Patadas y Gambetas

Seleção de Sampaoli é a mais velha da história argentina
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Tales Torraga

O frio e a neve de Moscou estão machucando esta Argentina viejita.

Sofrendo com a temperatura negativa e con las piernas muy cansadas, a seleção de Jorge Sampaoli fará amistoso amanhã (11) às 11h (de Brasília) contra a Rússia em uma situação muy particular: ela é simplesmente a Argentina mais velha de todos os tempos a se preparar para uma Copa do Mundo. Sete dos 11 titulares deste sábado já terão ultrapassado a casa das três décadas no Mundial de 2018.

Messi treina em Moscou – AFA/Divulgação

Lionel Messi, de 30 anos, puxa a fila dos trintões argentinos titulares em Moscou. Na Copa de 2018, o goleiro Romero terá 31; Otamendi, 30, Mascherano, 34, Enzo Pérez, 32, Di María e Agüero, 30. Son tipos grandes, con muchos años en esto.

Merecem menções também Guzmán (32), Marchesín (30), Fazio (31), Belluschi (34) e Papu Gómez (30), que estão na Rússia e, pobres!, começam o amistoso no banco de reservas, além dos lesionados de momento Biglia (32) e Mercado (31) – e Pipita Higuaín (30), que já planeja sua merecida volta à equipe no ano que vem.

O jornal ''Clarín'' é extremamente feliz ao dizer que, dos titulares em Moscou, só Pezzella (26), Kranevitter (24), Lo Celso (21) e Salvio (27) têm ''mais histórias para escrever que para recordar''.

Este ''excesso de bagagem'' é trabalhado em minúcias por Sampaoli desde já.

O elétrico treinador quer dosar todas as cargas de treinamento e amistosos para o grupo envelhecido chegar ao Mundial do ano que vem na melhor condição possível. Os próprios jogadores já somam seus cuidados – em mais de um caso há até mesmo um preparador físico pessoal que conversa sempre com os profissionais da seleção para prescrever o que é mais interessante ao atleta.

A Argentina titular de Sampaoli neste sábado (11) – La Nación/Reprodução

O dilema enfrentado por Sampaoli já está bem traçado. Esta Argentina será uma seleção de gente grande. Madura, experiente e conhecedora de seus próprios limites. Mas estará sempre exposta às lesões e às dificuldades da recuperação física lenta em uma competição tão exigente e de jogos tão seguidos como a Copa.

A Argentina do Pelado Sampa chegaria ao Mundial 2018 com uma assustadora média de idade de 30 anos e 9 meses – a do Brasil gira em torno dos 27 anos.

A comparação com a última Argentina campeã, a de 1986, é impactante: aquela tinha média de 26,9 anos. Apenas um jogador tinha 30 (Jorge Valdano), e o maior de todos, Diego Maradona, andava pelas 25 primaveras – mais 11 anos de carreira.

A Argentina campeã de 1978 tinha média de 25,8 anos – Galván (30) era o único trintão. Tarantini era o mais jovem, com 22. O goleador Kempes estava com 23.

¡El Matador tenía toda la polenta encima!

As seleções vices em 1930, 1990 e 2014 tampouco chegam perto da Argentina atual. O time de 1930 tinha média de 24,9 anos. O de 1990, 27; em 2014, 28,4.

A média de idade desta Argentina é distante também das últimas cinco campeãs. Os mais velhos primeiro: Itália (29,6 anos em 2006), França (29,4 anos em 1998), Alemanha (27,4 em 2014), Espanha (27,3 em 2010) e Brasil (26,7 em 2002).


“Este Brasil faz 7 a 1 na Argentina”, diz Mario Kempes
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Tales Torraga

Mario Alberto Kempes está entre nosotros. Vivendo nos Estados Unidos há muitos anos, onde é um importante comentarista da ESPN, o astro do título argentino na Copa de 1978 lançou ontem (7) sua autobiografia em uma livraria na Recoleta, bairro chique de Buenos Aires. Mais gentil que de costume (e olhe que é difícil…) por saber que falaria ao Brasil, El Matador Kempes analisou ao blog o momento da Argentina e do tradicional rival verde-amarelo na caminhada ao Mundial da Rússia.

