Patadas y Gambetas

Como Higuaín caiu em desgraça na seleção argentina
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Tales Torraga

A Argentina vai encarar Uruguai (31 de agosto) e Venezuela (5 de setembro) na próxima rodada dupla das Eliminatórias sem um velho conhecido: o atacante El Pipita Gonzalo Higuaín, de 29 anos. Há dois meses, antecipamos seu fim de linha com Jorge Sampaoli. Mas desde então surgiram novidades que ajudam a compreender como a camisa azul e branca ficou inviável para seu número 9 desde outubro de 2009, quando o técnico ainda era El Diez Diego Armando Maradona.

El Pipita Higuaín – Diario Popular / Reprodução

É claro que a versão oficial mútua – seleção e jogador – vai apontar motivos táticos, pois Higuaín não consegue ''ocupar os espaços vazios do campo''. Mas a verdade da saída de Pipita da seleção é o escárnio que a torcida argentina externa a cada vez que ouve seu nome. Em Buenos Aires, quando se quer referir a um incompetente que deu sorte na vida, é comum chamar esse alguém de ''Higuaín, un boludo con suerte e guita'', um tonto com sorte e dinheiro. É assim. É pesado.

É claro também que os erros de Higuaín ajudaram a pintar este cenário. Mas colocar só nas suas costas as derrotas para Alemanha e Chile pelos gols desperdiçados nas finais das Copas é ignorar a dinâmica do esporte coletivo.

O ''fantasma psicológico'', como os portenhos chamam este verdadeiro assédio moral contra o jogador, tirou a alegria de Higuaín em atuar pela seleção. Em vez de apoiá-lo, como a torcida argentina já fez com atletas que também falharam, como Crespo e Batistuta, há simplesmente uma condenação social, motivada também pelo fato de Higuaín ser o jogador mais caro da história do futebol argentino, com a Juventus pagando irracionais R$ 325 milhões para tirá-lo do Napoli há um ano.

Sampaoli detectou este fastídio em uma conversa de coração aberto que teve com Higuaín em Londres há exatamente uma semana. El Pelado Sampa, así de una, reconheceu que El Pipita segue excelente na Juventus, mas não tem ânimo nem respaldo para sua seleção. O melhor hoje é mesmo separar os caminhos.

Capa do ''Olé'' deste sábado (12) – Reprodução

O clássico do dia 31 contra o Uruguai é vital, e Sampaoli vai precisar mexer em um posto que tradicionalmente não tem muitas alterações. Basta ver que os titulares são os mesmos há quase dez anos: Messi, Agüero, Higuaín e Di María. Mas desta vez o ''quarteto mágico'' argentino terá os dois primeiros sim – Messi e Agüero -, mas vai abrir espaço também para as chegadas de Paulo Dybala e Mauro Icardi.

A seus ouvintes mais próximos, Sampaoli admite um verdadeiro encanto com o futebol de Icardi, e que o vê com especial utilidade para a partida contra o Uruguai. Considera que ele será o mais capaz de machucar os zagueiros adversários em um clássico que promete ser uma verdadeira guerra nos 90 minutos, e que Icardi seria o mais oportunista para aproveitar qualquer deslize rival. É fato. Seu ótimo jogo aéreo vai ser importante nas duas áreas, e olhe que Maurito tem só 1,81 metro.

Eis o risco: em um jogo tão importante, Icardi, que jamais atuou como titular com os seus companheiros Messi, Dybala e Di María, vai precisar se bancar logo de cara.

Outros dois atacantes em atividade na Argentina têm boas chances de convocação. O habitué Lucas Alario (River) pode ter a companhia de Darío Benedetto (Boca).

E Higuaín? Pois é, Pipita, ser famoso e milionário não garante felicidade – garante só estar ao alcance de gente que abre mão da própria vida para desopilar rancor contra quem quer que seja. Hoje é contra você, amanhã é contra qualquer outro.

Nada personal, já cantava o Gustavo Cerati no Soda Stereo.

Higuaín aos 18 anos, ajudando o River a vencer o Corinthians na Libertadores – Olé/Reprodução

Que aqueles golaços e aquele enorme sorriso de 2006 no Pacaembu logo apareçam por aí. Tome um mate, curta Turim e Piemonte, todo va a estar bien.


Libertadores repete maior domínio Brasil-Argentina da história
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Tales Torraga

River Plate, Lanús e San Lorenzo de um lado. Santos, Grêmio e Botafogo do outro.

