Patadas y Gambetas

Opinião: Adversário do São Paulo é motivo de piada
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Tales Torraga

O Rosario Central que enfrenta o São Paulo hoje (9) às 21h45 (de Brasília) no Morumbi está em profundo descrédito. O time azul y oro levou cuatro bifes no Campeonato Argentino nas últimas quatro rodadas, perdendo para River (2 a 0), Racing (2 a 0), Defensa y Justicia (3 a 1) e Arsenal (4 a 0).

O escárnio com o Central é tamanho que o programa de TV Fútbol al Horno, transmitido na Argentina pelo canal 26 aos domingos, levou um cover de Michael Jackson para dançar ''Moonwalker'' com a camisa do Central, ironizando a informação do programa de que os jogadores ''foram para trás'' e fizeram corpo mole para derrubar o técnico Leo Fernandez, substituído pelo interino José Chamot.

O time do Central é fraco para onde quer que se olhe. Está só em 19º no Argentino, e vale sempre a ressalva de que este é o Campeonato Argentino mais pobre dos últimos tempos. Os únicos jogadores que podem levar algum perigo à meta brasileira são os atacantes Marco Rúben e Germán Herrera (ele mesmo, o ''quase gol'', ex-Corinthians, Grêmio e Botafogo, que deve começar no banco).

Nem o volante Ortigoza merece muita menção. Está pesado como sempre e tem se machucado como nunca. Neste ano, já pediu para sair antes de o jogo começar.

É noite para rever o velho e aburrido cenário do time argentino trancado na defesa, picando o jogo, desferindo patadas e tentando o milagre numa única bola – ou, por supuesto, nos pênaltis. Se o São Paulo aprendeu mesmo a lição do vexame contra o Defensa y Justicia no ano passado, ganha e se classifica sem muita milonga.


Tevez e técnico vivem ‘guerra de egos’ e ameaçam futuro do Boca
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Tales Torraga

Ninguém na Bombonera acreditou quando Carlitos Tevez deixou o campo aos 13 minutos do segundo tempo para a entrada do pibe Gonzalo Maroni, de 19 anos. Boca e Unión estavam no 0 a 0 e o Boca precisava desesperadamente da vitória para encaminhar o seu bicampeonato no Argentino na noite deste domingo (6).

Tevez é substituído na Bombonera – Olé/Reprodução

Tevez foi o ''primer cambio'', como dizem os argentinos. Aquele que saiu primeiro. Sem ele, o Boca melhorou e encontrou os gols que precisava. Venceu por 2 a 0, dois gols de Wanchope Ábila, e deve dar a volta olímpica nesta quarta (9) contra o Gimnasia de La Plata, no Bosque. Um empatezinho e ya tá: xeneize campeão.

O título do Boca já era mais do que esperado; mas a debacle de Carlitos, não.

Ele parece uma outra pessoa ocupando o mesmo corpo, sem demonstrar jamais a faísca do jogador briguento e corajoso que sempre foi. Toca de lado, parece desinteressado, não chama a responsabilidade como nos seus bons tempos. A atitude do técnico Guillermo Barros Schelotto de tirá-lo de campo com ainda tanto por jogar foi muito sintomática. O jornal ''Olé'' escreve hoje que foi um golpe na mesa por parte do treinador. Carlitos não merecia seguir no gramado. O mesmo ''Olé'' qualificou a sua atuação diante do Unión com uma nota quatro – a pior de toda a equipe que teve Pavón (nota dez) e Ábila (nove) como destaques.

Tevez e Schelotto despistam e não tocam no assunto. Mas é Alejandro Fantino, amigo de longa data de Tevez, e hoje um dos apresentadores de rádio e TV mais famosos da Argentina, quem decifra o que está acontecendo. Segundo Fantino, há hoje no Boca uma verdadeira ''guerra de egos'' entre Tevez e Schelotto. Tevez quer ser reconhecido e mimado como ídolo. Schelotto, até para fincar posição como comandante e como ídolo do Boca que também foi, faz questão de tratá-lo apenas como mais um. Um fica de um lado, outro de outro. E não há aproximação sequer para um diálogo adulto que possa colocar as coisas em caminhos melhores.