Mario Kempes lança livro em Buenos Aires – Telám/Reprodução

''Hoje, se a Argentina enfrenta uma seleção bem preparada, como o Brasil, perde de mais de 7 a 1. O 7 a 1 ficaria curto para a gente'', afirmou, rindo. ''A Alemanha, como sempre, também é uma outra forte favorita. Os ingleses inventaram o futebol para os alemães ganharem, embora dizer isso ao Brasil não seja 100% justo.''

Kempes está com 63 anos e um ar sereno que não lembra em nada o atacante cabeludo e furioso que brilhou na Copa do Mundo dos militares, quase quatro décadas atrás. A idade e o distanciamento são um convite para ele analisar esta Argentina de uma maneira crua: ''Como vou defender a Argentina? É impossível!''.

''Os jogadores estão entre os melhores do mundo, e mesmo assim precisou batalhar até a última rodada para chegar à Copa.''

''Que o Brasil te ganhe, tudo bem, porque é Brasil. Que te façam cinco gols? Tudo bem. É o Brasil. Mas que empate com a Venezuela em casa e tenha que mudar de estádio porque a torcida está longe, que sofra com Peru e que milagrosamente ganhe do Equador que já estava eliminado, isso não é garantia de nada.''

''Tomara que eu erre muito feio, mas esta Argentina não inspira confiança.''

Capa da autobiografia de Kempes – Editora Planeta/Divulgação

A autobiografia de Kempes é extensa e muitíssimo bem escrita – como quase todos os livros argentinos sobre qualquer assunto. Lançada pela Planeta, principal editora da Argentina, a obra tem 376 páginas e custa R$ 72 (à venda aqui). Os trechos sobre o 6 a 0 no Peru e a decisão contra a Holanda em 1978 são saborosíssimos.


TV da Venezuela anuncia Maradona como comentarista da próxima Copa
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Tales Torraga

Diego Maradona já sabe o que vai fazer na próxima Copa do Mundo: ser comentarista da TV venezuelana Telesur no programa ''De La Mano Del 10''.

A iniciativa repete o sucesso de 2014, quando o contundente Maradona estrelou o ''De Zurda'' – ''De Canhota'' – junto ao narrador e apresentador Víctor Hugo Morales na emissora que é vista na Argentina como ''a TV internacional do chavismo''.

Maradona e Maduro na Venezuela – Twitter/Reprodução

O anúncio ocorreu ontem (6) à noite em Caracas – mais precisamente em Fuerte Tiuna, maior quartel militar de uma Venezuela em colapso e à espera das eleições municipais do mês que vem.

Maradona foi acompanhado durante todo o tempo pelo presidente do país, Nicolás Maduro. Ambos acusaram a oposição de causar todos os males que hoje assolam a Venezuela. ''O Conselho de Defesa da Nação vai se reunir para deter o ataque aos serviços de água e luz. O que está acontecendo virou uma guerra aos serviços públicos. É uma guerra. Precisamos colocar as pilhas [gíria para ''demonstrar empenho''] porque isso é uma guerra'', dizia Maduro, com Maradona, ao seu lado, balançando a cabeça, em aprovação.

Ao assumir os microfones, Diego narrou com emoção os seus momentos ao lado de Hugo Chávez, a quem considerava ''um amigo íntimo, um pai, um irmão''.

Maradona foi uma atração à parte na Copa do Mundo de 2014, mandando, por exemplo, Pelé e Beckenbauer calarem a boca. Seu programa contou com a presença de brasileiros como Rivellino, seu ídolo, e Careca, seu amigo e companheiro no Napoli. Em um dos programas, Maradona ironizou o Brasil cantando a pegajosa gozação ''Brasil, decime qué se siente'' no meio dos torcedores argentinos nas ruas de São Paulo.

Diego, como de costume, fez a internet explodir ao contar, na véspera da final do Maracanã contra a Alemanha, que esperava que Messi, finalmente, ''acabasse jogando como ele, Maradona, jogava''. Desde a saída de Maradona – na Copa do Mundo de 1994 – que a seleção da Argentina não sabe o que é ser campeã. O último título azul e branco no futebol mundial foi a Copa América de 1993.


O dia em que o juiz anulou um gol do River só porque torcia para o Boca
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Tales Torraga

River e Boca vão se cruzar às 19h (de Brasília) deste domingo (5) em um Monumental de Núñez lotado de gente e de raiva. A poeira continua bem alta. A Buenos Aires vermelha e branca segue re caliente com a arbitragem ante o Lanús.

