidoping surpresa depois da partida, o que causou outro escândalo entre os dirigentes, pois a volta à Argentina certamente seria adiada com esta novidade.

A Libertadores varzeana atingiu o ápice às escuras, com o apagar das luzes do Defensores del Chaco segundos depois do 1×0 do River, gol do estreante Scocco.

A bola entrou e a luz apagou. Coincidência fatal. Una locura.

Neste apagão, segundo a Rádio Rivadavia, de Buenos Aires, os torcedores do Guaraní partiram para cima do presidente e dos dirigentes do River, outra maluquice sem fim, com o plus infernal da polícia paraguaia distribuindo agressões entre os 10.000 fanáticos do Millonario que estavam em Assunção.

O Brasil chora e ameaça sair da Libertadores. A Argentina nesta situação saca tudo o que tem de dentro. Tanto a violência intrínseca quanto a força interior (alguns chamam de arrogância) para controlar a partida e ganhá-la, como ganhou por 2×0 – Larrondo, outro ex-Rosário, fez o segundo. Ele, do Central; Scocco, do Newell's.

A Libertadores de fato é tão bruta e antiquada quanto horizontal. Ninguém escapa. Quem entra em campo assume estar preparado para o que de há de mais sinistro.

(''Sinistra'' é uma boa definição para a arbitragem do uruguaio Andrés Cunha, o mesmo que validou o gol de mão do Peru contra o Brasil na Copa América. Que este Guaraní x River tenha terminado com 22 homens em campo é uma aberração só possível mesmo em uma Libertadores tão sangrenta quanto arqueológica.)

O passaporte é mero detalhe. A Argentina, rainha desta Copa, maior campeã disparada, comeu o pão do diabo em Assunção (cidade-sede da Conmebol!).

E venceu como vence em 90% das situações assim.

Quer ser esperto e áspero e ganhar no grito e na guapeza de um time argentino?

Melhor nascer de novo, pibe.

Não precisa falar de mimimi, nem de Nutella, nem de ''ódio ao futebol moderno''.

Só um pouco de coerência em saber o que é lícito e o que é sujo en la cancha.


Boca quer cansar o São Paulo na negociação por Centurión
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Tales Torraga

''Quando a gente se apressa, paga mais caro. Os anos te dão a vantagem de saber que o mercado de passes termina só em 27 de agosto. Não vamos nos pressionar pela imprensa e pela ansiedade de ver quem os rivais estão contratando.''

A frase de Daniel Angelici, presidente do Boca Juniors, em entrevista ao diário ''Olé'' nesta segunda-feira (3), é um sinal bem claro também ao São Paulo, que viu neste fim de semana o fim do empréstimo de Ricardo Centurión ao clube portenho.

O São Paulo pede 6,3 milhões de dólares (cerca de R$ 20,16 milhões) por Centurión. O Boca aceita pagar 5 milhões de dólares (R$ 16 milhões) pelo jogador para tê-lo em definitivo, mas a preferência do clube xeneize é por um novo empréstimo até o fim do ano.

A negociação com o São Paulo também foi abordada na conversa com o ''Olé'': ''Eles [o São Paulo] dizem que só aceitam vendê-lo, mas nós vamos voltar a conversar''. Assim, sem reticências, sem detalhar muito uma tática que o presidente do Boca vem adotando também como diretor da AFA. Foram os constantes adiamentos e a famosa ''empurrada com a barriga'' que fizeram a associação economizar importantes milhões na saída de Jorge Sampaoli do Sevilla.

A semana passada contou também com a forte circulação do rumor de um novo escândalo extra-campo de Centurión. Irritado pela música na festa para os jogadores do Boca em uma boate no bairro de Palermo, ele teria saído na mão com o DJ  ele e o Boca negaram tudo.

A sempre bem-informada ESPN portenha chegou a cravar que o clube, com este novo episódio, sairia oficialmente das negociações por Centurión – mudança de rumo que o presidente Angelici nega pessoalmente com esta entrevista ao ''Olé''.