A fase de quartas de final da atual Libertadores tem imponentes seis de oito vagas ocupadas por times de Brasil e Argentina. Pode parecer estranho, mas a presença de 75% já foi vista em outras três edições – 2012, 2005 e 2001.

As quartas de final da Libertadores – Reprodução / Olé

Em outras seis Libertadores houve um brasileiro/argentino a menos que na edição atual, somando cinco times dos dois países entre os oito sobreviventes na Copa.

Embora as equipes brasileiras tenham derrapado no começo (como o Flamengo) e agora (Palmeiras e Atlético-MG), o domínio já era esperado porque a Conmebol inflou a quantidade de participantes no total – 47 – e de times brasileiros – 8 -, que pelo poderio econômico teriam chances evidentes de avançar na competição.

A trupe argentina na Libertadores 2017 foi de seis equipes, a mesma quantidade, por exemplo, do ano passado, quando só Boca e Central chegaram às quartas.

A atual soberania comprovou a capacidade Brasil/Argentina mesmo no primeiro ano de utilização de sorteio para definir o chaveamento das oitavas de final.

Até o ano passado, a equipe de melhor campanha (quase sempre brasileira ou argentina) encarava o pior segundo colocado de grupo na classificação geral, garantindo na teoria um caminho mais fácil.

Nas três vezes em que Brasil e Argentina dominaram a Libertadores com seis dos oito melhores times, jamais a Copa saiu de um dos dois países.

Quando a soma Brasil + Argentina nas quartas de final foi de cinco equipes, em duas delas a taça desembarcou em outro ponto da América, como o Equador (com a LDU) e a Colômbia, com o surpreendente Once Caldas que quase foi campeão mundial em cima do Porto em 2004.

As Libertadores do século passado não registravam tamanha presença das grandes potências do continente nas fases decisivas da competição porque as vagas de cada país eram geralmente duas ou três.

Os maiores domínios Brasil-Argentina nas quartas de final da Libertadores:

2017 – 6 times (Santos, Grêmio, Botafogo, River Plate, Lanús e San Lorenzo)
Campeão: ?

2012 – 6 (Santos, Corinthians, Fluminense, Vasco, Boca e Vélez Sarsfield)
Campeão: Corinthians

2005 – 6 (Santos, São Paulo, Atlético-PR, Boca, River e Banfield)
Campeão: São Paulo

2001 – 6 (Vasco, Palmeiras, Cruzeiro, Boca, River e Central)
Campeão: Boca Juniors

2010 – 5 (Flamengo, São Paulo, Cruzeiro, Internacional e Estudiantes)
Campeão: Internacional

2009 – 5 (Grêmio, São Paulo, Cruzeiro, Palmeiras e Estudiantes)
Campeão: Estudiantes

2008 – 5 (Fluminense, São Paulo, Santos, Boca e San Lorenzo)
Campeão: LDU (!)

2006 – 5 (Inter, São Paulo, Vélez, River e Estudiantes)
Campeão: Inter

2004 – 5 (Santos, São Paulo, São Caetano, Boca e River)
Campeão: Once Caldas (!!)

2000 – 5 (Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG, Boca e River)
Campeão: Boca Juniors


Opinião: Argentina dá lição ao Brasil na Libertadores
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Tales Torraga

A Argentina tanto está rindo à toa que o sol brilha radiante por toda a fria Buenos Aires nesta quarta (9). O país começou a Libertadores em greve e sem futebol. E ainda assim foi a primeira nação a garantir a ida às quartas, com River e Lanús.

Pipa Alario, Enzo Pérez e Chino Rojas / Reprodução ''Olé''

Os dois clubes deram a sensação de filme repetido – um ''Rocky'', apanhando, apanhando, não caindo, resistindo e…vencendo, pois ¡Monzón es argentino, loco!

Começamos com o River, que jogou para mais de 70.000 pessoas no superlotado e enlouquecido Monumental em mais uma noite portenha de descontrole de massas.

O empate por 1×1 com o Guaraní do Paraguai exibiu muitas falhas na equipe do técnico Muñeco Gallardo, que mexeu no goleiro, na defesa, no meio-campo e no ataque do time que havia vencido por 2×0 na ida, no Defensores del Chaco.