Há 28 anos, uma falha bem menos importante – e bem mais famosa – também enfureceu os torcedores do ''millionario'', como o River é chamado na Argentina.

Juan Bava (centro) em um River x Boca dos anos 90 – El Caño/Reprodução

Em 5 de fevereiro de 1989, Boca e River jogavam na Bombonera pelo torneio local. A partida estava 0 a 0, quando Daniel Passarella, de muito longe, cobrou uma falta com perfeição, no ângulo. Era o 1 a 0 para o River, e ainda mais: o gol número cem da carreira de Passarella – uma marca impressionante para um zagueiro.

Mas o árbitro Juan Bava apitou impedimento de Jorge Higuaín, pai do hoje atacante da Juventus, Gonzalo Higuaín. Jorge estava adiantado, mas não participou do lance. Em vão. O golazo de Passarella foi anulado igual. O jogo terminou 0 a 0.

Bava comandou 11 ''superclássicos'' entre os anos 80 e 90, e passou pela curiosa situação de repetir sua autoridade na partida mais importante do futebol argentino sendo um…torcedor do Boca, como sempre reconheceu publicamente.

''Sou torcedor do Boca desde os quatro anos. Me levaram ao estádio e virei torcedor. E o que isso tem a ver? Nada. Passarella é torcedor do Boca e, ainda assim, foi presidente do River'', comparou Bava à revista ''El Caño''.

Ele custa – mas desliza que foi o coração, na verdade, que anulou aquele que seria um gol histórico de Passarella. ''O apito me escapou'', admite na mesma entrevista. ''Passarella ainda hoje me joga esse lance na cara. Já pedi desculpas dez mil vezes e ele sempre volta a falar disso. Basta! Já somos avôs, não podemos seguir assim.''

Bava e Passarella – La Nación/Arquivo

Bava e Passarella tiveram outra grande discussão cinco meses depois.

El Kaiser, na última partida da sua carreira, acabou expulso por ele. ''Bava me tirou porque torce para o Boca! E anulou o gol que fiz porque torce para o Boca!'', repetia o possuído Passarella ao deixar o campo naquela noite de julho de 1989.

''Juntei os dois capitães e combinamos que ninguém reclamaria nem comigo e nem com os bandeirinhas. O Graciani, do Boca, deu um soco na cara do Serrizuela, do River, e Daniel ficou louco com o assistente. Por isso o expulsei'', relembrou Bava.

***

Néstor Pitana, 42, que esteve na última Copa do Mundo e estará na próxima, foi o árbitro do River x Boca deste domingo (5), o de número 200 entre as equipes na era profissional. Estava Boca 73×64 River, com 62 empates. Agora a vantagem subiu para 74×64 – exatas dez vitórias de distância.

O Boca jogou melhor e mostrou por que segue o líder 100% neste Argentino, com oito vitórias em oito jogos. O River agora está com metade dos pontos (12 a 24).

O 2 a 1 para o Boca contou com três golaços. O primeiro, de falta, de Cardona, lembrou demais os melhores tempos de Riquelme. Ponzio empatou com um chutaço, e o volante Nandez, ex-Peñarol, deu números finais com um voleio.

Os dois times buscaram o jogo, e o Boca teve a cabeça mais tranquila como virtude. O River pouco antes do fim do primeiro tempo já teve um expulso, Nacho Fernández, por uma voadora no peito de Cardona – que levantou, cobrou a falta e marcou seu golaço de ''Crackdona'', como é enaltecido.

O River desta vez não teve o que chorar – pelo menos com a arbitragem. Há exatamente uma semana, era tido pelos argentinos como campeão mais que certo da Libertadores. E agora está perfilado em um divã cujo desfecho é imprevisível.

Já falamos isso mais de uma vez, e não custa repetir: nada mais argentino.

* Atualizado às 21h12 com o resultado do superclássico


O que a derrocada do River ensina ao Grêmio
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Tales Torraga

O blog está desde a madrugada de quarta (1º) em contato contínuo com o ''Mundo River'' tentando encontrar uma explicação para o que aconteceu em Lanús.

Dois dias e milhares de mensagens e conversas depois, já dá para entender o que fez o time – que avançara nas quartas com um 8×0  – levar a inacreditável virada por 4×2 (depois de abrir 3×0 no placar agregado e 2×0 no campo visitante).

