Patadas y Gambetas

O Independiente já é campeão. Só falta erguer a taça

Tales Torraga

Nada de Boca, River ou Lanús. O time argentino que vai terminar 2017 se sentindo um campeão é o Independiente, do genial técnico Ariel Holan. Desfigurada depois de tantos fracassos e desmandos, a equipe que mete a pata hoje no Maracanã tem muito mais do Independiente glorioso dos anos 70 que da lamentável versão pirata do clube que perambulou pela Segunda Divisão três anos atrás.

E é impossível separar Holan deste renascimento.

Técnico só há dois anos (!), ele já é olhado como o melhor da Argentina na arte de lidar com os egos. Nem Gallardo e muito menos Schelotto chegam perto. Holan não tem nenhum craque. Mas tem nas mãos o elenco mais unido do futebol platino.

O vislumbre de Holan ocorreu ainda em janeiro, quando dispensou os medalhões El Tanque Denis e Cebolla Rodríguez. Percebeu que precisava de sangue fresco e novos líderes. Trouxe Walter Erviti (ex-Boca e Banfield) e Emmanuel Gigliotti (outro ex-Boca). Ambos não foram titulares logo de cara – e Erviti ainda hoje não é. Mas criaram sempre soluções, e não problemas. A grande virtude de Holan é germinar um excelente ambiente de trabalho, onde todos se sentem importantes. Grupo horizontal. Não há ordem de valores.

Um grande exemplo vem da camisa 9. Gigliotti, Leandro Fernández e Lucas Albertengo têm nível semelhante e fazem grande rotação. O que prevalece é o bem comum. Com Holan, sempre joga quem está melhor. Ele cansa de repetir que todas as posições estão abertas, e que são os jogadores que a conquistam nos treinamentos. Qualquer um, do primeiro ao último, lutam por um lugar.

Outro reserva que merece ser citado é o goleiro Damián Albil, de 38 anos, quando muito escalado como terceira opção. Pois é ele um dos grandes líderes deste Independiente, um tipo amado pelos colegas, especialmente os mais jovens, que encontram nele o confidente ideal antes das decisões.

Holan, claro, fez questão de levar 1000% do elenco ao Rio. Mesmo os que ainda não jogaram na temporada estão por lá. O treinador foi além. Convidou os grandes nomes do emblemático Independiente para acompanhar a equipe no Maracanã. Um deles, o atacante Daniel Bertoni, campeão da Copa do Mundo da Argentina em 1978, mal desceu do avião e pediu para tomar caipirinha. Pura onda.

Holan (dir.) com os ídolos do Independiente rumo ao Rio: Bochini, Bertoni, Santoro e Pavoni – Arquivo

É este o espírito do Independiente nesta quarta-feira (13) de final. Ganhando ou perdendo para o Flamengo, já voltou a se sentir grande, uma conquista equivalente às mais importantes da sua história.

Mas que ninguém imagine outra coisa que não um time alucinado e louco de vontade de não deixar a Copa escapar. ''Somos Independiente, um time ganhador e de perna forte'', falou Holan, em êxtase, antes de chegar ao Rio.

Na sua camisa, acima do coração, estava escrito ''1905 – Rey de Copas''.

Impossível não respeitar.