E este 2×0 em Buenos Aires quase esteve ao alcance dos paraguaios, que perderam um gol incrível quando venciam por 1×0. E o que o River fez? Não se desesperou. Controlou os nervos e passou a se matar de correr em campo. Não se afobou com a histeria e comprovou que Libertadores se ganha com futebol sim – mas especialmente com brio, atitude, estratégia e caráter.

R de River, R de ''re-si-liente'', diria Tite.

Em casa, o Lanús igualmente não jogou bem, mas fez o básico para despachar o Strongest por 1×0 – mais que suficiente depois do 1×1 na ida na altitude da Bolívia.

Foi um xadrez com os pés. O Lanús pressionava, mas falhava na finalização. O Strongest apostava nos contragolpes e nas maldosas patadas dos seus volantes, e em dado momento o time argentino ficou seriamente nas cordas.

Mas a Argentina gosta das cordas. Vive, afinal, em uma – e das mais bambas.

Seus times sabem sofrer e sabem ganhar – e eis uma lição valiosa que tanto Galo quanto Palmeiras precisam colocar em prática nesta quarta-feira de alta tensão.

O que ficou também muito claro no desempenho argentino nesta terça foi o poder de fazer mais com menos.

River e Lanús vinham inativos e em pré-temporada, e não caíram no conto da facilidade, muito menos na festa da torcida. Em certo momento, deu até para lembrar do Brasil x Argentina da Copa de 1990 – tamanha a adversidade copeira.

Para quem não lembra, a Argentina levou três bolas na trave antes de o gordo, manco e machucado Maradona driblar e humilhar o Brasil e colocar Caniggia na cara de um gol que rendeu a vaga – e que rende festa e música até hoje.

''Bambeou, mas não caiu'', já ensinava Osmar Santos. Assim é o futebol argentino.

Desprezar as vagas de River e Lanús obtidas contra escolas menores do continente é brigar com a realidade. O Palmeiras sofre com os equatorianos do Barcelona; o Atlético-MG, com os bolivianos do Jorge Wilstermann.

Convém que os jogos brasileiros sejam um dia depois de River e Lanús. O manual de ''sofro, logo classifico'' está aí, em VT e HD. Basta humildade para aprender.

***

Nobleza obliga: Quem lê o blog sabe desde 8 de março que a crise que paralisava o Campeonato Argentino não afetaria os times do país da Libertadores. Muito pelo contrário. E qual o primeiro país garantido nas quartas? Justamente a Argentina.

Que o Lanús iria longe nesta Copa estava na cara desde 6 de fevereiro. As boas possibilidades do impressionante River foram esmiuçadas em abril.

Pois vamos então redoblar la apuesta: a lógica aponta um River x Lanús na semifinal. Atlético-MG e San Lorenzo, favoritos para também alcançar as quartas, hoje estão dois degraus abaixo da muy fuerte y re copada dupla argentina.


“Neymar sair do Barça? Uma idiotice. Me deprime”, dispara lenda argentina
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Tales Torraga

Sempre aplaudido na Argentina como um dos maiores intelectuais do futebol no país, o ex-técnico Ángel Cappa, 74 anos, destroçou a ida de Neymar para o PSG.

Ángel Cappa – Reprodução / La Gaceta

''Deplorável e lamentável. Ele largou o compromisso com o jogo para buscar fama e dinheiro'', disse Ángel à Rádio Belgrano, de Buenos Aires, neste domingo. ''Neymar era uma grande figura no Barcelona. Ele saiu para ser mais que Messi? Se foi por isso, é uma idiotice. Realmente me deprime.''

Cappa tem capa – je – para bancar o que diz. Seus antecedentes o colocam como uma verdadeira lenda viva do esporte e do pensamento na Argentina.

Histórico braço-direito de César Luis Menotti na seleção, Ángel se formou em filosofia e pedagogia ainda nos tempos de jogador. Pendurou as chuteiras em 1978 – era volante do Olimpo, onde atuou a vida toda. Perseguido pela ditadura, viveu exilado na Europa, onde espalhava faixas escritas ''Videla assassino'', abrindo os olhos do mundo para a carnificina que sangrava a Argentina naqueles tempos.

Cappa foi técnico de River, Racing e Peñarol, mas encontrou sempre um adversário ainda maior que seu intelecto: um temperamento visceral e de convívio impossível.