Cacique milionário, Maidana lamenta – Olé/Reprodução

Contextualizamos.

O River vencia em Lanús por 2×0, tranqui tranqui, até os 40 do primeiro tempo, quando ocorreu o lance mais polêmico do jogo, a mão na bola de Marcone, do Lanús. A não-marcação do pênalti e o não-uso do árbitro de vídeo desatou a fúria dos jogadores e do técnico Marcelo Gallardo. Ainda neste estado de cabeza quemada, o River viu Sand, aos 46, descontar para o Lanús: 2×1.

Na ida ao vestiário, uma situação despercebida, mas que ajudou a desconcertar o River ainda mais: atacante do Lanús, Laucha Acosta gritou de tudo na cara do árbitro, e nem amarelo levou. Acosta e Gallardo quase saíram na mão.

O vestiário do River no intervalo de Lanús foi 1000% dominado por críticas à arbitragem. Lembraram do pênalti não-marcado sobre Scocco no Monumental e da voadora criminosa de Sand em Maidana que não significou nem um amarelo em Núñez. Criticaram a mão de Marcone e outra patada brutal, de Bragheri em Scocco, também para vermelho e também para nada – tudo no final do primeiro tempo.

Lembraram também que o Lanús chegara às semifinais contando com outros erros de arbitragem que deixaram o San Lorenzo pelo caminho, com o time do Papa reclamando até hoje de outro pênalti não-marcado.

O gol na última bola do primeiro tempo, claro, acendeu o Lanús, que viveu um clima totalmente oposto no intervalo. ''O técnico nos mandou forçar tudo, que se a gente fizesse um gol logo no começo, o River iria se cagar'', contou o zagueiro granate José Luis Gómez ontem (2) ao canal TyC Sports.

Bingo. Gol na última bola do primeiro e na primeira do segundo tempo.

Neste embate da confiança contra a raiva, o Lanús atropelou o River. ''Eles ficavam se xingando entre si, nem sabiam onde estavam'', arrematou Gómez.

Outros dois fatores fizeram o River se paralisar: primeiro, a saída do importantíssimo volante Enzo Pérez, machucado logo no começo do segundo tempo, sem aguentar as entradas duras do Lanús. Depois, no lance que resultou no 3×2, um soco de Román Martínez na cara de Rojas – também ignorado. Rojas foi o jogador seguinte a ser tirado de campo por Gallardo.

Pelo lado do Lanús, mérito total a Pepe Sand, que acreditou sempre na virada – e tinha mesmo razões pessoais para isso, por ter sido rejeitado pelo River e insultado pelo narrador Hernán Santarsiero, que o chamou de ''corno''. Muito longe de pedir desculpas, Santarsiero comparou Sand a um macaco no fim do segundo jogo: ''O River o tirou de cima de uma árvore, onde só as bananas o conheciam''. Baixaria.

O River jamais absorveu o impacto emocional. Poderia estar vencendo por 3×0, mas se viu com um 2×2 – e tudo em apenas sete minutos de bola rolando entre o penal não-marcado e o segundo gol de Sand. Entrou em um estado de pânico que nublou toda sua qualidade técnica. Apagou suas ideias e perdeu o caráter tão forte e copeiro dos últimos anos. Jogadores muy experientes como Lux, Maidana, Pinola, Ponzio e Scocco realmente não sabiam onde estavam.

É claro que conspirações não faltam.

Alejandro Fantino, um dos apresentadores mais importantes da TV argentina, cravou um mês antes desta partida que o River seria eliminado da Libertadores por uma arbitragem escandalosa. Ele não apresenta provas, mas argumenta seu raciocínio dizendo que a Conmebol não permitiria que uma equipe envolvida com doping chegasse à final. Cita também as constantes brigas entre Rodolfo D'Onofrio, presidente do River, com a AFA e a Conmebol – bem ao contrário de Nicolás Russo, mandatário do Lanús, que nutre uma quase irmandade com os dois órgãos.

A sensação predominante em Buenos Aires é:

Se fizeram de tudo com o gigante argentino River (quebraram o ônibus, lincharam a torcida e foram favorecidos por uma arbitragem tendenciosa e bem omissa com a violência verbal e física), pensem o que não farão com um clube do Brasil.

A resposta virá no dia 29, data da finalíssima entre Lanús x Grêmio, em um estádio dos mais hostis, onde até tiram a roupa para torcer. Todo cuidado vai ser pouco.

