Ídolo do River, Ponzio é adorado pelos fãs do Boca e até por Mauricio Macri
Tales Torraga
Se fosse no Brasil, diríamos que “o pau cantou”.
Mas é na Argentina, e River Plate e Rosário Central “se dieron de lo lindo” no alucinante 0x0 deste domingo no Monumental. Os dois times trocaram pontapés do minuto 0 ao 98 para assombro de Jorge Sampaoli, novo técnico da seleção, que viu parte da batalha nas tribunas ao lado de Rodolfo D´Onofrio, presidente do River.
E se há batalha, logo há o espírito de luta inigualável do volante Ponzio, grande ídolo do River. Não é exagero: ele é adorado até pela torcida do Boca Juniors.
Ponzio foi lúcido ao distribuir passes e orientar seus amigos neste domingo. Mas ele fez muito mais no Monumental. Tratou cada bola como a última sorvida do mate caliente no frio de junho, com uma entrega impressionante até mesmo para a Argentina sempre acostumada a deixar a vida no gramado.
O volante tem 35 anos e deve se despedir do futebol neste ano – para tristeza de Mauricio Macri, presidente da Argentina, seu fã declarado.
Ex-mandatário do Boca, Macri já falou que o maior erro da sua gestão foi deixar escapar a contratação de Ponzio quando ele ainda era promessa no Newell’s.
A própria torcida do Boca, em caso raríssimo na história, banca Ponzio em todas.
Repete sempre que ele era um jogador para o clube, com todo este espírito de luta – e esta mística guerreira de Ponzio fica ainda mais evidente em seus duelos contra Gago, volante refinado e muito distante da valentia entregue pelo #23 do River, que além de se matar em campo age como alguém de realmente 35 anos na frente de um microfone. É sempre respeitoso. Não tira sarro, não cria polêmica, não diz que vai dar tapa de uruguaio, diz que só quer voltar para o meio do mato curtir a vida, os asados e os amigos e que a vida é muito mais que 22 caras correndo atrás da bola.
Outra grande barreira quebrada pelo fenômeno Ponzio é ele hoje ser garoto-propaganda de uma importante fabricante de barbeadores. Na sempre extremamente passional Argentina, é raro demais um jogador do River ser usado para tais fins justamente pela rejeição dos contrários do Boca.
Mas isso não ocorre com Ponzio.
Ocorreu, é verdade, na noite do gás pimenta, quando ele teve os olhos mais queimados entre todos, mas isso na verdade era a evidência da paixão enrustida.
E ela foi ouvida bem alto na noite de ontem no Monumental nos instantes finais do festival de patadas de River e Central:
“A Leo Ponzio no lo vamos olvidar”
Ele é mesmo inesquecível.