A relação entre Angelici e Sampaoli na AFA é também um trunfo para o Boca.

O treinador da seleção é um admirador confesso do futebol de Centurión, e só mesmo uma grande reviravolta vai impedir que ele seja convocado nas próximas listas armadas pelo Pelado Sampa. A possibilidade do chamado é 1) um enorme motivo para o jogador se disciplinar; e 2) uma turbinada no valor futuro de negociação definitiva, seja Centurión pertencendo ao Boca ou ainda ao São Paulo.


O que a Argentina ensina ao Brasil com o jogo de despedida de Cavenaghi
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Tales Torraga

O Monumental de Núñez vai explodir às 16h (de Brasília) deste sábado na despedida de Fernando Cavenaghi do River Plate. Maior ídolo recente do clube, El Cavegol, de 33 anos, vai, sem exagero, parar a Argentina sempre chegada a emoções, dramas e festas que celebrem histórias de amor – do time que for.

Para ter ideia: o jogo vai começar só às 19h30 e será transmitido pela TV aberta em horário nobre, pela tradicional emissora Telefe.

Haverá, antes da partida propriamente dita, uma extensa programação com shows, vídeos e surpresas que certamente vão entrar para a história do futebol argentino.

O adeus do Cavegol – River Plate / Divulgação

As despedidas argentinas são sempre um prato cheio para as lágrimas e, claro, para os bons negócios. Basta lembrar do adeus a Maradona, Palermo e Ariel Ortega, para ficarmos apenas e tão somente só em três nomes.

Este sábado é uma data bastante propícia para o Brasil aprender com a Argentina como pensar e executar uma despedida emocionante e lucrativa.

Já houve, sim, um avanço com as partidas realizadas com Marcos, Rogério Ceni e Marcelinho Carioca – mas parece haver não um país, mas sim um mundo de distância na maneira como cada país cultua seu ídolo e se despede dele na cancha.

Veja seis pontos que explicam bem esta diferença.

DATA PERFEITA. Sábado à tarde, no intervalo entre as temporadas. A festa de Cavenaghi não será num dia de semana ou numa data que não tenha a ver com o futebol. Será na tarde-noite de sábado para a festa invadir o fim de semana e facilitar para fãs, jogadores e demais profissionais. A lista de convidados é recheada exatamente por isso. Ortega, Aimar, Francescoli, Chori Dominguez, Astrada, Hernán Díaz, Sorín, Demichelis, Placente, Ponzio, Ledesma, Saviola, Mercado, Vangioni, Lanzini, Maidana, Alario, Rojas e Batalla são alguns dos que estarão.

RENDA RECORDE. A multidão esgotou os ingressos em apenas três dias, assim que as entradas começaram a ser vendidas em maio. E elas eram bem salgadas: 350 pesos (R$ 70), mais caras que a de um clássico normal.

O Monumental tem uma capacidade oficial de 61.688 pessoas. Embora não admita oficialmente, é praxe que o clube comercialize uma quantidade superior a esta por ser um evento festivo e no qual as pessoas se aglomeram com amizade. E se há uma coisa que o argentino aceita com amizade é se aglomerar. Basta ver as imagens das despedidas anteriores de Alonso, Francescoli e Ortega no Monumental – não é absurdo pensar que havia até 80.000 pessoas ali.

NEGÓCIOS PARALELOS. Quem for a Núñez poderá, por exemplo, fazer tatuagens com o rosto de Cavenaghi. Quando Ortega se despediu, houve um livro de fotos que foi um grande sucesso de vendas. Cavenaghi hoje tem uma grife, a FC9 – FC de Fernando Cavenaghi. Os produtos, claro, poderão ser comprados nesta tarde. Há também sempre a possibilidade de o clube incorporar oficialmente algum jogador de passado recente pela equipe – foi mais ou menos o que fez o São Paulo com a volta de Lugano, incentivada também pela despedida de Rogério Ceni.

