Patadas y Gambetas

Houve doping e suborno em 78, afirma atacante argentino em documentário

Tales Torraga

Sempre que Argentina e Peru se cruzam, Buenos Aires revira arquivos e ressalta aos mais jovens o nefasto 6×0 que classificou a Seleção à final do Mundial 78.

Foi o que ocorreu nesta semana. As conversas portenhas nos cafés e nas redes sociais mesclaram Bauza e Menotti, Higuaín e Kempes, Funes Mori e Passarella.

O presente sem Messi e o passado sem pudor.

Enquanto as fotos de Brasil x Polônia mostram a luz da tarde de Mendoza, as imagens de Rosário de Argentina x Peru escancaram, 38 anos depois, uma das noites mais negras do futebol. O jogo de bola foi um claro jogo de interesses.

Para eliminar o Brasil e avançar à final jogando em casa, a Argentina primeiro adiou seu duelo para saber que placar precisaria. Tinha de fazer quatro gols. Marcou seis.

Toda a trama foi esmiuçada pelo documentário portenho 'Verdad o Mentira' – que até censurado foi. Hoje, integra a lista oficial dos filmes para conscientizar o mundo das tragédias do terrorismo argentino praticado pelas Forças Armadas.


A fala mais aguda da produção é a de Ortiz, atacante titular da Seleção que ganhou aquela Copa. Com o inseparável cigarro, ele, que jogou também no Grêmio, cravou: ''Havia dinheiro e droga. E onde há dinheiro e droga, há doping e suborno''.

Outro ponto alto são os testemunhos do volante José Velázques.

Dos líderes da seleção do Peru, ele detalha sua saída de campo naquele jogo. Narra também a contratação do zagueiro Manzo, de muitas falhas no 6×0, para jogar no Vélez em 1979, e os papos com o próprio Ortiz sobre as manipulações.

O documentário completo está aqui. E traz, claro, versões que asseguram a legalidade do jogo. Desespero argentino + Peru já fora = 6×0 na bola, sin trampas. 

São descritas também a ida do presidente Videla ao vestiário do Peru e a doação milionária de trigo do governo argentino ao peruano, uma suspeitíssima gentileza.

O conflito entre presente e passado deste caso é tão grande quanto triste.

Na última quarta, enquanto a Argentina treinava para jogar em Lima, o ex-goleiro Fillol participava, com outros integrantes do Mundial 78, de um congresso de futebol em Buenos Aires para alertar que muitos daqueles ex-jogadores estão na miséria.

Há doping e há suborno. Copas que passam. Dores que ficam.