Torcedor do Lanús – Olé/Reprodução


Brasil é freguês da Argentina em finais de Libertadores
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Tales Torraga

Grêmio e Lanús farão a 14ª decisão de Libertadores da América entre times brasileiros e argentinos. E o histórico do confronto é cruel para as equipes do Brasil, que perderam nove (69,2%) e ganharam quatro (30,7%) dos 13 títulos em jogo.

O próprio Grêmio entra nesta decisão com uma grande espinha a ser arrancada: a de perder as duas finais de Libertadores disputadas contra os argentinos, em 1984 (para o Independiente de Bochini) e em 2007 (para o Boca de Riquelme).

Festa do Boca sobre o Grêmio em 2007 – Clarín/Reprodução

Esta decisão de 2007 marca também a maior derrota em decisões de Libertadores – incluindo todos os países e todas as edições. O Boca fez 3×0 na Bombonera e 2×0 no Olímpico. Este 5×0 no placar agregado jamais foi superado; sequer repetido.

Os títulos argentinos sobre os brasileiros têm também outra particularidade: ocorreram em todas as décadas de disputa da Libertadores.

Nos anos 1960, o Estudiantes foi campeão em cima do Palmeiras; em 1974, foi a vez do Independiente, contra o São Paulo; e em 1977, do Boca, sobre o Cruzeiro.

O mesmo Independiente seria o algoz do Grêmio em 1984. Renato Gaúcho, hoje técnico tricolor, estava em campo naquela decisão. Na década de 90, a Argentina comemoraria o título do Vélez de Carlos Bianchi sobre o São Paulo de Telê Santana em 1994 – nos pênaltis e no Morumbi lotado e assustado com Chilavert.

Título do Independiente sobre o Grêmio em 1984 – Independiente/Arquivo

Os anos 2000 tiveram 100% de superioridade argentina, com títulos do Boca sobre o Palmeiras (2000), o Santos (2003) e o Grêmio (no já citado 2007), além da conquista do Estudiantes sobre o Cruzeiro em 2009, na noite de Verón.

A vingança veio nos pés (e na mordida) de Emerson Sheik, com o Corinthians debutando em títulos de Libertadores justamente contra o Boca, em 2012.

Curioso: os títulos brasileiros sobre argentinos representam a primeira (1963, Santos sobre o Boca) e a última decisão entre os países (esta de 2012).

As outras duas conquistas vieram com o Cruzeiro, em 1976, sobre o River, e em 1992, com o São Paulo de Telê contra o Newell's Old Boys de ''Loco'' Bielsa.

As 14 finais Brasil x Argentina na Libertadores:

1963 – Santos campeão / Boca Juniors vice
1968 – Estudiantes campeão / Palmeiras vice
1974 – Independiente campeão /  São Paulo vice
1976 – Cruzeiro campeão / River Plate vice
1977 – Boca Juniors campeão / Cruzeiro vice
1984 – Independiente campeão / Grêmio vice
1992 – São Paulo campeão / Newell's Old Boys vice
1994 – Vélez Sarsfield campeão /  São Paulo vice
2000 – Boca Juniors campeão /  Palmeiras vice
2003 – Boca Juniors campeão / Santos vice
2007 – Boca Juniors campeão / Grêmio vice
2009 – Estudiantes campeão /  Cruzeiro vice
2012 – Corinthians campeão / Boca Juniors vice
2017 – Grêmio x Lanús – ??

Títulos argentinos com o jogo decisivo ocorrendo no Brasil 
Cinco (1994, 2000, 2003, 2007 e 2009)

Títulos brasileiros com o jogo decisivo ocorrendo na Argentina 
Um (1963)

As demais conquistas ocorreram em campo neutro (1968, 1974, 1976 e 1977), com mando de campo argentino (1984) e com mando brasileiro (1992 e 2012).


O Lanús é o pior adversário para o Grêmio
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Tales Torraga

O blog escreveu em 6 de fevereiro que ''o Lanús era o argentino mais perigoso desta Libertadores''. Quase nove meses depois, eis que a pequena equipe do sul de Buenos Aires deixou a cara de campeão do River no chão, na semifinal argentina mais surpreendente já vista por aqui, mais até que o Boca-River de 2004.

