Patadas y Gambetas

Ingressos para a final encalham em Buenos Aires
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Tales Torraga

Ao menos antes do começo, a final da Libertadores da América, às 17h30 (de Brasília) deste domingo (9) no Santiago Bernabéu, está sendo tomada em Buenos Aires como o ''amistoso mais caro'' descrito por Juan Román Riquelme. E uma prova disso é que tanto River Plate quanto Boca Juniors sequer conseguiram vender as 5 mil entradas que cada clube teve à sua disposição na capital argentina.

Desta vez, nem todo o fervor portenho pelo futebol foi capaz de fazer o River x Boca caber no bolso. Os ingressos à venda em Buenos Aires custavam 120 euros (4.500 pesos ou R$ 532), mas a viagem toda, com transporte e hospedagem, estava calculada em R$ 10.000, um valor realmente inviável até para os mais fanáticos.

A versão oficial divulgada por Boca e River indica que cerca de 3 mil ingressos (do total de 10 mil) serão devolvidos, mas o blog apurou que o volume é maior, com um encalhe de ao menos 40% das entradas.  A Conmebol tanto ficou surpresa com esta baixa procura que agora não sabe o que fazer. Há duas alternativas: colocá-las à venda em Madri ou destiná-las aos convidados europeus.

Na Espanha, foram disponibilizadas exatas 50 mil entradas, com metade para cada clube. Ainda há ingressos para ambos. Os sócios do Real Madrid tinham direito a uma carga (fora deste montante) de 7 mil ingressos. Todos se esgotaram em poucas horas, abrindo logo a seguir a inevitável revenda nas redes sociais.

A carga total para a decisão é de 72 mil ingressos, com farta distribuição aos convidados europeus, que respondem agora por cerca de 15 mil entradas.


River x Boca: técnicos se desentendem e tornam final ainda mais tensa
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Tales Torraga

Para quem acha o blog certas vezes exagerado e dramático – como se esta não fosse a principal maneira de se comunicar na Argentina -, convém publicar as primeiras frases da principal matéria de esportes do jornal ''La Nación'' que circula em Buenos Aires nesta terça-feira (4) fresquita e ensolarada:

''O River tem sangue nos olhos e a veia a ponto de explodir. Ainda que não tenha os seus protagonistas empunhando um microfone, a torcida já deixou isso claro no Monumental disparando contra a barra, a Conmebol e Mauricio Macri. E dois referentes também passaram a demonstrar isso: primeiro, o ''vem jogar'' do seu presidente Rodolfo D'Onofrio para o seu par Daniel Angelici, e logo Marcelo Gallardo, compungido em sua última conferência de imprensa.''

Os semblantes amigáveis de Gallardo e Schelotto na primeira final, na Bombonera – Telám/Reprodução

É este o clima do completo panorama assinado pelo jornalista Juan Patricio Balbi Vignolo. E em meio ao volume de hostilidades alertado ontem, pode-se acrescentar também a recente rixa surgida entre Marcelo Gallardo, técnico do River, e Guillermo Barros Schelotto, o comandante do Boca.

Embora ambos nunca tenham sido amigos, o respeito e os bons modos sempre prevaleceram na relação. Ela sempre pôde ser mais tensa do que de fato foi. Mas agora parece ter tomado um caminho totalmente contrário e irreversível.

O blog confirmou o que o ''La Nación'' publicou: Gallardo está realmente possesso com a postura de Schelotto. O comandante do River considera que a final só chegou à situação atual porque o clube de Núñez estendeu a mão e não quis ampliar os problemas esportivos do Boca naquele lamentável e agressivo sábado no Monumental. Caso o River se afastasse das dificuldades xeneizes, o título seria conquistado por WO, avaliam os dirigentes e também Gallardo.

A sensação de ''traição'' e ''facada pelas costas'' predomina com força pelo lado vermelho e branco. O River não consegue interpretar de outra maneira o seu gesto de solidariedade com os jogadores do Boca. As conversas frente a frente no gramado deixaram claro que a partida seria jogada em igualdade de condições. Mas o clube xeneize nem bem saiu do Monumental e correu para o tapetão.