O Boca é formado hoje por várias ''panelinhas'', segundo Fantino, que já antecipou vários movimentos da carreira de Tevez e é considerado em Buenos Aires praticamente como um porta-voz de Carlitos. A ''panela'' de Tevez é minúscula: ele só interage com Ábila. Os colombianos (Fabra, Cardona, Barrios e Péres) se juntam entre si, os demais (Pavón, Gago e o goleiro Rossi) fazem o mesmo e a vida azul y oro segue assim, tão complicada. De uma maneira pouco compreensível em qualquer lugar onde haja mais profissionalismo e menos gente fazendo beicinho.

Como a TV argentina insiste, Mauricio Macri adoraria ver o seu amigo Tevez na Copa do Mundo da Rússia. Mas a falta de ambiente de Carlitos é o grande álibi de Jorge Sampaoli para não levá-lo. Hoy por hoy, Tevez sequer merece ser titular do Boca, e sua saída neste domingo no momento mais bicudo, para entrar um pibito de 19 anos, é eloquente demais para que ninguém pense outra coisa.

Com 34 anos, Carlitos está muito mais perto da aposentadoria do que de qualquer outra conquista. Virou um triste móveis e utensílios onde já foi rei. O torcedor do Boca está tão aflito com o racha das suas estrelas – leia-se ''fracasso futuro na Libertadores'' – que nem tem tantas ganas de comemorar este título argentino.


‘Enfim feliz’, Batistuta vira estrela de TV na Argentina
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Tales Torraga

Gabriel Batistuta está com 49 anos. Mas quem o vê de perto pode até se enganar e pensar que ele ainda continua jogando e fazendo seus gols pela seleção argentina. Extremamente em forma e demonstrando estar de bem com a vida, ele participou de um concorrido lançamento nesta quinta (3) em Buenos Aires sobre a sua função nesta Copa do Mundo. Ele será apresentador do ''History Fútbol'', ciclo de programas que será levado ao ar pelo History Channel durante o Mundial.

Batistuta fala em Buenos Aires – History Channel/Divulgação

Os argentinos têm uma verdadeira fixação pelo History Channel. Como as programações da TV aberta geralmente resvalam na violência e no sensacionalismo, muitos daqueles que vivem em Buenos Aires se gabam de ver só o que passa no History. É por este contexto que Batistuta foi apresentado como uma verdadeira estrela da TV argentina para esta Copa do Mundo.

Sofrendo com uma série de dores nos joelhos e nos tornozelos depois de parar de jogar, há 13 anos, Batistuta hoje diz que está com o corpo em dia e que os tormentos físicos fazem parte do passado. Ele deu uma declaração surpreendente e até certo ponto improdutiva para quem vai apresentar um programa sobre futebol na TV. Ele simplesmente afirmou que não gostou de ter sido jogador.

''Eu sofria tanta pressão que me isolava do mundo e ficava somente naquilo. Hoje sim posso dizer que sou uma pessoa mais tranquila e que tem uma noção maior do que seja a felicidade'', afirmou.

Tal maneira exagerada de ser lhe causou um ''apagão'' depois da eliminação da Argentina na Copa do Mundo de 2002.

''Entrei no vestiário e vi tudo negro. Pensei que estava passando mal, mas foi decorrência de uma depressão profunda que me deixou péssimo por muitos dias. Não encontrava sentido na vida. Foi uma experiência feia. Terrível de verdade.''

Batistuta lança seu programa na Argentina – History Channel/Divulgação

O Batigol fez poucos comentários sobre a seleção atual e se esquivou em aumentar a polêmica sobre não ter sido cumprimentado ao visitar o vestiário da equipe em uma partida das Eliminatórias em Buenos Aires. Mas demonstrou muita confiança em um personagem pouco querido entre os brasileiros: Gonzalo Higuaín.

''Gosto da maneira como ele se move e cria oportunidades. Sempre defendi Gonzalo. Vi outros argentinos que jogam bem, mas que não o superaram. Pipita deu azar em uma situação ou outra, mas sigo confiando nele.''


De onde vem a paixão de Maradona por Rivellino?
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Tales Torraga

O canal de TV TyC Sports levou ao ar nesta quarta (2) em Buenos Aires um pequeno programa apresentando aos argentinos quem foi Roberto Rivellino – ou ''Rivelinho'', como os vizinhos insistem em chamar o lendário ''Patada Atômica'', que espalhou o seu brilho pelo Corinthians, pelo Fluminense e pela seleção brasileira.

