Análise: ‘Loucura’ ameaça o Boca na semifinal
Tales Torraga
Tão diferentes entre si, Diego Maradona e o presidente da Argentina, Mauricio Macri, desta vez olharam para a mesma direção e definiram de forma precisa o que se passa no re caliente Boca Juniors, que encara o Palmeiras às 21h45 (de Brasília) de hoje (24) em uma Bombonera surtada e mais selvagem que de costume. Sorte que o River perdeu, senão a animosidade coletiva seria maior.
Maradona, semana passada, falou que os jogadores deveriam sair na mão entre si e resolver as suas cada vez mais perceptíveis pendências. Já Macri, ontem, disse que não quer um River x Boca na decisão da Libertadores porque seriam meses e anos de um desgaste descomunal de ambos os lados por esta decisão.
É neste estado de ânimo – ou melhor, de ''loucura'' – que o Boca abre a sua disputa de vaga. Nada muito estranho para quem acompanha de perto o futebol argentino. Seria impossível algo diferente em um time treinado por Guillermo Barros Schelotto. Hostil e extremamente reclamão quando jogador, ele tem demonstrado, de traje, que os seus vícios de comportamento dos tempos de camiseta persistem. É uma pessoa caprichosa demais, de trato muito difícil, que não conseguiu em momento algum nesta Libertadores colocar o fortíssimo elenco do Boca nos trilhos.
É sintomático que este Boca, que deveria ser um enorme time, seja um grupo que dependa totalmente das suas individualidades. E é mais sintomático ainda que Schelotto já esteja fora da equipe em 2019 – vai trabalhar nos Estados Unidos, como informou o blog no começo do mês. Os bons modos que caracterizam um grupo de trabalho eficiente já foram deixados de lado. Técnico e jogadores estão em contagem regressiva para não conviverem mais juntos – o que, claro, enfraquece o trabalho coletivo e empurra ainda mais pressão para os jogadores.
Na falta de um senso coletivo que encare a forte equipe do Palmeiras, o Boca aposta em individualidades. E tais indivíduos, óbvio, flertam com o descontrole ao precisar arcar com uma pressão que beira o insuportável e em um estádio sufocante, onde é impossível pensar com clareza, como dizia Enzo Francescoli.
Entre os clubes da Argentina, o Boca, junto ao River, é aquele que oferece melhor auxílio psicológico aos seus atletas. E o blog apurou que o ambiente do clube nos últimos dias gerou tanto em torno de problemas de coração, pressão e ansiedade quanto da preparação esportiva em si. Por mais que este Boca tenha grandes jogadores, não está nem perto de possuir líderes em campo como eram, por exemplo, Patrón Bermúdez e Chicho Serna, na Era Bianchi. É um time que ainda tem muito a provar em termos de atitude, como escancarou Lucas Pratto.
Necessidade de afirmação, briga de egos, falta de controle emocional, jogadores prestes a sair na mão, uma torcida que já brigou entre si várias vezes neste ano, uma pressão desmedida por uma Libertadores que não é conquistada desde 2007. Este é o Boca neste 24 de outubro. Prestes a se sabotar e se autodestruir.
O Palmeiras não pode cochilar. E sim tirar proveito deste estado bélico e de nervos tão alterados que surpreendem até quem está acostumado com a rotina caótica e estridente de Buenos Aires.