Gallardo está ''mastigando bronca'', como dizem os argentinos. Mediante a sua recente tensão, quem o acompanha de perto não consegue imaginar um cumprimento entre ele e Schelotto no gramado do Santiago Bernabéu. Tudo totalmente diferente dos sorrisos e da cordialidade que caracterizaram a relação entre os dois desde os tempos de jogador.

A mudança de postura entre ambos os comandantes ficou clara nas últimas declarações. Enquanto Gallardo atacou com força a marcação da final em Madri (''Uma vergonha total''…), Schelotto foi condescendente (''Não me cabe opinar, a decisão está tomada e vamos trabalhar com ela.''). Um detonou; outro, acatou.

O ''La Nación'' é preciso na última constatação:

''O River tentará diminuir as suas tensões e os seus nervos para aproveitar ao máximo as suas condições. Ao mesmo tempo, Gallardo sabe que o sangue nos olhos será uma ferramenta a mais para tirar a energia necessária dos seus comandados em Madri. A mensagem é clara: Boca, Boca, Boca, é este o foco''.


Análise: hostilidade entre River, Boca e Conmebol pode gerar batalha campal
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Tales Torraga

Como os jogadores de Boca Juniors e River Plate vão se tratar no gramado do Santiago Bernabéu às 17h30 (de Brasília) deste domingo (9)? Como os zagueiros do River vão responder às farpas de Carlitos Tevez (''Nos agrediram e não vieram nos ver''…) e de Pablo Pérez (''Eu não vou jogar onde podem me matar'')?

Pelo desgaste demonstrado por ambos os lados, a superfinal da Libertadores virou um ''superestorvo'' que perdeu qualquer clima positivo depois de um mês de insanidades que certamente vai virar um filme ou livro em um futuro bem próximo.

Mas antes de falar da obra final, convém situar o que aconteceu ontem (2) no Monumental de Núñez, quando o River ganhou do Gimnasia por 3 a 1 (dois gols de Borré e um do juvenil Moya) com a torcida re caliente, pendurando as bandeiras de cabeça para baixo e cantando o jogo todo contra a sua própria barrabrava.

Um Monumental de bandeiras viradas (menos as barras…) – TN/Reprodução

O clima geral era um liquidificador de depressão, angústia e melancolia, e o indignado técnico Marcelo Gallardo não aliviou na hora de disparar forte na entrevista pós-jogo: ''Mandar a Copa Libertadores da América para 10.000 quilômetros de distância é uma vergonha total'', fuzilou o Muñeco, que levantou suspeitas sobre o comportamento do Boca, dando a entender que os jogadores e os dirigentes quiseram tirar vantagem dos fatos desde a infame virada à direita do seu ônibus.

O rifle verbal de Gallardo esteve acionado como nenhuma outra vez nesses seus quatro anos y pico como técnico do River:

''Roubaram o nosso torcedor. Hoje fomos nós, amanhã podem ser outros. Tínhamos que jogar no Monumental, nas mesmas condições em que fomos a La Boca. Roubaram o torcedor de uma possibilidade única. A decisão não pode ser mudada, mas sinto a mesma indignação que a nossa gente, que perdeu a possibilidade de ver o seu time no seu estádio. Perdimos la localía, muchachos…”.

Pelo lado do Boca, que venceu o Independiente por 1 a 0 também neste domingo em pleno Libertadores da América, com um gol de Cardona, em partida marcada por muitos erros de arbitragem em favor do clube xeneize, o técnico Guillermo Barros Schelotto teve um tom mais condescendente, mas igualmente negativo:

''Te quema la cabeza! Preparo a revanche há 30 dias, há 60 dias preparo a final…''.

Os jogadores e técnicos estão cansados e com os nervos em frangalhos. O clima em campo deve ser o mais ríspido possível, seja pelo inconformismo geral pela decisão parar em Madri ou pela postura do adversário, seja ele atleta, técnico, dirigente ou presidente. Querem convidar o Papa para ver a final no Bernabéu. Seria ótimo, pois o último capítulo deste interminável River x Boca está cada vez mais parecido com o trecho do famoso rock ''9 de Julio'', da banda Callejeros:

''Otra vez, otro Boca River que termina a las piñas arañando al final''

Só mesmo por um milagre papal os jogadores não vão arranhar a decisão terminando a las piñas. Saindo na mão e descarregando uns nos outros esta frustração acumulada durante todo o mês. Não seria nem de longe a primeira vez em um River e Boca. Tampouco a última.


