Análise: hostilidade entre River, Boca e Conmebol pode gerar batalha campal
Tales Torraga
Como os jogadores de Boca Juniors e River Plate vão se tratar no gramado do Santiago Bernabéu às 17h30 (de Brasília) deste domingo (9)? Como os zagueiros do River vão responder às farpas de Carlitos Tevez (''Nos agrediram e não vieram nos ver''…) e de Pablo Pérez (''Eu não vou jogar onde podem me matar'')?
Pelo desgaste demonstrado por ambos os lados, a superfinal da Libertadores virou um ''superestorvo'' que perdeu qualquer clima positivo depois de um mês de insanidades que certamente vai virar um filme ou livro em um futuro bem próximo.
Mas antes de falar da obra final, convém situar o que aconteceu ontem (2) no Monumental de Núñez, quando o River ganhou do Gimnasia por 3 a 1 (dois gols de Borré e um do juvenil Moya) com a torcida re caliente, pendurando as bandeiras de cabeça para baixo e cantando o jogo todo contra a sua própria barrabrava.
O clima geral era um liquidificador de depressão, angústia e melancolia, e o indignado técnico Marcelo Gallardo não aliviou na hora de disparar forte na entrevista pós-jogo: ''Mandar a Copa Libertadores da América para 10.000 quilômetros de distância é uma vergonha total'', fuzilou o Muñeco, que levantou suspeitas sobre o comportamento do Boca, dando a entender que os jogadores e os dirigentes quiseram tirar vantagem dos fatos desde a infame virada à direita do seu ônibus.
O rifle verbal de Gallardo esteve acionado como nenhuma outra vez nesses seus quatro anos y pico como técnico do River:
''Roubaram o nosso torcedor. Hoje fomos nós, amanhã podem ser outros. Tínhamos que jogar no Monumental, nas mesmas condições em que fomos a La Boca. Roubaram o torcedor de uma possibilidade única. A decisão não pode ser mudada, mas sinto a mesma indignação que a nossa gente, que perdeu a possibilidade de ver o seu time no seu estádio. Perdimos la localía, muchachos…”.
Pelo lado do Boca, que venceu o Independiente por 1 a 0 também neste domingo em pleno Libertadores da América, com um gol de Cardona, em partida marcada por muitos erros de arbitragem em favor do clube xeneize, o técnico Guillermo Barros Schelotto teve um tom mais condescendente, mas igualmente negativo:
''Te quema la cabeza! Preparo a revanche há 30 dias, há 60 dias preparo a final…''.
Os jogadores e técnicos estão cansados e com os nervos em frangalhos. O clima em campo deve ser o mais ríspido possível, seja pelo inconformismo geral pela decisão parar em Madri ou pela postura do adversário, seja ele atleta, técnico, dirigente ou presidente. Querem convidar o Papa para ver a final no Bernabéu. Seria ótimo, pois o último capítulo deste interminável River x Boca está cada vez mais parecido com o trecho do famoso rock ''9 de Julio'', da banda Callejeros:
''Otra vez, otro Boca River que termina a las piñas arañando al final''
Só mesmo por um milagre papal os jogadores não vão arranhar a decisão terminando a las piñas. Saindo na mão e descarregando uns nos outros esta frustração acumulada durante todo o mês. Não seria nem de longe a primeira vez em um River e Boca. Tampouco a última.