Sua carreira de treinador foi aquém da capacidade, e Ángel virou então um fantástico escritor sobre futebol, dono de frases geniais como ''não se pode reduzir o futebol ao resultado, assim como é impossível limitar o amor a um orgasmo''.

Cappa coloca Messi hoje acima de qual um – inclusive Cristiano Ronaldo. ''Cristiano é um dos maiores goleadores que vi, mas Messi joga em outras funções e faz os mesmos gols. É o melhor de todos, na minha maneira de enxergar o futebol.''

No mês passado, Ángel lançou em Buenos Aires seu aplaudidíssimo último livro, ''Nos roubaram o futebol''. A obra é uma bolada na cara – un pelotazo en la cara: ''Venderam tudo, até os sentimentos. Por isso converteram o futebol em um covil de corruptos e corruptores sem escrúpulos. Para aumentar fortunas, tudo vale''.

Está, claro, em espanhol. Tem 272 páginas e custa R$ 61 aqui.


Quanto custaria Maradona hoje? R$ 455 milhões a mais que Neymar, diz site
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Tales Torraga

Se Neymar custou R$ 821 milhões ao Paris Saint-Germain, quanto se gastaria na contratação de gênios do passado, como o argentino Diego Armando Maradona? Quem se debruçou no assunto para encontrar uma resposta foi o site ''Playratings'', especializado nas transações financeiras do futebol.

Maradona abraça Neymar (14 anos) em jogo de showbol em São Bernardo do Campo – Acervo pessoal

Calculando inflações e aumento de volume dos negócios dos clubes, a página chegou ao valor que o Napoli precisaria gastar para ter Maradona hoje em dia: R$ 1,27 bilhão, R$ 455 milhões a mais que o desembolsado pelo PSG por Neymar.

Outros cálculos interessantes do ''Playratings'': contratado pelo Milan em 1987, o holandês Marco Van Basten custaria atualmente R$ 1,21 bilhão. A transação mais cara da história – pegando os valores do passado e transportando para o presente – seria a de Ronaldo do Barcelona para a Inter de Milão em 1997:  R$ 1,60 bilhão.


Centurión já é passado. A 10 do Boca agora é de Cardona, o “Crackdona”
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Tales Torraga

Quem atacava a conduta e o futebol de Ricardo Centurión ganhou um prato cheio com a contratação de Edwin Cardona. Colombiano de 24 anos, ele até aqui fez só dois amistosos com a 10 xeneize, mas já passou a ser chamado pela maior torcida da Argentina de um jeito muito especial. Cardona virou o ''Crackdona''.

Edwin Cardona na Bombonera – Reprodução/Olé

(Em castelhano não se ouve este K, então é como chamar Cardona de 'Crádona'.)

Caradona – ou melhor, Crádona – está emprestado por um ano, vindo do Monterrey, do México. Seu estilo de jogo é comparado, e sem tanto exagero, com o de Juan Román Riquelme, o maior ídolo da história do Boca.

O colombiano realmente tem técnica admirável. Dá canetas, esbanja boa visão de jogo e cobra faltas com a maestria característica de Román. Só precisa controlar seu temperamento um pouco louco. No México, ficaram famosas suas brigas com os técnicos e com a balança, além de uma propensão a cortes de cabelos chamativos demais, para não dizer agressivos.

Cardona é convocado para a seleção colombiana desde 2014, mas a grande ilusão da torcida do Boca foi a bênção de Riquelme: ''Ele pode jogar melhor que eu. Tomara que jogue''.

Por enquanto, nos dois amistosos – 1×1 e vitória nos pênaltis sobre o Nacional do Uruguai e um 1×0 ontem (2) no Villarreal, na Bombonera – , Cardona fez um golaço no Bolso e deu uma caneta espetacular ante o time espanhol.

Não são poucos os que falam que Cardona vai fazer a torcida esquecer rápido de Centurión. São igualmente muitos os que exageram e dizem que até Carlitos Tevez vai cair no esquecimento ante a maestria de Crádona.

Não é mero papo de fanático. Até a imprensa portenha já bate nesta tecla.

Os brasileiros, porém, vão precisar esperar 2018 para vê-lo em ação contra suas equipes. Este Boca só volta às competições internacionais no ano que vem. Atual campeão argentino, o clube já tem vaga garantida na Libertadores do próximo ano ao lado de – ¡Mamita querida! – River, Racing, Estudiantes e Banfield.