Novos desfalques complicam o River diante do Boca
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Tales Torraga

Depois de perder seu mando de campo para a final da Libertadores, os problemas do River Plate aumentaram com o surgimento de novos desfalques em seu elenco. O atacante colombiano Borré está suspenso e é baixa garantida. E há três lesionados que dificilmente serão utilizados, os atacantes Mora (quadril), Scocco (panturrilha) e o meia Quintero (também panturrilha). Dos três, só Scocco era baixa certa no Monumental no último sábado.

O técnico Marcelo Gallardo continua suspenso e precisará acompanhar a partida nas tribunas do Santiago Bernabéu no próximo dia 9.

Agora é fácil dizer, mas as pedradas, que ironia, acabaram ajudando o Boca.

O atacante Pavón, que seria desfalque em Núñez por um estiramento, desta vez poderá jogar. O volante Pablo Pérez já recuperou o olho ferido e também terá condições de atuar. Quem precisa de um pouco mais de cuidado é o também atacante Wanchope Ábila, com uma sobrecarga muscular, mas ele a princípio não deve ser desfalque.

Espera-se nova comoção em Buenos Aires com as duas equipes neste final de semana, pois ambas as torcidas poderão se despedir dos clubes com as partidas do Campeonato Argentino.

O River, porém, já definiu que escala reservas às 22h20 (de Brasília) de domingo (2), no Monumental, diante do Gimnasia, seu algoz na semifinal da Copa Argentina, na última quarta. O Boca joga antes: 20h20 (de Brasília) também de domingo, enfrentando o Independiente em Avellaneda, mas está habilitado a levar a sua torcida, em uma medida que ainda está em dúvida pelo fato de o Independiente já ter vendido as entradas que seriam correspondentes aos xeneizes.

O técnico Guillermo Barros Schelotto vai poupar Pérez e Jara (atacados no ônibus) e Pavón e Ábila (para não comprometer suas recuperações), mas o time que deve encarar o Rojo é forte: Andrada; Buffarini, Izquierdoz, Magallán e Olaza; Nández, Barrios, Gago e Villa; Tevez e Benedetto.

Uma preocupação do Boca para a decisão é a falta de ritmo – seu time titular, afinal, atuou pela última vez no dia 10, no 2 a 2 da primeira final realizada na Bombonera, quase um mês antes deste 9 de dezembro que decidirá a Libertadores.

Esta é a razão pela qual Schelotto prefere colocar grande quantidade de titulares neste domingo. O caso do River não é muito diferente. Vai poupar atletas agora, mas já os usou na quarta-feira diante do Gimnasia pela Copa Argentina. A partida terminou 2 a 2 e o Gimnasia se classificou nos pênaltis.

O goleiro Armani (falhou nos dois gols) e Lucas Pratto (desperdiçou uma cobrança com uma cavadinha) foram os destaques negativos da equipe, que agora só disputa a Libertadores 2019 em caso de título na atual edição.


Para mudar desfecho da Libertadores, Macri vira a casaca e se alia ao River
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Tales Torraga

A negativa do Boca Juniors em disputar a segunda final da Libertadores tem desde a noite de sábado (24) um opositor muy pesado: trata-se ninguém menos de Mauricio Macri, presidente da Argentina e histórico ex-mandatário do clube xeneize.

Mauricio Macri e Rodolfo D'Onofrio – Montagem/Olé

Constrangido com o profundo golpe na imagem da Argentina, ainda mais às vésperas do G20, Macri tem sido uma peça das mais ativas nos bastidores desta caótica Libertadores. Na noite de sábado, ele e Daniel Angelici, atual presidente do Boca, conversaram e chegaram a um acordo para que a partida fosse disputada no domingo. A posterior recusa de Angelici de entrar em campo surpreendeu – e irritou – o atual homem forte da Argentina, que pela primeira vez, desde a sua posse, em 2015, passou a divergir do clube que comandou entre 1995 e 2007.