Rivellino foi apresentado pelo TyC como o ''ídolo de infância de Maradona'', embora a afirmação exija um parêntese. O jogador que inspirou de verdade o jovem Dieguito foi Ricardo Bochini, do Independiente, bem mais presente no seu cotidiano. Mas Rivellino também teve seu papel no imaginário infantil do Pelusa, como Maradona era chamado quando menino pela sua cabeleira bagunçada.

Maradona e Rivellino no programa ''De Zurda'' na Copa de 2014 – Divulgação

O encantamento de Maradona com Rivellino nasceu, como não poderia deixar de ser, na Copa do Mundo de 1970. A Argentina não disputou aquele Mundial, sendo eliminada pelo Peru nas Eliminatórias em plena Bombonera.

Com a azul e branca fora da competição, coube à Argentina prestar atenção nas campanhas dos vizinhos Uruguai e Brasil. Maradona tinha nove anos naquela Copa realizada no México e não a viu ao vivo – o primeiro Mundial transmitido em tempo real na TV argentina foi o de 1974, mas vídeos esparsos sobre os jogos do mítico Brasil de 1970 ocupavam a programação dos canais de então.

A paixão de Maradona por Rivellino é tamanha que ele dedica sua autobiografia ''Yo Soy El Diego De La Gente'' ao brasileiro e o elogia de maneira efusiva no livro.

''Foi um dos maiores de todos os tempos, e quando eu digo isso as pessoas ficam surpresas. Não sei o porquê. Era a elegância e a rebeldia em pessoa para entrar em um campo de futebol. As coisas que me contam de Rivellino (tratado como ''Rivelinho'' todo o tempo) são incríveis. Ele também se rebelava contra os poderosos'', narra Diego.

''Me apaixonei pelo jogador e me seduzi pela pessoa quando o conheci. Na Copa de 1970, o Brasil nem treinava porque aquele time não precisava de nada para jogar. Rivellino estava com Gerson, quando apareceu Pelé. E Rivellino, que sempre tinha resposta para tudo, disparou: 'Você, Pelé, bem que gostaria de ser canhoto como a gente, não?'''

Maradona fez questão de cumprimentar Rivellino em duas ocasiões públicas no Brasil – em 1993, quando disputou um amistoso pelo Sevilla contra o São Paulo no Morumbi, e em 2000, também no Morumbi, quando Diego comentou a final da Libertadores para o canal PSN. Rivellino fazia o mesmo para a Bandeirantes.

Na intimidade, Diego foi além nas suas reverências: segundo o ex-atacante Careca, o argentino já se ajoelhou e beijou o pé esquerdo de Rivellino em um encontro entre os três. O camisa 11 da Copa de 1970 não fica atrás em termos de carinho. Quando Diego esteve entre a vida e a morte em decorrência do vício na cocaína, Rivellino fez questão de escrever cartas desejando força ao Diez.

E que ironia: Maradona e Rivellino poderiam até ter se enfrentado na Copa de 1978, quando Argentina e Brasil se cruzaram naquela pancadaria de Rosário terminada em 0 a 0. Maradona, então com 17 anos, não integrou a lista final dos convocados, algo que o então técnico César Luis Menotti se arrepende até hoje.

Machucado, Rivellino foi reserva naquela partida. O Mundial de 1978 na Argentina foi o último da sua carreira, jogando apenas contra Suécia, Polônia e Itália.


Boca luta contra fracasso que pode derrubar até seu presidente
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Tales Torraga

Um tango sofrido e melodramático seria a trilha sonora perfeita para as 19h15 (de Brasília) desta quarta-feira (2), quando o Boca Juniors visita o Junior de Barranquilla correndo o risco de ser eliminado da Libertadores ainda nesta primeira fase.

Ninguém na Argentina consegue acreditar.

O Boca estreou na competição falando para todos que o sétimo título estava à vista. E agora vive uma pressão que é ainda mais sufocante que o lendário calor de Barranquilla, eternizado nos livros de Gabriel García Márquez. ''Estamos dentro de um micro-ondas ligado'', alertou o uruguaio Julio Comesaña, técnico do Junior.

''Assuma a bronca'', pede o ''Olé'' a Tevez nesta quarta – Reprodução

A conta do Grupo H é simples. Líder com dez pontos, o Palmeiras já está classificado. O segundo colocado é o Junior, com seis, seguido pelo Boca, com cinco. O Alianza Lima, do Peru, é o lanterninha, com um único pontinho.