FESTA PERSONALIZADA. Cada ídolo se despede de uma forma – e isso deixa o evento sempre especial. A Palermo deram as traves da Bombonera. A Ortega fizeram, por exemplo, um show especial do roqueiro Andrés Calamaro, seu amigo. A Maradona foi permitida a volta olímpica na Bombonera com suas duas filhas.

Bandeirão da torcida para Cavenaghi – Arquivo pessoal

EXPRESSÃO CULTURAL. A despedida de Cavenaghi já tem música própria, e ela é linda, além de um filme satirizando a ocasião, com todo o know-how argentino em cinema, e bandeiras, cartazes e outras coisas que fazem o torcedor interagir com o ídolo e com o clube (e com a hashtag #CaveNoSeVa).

MENTALIDADE DE ÍDOLO. Se no Brasil há a queixa de que os clubes não formam mais ídolos, que o êxodo recente impede a ligação jogador-clube-torcedor, na Argentina há exatamente o contrário. Os jogadores deixam o clube, mas seguem identificados a eles de tal forma que sempre há uma chance para retornar ao time e à Argentina. Cavenaghi e seus três ciclos no River são um excelente exemplo.

Na Argentina vigora muito forte a mentalidade do jogador crescer e colocar para si a meta de ''fazer a partida de despedida no clube X, do qual é torcedor''. Algo para poucos. E Cavenaghi é merecidamente um deles.

Crescer sonhando em jogar no Barça, no Real, no Manchester?

¡Somos Argentina, muchachos, queremos River, Boca, Rojo, Racing, Central, Nils e Ciclón, olvídate!


Por que o casamento de Messi jamais será como o de Maradona
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Tales Torraga

E chegou a grande noite. A Argentina só fala do ''casamento do ano'', o de Lionel Messi e Antonella Roccuzzo em Rosário, cidade onde ambos nasceram, cresceram e se conheceram – justamente onde darão o ''sim'' nesta sexta (30).

Além de esmiuçar absolutamente tudo o que envolve a cerimônia, outra grande particularidade da cobertura na imprensa portenha é ressaltar as diferenças deste casamento de Lio e Anto, La Pulga e La Negra, com o que viveram Diego Armando Maradona e Claudia Villafañe em 1989 – outro ano prévio à Copa, a da Itália, em 1990, algo que se repete agora com o Mundial da Rússia em 2018.

Reprodução / Revista Gente

A cerimônia de Maradona foi em 7 de novembro de 1989 em um lugar ''onde só lá caberia o seu ego'', como dizem os portenhos mais maldosos. Foi simplesmente no Luna Park, ginásio famoso por lutas de boxe, jogos de basquete e shows de rock.

É difícil imaginar um casamento mais nababesco.

A festa contou com 1.200 pessoas, com toda a seleção argentina campeã do mundo de 1986 e o time do Napoli, que teve inclusive a presença de seu presidente, Corrado Ferlaino.

Os principais ausentes foram Fidel Castro e Carlos Menem. Maradona alugou um avião para transportar 250 pessoas da Itália para Buenos Aires – entre elas estava Silvio Berlusconi e o então presidente da Federação Italiana, Antonio Matarrese.

Julio Grondona, presidente da AFA, também estava lá, assim como estrelas de rock, como Fito Páez, e da televisão, como a apresentadora Susana Giménez.

A diferença da lista de convidados é gigantesca. Enquanto Maradona recebeu 1.200 pessoas, o casamento de Messi em Rosário terá 260 convidados e muito pouco, quase nada, do jet set europeu e argentino.

Outros interessantes detalhes resgatados do casamento de Maradona é saber que a decoração contou com 4.200 plantas e que 120 operários trabalharam para criar uma cascata gigante que oferecesse o efeito especial que Maradona tanto insistiu.