O resultado da dissidência entre Macri e Angelici? A surpreendente aproximação entre o presidente argentino e Rodolfo D'Onofrio, mandatário do River. Ambos alinharam o discurso e entraram em contato com a Conmebol para demonstrar, na noite desta terça, as garantias necessárias de segurança para a segunda partida voltar a ser disputada no Monumental de Núñez.

Macri, assim, diminuiria o papelão causado pela incapacidade geral no último sábado; e o River, óbvio, manteria os seus ganhos financeiros e a igualdade esportiva que uma decisão em Núñez representaria.

Apesar de obviamente atenciosa com o pedido de Macri, a Conmebol por enquanto se mantém firme em sua negativa: a partida será mesmo realizada fora da Argentina. Caso o Boca mantenha sua posição de não entrar em campo e pedir os pontos no TAS (o Tribunal Arbitral do Esporte), ficará isolado de uma maneira que pode vir a ser insustentável, tanto para o desfecho da atual Libertadores quanto para as suas relações historicamente férteis com esta presidência da Argentina.

Nesta quarta (28), D'Onofrio voltou a acusar o Boca de faltar com a palavra, mas desta vez usou um tom muito mais irônico: ''Venham jogar, vocês podem ganhar, não somos tão bons assim'', disse, entre outras bravatas. O discurso mais áspero foi detectado como um claro sinal de que o clube de Núñez conta agora com um respaldo inédito para atingir o seu objetivo. Não é para menos: o triunvirato River, Conmebol e Macri exige a realização da segunda partida.

Resta saber os próximos passos do Boca neste enlouquecedor jogo de xadrez que segue provando que o cotidiano argentino supera qualquer ficção.


Miami, Catar e Assunção: as possíveis sedes da final da Libertadores
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Tales Torraga

Depois do anúncio da Conmebol de que a final da Libertadores vai acontecer no dia 8 ou 9 de dezembro, e que não será realizada na Argentina, a dúvida que fica agora é sobre onde a partida vai acontecer – se é que vai acontecer, mediante a recusa do Boca Juniors em entrar em campo. O blog apurou que a entidade trabalha com três possibilidades para a decisão: Miami, Catar e Assunção.

Miami e Catar ofereceram cifras que despertaram interesse na Conmebol – vale lembrar que a seleção do Catar foi convidada para disputar a Copa América de 2019, reforçando o elo entre o órgão e o país. O interesse por Miami vem da possibilidade de se abrir uma frente de negócios, enquanto Assunção atenderia às facilidades logísticas que a entidade teria no Paraguai, onde fica a sua sede.

De acordo com a Rádio La Red, de Buenos Aires, a polícia paraguaia já foi acionada para organizar o operativo para a eventual final. Tal informação foi veiculada também pelo canal de TV TyC Sports.

Somente depois da escolha da sede é que será definido se a partida contará com público ou não. No caso de Miami ou Catar, a AFA se comprometeria a impedir a viagem dos barrabravas, enquanto a possibilidade favorita na escolha por Assunção é a disputa da partida com os portões fechados.

O River deixou a reunião irritadíssimo com a postura do Boca e com a perda do mando de campo. O time enfrenta outra dificuldade com a sua agenda: disputa a semifinal da Copa Argentina nesta quarta (28), contra o Gimnasia, e em caso de ir à decisão, enfrentaria o Rosario Central provavelmente já neste domingo (2). Seu elenco chegaria à final da Libertadores desgastado e arriscado a lesões. O técnico Marcelo Gallardo já cogita usar reservas em ambos os jogos da Copa nacional.

Pelo lado do Boca, havia uma outra preocupação: por maus-tratos aos médicos da Conmebol nos vestiários do Monumental, Tevez, Pablo Pérez e Wanchope Ábila poderiam ser suspensos e perder a finalíssima. Tal possibilidade deixou de existir ao longo da tarde, sendo revertida em uma multa a ser divulgada.