Vencendo o Boca, os colombianos decolam para nove pontos e eliminam os argentinos, que seguiriam com cinco e não teriam chances de alcançá-los. Barranquilla, claro, está enlouquecida com a rara chance de derrubar, em suas terras, um gigante sul-americano do naipe do Boca.

Um empate mantém o Boca vivo – na última rodada, os portenhos pegam o Alianza Lima na Bombonera, enquanto o Junior visita o Palmeiras.

As TVs e rádios de Buenos Aires já demonstraram que temem que o Palmeiras facilite a vida do Junior só para tirar o Boca da Copa, pois a vitória dos colombianos no Brasil arrancaria os xeneizes da competição passe o que passar na Bombonera.

A grande pergunta que a maior torcida da Argentina precisa responder é a seguinte: o time que não lutou contra o Palmeiras na Bombonera vai conseguir brigar pela vitória em plena Barranquilla diante do motivadíssimo Junior?

Este elenco do Boca já demonstrou que não está à altura da tradição copera do clube ao longo dos tempos. O sufoco nesta primeira fase, por exemplo, só encontra paralelo na edição de 1994 – esta foi a última vez que o Boca caiu da Libertadores logo de cara. E a equipe está na sua 14ª participação na Copa desde então.

Tal eliminação, por supuesto, vai desatar uma verdadeira caçada às bruxas.

Tevez e Daniel Angelici, presidente do Boca, quando ainda sorriam – TyC Sports/Reprodução

O primeiro na alça de mira é Tevez, que não está jogando nada e ainda não se recuperou de seu ''ano vegetativo'' na China. A loucura argentina é tamanha que ele é questionado no Boca e pedido na seleção por Mauricio Macri, seu amigo que ocupa a presidência da Argentina. Em caso de eliminação, Carlitos dificilmente teria ambiente para seguir vestindo azul e ouro depois do Mundial da Rússia.

Ao lado dele está o técnico Guillermo Barros Schelotto, que demonstrou uma teimosia incompatível com o cargo que ocupa. Foi chamado abertamente de ''aprendiz de técnico'' e demonstrou não ter aprendido nada com os inúmeros erros.

Por fim, o Boca joga hoje pressionado até mesmo na presidência.

A próxima eleição no clube ocorre só em dezembro de 2019, mas já há na Argentina uma previsão de que a derrota na Colômbia encaminhe até mesmo a saída antes da hora do atual mandatário, Daniel Angelici, que seria derrubado pelos opositores ao oficialismo que tradicionalmente comanda o Boca.

E o nome que poderia assumir o clube? O de Juan Román Riquelme.

O Boca desembolsou US$ 5,5 milhões (R$ 18,4 milhões) nas contratações de Ábila, Buffarini, Mas, Reynoso e Tevez para esta Libertadores. E todo este dinheiro pode ir para o ralo caso o clube seja eliminado nesta noite.

Drama é pouco. A maior torcida da Argentina está como a Bombonera: tremendo.

Guillermo Barros Schelotto – Diario Registrado/Reprodução

Fora da Libertadores na fase de grupos e abatido pelo River Plate em uma final (a da Supercopa Argentina). Não há mesmo quem se segure depois de duas trompadas así. Nem dá para falar de bicampeonato no Argentino ou – mucho peor, loco! – uma chance de título na sequência da Sul-Americana.

O orgulho xeneize não tolera prêmios de consolação.


‘Vi Deus na final da Copa de 78’, conta Fillol
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Tales Torraga

A vitória por 3 a 1 sobre a Holanda na final da Copa do Mundo de 1978 gerou uma verdadeira catarse entre os argentinos. O que não se sabia até esta semana é que ela gerou também uma experiência mística. Chorando bastante, o goleiro Pato Fillol disse que a sequência da famosa foto ''Abraço de Alma'' ocorreu porque ali, naquele exato momento, ele viu e sentiu a presença de Deus.

Fillol chora em entrevista na madrugada desta segunda – Telefe/Reprodução

Fillol descreveu o episódio ao programa ''Podemos Hablar'', da TV argentina Telefe.

''Termina o jogo, caio ajoelhado, cruzo as mãos sobre meus ombros e olho para baixo. Aparece para mim uma imagem e há um diálogo'', afirmou, chorando.