O River vai reclamar para sempre – e com razão – dos pênaltis não-marcados tanto em Lanús quanto na ida, mas deixemos Núñez chorar em silêncio e tranquilo. Ya tá.

Festa do Lanús, choro do River – Olé/Reprodução

A hora é de traçar o que este Lanús pode oferecer de perigo ao Grêmio na decisão da Libertadores, e a resposta é muito simples: trata-se de um adversário pior para o tricolor gaúcho até que o próprio River Plate.

A principal razão tem a ver com o palco da finalíssima. Ante o River, a decisão Brasil x Argentina seria em Porto Alegre. Mas o Lanús vai decidir a Copa em casa contra os gremistas, numa Fortaleza bélica que bagunçou a cabeça do badalado e experiente River de maneira que ninguém esperava.

(Esta virada do Lanús é um sinal de que o Grêmio corre risco ante o Barcelona?

No lo creemos…)

Um time argentino não perde a Libertadores jogando a decisão em casa desde 1979, quando o Olimpia tirou a taça do Boca. Antes disso, só em 1963, com o Santos de Pelé em cima do mesmo Boca, que um argentino deixou a Libertadores escapar em seu país. O cálculo contrário é aterrador: os argentinos ganharam nove das 11 finais que fizeram com a decisão ocorrendo em seus domínios.

E não dá, claro, para limitar o Lanús apenas à sua casa.

O time tem um goleiro excelente. Zagueiros um pouco instáveis, é verdade, mas que souberam segurar as pontas quando preciso. A virada descomunal do 0x2 para o 4×2 é um sinal claro de que o time tem poder de fogo e, mais do qualquer outra coisa, uma raça admirável mesmo para o altíssimo padrão de huevos argentinos.

Pepe Sand e Laucha Acosta, a dupla de atacantes, pode ser considerada hoje a melhor da Argentina. Foram capazes de superar um River que atuou com um matador só, Scocco, que teve o azar de falhar pelo menos três chances claras para decretar o terceiro gol que consolidaria a vaga.

Méritos também a Jorge Almirón, técnico do Lanús, que conduziu os 180 minutos da semifinal de maneira mais eficiente que Marcelo Gallardo – e que esta polêmica derrota não apague tudo o que ele fez de bom nesses três anos à frente do River.

O River realmente morreu no segundo tempo – essa é a grande verdade.

Somando os 180 minutos da semifinal, a equipe foi amplamente superada pelo Lanús durante uns 20, se tanto – o suficiente para a emocionante definição.

Fica a lição ao Grêmio.

(E três torcedores do River foram linchados e correm risco de morrer. O jogo de Lanús teve clima de guerra e total cheiro de desgraça. A Argentina não aprende.)


Risco de tragédia ameaça semifinal entre Lanús e River
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Tales Torraga

De hoje não passa. A Argentina já conta os minutos para a decisão entre Lanús e River Plate, às 22h15 (de Brasília) desta terça (31), em Lanús, nos arredores de Buenos Aires. A semifinal de ida, semana passada, no Monumental de Núñez, terminou 1×0 para o River, mas o assunto que domina as conversas portenhas tem pouco a ver com o futebol – e mais com a loucura das torcidas e dos dirigentes.

Lanús e River brigam para ir à final da Libertadores – Olé/Reprodução

De maneira incompreensível, o Lanús colocou à venda as entradas para um setor do estádio para não-sócios, e todas elas foram compradas pelos torcedores do River. A torcida visitante não está permitida nesta semifinal – apenas os ''neutros'', uma forma de camuflar os controles policiais e ajudar, claro, o time mandante a faturar mais vendendo as entradas ''neutras'' por um preço maior que o normal.

É obviamente impossível ser ''neutro'' em uma semifinal de Libertadores na Argentina, onde tudo é feito no limite da paixão, rivalidade e desorganização.

O governo federal entrou na jogada. O órgão responsável pela segurança dos estádios foi destacado para cuidar de perto desta questão, mas as iniciativas foram desastradas: ''Que os torcedores do River não estejam em Lanús, porque há sim o risco de passarem muito mal'', declarou Juan Manuel Lugones, da Aprevide (Agencia de Prevencion de la Violencia en el Deporte). A ameaça – em vez da tentativa de proteção – ganhou um recuo. Ontem (30), Lugones esteve em Lanús estudando como refazer o sistema de segurança para comportar os torcedores do River que vão ficar atrás de um dos gols, no setor chamado Alejandro Solito.