Mais um inusitado detalhe exigido por Diego –  a parede aparentar mármore.

Os convidados chegaram pela movimentadíssima Avenida Corrientes – travada em um operativo de segurança e uma verdadeira comoção popular para se aproximar de lá. Mal comparando, seria como se tal cerimônia ocorresse na Avenida Paulista.

A relação de Maradona e Claudia terminou oficialmente em 2003, e há um forte litígio entre os dois desde 2015. As últimas declarações de Maradona sobre Claudia são fortes. Ele a trata publicamente como ''ladrona'', o que choca até mesmo uma Argentina tão acostumada às trocas de farpas.

Chocante foi também o que pediu o então técnico da Argentina, Carlos Bilardo.

No casamento de Maradona, ele praticamente exigiu que todos os seus zagueiros dançassem ao redor do atacante Careca, amigo de Diego no Napoli.

O treinador queria ver de perto a diferença de estatura entre eles para decidir quem escalar quando enfrentasse o Brasil –  como de fato enfrentou, na Copa de 1990.

E não é que Bilardo escalou uma defesa inédita justamente naquelas oitavas contra o Brasil, com Monzón, Ruggeri e Simón?


Argentina terá “esquadrão de elite” na Libertadores de 2018
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Tales Torraga

Nada de Atlético Tucumán, Lanús ou Godoy Cruz.

A Argentina classificada para a Libertadores de 2018 vai se caracterizar pelo ''ferro forte'' que as suas grandes equipes levam a campo nas competições internacionais.

Encerrado na noite desta terça, o Campeonato Argentino definiu seus cinco classificados à Copa de 2018: Boca Juniors, River Plate, Estudiantes de La Plata, Racing e o surpreendente Banfield, que desbancou San Lorenzo e Independiente e ficou com a quinta vaga, a que dá espaço na pré-Libertadores.

Montagem/Olé

Convém repassar a cor local do ''esquadrão de elite'' argentino da Copa-2018:

– O Boca tenta resistir ao assédio europeu em cima das suas principais figuras: os atacantes Pavón e Benedetto dificilmente chegariam à próxima Libertadores. Há boa expectativa de manter Centurión. E vez ou outra surge a possível volta de Tevez, hoje no futebol chinês. Improvável. Garantida mesma será a pressão enlouquecedora da Bombonera que está furiosa por não comemorar nenhuma Libertadores nos últimos dez anos.

– O River ocupa a cabeça com a atual Libertadores – e segue forte com chances de título, em que pese o escândalo de doping da semana passada. O clube acertou a volta do experiente goleiro Germán Lux e da contratação do excelente zagueiro Javier Pinola, ex-Central. Nacho Scocco é outro que pode surgir, na vaga de Driussi, vendido para o Zenit-RUS. Outro nome que aperece com força é o volante Enzo Pérez, do Valencia. Maxi Rodríguez também vem sendo sondado.

– O Estudiantes sobreviveu ao pesadelo que foi a eliminação na Copa Argentina para o Pacífico, da Quarta Divisão. O time vai seguir apostando em sua base. Para isso, é essencial tentar reter os dois grandes nomes do momento, Santiago Ascacibar e Bautista Cascini. Carece de jogadores experientes e de um técnico com mais bagagem – há desconfiança sobre o atual técnico, o uruguaio Gustavo Matosas, ex-jogador de São Paulo, Goiás e Atlético-PR.

– O Racing surpreendeu e garantiu a vaga direta. É um time bem armado na mão do técnico Diego Cocca, um dos mais tranquilos e agradáveis de se ouvir da Argentina. Precisa se recompor da saída do atacante Gustavo Bou, agora no Tijuana-MEX. Mas contará, de novo, com o Cilindro pegando fogo em suas inesquecíveis noches de Copa.