''Há um diálogo muito forte e lindo. Não sei quanto tempo leva, mas sinto que alguém se joga em cima de mim. Era Tarantini. Mas o diálogo ocorreu antes. Vou contar algo que segue me emocionando e que me arrepia a pele. Era Deus. É incrível porque apareceu exatamente no momento em que a Argentina era campeã pela primeira vez na história.''

''Às vezes vejo na TV o que as pessoas falam sobre aparições. Alguns acreditam, outros não. Eu tenho isso como verdade porque vivi esta situação'', concluiu Fillol, que está com 67 anos e acaba de lançar uma ótima autobiografia na qual narra que foi ameaçado de morte pelos militares nos tempos da ditadura.

O histórico 'Abrazo del Alma' – Ricardo Alfieri/El Gráfico/Reprodução

O ''Abraço de Alma'' é, de fato, uma das mais lindas fotos da história do futebol, retratada por Ricardo Alfieri para a revista ''El Gráfico''. Nela, Fillol e o lateral Tarantini se abraçam, ajoelhados no gramado do Monumental de Núñez instantes depois do apito final do árbitro italiano Sergio Gonella. Ao lado de ambos está o torcedor Victor Dell'Aquila, que invadiu o campo mesmo sem ter os braços.

Os três – Fillol, Tarantini e Dell'Aquila – se juntaram outra vez, quase 40 anos depois, para um comercial em 2014. O resultado é maravilhoso. Está aqui.


Presidente da Argentina impõe Tevez na Copa, diz TV
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Tales Torraga

Sem um time definido e sem paz para trabalhar. Esta é a rotina de Jorge Sampaoli a um mês e meio da estreia da Argentina na Copa do Mundo. Segundo o que informou na TV o programa ''Fútbol Al Horno'', do Canal 26 neste domingo (29), o treinador agora está sendo pressionado a convocar Carlitos Tevez para o Mundial.

E a pressão não vem da AFA, que tem um mandatário, Chiqui Tapia, que é torcedor assumido do Boca. Vem de ninguém menos que Mauricio Macri, presidente da Argentina, que é amigo de Tevez. Os dois mantêm longo vínculo desde a estreia de Carlitos na equipe xeneize, quando Macri era o então comandante do clube que tinha Carlos Bianchi como técnico.

Tevez e Macri na Casa Rosada – Presidência da República Argentina/Divulgação

De acordo com o ''Fútbol Al Horno'', Sampaoli e Jorge Messi, pai de Lionel, se reuniram em Puerto Madero para tratar do ''caso Tevez'' e da imposição presidencial com relação a Carlitos na Rússia. O programa foi taxativo ao dizer que a presença de Tevez na última Copa do Mundo de Messi não é bem-vinda, e que Sampaoli agora tem mais uma dificuldade para resolver nesta preparação para o Mundial. O trecho em que o programa analisa a questão é este.

Tevez está com 34 anos e em campo não faz por merecer uma convocação, pois anda em fase das mais apagadas pelo Boca. Quem viu o jogo contra o Palmeiras na Bombonera sequer pôde entender como ele ficou quase 90 minutos em campo (só saiu aos 41 do segundo tempo). Está mal fisicamente por conta de uma lesão da panturrilha que o tirou de campo por três semanas – lesão que a imprensa argentina atribuiu a uma pelada na prisão, o que o atacante sempre negou.

Programa ''Fútbol Al Horno'' deste domingo (29) – Reprodução

A lógica argumentada no Canal 26 é que, além da amizade com Tevez, a Macri interessa sempre agradar a torcida do Boca, pois em 2019 ele tentará a sua reeleição para a Presidência da República. Carlitos disputou duas Copas do Mundo pela Argentina, em 2006 e 2010, e sua presença na Copa de 2014 foi bastante pedida no país. O cenário de agora é diferente – a sensação que se tem é que ele sequer merecia ser titular no Boca, quanto mais um jogador para defender a Argentina em uma Copa do Mundo.

Sampaoli vai entregar a sua lista dos 35 pré-convocados até o dia 14 de maio. A relação definitiva, com 23 nomes, será anunciada em 6 de junho.

A estreia argentina no Mundial ocorre dez dias depois, contra a Islândia, às 10h (de Brasília) de um sábado. Nigéria e Croácia são as duas outras adversárias da azul e branca na primeira fase do Mundial.


Caniggia: ‘Quase fiz dupla com Messi na Copa de 2010’
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Tales Torraga

Claudio Paul Caniggia está em Buenos Aires, para festa das rádios, TVs e sites que buscam as suas opiniões sobre a Copa do Mundo da Rússia.