Para River, chance de título do Boca no tapetão é zero
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Tales Torraga

O River Plate viaja para a reunião que vai traçar o desfecho da Libertadores, nesta terça (27), com total segurança de que não há chances de o Boca Juniors ficar com o título no tapetão. O blog apurou que o clube de Núñez está seguro de que o lugar onde ocorreu o ataque será o suficiente para a Conmebol isentar o River de qualquer responsabilidade no lamentável episódio.

O ônibus do Boca foi alvejado no cruzamento das avenidas Libertador e Lidoro Quinteros, a oito quadras do Monumental. O River garante ter em mãos todo o operativo de segurança traçado para a decisão, e que no documento que será apresentado ficará claro que a zona onde houve a agressão estava sob responsabilidade das forças federais, e não do clube.

O River vai usar também as declarações dos comandantes pelo efetivo policial, que já assumiram publicamente as suas falhas no sábado.

De acordo com o clube de Núñez, o caso não se compara à noite do gás pimenta em 2015, quando o ataque aos seus jogadores ocorreu na saída do vestiário da Bombonera, e não a oito quadras do estádio.

Outra diferença com relação ao confronto de três anos atrás, válido pelas oitavas de final da Libertadores, diz respeito ao resultado. Segundo o River, a partida – que não teve o segundo tempo disputado – foi suspensa com o 0 a 0 vigente, e a vaga nas quartas foi obtida pelo 1 a 0 na partida de ida. Não houve desclassificação do adversário e vitória do River por 3 a 0.

Como o Boca quer usar o caso de 2015 como exemplo, será alegado pelo clube de Núñez que as situações não podem ser equiparadas. Uma partida (a do Monumental) sequer começou. E a outra (a da Bombonera) foi suspensa quando se iniciava o segundo tempo.

Uma reflexão interessante que circula hoje em Buenos Aires é a de Ricardo Roa, editor do ''Clarín'', o principal jornal da Argentina. Para ele, a decisão não ser disputada foi, enfim, algo positivo. Uma sorte. O estádio estava em tamanho colapso que seria impossível não ocorrer uma tragédia, com título do River ou do Boca. O blog assina embaixo. Muitos torcedores viraram a madrugada nas imediações do Monumental, com elevadíssimo consumo de álcool e drogas, e as primeiras invasões ao estádio ocorreram antes mesmo de os portões serem abertos ao público, às 13h (de Buenos Aires, 14h de Brasília).

Tal situação de loucura será alegada pelo Boca em sua defesa, por supuesto.


River alega traição do Boca, e ‘racha’ tem consequências imprevisíveis
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Tales Torraga

O acordo de cavalheiros assinado pelos presidentes de River Plate e Boca Juniors para adiar a final da Libertadores neste sábado (24) não durou nem 12 horas. O blog apurou que a diretoria do River está se sentindo profundamente traída pelos cartolas do Boca, que na tarde deste domingo esclareceram que não querem jogar uma nova final, e sim pedir o título nos tribunais, além de defender uma punição ao River pela violência nos arredores do Monumental de Núñez.

Daniel Angelici, presidente do Boca, instantes depois do ataque adotou o discurso de que as ''finais se ganhavam e se perdiam em campo''. Na madrugada, ele escutou dos jogadores, da comissão técnica, da diretoria e dos sócios do Boca que a final não deveria ser disputada, em uma equivalência ao que acontecera na noite do gás pimenta em 2015, quando o River foi atacado pela torcida do Boca na saída do vestiário da Bombonera. Daí o seu recuo. ''Não sou o dono do Boca. Sou o presidente e devo defender os interesses daqueles que me cercam no clube'', disse.

O River considera que a mudança da postura dos xeneizes é injusta, pois não houve nenhuma pressão exercida para se jogar nem no sábado e nem neste domingo. ''Nós dormimos'', resume, desde o lado vermelho e branco, a leitura da solidariedade prestada ao Boca nas últimas horas. Alegam que oferecer a mão ao Boca só poderia ter tais consequências, questionando se o melhor a se fazer era realmente o que foi feito. Caso o River se apresentasse para jogar normalmente, o Boca corria o risco de ser declarado perdedor por não estar em campo.

