Patadas y Gambetas

Por que a Argentina campeã de 78 teve goleiro com a camisa 5?

Tales Torraga

Habituados com os números aleatórios no futebol moderno, os torcedores mais novos sequer devem estranhar. Mas quem lembra da Copa do Mundo de 1978 certamente achou esquisito o número que o goleiro Ubaldo Matildo Fillol usou naquele Mundial: o 5, algarismo destinado na Argentina a um volante tradicionalmente cabeludo e que não se faz de rogado em acertar o adversário.

Fillol em 1978 – Editora Planeta/Divulgação

A razão para o uniforme de Fillol é mais simples do que o imaginado. A numeração da Argentina naquela Copa seguiu a ordem alfabética do sobrenome. O camisa 1, por exemplo, foi Alonso, meia do River Plate, que pouco jogou naquele Mundial. Capitão e zagueiro, Daniel Passarella usou a camisa 19. Se Maradona fosse convocado para aquela Copa, jogaria com o número 15, que foi vestido pelo também zagueiro Olguín.

A excentricidade argentina não era, no fundo, tão excêntrica assim. A Holanda, adversária na final daquela Copa, também contou com o goleiro Jongbloed vestindo a camisa 8 – até onde se sabe, por uma escolha pessoal do atleta, e não por algum padrão que a seleção então adotava.

A Argentina levou adiante a escolha alfabética para a Copa do Mundo seguinte, na Espanha. Fillol voltou a usar um ''número de linha'' – o 7, como nesta imagem do primeiro gol que ele levou do Brasil naquele histórico 3 a 1.

Fillol em 1982 – Planeta/Divulgação

Beto Alonso não foi convocado para o Mundial de 1982. O número 1 coube então ao elegante volante Osvaldo Ardiles, que disputou aquela Copa chorando a morte de um primo, soldado na Guerra das Malvinas.

Ardiles (camisa 1) – Revista Goles/Reprodução

As numerações da argentina em 1986 e 1990 foram uma mescla de alfabeto e escolha própria dos jogadores. Maradona vestiu sempre a 10. Passarella, por exemplo, vestiu a 6, embora não tenha jogado no México. O camisa 1 da Argentina em 1986 foi o atacante Almirón, que não jogou. O goleiro Pumpido foi o 18.

Em 1990, os goleiros argentinos já voltaram à numeração habitual. Pumpido começou aquele Mundial com a 1, e Goycochea se consagrou com o número 12 às costas. Mas alguns jogadores curiosamente mantiveram ordem alfabética: a eliminação do Brasil na Copa foi decretada por Claudio Paul Caniggia que vestia a 8, número que não condizia com a sua posição em campo e que ele voltou a usar apenas quando fez dupla com Maradona no Boca. Em 1994, ele já vestiu a 7.