Além de oferecer as suas impressões sobre a seleção de Jorge Sampaoli, o carrasco do Brasil em 1990 tem contado histórias saborosas sobre a sua vida vestindo azul e branco. E um desses episódios é simplesmente estarrecedor: Diego Armando Maradona, seu histórico amigo, o chamou para fazer dupla com Lionel Messi na Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul.

Caniggia hoje e em 1994: seria parceiro de Messi em 2010 – Montagem/Site El Diez

Detalhe: Caniggia estava com 43 anos e aposentado desde os 38.

''Carlos Bilardo (então braço-direito de Maradona) conversou comigo em 2009 me pedindo para ir à Copa do Mundo da África. Eu estava sem jogar fazia quatro anos e meio, mas treinava e estava bem fisicamente. Bilardo e Maradona sabiam disso, e me pediram para jogar alguns meses na Argentina para voltar a ter ritmo. O clube que tinham reservado era o Arsenal'', disse Cani ao Fox Sports da Argentina.

''Me propuseram um trabalho especial no CT da seleção em Ezeiza. Me arrependo por falar não. Tinham que insistir mais. Hoje, me culpo. Nossa reunião foi em outubro. Se alguém insistisse comigo em novembro ou dezembro, com certeza iria.''

''A ideia, claro, era jogar 20 ou 30 minutos, não mais que isso.''

''Se me falassem de outra maneira, com certeza seria diferente. Precisariam ser mais contundentes. Eu seria o primeiro a fazer dupla com Maradona e depois com Messi. Seria espetacular. Mas ficou no quase.''

A Argentina em 2010 contou com um ataque fortíssimo: Messi, Higuaín, Agüero, Di María, Tevez e Palermo participaram daquela campanha na África do Sul. E já fica a dúvida: algo seria diferente se aquele time contasse também com Caniggia?

A seleção de Maradona foi nocauteada pela Alemanha nas quartas de final por um impiedoso 4 a 0 na Cidade de Cabo. E a despedida de Caniggia da seleção continuou sendo a sua bizarra expulsão como reserva na Copa de 2002, na eliminação azul e branca diante da Suécia, ainda na primeira fase.

O então técnico era Marcelo Loco Bielsa.


Messi manda na seleção? Livro que acaba de sair na Argentina responde
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Tales Torraga

Quem curte livros (e futebol) está vivendo uma quinta-feira (26) especial neste hermoso Buenos Aires querido. Começa hoje, afinal, a 44ª edição da Feria Internacional del Libro desta capital portenha que se considera uma leitora voraz como nenhuma outra cidade do mundo. E é difícil mesmo discutir.

Uma das obras que já está em circulação e que pode ser encontrada no prédio La Rural, onde é realizada é feira, é este livro aqui, ''Generación Lio'', que disseca em quase 200 páginas os anos de Lionel Messi na seleção argentina.

'Generación Lio', boa opção de leitura neste ano de Copa – Reprodução/Twitter

A grande pergunta que o livro se dispõe a responder é se Messi realmente manda demais na seleção, e se a azul e branca é, como se diz em toda a Argentina, um ''clube dos amigos de Messi''. A obra revela trechos sim de grande ingerência de Messi e de colegas veteranos até mesmo na logística da AFA, mas não transporta este peso para a escolha de técnico e de atletas convocados.

Um dos entrevistados mais interessantes do livro é o técnico Alfio Coco Basile, o último a ser campeão com a Argentina, na Copa América de 1993. Ele comandou a seleção com Messi de 2006 a 2008 e faz questão de elogiá-lo: ''É um ET. Pelo menos no meu tempo ainda não estava instalado o clube de amigos'', brinca.

Quem também refuta o ''clube de amigos'' é Jorge Sampaoli, o atual treinador, que assina o prefácio do livro e bate de novo na tecla da soberania argentina e da sede de revanche que o atual grupo tem.

Com muitos elogios a Messi, o livro não é tão brando com os seus companheiros.

Basile, por exemplo, mandou no peito e cravou que Higuaín ''se cagou'' na final do Maracanã contra a Alemanha, e que por isso perdeu aquele famoso gol.

O trecho:

Trecho de 'Generación Lio' – Reprodução

O ''Generación Lio'' foi escrito pelos jornalistas argentinos Héctor Laurada e Julio Martínez, da agência de notícias Telám. A obra é publicada pela Ediciones del Arco e pode ser encomendada aqui.