A relação entre as duas equipes está profundamente quebrada, e a próxima reunião, marcada para a sede da Conmebol em Assunção, nesta terça, deve ampliar ainda mais a distância entre as instituições, fazendo com que um sentido comum seja cada vez mais difícil de ser atingido.

Entre os dirigentes de ambos os clubes, já circula a possibilidade de que a final seja em 8 de dezembro – antes disso, seria impossível pelo G-20 que será realizado em Buenos Aires até o dia 1º. Outra possibilidade ventilada pelos clubes é que a decisão ocorra em Montevidéu ou Santiago, com portões fechados.

O jornal ''La Nación'' deste domingo relatou que Angelici e Rodolfo D'Onofrio, presidente do River, trocaram gritos e xingamentos durante a tarde de caos no Monumental, mas que ambos se acalmaram e chegaram, em bons termos, à decisão conjunta anunciada na noite de sábado. E como será a relação entre ambos daqui por diante? Até os mais próximos não sabem o que responder.

Por fin: pelo lado do Boca, alega-se que o River nesta Libertadores sofreu no tapetão com o Racing (pelo caso Zuculini), com o Grêmio (pelo caso Gallardo) e agora vai ser pressionado pelos xeneizes pela emboscada ao ônibus dos jogadores.

Como favorecimento ao clube de Núñez, o Boca alega até a ausência do uso do VAR na voadora do zagueiro Pinola ante o atacante Benítez, do Independiente, nas quartas de final, em plena área de defesa. Se o árbitro de vídeo fosse acionado, os xeneizes consideram que o defensor do River seria expulso e que seria anotado um pênalti em favor do Independiente.

Ou seja: o River foi contestado nas oitavas (pelo Racing), nas quartas (pelo Independiente), na semi (pelo Grêmio) e agora na decisão contra o Boca.

O título é o de menos. A Libertadores 2018 está manchada para sempre.


Caos argentino deve seguir neste domingo
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Tales Torraga

* Atualizado às 8h03 (de Brasília)

* Há uma queda de braço na concentração do Boca já nas primeiras horas deste domingo para decidir se o time se apresenta para jogar ou não. A Conmebol diz ter um documento assinado pelo presidente xeneize, Daniel Angelici, garantindo se apresentar para a partida. Mas Angelici está sendo pressionado pelos advogados e pelos jogadores – Tevez à frente – para o time pedir os pontos nos tribunais.

* Resta saber se esse pedido será feito antes da partida ou se o time vai se apresentar para jogar sob protesto.

* Houve um enorme número de roubos em casas e carros nas adjacências do colapsado Monumental – difícil imaginar que tal cenário não vai se repetir com uma nova superlotação na partida deste domingo.

* O efetivo policial no estádio foi de 2.000 policiais. Mesmo assim, torcedores com ingressos foram cercados e roubados, e houve constantes invasões ao longo da tarde. O excesso de gente foi a razão de a prefeitura interditar o Monumental – o que será revertido, a princípio, com o pagamento de uma multa por parte do River.

* O clube, porém, se vê na complicadíssima função de organizar um novo acesso para o público, que vai precisar apresentar as entradas válidas para ontem. Convenhamos: é o cenário dos sonhos para baderneiros e falsificadores.

* A polícia insiste que a emboscada ao ônibus do Boca foi um ataque premeditado dos barrabravas do River que se viram excluídos dos ''negócios paralelos'' gerados por esta final. Resta saber se haverá esta comprovação ou se é um puro despiste para tapar a total ineficiência do comboio de segurança até a chegada ao estádio.

* Quem lê o blog nesses três anos não se surpreendeu em nada com o que aconteceu neste sábado. Ontem mesmo já alertávamos que as altas esferas do país temiam algo do tipo ou até pior.

Um desborde monumental – Clarín/Reprodução

* E de pensar que o presidente Mauricio Macri defendia a presença dos torcedores visitantes nesta decisão. O operativo de segurança não garantiu a sobrevivência de um único ônibus, o dos jogadores. Jamais estaria apto a garantir o fluxo dos fanáticos.