Socos, bola murcha e área gigante. Entenda o escândalo da vez na Argentina
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Tales Torraga

Habituada a escândalos em seu futebol como talvez nenhum outro país do mundo, a Argentina está horrorizada com as falcatruas que farão Riestra e Comunicaciones jogar cinco minutos em campo neutro e com portões fechados nesta quinta (3).

Escândalo no fim de Riestra (preto) e Comunicaciones (amarelo) – Reprodução/Telam

As duas equipes integram o equivalente à Série C no Brasil e decidem quem sobe para a Série B. Ambas se enfrentaram no último domingo no Estádio Guillermo Laz, casa do Riestra, no bairro de Villa Soldati, em Buenos Aires. Os jogadores do Comunicaciones quase caíram para trás ao chegar a la cancha. As áreas estavam com marcações absurdamente maiores. As cenas de vídeo são patéticas.

Não à toa, o primeiro gol foi de pênalti – o time aumentou as áreas justamente para cavar as cobranças. É de chorar de rir – ou de angústia. Basta ver a reprodução.

O segundo tempo vinha com 2×0 para o Riestra, que garantiria a vaga no acesso caso mantivesse o placar. O Comunicaciones vencera a primeira partida por 1×0 e precisava de um gol para levar a decisão para os pênaltis. Foi quando os gandulas do Riestra passaram a jogar apenas bolas murchas em campo – os jogadores do Comunicaciones mostravam ao árbitro Paulo Vigliano, que mandava o jogo seguir.

Com o tempo regulamentar esgotado – e o anúncio dos cinco minutos de acréscimo para o término da partida -, veio o triste fim que está dando o que falar.

A partida rolava normalmente quando um jogador do Riestra invadiu o campo encapuzado e deu um soco na cara do camisa 10 do Comunaciones, Federico Barrionuevo. Inicialmente pensaram que era um torcedor – mas depois as imagens mostraram que o agressor foi Leandro Freyre, atleta da equipe.
A torcida invadiu o campo na sequência, continuando a agredir os jogadores e suspendendo o jogo que agora terá esses cinco minutos extras disputados com portões fechados no estádio do Defensores de Belgrano, também em Buenos Aires.

O Riestra já está punido com a perda de 20 pontos e com o fechamento de seu estádio por dez partidas. Resta saber em qual divisão esta pena será cumprida. O clube também precisará pagar uma multa equivalente ao preço de 300 ingressos, por dez jogos. Leandro Freyre, o agressor, deve ser suspenso do futebol até 2019.

O regulamento da AFA previa que o Riestra perdesse os pontos e o acesso – mas como na Argentina as decisões têm forte cunho político, decidiram por esta opção de se jogar cinco minutos mais nesta quinta-feira.

O favorecimento ao Riestra tem a ver com os interesses do presidente do clube, Víctor Stinfale, um poderoso e nefasto advogado que já declarou que ''defenderia Hitler se ele pagasse um milhão de dólares''.

Stinfale tanto fez que arrumou um padrinho de luxo para a equipe: ninguém menos que Diego Armando Maradona, que também é seu cliente.


A tarde em que o Santos de Pelé foi reverenciado na Bombonera
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Tales Torraga

''O Santos de Pelé é futebol espetáculo. O time entra em campo, se dirige ao centro e faz a saudação típica de artistas a cada vez em que se apresenta ao redor do mundo. Como na visita a Buenos Aires em 1968. Com Pelé, o show está garantido.''

Santos na Bombonera em 1968 – Reprodução / El Gráfico

Como o ódio entre brasileiros e argentinos tem atingido níveis cada vez mais tristes e preocupantes, convém lembrar que não foi sempre assim – e muito pelo contrário.

Basta observar esta abertura de matéria e estas fotos publicadas pela revista portenha El Gráfico em 1968, quando o Santos de Gylmar, Pelé e Pepe conquistou a Copa de Buenos Aires ao empatar com o Boca por 1×1 em plena Bombonera.

Aquele torneio amistoso – e existiam inúmeros naqueles tempos – contou com Santos, Boca, River, Benfica e os uruguaios do Nacional.

O Santos venceu duas partidas – 2×1 no River e 4×2 no Benfica – e empatou outras duas, um 2×2 com o Nacional e o 1×1 com o Boca que lhe deu a taça.