O humor argentino com a seleção de Sampaoli segue dos piores, mas não dá para dizer que o interesse pelo Mundial seja menor por conta das más apresentações da equipe. As livrarias estão cheias de títulos interessantes e que ajudam a entender, como os próprios portenhos dizem, que ''a novidade não é sair um livro de futebol, e sim que não haja um pouco de futebol nos livros''.

Vitrine da livraria Cúspide com cinco lançamentos boleiros – Patadas y Gambetas

Ainda sobre a Feira do Livro de Buenos Aires, é esperado o tradicional estande da Libro Fútbol com obras apenas sobre esporte – 90% dos títulos são de futebol. O blog trouxe farto material sobre a feira nos anos anteriores. Vale ver este post aqui.


Preconceito por ser vegano: o calvário de um titular do Boca na Argentina
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Tales Torraga

O Boca Juniors que enfrenta o Palmeiras hoje (25) às 21h45 (de Brasília) na Bombonera vai contar com a entrada do volante colombiano Sebastián Pérez, que fará sua primeira partida como titular nesta Libertadores. Recuperado de um rompimento dos ligamentos cruzados do joelho esquerdo sofrido há um ano, ele foi notícia frequente até mesmo durante o seu período de afastamento.

A razão?

Pérez é um dos únicos atletas que se dizem veganos em uma Argentina que é a ''terra do churrasco'' e carnívora como poucas outras nações do mundo.

Uma verdadeira elucubração invadiu as discussões sobre o seu futebol e a sua alimentação. Na lógica de muitos torcedores e até de alguns jornalistas, Pérez, afinal, se machucou e demorou tanto para voltar a jogar por ser…vegano.

Basta ver o trecho de uma entrevista sua nesta segunda-feira (23) em Buenos Aires ao apresentador Colorado Liberman, do Fox Sports local.

Pérez saiu-se com essa:

''É um tabu que se tem com este tipo de alimentação na Argentina. Há atletas de alto rendimento que são veganos. Nunca fui de físico grande e sabia que iam começar a falar sobre minha alimentação, porque não é comum no futebol.''

''Se um jogador que come de tudo fica machucado e não pode jogar, ninguém vai dizer nada. Mas ocorre comigo e passam a dizer que eu não jogo porque sou vegano. Já estou preparado mentalmente para isso. Estou em um bom nível e preparado para ocupar este espaço no Boca. É o que importa para mim.''

Sebastián está com 25 anos e chegou ao Boca em dezembro de 2016, depois de se destacar no Atlético Nacional campeão da Libertadores daquele ano e ocupar um espaço cativo na seleção da Colômbia. Sua chegada a Buenos Aires ocorreu com ares de estrela, até pelo look despojado e de fácil semelhança com os argentinos cabeludos dos anos 80 e 90. Sua contratação custou US$ 3 milhões ao Boca.

No mês passado, em entrevista ao ''Clarín'', maior jornal da Argentina, ele contou que sua escolha alimentar é decorrente do seu respeito por todos os seres vivos, e que o novo estilo de vida foi adotado justamente enquanto se recuperava da lesão.

Sebastián Pérez, colombiano de 25 anos – Boca Juniors/Divulgação

O Boca não vetou a sua escolha, embora tenha feito a ressalva de verificar o que aconteceria com seu corpo durante o período de competição. Na pré-temporada, Pérez emagreceu cinco quilos entre gordura e massa magra. O clube, óbvio, não estabelece nenhuma relação entre a sua inatividade e a sua forma de comer.

Pérez diz que hoje se alimenta de lentilhas, saladas, cogumelos, cereais, arroz e massas – e ingere nozes e amêndoas para somar proteínas.

O difícil é driblar os churrascos no clube, pois os argentinos não vivem sem o seu asado. ''Pego arroz e saladas, ninguém me fala nada, o técnico disse que não se envolveria com a minha escolha em absolutamente nada.''

Segundo levantamento publicado pela revista ''Forbes'' em 2015, a Argentina é o quarto país que mais consome carne bovina no mundo, atrás só de Austrália, Estados Unidos e Israel, os três primeiros nesta exata ordem. O argentino come, em média, 84,69 quilos por ano. O Brasil é o sexto nesta lista (78,11 quilos/ano).