Como Higuaín caiu em desgraça na seleção argentina
Tales Torraga
A Argentina vai encarar Uruguai (31 de agosto) e Venezuela (5 de setembro) na próxima rodada dupla das Eliminatórias sem um velho conhecido: o atacante El Pipita Gonzalo Higuaín, de 29 anos. Há dois meses, antecipamos seu fim de linha com Jorge Sampaoli. Mas desde então surgiram novidades que ajudam a compreender como a camisa azul e branca ficou inviável para seu número 9 desde outubro de 2009, quando o técnico ainda era El Diez Diego Armando Maradona.
É claro que a versão oficial mútua – seleção e jogador – vai apontar motivos táticos, pois Higuaín não consegue ''ocupar os espaços vazios do campo''. Mas a verdade da saída de Pipita da seleção é o escárnio que a torcida argentina externa a cada vez que ouve seu nome. Em Buenos Aires, quando se quer referir a um incompetente que deu sorte na vida, é comum chamar esse alguém de ''Higuaín, un boludo con suerte e guita'', um tonto com sorte e dinheiro. É assim. É pesado.
É claro também que os erros de Higuaín ajudaram a pintar este cenário. Mas colocar só nas suas costas as derrotas para Alemanha e Chile pelos gols desperdiçados nas finais das Copas é ignorar a dinâmica do esporte coletivo.
O ''fantasma psicológico'', como os portenhos chamam este verdadeiro assédio moral contra o jogador, tirou a alegria de Higuaín em atuar pela seleção. Em vez de apoiá-lo, como a torcida argentina já fez com atletas que também falharam, como Crespo e Batistuta, há simplesmente uma condenação social, motivada também pelo fato de Higuaín ser o jogador mais caro da história do futebol argentino, com a Juventus pagando irracionais R$ 325 milhões para tirá-lo do Napoli há um ano.
Sampaoli detectou este fastídio em uma conversa de coração aberto que teve com Higuaín em Londres há exatamente uma semana. El Pelado Sampa, así de una, reconheceu que El Pipita segue excelente na Juventus, mas não tem ânimo nem respaldo para sua seleção. O melhor hoje é mesmo separar os caminhos.
O clássico do dia 31 contra o Uruguai é vital, e Sampaoli vai precisar mexer em um posto que tradicionalmente não tem muitas alterações. Basta ver que os titulares são os mesmos há quase dez anos: Messi, Agüero, Higuaín e Di María. Mas desta vez o ''quarteto mágico'' argentino terá os dois primeiros sim – Messi e Agüero -, mas vai abrir espaço também para as chegadas de Paulo Dybala e Mauro Icardi.
A seus ouvintes mais próximos, Sampaoli admite um verdadeiro encanto com o futebol de Icardi, e que o vê com especial utilidade para a partida contra o Uruguai. Considera que ele será o mais capaz de machucar os zagueiros adversários em um clássico que promete ser uma verdadeira guerra nos 90 minutos, e que Icardi seria o mais oportunista para aproveitar qualquer deslize rival. É fato. Seu ótimo jogo aéreo vai ser importante nas duas áreas, e olhe que Maurito tem só 1,81 metro.
Eis o risco: em um jogo tão importante, Icardi, que jamais atuou como titular com os seus companheiros Messi, Dybala e Di María, vai precisar se bancar logo de cara.
Outros dois atacantes em atividade na Argentina têm boas chances de convocação. O habitué Lucas Alario (River) pode ter a companhia de Darío Benedetto (Boca).
E Higuaín? Pois é, Pipita, ser famoso e milionário não garante felicidade – garante só estar ao alcance de gente que abre mão da própria vida para desopilar rancor contra quem quer que seja. Hoje é contra você, amanhã é contra qualquer outro.
Nada personal, já cantava o Gustavo Cerati no Soda Stereo.
Que aqueles golaços e aquele enorme sorriso de 2006 no Pacaembu logo apareçam por aí. Tome um mate, curta Turim e Piemonte, todo va a estar bien.