Se nada de anormal acontecer, é de se imaginar que 5.000 fanáticos pelo River estejam apertados em um setor contra outros 35.000 torcedores do Lanús.

A Fortaleza de Lanús é acanhada, e o bairro vive, como praticamente toda Buenos Aires, sempre em meio à insegurança. Chegar, ficar e sair de lá à noite vai ser um martírio, e os portenhos realmente temem pelo pior – uma batalha generalizada. É mais que previsível que os derrotados busquem a desforra na violência.

E há um agravante que deixa tudo ainda mais tenso.

O Lanús é coirmão do Boca. Há um grande ódio mútuo entre o clube e o River também por esta razão. Para piorar, estamos às vésperas do ''superclássico'', no próximo domingo (5), no Monumental de Núñez, só com torcedores do River.

Mais uma deixa para que os inadaptados busquem o confronto na noite de Lanús.


Por que o aniversário de Maradona é um Natal para os argentinos?
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Tales Torraga

Nesta segunda-feira (30), Diego Armando Maradona completa 57 anos de uma vida vivida a 5.700 km/h. E mesmo 20 anos depois de parar de jogar, é plenamente possível imaginar que esta ''loucura maradoniana'' vai ser eterna em Buenos Aires.

Altar na Igreja Maradoniana – Reprodução /IM

Um rápido passeio na madrugada desta segunda pelo Barrio Norte, na zona de Palermo, uma das mais chiques da capital portenha, mostrou que a Igreja Maradoniana, culto ao maior jogador da história argentina, segue ativa como nunca.

De 300 a 500 pessoas adentraram a semana de trabalho em um complexo de campos de futebol society para celebrar a data que tratam, com fervor, como uma mescla de Natal e Ano Novo – neste caso, o 57 DD (depois de Diego).

Tudo foi armado como um culto religioso: vigília, ''missa maradoniana'', batismos e entregas de carnês para os colaboradores que quiserem financiar as atividades anuais da igreja. A entrada para a festa em Palermo custava 100 pesos (cerca de R$ 14) e dava direito ao sorteio de uma camisa autografada por Diego, assinada em Dubai, onde ele hoje trabalha como técnico do Al Fujairah, do futebol local.

Detalhe da ''água batizada'' a Branco no altar maradoniano – Igreja Maradoniana

Apesar dos rituais, a igreja, claro, é uma paródia francamente reconhecida pelos seguidores. ''Tenho uma religião racional, a Católica, e uma religião do coração, que é Diego Armando Maradona'', diz Alejandro Verón, um dos fundadores da igreja.

A concentração desta segunda (30), por exemplo, era o equivalente a um churrasco de final de ano de empresa em um campo de futebol. Muita carne, muita bebida e muita gente cantando uma devoção a Maradona que não parece passar com o tempo. Pelo contrário. Parece crescer e acompanhar as novas gerações.

É difícil entender a adoração argentina por Diego, mas tentamos explicar.

Família com as entradas do Natal Maradoniano – Igreja Maradoniana

Foi ele quem proporcionou a maior alegria esportiva ao país depois das carnificinas que foram a ditadura e a infame Guerra das Malvinas. Na passional cabeça argentina, é como se ele, Diego Armando Maradona, sozinho, tivesse vingado e homenageado os combatentes mortos no conflito com sua atuação épica ante os ingleses no México 1986. Ali, Maradona foi Argentina em estado puro. Trapaceando com o seu gol de mão e fazendo, minutos depois, o ''gol do século'', enfileirando ingleses caídos no gramado do Azteca (e olhe de novo a analogia às Malvinas…).

A Igreja Maradoniana, claro, é atacada com força dentro de uma Argentina que não à toa é o país onde nasceu o vigente papa Francisco. Os católicos respondem por cerca de 75% da população de todo o território nacional, e muitos portenhos, principalmente, veem um rotundo desrespeito no culto à imagem de Maradona – uma pessoa com tantas transgressões e tanto problemas com drogas não deveria ser exemplo de nada, muito menos um deus supremo ou uma divindade, repetem.

''Nossa função é dar lugar às emoções geradas por Maradona e dar lugar também à paixão pelo futebol. Só queremos mostrar o que sentem os argentinos por um esportista que tanto nos representou, deixando bem claro que respeitamos as crenças dos demais'', fala Mariano Israelit, organizador do Natal Maradoniano.

