Patadas y Gambetas

Tevez estreia na Libertadores tentando morder o recorde de Rogério Ceni

Tales Torraga

A noite tão esperada chegou. Carlos Tevez e a Libertadores da América se reencontram hoje na Colômbia às 21h45 com Deportivo Cali x Boca Juniors.

Tevez, 32, é dos atletas mais queridos e vitoriosos da história da Argentina. Chamado de ''Jogador do Povo'' pela origem humilde, volta à Copa depois de uma década – uma vida no futebol de alto nível – atuando na Itália e Inglaterra.

A última vez de Tevez na Libertadores ecoa mais no Brasil que na Argentina. Era ele o 10 corintiano eliminado pelo River Plate no Pacaembu em 4 de maio de 2006.

Desolação de Tevez e alegria da torcida millonaria no Pacaembu

Tendo vencido – ajudado pelo juiz Amarilla – a ida em Buenos Aires por 3×2, o River de Gallardo, Higuaín e Passarella ganhou a volta em São Paulo por 3×1.

Capitão e craque de um time ''galáctico'', Tevez nem precisou esperar o jogo acabar para sofrer com a ira corintiana.

Tevez, jogador e 'pacificador' do povo. Crédito: Caetano Barreira/Reuters

Parte da torcida invadiu o campo e encerrou a partida dez minutos antes do fim. Brigou com a polícia e arrebentou o portão do gol de entrada do Pacaembu.

A última lembrança não é a que fica. Tevez e Libertadores são umbilicais e vitoriosos. Foi na Copa de 2003, com 19 anos, que obteve o primeiro título na vida.

Sim, o primeiro troféu do adolescente Tevez foi logo a Libertadores da América.

Foi escolhido o melhor jogador daquela edição. E marcou um gol na final contra o Santos de Leão, Diego e Robinho no Morumbi.

Em 2004, fez a comemoração de gol mais famosa da Argentina. Em semifinal contra o River em Núñez, marcou, aos 44 do segundo tempo, o gol que passaria o Boca à decisão – 1×1. Imitou a galinha – apelido maldoso do River – e foi expulso.

Monumental, o silêncio daquele instante fez os gritos de Tevez no gramado serem escutados em toda a arquibancada – toda da torcida do River.

O River chegou aos 2×1 aos 50min e forçou a disputa por pênaltis – enfim vencida pelo Boca. Na final, e também nos penais, Once Caldas (Colômbia) campeão.

Era 2004. Em 2005, Tevez vestiu a camisa do Corinthians e sempre parou em um goleiro no qual jamais fez gol.

Era 2005. E agora, 2016, Tevez poderá finalmente superar Rogério Ceni.

2005: Tevez, o juiz envolvido em escândalo Edilson Pereira de Carvalho e Rogério Ceni. Gazeta Press

Carlitos ganhou a Libertadores de 2003. Vencendo em 2016, será o jogador a conquistá-la com o maior intervalo de tempo, 13 anos.

O feito pertence hoje a Rogério, reserva de Zetti em 1993 e protagonista em 2005 – 12 anos. Doze anos em alta competição é eternidade. São três Copas do Mundo.

Principalmente para Tevez, que apanha sem parar.

Tevez x Lugano: bola para um lado, jogador para o outro

Para ter ideia do feito de Rogério – e do que Tevez busca -, o contexto:

– Além de Rogério, Bochini, do Independiente, também ganhou a Libertadores com 12 anos de intervalo, 1972 e 1984.

– Outros brasileiros vitoriosos e resistentes na Libertadores são Luizão (1998 e 2005) e Danilo (2005 e 2012). Sete anos de intervalo.

– Argentinos de espaço de oito anos são os jogadores do River Maidana e Bertolo (2007 e 2015). Riquelme, pelo Boca, sete (2000 e 2007).

– Ever Almeida, paraguaio goleiro do Olimpia e recordista de jogos (113 de 1973 a 1990) da Libertadores, alcançou 11 anos de intervalo – 1979 e 1990.

– 11 anos é também o espaço de tempo do técnico recordista neste item na Libertadores: o uruguaio Cubilla, pelo Olimpia igual, 1979 e 1990.

Tevez, com Battaglia…

O feito estatístico dá dimensão da façanha de Tevez, mas há algo muito mais emocional que matemático: a pressão – cheia até a Boca – para ganhar esta Copa.

…e com o amigo Osvaldo 13 anos depois

Machucada com os títulos do River, a torcida xeneize estreou recentemente o hit de 2016 das arquibancadas: Este Ano Voltamos ao Japão.

Antes do jogo – e em fevereiro! – a Bombonera explode projetando dezembro.

Hoy tenés que ganar
Otra Copa quiero festejar
Ponga huevos, campeón
Que este año volvemo' a Japón!
Soy del barrio de la Ribera
Sigo a Boca, a donde sea
De la cuna, hasta el cajón
Nadie entiende este sentimiento
Que siento por vos

Donde juegues yo voy a estar
Por eso aliento

Andrés Calamaro sabia o que cantava em Diez Años Después. Algo se va a incendiar, no voy a mostrar mi lado cortés. Dez anos depois, algo vai se incendiar no reencontro de Tevez com a Libertadores.

La vida es una gran sala de espera. Esperemos. Uma grande história está surgindo.

Si diez años después
Te vuelvo a encontrar en algún lugar
No te olvides que soy distinto de aquél pero casi igual
Si la casualidad nos vuelve a juntar
Diez años después
Algo se va a incendiar, no voy a mostrar mi lado cortés

Aquello fue un gran punto de partida
Pero a la vez qué fácil se te olvida
Diez años después quién puede volver atrás

Estamos en la Tierra cuatro días
Y el cielo no me ofrece garantías
Diez años después mejor volver a empezar

Si tu credulidad se deterioró
En algún lugar
No te olvides que soy testigo casual
De tu soledad
Si diez años después no estamos igual
Qué le vas a hacer
Otros diez años más y luego empezar
Juntos otra vez

Aquello fue una linda primavera
Pero fue solamente la primera
Diez años después el tiempo empieza a pesar
Me quedan balas en la cartuchera
Pero te guardo siempre la primera
Diez años después mejor reír que llorar

Una carta te di que nunca escribí, que nadie leyó
Hoy, diez años después, todo sigue igual
Nunca te llegó
Dentro del corazón, al día de hoy
No queda lugar
Si perdí la razón, no fue por amor
Fue por soledad

La vida es una gran sala de espera
La otra es una caja de madera
Diez años después
Mejor dormir que soñar
No se puede vivir de otra manera
Porque si no la gente ni se entera
Diez años después
Quién puede volver atrás
Diez años después
Mejor decir que callar