“A Argentina de 86 foi melhor que o Brasil de 70”, diz Carlos Bilardo
Tales Torraga
Técnico da Argentina campeã da Copa de 1986, Carlos Salvador Bilardo voltou aos holofotes em Buenos Aires nesta quinta-feira (16). No dia do seu aniversário de 75 anos, a TV, a rádio e a internet prestaram homenagens e reprisaram entrevistas do histórico treinador. E uma de suas opiniões é de causar calafrios nos brasileiros: ''A Argentina de 1986 foi melhor que o Brasil de 1970 e a Holanda de 1974. Sem nenhuma dúvida. Era um futebol mais rápido. É o mesmo quando me dizem: Pelé, Maradona ou Di Stéfano? Ou quando me perguntam: um médico de antes ou um de agora? Um de agora, velho. O de agora me salva, o de antes não tinha capacidade para me salvar'', cravou, em retrospectiva mostrada pelo canal de TV TyC Sports resgatando uma longa entrevista do ex-técnico para a revista ''El Gráfico''.
Colocar a Argentina de Maradona, Valdano e Burruchaga acima do Brasil de Pelé, Tostão e Rivellino não foi a única cutucada do Narigón Bilardo no futebol canarinho em seu aniversário. Algoz também do Brasil de Lazaroni na Copa de 1990, ele negou com veemência ter dado ''água batizada'' a Branco. Disse que a equipe brasileira foi eliminada com justiça e que qualquer outra interpretação é um choro livre: ''Sonífero na água?! Que história é essa? A imprensa põe qualquer coisa. Estou no futebol há mais de 50 anos e nunca puderam comprovar nada do que diziam. Então, como pode ser? O que não contam é que eu trabalhava das seis da manhã até meia-noite. Isso eu não disse nunca: ensinava os jogadores até a gritar os gols e não perder energia. É só ver o que Caniggia fazia naquele Mundial''.
Maradona e Basualdo, dois argentinos que estiveram naquele confronto contra o Brasil em 1990, admitiram a trapaça contra Branco.
Além de treinador, Bilardo foi médico – e revelou que, como cirurgião, operar com sucesso um câncer de reto foi sua experiência mais inesquecível: ''Muito mais que conquistar o Mundial de 1986''. Personagem polêmico, era o meio-campista do Estudiantes campeão da Libertadores de 1968, 1969 e 1970: ''Ganhar do Palmeiras em 1968 foi uma das únicas vezes que chorei pelo futebol em toda minha vida''.
Conquistou também o Intercontinental de Clubes de 1968, e era famoso por jogar carregando alfinetes no calção e nos meiões. Nas cobranças de escanteio, furava o adversário com o alfinete: ''Afinal, naquele tempo não tinha Aids'', falou.
Amigo de Maradona nos bons tempos, admitiu que chegou a trocar socos com El Diez mais de uma vez. A mais famosa, quando os dois estavam no Sevilla, em 1993. ''Ele me xingou ao sair de campo e fui buscá-lo na sua casa. Saíamos na mão e nossas mulheres nos separaram. No outro dia, estávamos os dois, no treino, com a cara machucada'', contou.
Bilardo no mês passado simplesmente abandonou no ar o histórico programa de rádio que apresentava em Buenos Aires para não mais voltar.
Tantas histórias renderam uma ótima autobiografia, ''Bilardo, Doctor y Campeón''. El Narigón, de fato, é um dos personagens mais loucos da muy loca, casi surreal, história da Argentina no futebol.