* O que não funcionou neste sábado vai funcionar neste domingo? O que não funcionou neste sábado, sem um jogo propriamente dito, vai resistir à loucura de ter um ganhador e um perdedor de uma final de Libertadores da América?

* E depois da partida, nas ruas da cidade, como será?

* É neste país barrabrava que os homens e mulheres mais poderosos do mundo estarão nesta semana no G-20. Será que estarão mesmo?

* O clima está péssimo. O nível de agressividade está altíssimo.

* Algo está mal. Muy mal.


Tevez ou Ponzio? Quem será o ‘novo’ Capitão América?
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Tales Torraga

Chegou o grande dia, aquele que vai marcar um antes e depois na história do futebol da Argentina. A épica decisão da Libertadores da América entre River Plate e Boca Juniors, a partir das 18h (de Brasília), no Monumental de Núñez, será também a última batalha entre dois grandes, enormes ídolos de River e Boca. Do lado vermelho e branco do campo estará o raçudo volante Leonardo Ponzio, enquanto o pícaro Carlitos Tevez, velho conhecido dos brasileiros, tentará a façanha de se despedir do clube dos seus amores com esta inesquecível conquista.

Ponzio e Tevez – Montagem/Diário La Voz

Embora rivais, ambos entram nesta decisão com muitos pontos em comum. O primeiro deles é a popularidade parecida perante os seus súditos. Número dois: a longa carreira. Ponzio, de 36 anos, é profissional desde 1999, enquanto Carlitos, de 34, corre atrás da bola desde 2001. São veteranos, de outros tempos e de outras culturas, bem mais aguerridas, o que obviamente se contrapõe aos milhões desembolsados na construção dos elencos com atletas jovens e de futuro europeu.

Os técnicos Marcelo Gallardo e Guillermo Barros Schelotto despistam, mas tanto Ponzio, o ''Rey León'', pela sua juba e pela sua entrega em campo, quanto Tevez, o ''Apache'', pelas suas origens humildes, devem ser titulares. Ponzio se recuperou de uma lesão e volta a campo depois de três semanas – sua última atuação foi contra o Grêmio, em Porto Alegre.

Reserva discreto do Boca durante toda a temporada, Tevez demonstrava, até a chegada das semifinais, que teria um fim de carreira melancólico – mas cruzar com o River em uma decisão o colocou em uma outra voltagem. Jogou bem nos 20 minutos em que esteve na Bombonera na primeira final e até armou um churrasco em sua casa com todos os companheiros nesta semana. Sua presença como titular é pedida a los gritos por toda a torcida.

Ponzio, não custa lembrar, é o capitão formal do River já há quase três anos. No Boca, quem carrega a tarja é o desajeitado volante Pablo Pérez; mas o comandante em campo, não resta dúvida, é realmente Tevez. E obviamente não se descarta que Carlitos, neste duelo tão importante, leve também a cinta de capitão, tamanha a sua representatividade para os colegas e para a decisão em si.

Por fin: o duelo entre os caciques é ainda mais saboroso pelo fato de nenhum dos dois seguir jogando em 2019. Tevez, desde o começo do ano, disse que se aposentaria caso conquistasse a Libertadores. Embora não tenha prometido nada a respeito, Ponzio sabe que não haveria oportunidade melhor para se despedir dos gramados do que com tamanho título sobre o rival de toda a vida. Ainda mais com a chance – para ambos – de jogar a final do Mundial de Clubes contra o Real Madrid no mês que vem.

Em caso de título, seria realmente para abandonar a carreira no ponto mais alto possível; em caso de derrota, seria para constatar que a idade elevada impede começar tudo de novo – e de novo… – em mais uma temporada.

Mais do que determinar o encerramento de um jogo, o apito final neste sábado no Monumental vai marcar o fim de uma carreira e cravar o início de uma lenda. Resta saber qual: se o ousado Tevez ou o discreto e disciplinado Ponzio. O principal troféu das Américas estará em boas mãos. O perdedor não deve arranhar a sua imagem de grande ídolo do clube, mas o ganhador será facilmente alçado à condição de deus (vide Maradona…) que muitos argentinos amam apregoar.