Lateral do Vélez que socou Edmundo: “Faria de novo, não me arrependo”
Tales Torraga
O argentino Flavio Zandoná hoje tem 49 anos e rotina das mais tranquilas.
Vive em Zárate, cidade de 115.000 habitantes às margens do rio Paraná.
Divide-se sempre entre a família, a pescaria, os amigos e os churrascos. Quando pedem, colabora com o Defensores Unidos de Zárate ou vai visitar os amigos do Vélez Sarsfield, clube no qual ganhou Libertadores e Intercontinental em 1994.
Sua calma e gentileza não lembram em nada o lance que lhe trouxe fama.
Ele nocauteou Edmundo com um violento soco na cara. Era Flamengo x Vélez Sarsfield: 1995, Supercopa da Libertadores, Parque do Sabiá, Uberlândia (MG).
''Nesta altura da vida, é claro que olho para trás e não tenho arrependimentos. Carregar arrependimentos é uma forma muito triste de se viver. Não me orgulho e nem me arrependo deste episódio'', nos contou Zandoná. ''Eu me senti provocado. E qualquer um que provoca precisa saber que isso vai gerar consequências.''
O Flamengo vencia o Vélez por 3×0, gols de Romário, Sávio e Edmundo.
(Se era ''o pior ataque do mundo'', os de hoje, o que são?)
Errando muito, Zandoná vivia uma noite especialmente difícil. ''Em uma jogada normal, sem importância, o Edmundo recebeu a bola e começou a rebolar e provocar todo mundo. Eu, que estava mais perto, principalmente'', relembra.
Os dois trocaram tapas antes do famoso nocaute.
''Estava 3×0. Não há paciência que banque um adversário ficar do seu lado rebolando, falando coisas e te dando tapa. Ali, quis fazer justiça lhe dando um soco bem forte. Estávamos em mau momento e saindo da Copa. O episódio significou uma catarse para todo o time. Se houvesse outra situação assim, faria de novo.''
Pelo soco em Edmundo, o argentino levou ainda uma voadora de Romário.
O discurso de Zandoná não se alterou desde o duro golpe de 21 anos atrás.
Em antiga entrevista ao jornal ''Olé'', chegou a dizer que via o soco dado em Edmundo de duas formas: ''Uma a favor e uma contra. A favor, é que eu bati nele no Brasil. Contra, é que acertei pelas costas. Gostaria de tê-lo acertado de frente''.
Hoje beirando os 50 anos, enxerga de forma mais ponderada: ''O futebol sempre busca a rivalidade, não? Ela sempre existe, aqui na Argentina ela é bem clara nas disputas entre cidades, províncias ou países vizinhos. A rivalidade é interessante, mas a violência não. E olhe quem está falando…'', brinca, reconhecendo a necessidade de passar mensagem mais produtiva que a deixada pelo punho.
A torcida do Vélez é louca por ele: 3 de outubro é o 'Zandonazo', o 'Dia do Soco'.
O murro de Zandoná em Edmundo está pintado na parede de uma rua que leva ao Estádio José Amalfitani, casa do clube no bairro de Liniers, em Buenos Aires.
''É claro que foi animalesco, mas me diz, já viu soco mais merecido que aquele?'', é o que se ouve de qualquer torcedor do Vélez que venha te comentar aquele lance.
Edmundo, no auge da sua fase ''animal'', encontrou alguém ainda mais animal.
Por mais que o semblante atual de Zandoná não entregue. Ele entrega sim que sofreu depois de parar de jogar, há 14 anos: ''A vida muda demais, a forma como as pessoas te enxergam também. Eu me ergui logo, mas pude entender os colegas que sofreram tanto. Alguns quiseram até se matar. Triste. Mas passou''.
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