Patadas y Gambetas

Argentina lembra 40 anos de golpe militar. E justamente onde havia tortura

Tales Torraga

Com Messi, o melhor do mundo, em destaque, os jogadores da Argentina que venceu o Chile por 2×1 não deixaram passar a oportunidade de lembrar que hoje (24) completou-se 40 anos do golpe militar que fez desaparecer 30.000 argentinos.

“24 de março. Dia Nacional da MEMÓRIA pela VERDADE e JUSTIÇA'', era a faixa.


Exposta no vestiário por determinação da Fifa – que proíbe mensagens políticas em campo -, a faixa no vestiário teve significado ainda mais profundo.

Para tentar explicar, traduzimos parte do excelente texto de Martin Macchiavello publicado no diário ''Olé'' desta quinta:

Um estádio de futebol. Sim, o Nacional de Santiago é. Mas é também um templo da injustiça e da barbárie. Em um 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas do Chile derrubaram o socialista Salvador Allende e converteram este estádio, a casa da seleção chilena, na verdadeira casa vermelha. Correu sangue. E muito.


Esse sangue cruzou a Cordilheira e justo em um 24 de março (quase dois anos e meio depois) se cravou como um punhal na Argentina.

Mais que ventos de mudança, hoje, nesses lados, 43 anos mais tarde, sopram brisas. Contará o pecado, mas não o pecador, pelas dúvidas.

E também se dirá, entre vozes de corredor, que não houve dentro do máximo coliseu esportivo chileno um lugar mais trágico que o vestiário onde Messi colocou sua nova camiseta 10.

Vestiário com inscrição conservada até hoje / Olé

Nesses camarins usados pela seleção argentina estiveram guardados os prisioneiros políticos profissionais, médicos, engenheiros e os melhores de cada faculdade. Precisaram tirar o conhecimento de circulação. ''Ali, por onde passa Messi, os tormentos eram VIP'', conta ao Olé Wally Kunstmann, presidente da Corporação Estádio Nacional Memoria, ONG que se recusa a esquecer.

O Nacional foi o maior campo de tortura e concentração da América Latina, uma prisão ocasional onde havia gente de todo tipo, cor e tamanho. Mais de 40.000 presos de 38 países sobreviviam fechados nos vestiários e, de vez em tanto, saíam para uma volta nas arquibancadas para sentir o sol de perto.

Hoje, sobre a parte baixa da Tribuna Norte, se vê uma área de 185 metros quadrados que representa todos os presos que lutaram por liberdade. Acima dessas velhas madeiras se vê bem claro: ''Um povo sem memória é um povo sem futuro''.


Muitos jovens ainda não têm noção do que ocorreu. Essas gerações não foram ensinadas a pensar. Não sentem. Vivem suas vidas. Apenas importa que suas equipes ganhem.

Quién sabe Alicia, este país
No estuvo hecho porque sí 
Te vas a ir, vas a salir
Pero te quedas 
¿Dónde más vas a ir?
Y es que aquí, sabés 
El trabalenguas trabalenguas 
El asesino te asesina
Y es mucho para ti
Se acabó ese juego que te hacía feliz

No cuentes lo que viste en los jardines, el sueño acabó 
Ya no hay morsas ni tortugas 
Un río de cabezas aplastadas por el mismo pie
Juegan cricket bajo la luna 
Estamos en la tierra de nadie, pero es mía
Los inocentes son los culpables, dice su señoría 
El rey de espadas

No cuentes lo que hay detrás de aquel espejo 
No tendrás poder
Ni abogados, ni testigos 
Enciende los candiles que los brujos
Piensan en volver
A nublarnos el camino 
Estamos en la tierra de todos, en la mía 
Sobre el pasado y sobre el futuro 
Ruinas sobre ruinas 
Querida Alicia

Quién sabe Alicia, este país
No estuvo hecho porque sí 
Te vas a ir, vas a salir
Pero te quedas 
¿Dónde más vas a ir?
Y es que aquí, sabés 
El trabalenguas trabalenguas 
El asesino te asesina
Y es mucho para ti
Se acabó 
Se acabó
Se acabó ese juego que te hacía feliz…