Era um time extremamente forte e que contava com o histórico zagueiro argentino Ramos El Negro Delgado. A escalação que entrou na Bombonera na tarde de 25 de agosto de 1968 contra o Boca tinha Gylmar, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Oberdan e Rildo; Lima, Joel e Amauri; Toninho, Pelé e Pepe.

O gol do Santos foi marcado por Toninho; Rojas descontou para o Boca. Mas o que chamou a atenção da El Gráfico da época acabou sendo o bom trato que a torcida xeneize destinou ao Santos:

''As lembranças da final da Libertadores de 1963 na própria Bombonera estavam frescas, e por que não dizer também da Libertadores de 1962 em Núñez, ambas conquistadas pelo Santos com grande futebol sobre Boca e Peñarol.''

''Não houve vaias e nenhum objeto foi arremessado ao campo. As mãos estavam ocupadas sendo levadas à boca para tapar o espanto ou para aplaudir mais uma grande exibição do Santos de Pelé, provando que neste grande palco chamado futebol, nenhum astro da Copa de 1966 foi capaz de roubar sua coroa de rei.''

O outro cumprimento do Santos em La Boca – Reprodução / El Gráfico

Pelé quase voltou à Argentina exatos dez anos depois desta saudação, mas para jogar por uma equipe do futebol local que queria aproveitar a febre gerada pelo título da Copa do Mundo de 1978.

Mas esta é outra história, tema para outro post…


“São Paulo da Argentina” volta para a Série A e destrói travessão na festa
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Tales Torraga

Com um uniforme idêntico ao do São Paulo, e com uma forte amizade entre as torcidas, o Chacarita Juniors, histórica equipe argentina, garantiu ontem (30) sua volta à Primeira Divisão do país, o equivalente à Série A do Campeonato Brasileiro.

Jogadores do Chaca festejam empate – Chacarita/Divulgação

O Chaca empatou em casa por 1×1 com o campeão Argentinos Juniors e garantiu o segundo lugar na atual Série B. A torcida e os jogadores comemoraram a volta à Primeira depois de sete anos destruindo o travessão do acanhado estádio para 25.000 pessoas que fica na cidade de San Martín, na Grande Buenos Aires.

Fundado em 1906, o Chaca comemorou seu aniversário de 110 anos, em maio de 2016, justamente com um amistoso com o Sub-20 do São Paulo.

Não há, ao menos oficialmente, nenhum vínculo comercial entre as equipes. Os pontos de contato são apenas as cores do uniforme, que estabelecem uma grande simpatia no lado argentino. Não são poucos, inclusive, os torcedores do Chacarita que vestem camisas do São Paulo – quase sempre piratas – nos jogos da equipe.

Tal simpatia fica clara até mesmo nos arredores do estádio. Há pinturas alusivas ao São Paulo e as semelhanças de escudos e uniformes não deixam margem à qualquer outro sentimento que não o de profundo carinho com o tricolor paulista.

Pintura na parede do estádio do Chaca – Twitter/Chacarita

O tricolor do Chaca, porém, não teve criação atrelada ao São Paulo. O clube inicialmente vestia azul celeste – bastante pobre, vendia jornais antigos para sobreviver, e as camisas então usadas eram as mais baratas e as que se desgastavam menos com o uso. O uniforme atual foi adotado nos anos 20. O vermelho foi escolhido pelas origens socialistas da agremiação, enquanto o branco simboliza a paz. O preto é da proximidade com o cemitério da Chacarita, onde está enterrado ninguém menos que Carlos Gardel, o maior cantor de tango da história.

O Chaca foi campeão argentino em 1969, humilhando o River Plate com um histórico 4×1. Dez anos depois, em 1979, foi rebaixado para a Serie B, dando início a uma sequência de quedas – até para a quarta divisão o Chaca já foi mandado.

O Chacarita não é conhecido apenas pela camisa tricolor e pela histórica campanha de 1969. É famoso também por ter uma das torcidas mais violentas da Argentina.

O apelido de torcedores e jogadores é ''funebreros'' – ''coveiros'' – , de novo pela proximidade com o cemitério. Seu grande rival local é o Tigre (derrotado pelo São Paulo no Morumbi naquela escandalosa decisão da Sul-Americana em 2012).

As grandes figuras do Chaca nesta campanha foram o armador Nicolás Oroz e o enorme artilheiro Rodrigo Salinas, autor de 30 gols. O técnico é Walter Coyette, 41, ex-meia do Chaca, cumprindo seu primeiro trabalho como treinador profissional.