A loucura desatada por Maradona faz a sua igreja ter filiais na Alemanha e, acreditem, até na Inglaterra. Segundo os organizadores, o culto conta hoje com cerca de 500.000 pessoas ao redor do planeta. Há o ''Diego Nuestro'', oração que é versão maradoniana do ''Pai Nosso'', essa aqui:

''Diego nosso que estás na Terra / Santificada seja a nossa canhota / Venha a nós a sua magia / Seja feita memória aos seus gols / Assim na Terra como no Céu / A alegria nossa de cada dia / Dai-nos hoje, Diego / Perdoai aqueles jornalistas / Assim como nós perdoamos a máfia napolitana / Não nos deixeis, Diego, manchar esta pelota / E livrai-nos de Havelange / Amém''.

Para fechar, que tal os ''Dez Mandamentos maradonianos''?

Os Dez Mandamentos – Igreja Maradoniana


Técnico do River escala o filho como titular
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Tales Torraga

O técnico Marcelo Gallardo, do River, vive uma semanas das mais estressantes. Perto de alcançar sua segunda decisão de Libertadores em três anos, ele vai ter um sábado (28) para mexer com as emoções mesmo quando o dia deveria ser de um jogo dos mais triviais – contra o Talleres, pelo Argentino, às 21h20 (de Brasília).

A partida vai ser muy especial para ele e para a família pela estreia do seu filho, Nahuel, de 19 anos, como titular do River Plate em um jogo oficial.

Nahuel Gallardo treina no Monumental – River/Divulgação

Nahuel é lateral-esquerdo e descrito pelo jornal ''Clarín'', o principal da Argentina, como ''briguento e bom marcador''. Neste ano, em uma partida da Reserva, como são conhecidos na Argentina os torneios similares aos dos Aspirantes, ele saiu na mão com um adversário, como já havia feito nas férias em Punta del Este.

O filho de Gallardo ficou famoso por ser gandula nos jogos do pai. É tradição no River que os jogadores da base sejam os alcanzapelotas dos profissionais.

Nahuel não chega à titularidade como privilégio concedido por Marcelo. Ele vem sendo o titular da Reserva desde o começo do ano, e como a equipe escalada neste sábado (28) em Córdoba será de jogadores que não vão para a semi da Libertadores contra o Lanús, é natural que ele seja escolhido para começar o jogo.

Gallardo é beijado por Nahuel – TV/Reprodução

Um dos grandes orgulhos de Marcelo é não ter feito a menor pressão – nem no filho e nem no clube – para tal momento acontecer. Apesar de sua pecha de durão, quem o conhece bem sabe que é bem capaz de o Napoleón Gallardo precisar esconder as lágrimas ao ver o rebento defender a camisa do clube que ama.

''Vou exigir meu filho mais que os outros'', contou, sincero, sobre o que esperar do tratamento destinado a Nahuel. ''Trato de separar, por mais que os outros achem que isso seja difícil. Estou aqui para analisar rendimentos. Também sou pai, mas no futebol, em um clube como o River, as coisas são assim.''

As coisas são assim mesmo, Marcelo querido.

A criança que você carregava no colo hoje é um adulto que já está traçando a vida nessas quatro linhas tão importantes para você, para a gente, para todo mundo.

''Yo veo el futuro repetir el pasado
Veo un museo de grandes novedades
Y el tiempo no para. No para, no, no para…''
''El tiempo no para'', Bersuit Vergarabat

Marcelo e Nahuel em Monaco em 1999 – Arquivo pessoal

* Atualizado: Que loucura. O River levou 4×0 do Talleres – e o Lanús também foi atropelado por 4×0, mas pelo Huracán. Tanto River quanto Lanús jogaram fora.

O que os atropelos mudam a decisão de terça-feira (31)?

Absolutamente nada. Pelo Argentino, River e Lanús escalaram ''times mistos'' entre as opções B e C. Até os reservas importantes para a Libertadores foram poupados dos compromissos do campeonato nacional.

E Nahuel Gallardo?

Teve uma estreia bastante discreta. Não brilhou e não comprometeu. Levou cartão amarelo por uma patada violenta – e um pouco destrambelhada – e foi repreendido pelo pai. ''Não se jogue tanto no chão'', pediu Marcelo.

Marcelo (costas) e Nahuel – Olé/Reprodução