Parar de beber. Buscando seu drible mais difícil, Ariel Ortega faz 43 anos
Tales Torraga
Quem viu Ariel Ortega em campo no começo dos anos 90 sabe bem o que ele foi: um craque de bola tido na Argentina como justo sucessor de Maradona e elogiado até no Brasil – por Zagallo! – como um dos grandes dribladores da história.
Encarador e muy habilidoso, o adolescente Ortega humilhava os zagueiros mais maldosos e era amado por isso por toda a Argentina – até pela torcida do Boca, por exagero que possa parecer.
Aos 17 anos, estreou no River, sob a mão pesada de Daniel Passarella. Aos 19, já tabelava de igual para igual na seleção adulta com Redondo, Simeone, Caniggia, Batistuta e… Maradona, seu companheiro de quarto naquele Mundial 1994.
Não vamos abrir mais as suas feridas, mas é impossível falar de Ortega sem citar que ainda antes dos 20 anos ele caiu nas garras do álcool para sempre.
Mesmo conciliando complicações e tratamentos, jogou outras duas Copas do Mundo. Dói o coração olhar para sua trajetória e ver que mesmo com tantos problemas – e com constantes apelos públicos de sua mãe e suas irmãs que recorriam à TVs e jornais -, Ortega foi capaz de ser o criador de jogo da Argentina, um dos postos mais exclusivos e cobrados do futebol mundial, por simplesmente três Copas do Mundo, as de 1994, 1998 e 2002. Fuiste un pedazo de crá, Burrito.
A coleção de escândalos e as tentativas de voltar a jogar em bom nível são bem parecidas com as do hermano de genialidade e adição, Adriano Imperador.
O implacável fim de carreira chegou para Ortega aos 38 anos, em 2012. Pouco depois, o River, seu berço no futebol, abriu as portas para ele ser embaixador e técnico da base, mas logo veio o triste déjà vu. A bipolar Argentina é cruel para frequentemente viralizar suas recaídas, mas muy amable com o sofrimento da família. ''O Ariel não merece este fim'', foi o apelo de Ana, sua irmã mais velha.
Há também a insuportável rotina de lidar com notícias falsas anunciando sua morte.
Ortega completa hoje 43 anos – com a família em Jujuy e Buenos Aires; com a mulher, as filhas (17 e 9) e o filho (13). Só atrai os holofotes nas viagens organizadas pela torcida do River na Argentina e no exterior para lhe dar forças.
Força, Burrito!
Infelizmente podemos fazer muito pouco, quase nada, com a sua vida. Mas saiba, de coração, que você fez muito pela nossa. Lo queremos por lo que hizo con la nuestra. Sua magia no césped de Núñez nos dá vontade de chorar só de lembrar.
Perdón, no me alcanzan las palabras. Gracias totales por tanto.