Chaca posa antes do jogo contra o Argentinos Juniors – Chacarita Juniors / Divulgação


Fillol: “O Flamengo mudou minha vida”
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Tales Torraga

Messi, Maradona ou Di Stéfano?

Se há polêmica para definir o maior jogador argentino de todos os tempos, existe unanimidade para eleger o melhor goleiro da história. Ninguém contesta que Ubaldo Matildo El Pato Fillol foi – e continua sendo – o maior arquero da Argentina. Seguro.

Rodolfo Rodríguez e Pato Fillol – Reprodução/Terceiro Tempo

Fillol está com 67 anos e vive em Buenos Aires. Sua ocupação atual é trabalhar como embaixador do River Plate, onde viveu seu auge como goleiro na década de 70. El Pato percorre a Argentina contando histórias como ídolo do clube de Núñez e da seleção campeã da Copa do Mundo de 1978. Mas poucas experiências o marcaram tanto quanto defender o Flamengo nos anos de 1984 e 1985.

''Eu falo hoje para as pessoas e elas não acreditam que joguei no Maracanã para 200 mil pessoas'', disse o goleiro ao blog. Não eram 200.000 pessoas, tudo bem – mas o público de 150.000 torcedores, bem real, já é grandioso o suficiente.

''O Flamengo mudou minha vida. Depois de defender aquele gol, não há ser humano que não se modifique pelo menos um pouco. Eu já era bem experiente, tinha disputado três Copas, mas poucas vezes me emocionei tanto quanto depois de atuar diante de tamanha multidão. Era uma loucura.''

''A torcida argentina é mais apaixonada, ninguém discorda, mas não dá para discordar também que o carioca te dá um banho de alegria. A energia que o Maracanã tinha naqueles tempos era uma coisa realmente de outro mundo. Os argentinos amam o Rio, têm uma visão muito boa da cidade, e disfrutar tudo daquela maneira foi algo que realmente me tocou para sempre.''

''Não teve a menor rivalidade Brasil-Argentina, nenhuma hostilidade, nada. Os cariocas vão morar no meu coração para sempre. Quando digo que o Flamengo mudou minha vida, digo que mudou de uma maneira feliz, pude ver como as pessoas viviam muito alegres, de forma bastante diferente da Argentina.''

''Não mantenho muito contato, mas fiz enormes amigos naquele tempo. O Zico era ótimo. Un tipazo!  Eram ótimos tempos, de ótimos jogadores. Falava muito em campo com Jorginho, Leandro e Mozer, que jogavam logo diante de mim. Todos excelentes em campo, excelentes pessoas.''

El Pato no começo de julho, comemorando 67 anos – Arquivo pessoal

Fillol segue o noticiário do Flamengo pela internet, mas se recusa a opinar sobre a polêmica escalação do goleiro Alex Muralha diante do Santos: ''Qualquer coisa que eu diga de tão longe seria uma falta de respeito com todos que trabalham no clube. A única coisa que posso contar é a minha experiência pessoal, e ela no Flamengo me mostrou que é uma posição que te exige 100%, que você precisa estar muito preparado para lidar com as cobranças. A torcida te leva de um lado para o outro com a mesma facilidade, e quem trabalha precisa ser muy ponderado''.

Ele está otimista com o futuro de Diego Alves no clube: ''Como atuou na Europa e na seleção, tem bagagem para render no Flamengo. Vai ser uma questão de atitude e personalidade, porque técnica ele tem, isso está claro demais''.

Neste fim de semana de Corinthians x Flamengo, Fillol lembra de um duelo em particular que marcou sua carreira – o 4×1 Corinthians pelas quartas de final do Brasileiro de 1984: ''Era difícil ganhar do Flamengo daquele jeito, mas o Corinthians tinha um time bem forte, não tivemos mesmo muito o que fazer''.

Em 1985, já aos 35 anos, e com uma irresistível proposta do Atlético de Madri, Fillol deixou o Rio, mas seguiu brilhando. Mesmo em fim de carreira, era um dos melhores goleiros em atividade na Europa. El Pato pendurou as luvas aos 40 anos, no Vélez Sarsfield – e pegando um pênalti contra o River, seu ex-clube, em pleno Monumental de Núñez. Seu legado na Argentina é enorme. Desde 2008, ao fim de cada temporada, o goleiro menos vazado do país recebe o Prêmio Ubaldo Fillol.