Boca luta contra fracasso que pode derrubar até seu presidente
Tales Torraga
Um tango sofrido e melodramático seria a trilha sonora perfeita para as 19h15 (de Brasília) desta quarta-feira (2), quando o Boca Juniors visita o Junior de Barranquilla correndo o risco de ser eliminado da Libertadores ainda nesta primeira fase.
Ninguém na Argentina consegue acreditar.
O Boca estreou na competição falando para todos que o sétimo título estava à vista. E agora vive uma pressão que é ainda mais sufocante que o lendário calor de Barranquilla, eternizado nos livros de Gabriel García Márquez. ''Estamos dentro de um micro-ondas ligado'', alertou o uruguaio Julio Comesaña, técnico do Junior.
A conta do Grupo H é simples. Líder com dez pontos, o Palmeiras já está classificado. O segundo colocado é o Junior, com seis, seguido pelo Boca, com cinco. O Alianza Lima, do Peru, é o lanterninha, com um único pontinho.
Vencendo o Boca, os colombianos decolam para nove pontos e eliminam os argentinos, que seguiriam com cinco e não teriam chances de alcançá-los. Barranquilla, claro, está enlouquecida com a rara chance de derrubar, em suas terras, um gigante sul-americano do naipe do Boca.
Um empate mantém o Boca vivo – na última rodada, os portenhos pegam o Alianza Lima na Bombonera, enquanto o Junior visita o Palmeiras.
As TVs e rádios de Buenos Aires já demonstraram que temem que o Palmeiras facilite a vida do Junior só para tirar o Boca da Copa, pois a vitória dos colombianos no Brasil arrancaria os xeneizes da competição passe o que passar na Bombonera.
A grande pergunta que a maior torcida da Argentina precisa responder é a seguinte: o time que não lutou contra o Palmeiras na Bombonera vai conseguir brigar pela vitória em plena Barranquilla diante do motivadíssimo Junior?
Este elenco do Boca já demonstrou que não está à altura da tradição copera do clube ao longo dos tempos. O sufoco nesta primeira fase, por exemplo, só encontra paralelo na edição de 1994 – esta foi a última vez que o Boca caiu da Libertadores logo de cara. E a equipe está na sua 14ª participação na Copa desde então.
Tal eliminação, por supuesto, vai desatar uma verdadeira caçada às bruxas.
O primeiro na alça de mira é Tevez, que não está jogando nada e ainda não se recuperou de seu ''ano vegetativo'' na China. A loucura argentina é tamanha que ele é questionado no Boca e pedido na seleção por Mauricio Macri, seu amigo que ocupa a presidência da Argentina. Em caso de eliminação, Carlitos dificilmente teria ambiente para seguir vestindo azul e ouro depois do Mundial da Rússia.
Ao lado dele está o técnico Guillermo Barros Schelotto, que demonstrou uma teimosia incompatível com o cargo que ocupa. Foi chamado abertamente de ''aprendiz de técnico'' e demonstrou não ter aprendido nada com os inúmeros erros.
Por fim, o Boca joga hoje pressionado até mesmo na presidência.
A próxima eleição no clube ocorre só em dezembro de 2019, mas já há na Argentina uma previsão de que a derrota na Colômbia encaminhe até mesmo a saída antes da hora do atual mandatário, Daniel Angelici, que seria derrubado pelos opositores ao oficialismo que tradicionalmente comanda o Boca.
E o nome que poderia assumir o clube? O de Juan Román Riquelme.
O Boca desembolsou US$ 5,5 milhões (R$ 18,4 milhões) nas contratações de Ábila, Buffarini, Mas, Reynoso e Tevez para esta Libertadores. E todo este dinheiro pode ir para o ralo caso o clube seja eliminado nesta noite.
Drama é pouco. A maior torcida da Argentina está como a Bombonera: tremendo.
Fora da Libertadores na fase de grupos e abatido pelo River Plate em uma final (a da Supercopa Argentina). Não há mesmo quem se segure depois de duas trompadas así. Nem dá para falar de bicampeonato no Argentino ou – mucho peor, loco! – uma chance de título na sequência da Sul-Americana.
O orgulho xeneize não tolera prêmios de consolação.