***

O contingente argentino na Libertadores-2018 será reforçado pelo campeão da Copa Argentina, que garantirá vaga direta na fase de grupos da competição continental no ano que vem. Se o campeão da Copa Argentina for algum dos clubes argentinos já classificados, a vaga fica para o time na posição seguinte no mata-mata nacional.

As outras possibilidades de representantes argentinos participarem da Libertadores do ano que vem são em caso de título do River na Libertadores deste ano. Com o clube já garantido em 2018 via campeonato nacional, uma das vagas seria do Independiente, sexto no torneio argentino.

Há também a possibilidade de classificação do campeão da Sul-Americana: Huracán, Arsenal, Independiente, Defensa y Justicia, Atlético Tucumán e os já assegurados Estudiantes e Racing são as equipes argentinas vivas na competição.


Rival vai pedir para River ser desclassificado da Libertadores por doping
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Tales Torraga

Adversário do River Plate nas oitavas-de-final da Copa Libertadores, o Guaraní, do Paraguai, vai apresentar à Conmebol nesta semana uma solicitação para o clube argentino ser desclassificado da competição. Foi o que adiantou o capitão da equipe, o uruguaio Marcelo Palau, à rádio Belgrano.

Palau criticou muito o escândalo detonado na semana passada em Buenos Aires: ''Estamos bastante descolocados, principalmente com a maneira como o assunto foi manejado. Primeiro era um, depois dois [jogadores], logo seis ou sete e alguns que nem haviam sido sorteados. Vai ser uma bagunça quando sair a punição. Se a pena for grande, imagine o que o River vai dizer. E se não for uma pena grave como se supõe, as demais equipes vão reclamar demais'', declarou.

“A ideia do Guaraní é pedir uma pena deste tipo e passar de fase sem jogar, mas não me parece realista que a Conmebol tome uma decisão tão drástica contra uma equipe como o River'', reconheceu o jogador, reforçando o discurso do sempre explosivo Chilavert. El Gordo Chila cravou semana passada que o River mandava na Conmebol, e a equipe deveria ser justamente excluída da Libertadores.

O regulamento da Confederação que prevê a eliminação de uma equipe por doping está estabelecido no artigo 41, mas a possibilidade vale para mais de dois testes positivos em um mesmo time – o River foi comunicado de dois até o momento, o zagueiro Martínez Quarta e o lateral/volante Camilo Mayada. Houve fervor na imprensa portenha de que seriam sete casos, o que não foi oficializado até aqui.

Diego Benítez, um dos diretores do Guaraní, foi outro a atacar o clube argentino: ''O River está protegido pela Conmebol. Estamos impressionados com a rapidez em que subiram de três para seis trocas na lista de jogadores justo no dia do doping”.

O time de Núñez se defende dizendo que o aumento das trocas foi permitido também na Sul-Americana – e um dia antes de ser anunciado na Libertadores.

É esperada uma conversa oficial entre Conmebol e River nesta segunda-feira para definir se há outras notificações de doping e se a participação do clube argentino na Libertadores está ameaçada.

Enquanto isso, Buenos Aires, claro, arde com a polêmica envolvendo o River.

O Boca, em sua comemoração de título neste domingo na Bombonera, teve como grito de guerra um ''E quem não salta / Se drogou''.

Lamentável, mas até então, normal. Todos sabem que, mais que rival, o Boca nutre um verdadeiro ódio pelo River. O mais absurdo nesta história é que o animador oficial contratado pelo clube para puxar este cântico era Ari Paluch, alguém que se define no Twitter como jornalista e…difusor espiritual.

Para provar que nem tudo está perdido:

1 – Advogados e torcedores do Boca vão pedir para Ari ser expulso do quadro de sócios para ''preservar a honra e o bom nome do Club Atletico Boca Juniors''.

2 – Marcelo Gallardo ontem à noite abriu sua entrevista coletiva parabenizando o ''justo e merecido'' campeão Boca Juniors.

Em meio ao ódio e à intolerância, um bem-vindo sinal de paz.