Patadas y Gambetas

Opinião: Hoje é dia de o Brasil conhecer Marcelo Gallardo

Tales Torraga

River Plate e Grêmio abrem hoje (23), às 21h45 (de Brasília), uma semifinal com todos os condimentos possíveis de um grande jogo de futebol no continente. A começar pelo estádio, um Monumental de Núñez que merece ser tratado como um dos templos do esporte em toda a América – um dos dois únicos lugares onde um país sul-americano organizou uma Copa do Mundo e deu a sua volta olímpica.

Outro ponto que chama a atenção desde o começo desta série é o que os argentinos chamam de ''Noite dos Museus''. Se o egocêntrico Renato Gaúcho pede aos gritos para que virar uma estátua pelos lados do Grêmio, o brilhante Marcelo Gallardo, maior técnico da história do River, não abre a boca para falar disso, mas mantém uma trajetória capaz de realmente terminar em busto, como os de Matías Almeyda e Ángel Labruna, dois que já estão imortalizados em Núñez.

Marcelo Daniel Gallardo, um ídolo que rompe barreiras na Argentina – Clarín/Reprodução

A chapa de Gallardo entre os argentinos é mesmo impressionante – é seguro que, desde os tempos de Carlos Bianchi no Boca, um condutor não era tão bem avaliado pelos conterrâneos. O plus de Bianchi são, claro, os títulos alcançados, incluindo três Libertadores (2000, 2001 e 2003) e dois Mundiais (2000 e 2003). Gallardo está em tempo. Bianchi rondava os 50 anos de idade quando encaixou o seu Boca supercampeão. E Marcelo anda pelos 42 anos – apenas começa a carreira, mas ainda assim é o técnico que há mais tempo está à frente de uma equipe de elite no continente. Já se vão quatro anos e quatro meses desde a sua chegada ao River.

Carreira que já varreu todos os times grandes argentinos em mata-matas. Do Boca nem é preciso dizer, pois até quem não vive na Argentina sabe a verdadeira surra que os xeneizes tomam desde que Gallardo assumiu o River. O bordão do momento é ''que os bosteros veem um Boneco e choram'', em referência ao apelido de Marcelo, ''El Muñeco'' Gallardo, pelo seu rosto estilo Chucky.

Gozação à parte, é mesmo impressionante que Gallardo e seu River tenham se imposto com tamanha autoridade perante o Boca e seus dois técnicos nos últimos anos, o Vasco Arruabarrena e agora o Mellizo Schelotto. E o domínio territorial de Marcelo vai muito além disso: bateu o San Lorenzo de Patón Bauza em uma decisão de Recopa e vem de eliminar Racing e Independiente da Libertadores.

A Gallardo, falta apenas o que ele tem diante de si na noite de hoje: uma instância decisiva ante um time brasileiro para ele mostrar ao poderoso país vizinho que qualidades realmente não lhe faltam. A torcida do River prepara, desde domingo (Dia das Mães, e com chuva, com a torcida no Monumental armando festa como se nada), um mosaico para celebrar justamente o seu grande ídolo, o técnico que é chamado de ''Napoléon'', ''Especialista'' e ''Estrategista'' a cada instante.

Não nos esquecemos do brilhante 3 a 0 em cima do Cruzeiro nas quartas da Copa de 2015, calando o Mineirão. Mas Gallardo, ali, era uma promessa, estava a caminho de conquistar a Libertadores pela primeira vez. Não é esta realidade palpável de agora.

Quem convive com o técnico garante que ele vive seu melhor momento no River. Pelas seguintes razões: 1) Por como joga seu time, que não à toa chegou a 32 partidas sem perder; 2) Por como os seus reservas são eficientes (uma das suas fraquezas até então); 3) Por estar rodeado de amigos; 4) Porque realmente curte cada instante de trabalho nas instalações que ele mesmo incentivou a modernizar; 5) Porque tem uma relação com Rodolfo D'Onofrio, presidente do River, que vai muito além de uma parceria de trabalho. São duas mentes brilhantes que se confiam como poucas outras na história do futebol argentino.

O clamor popular vivido por Tite, então no Corinthians, para assumir a seleção brasileira, nem se compara ao que os argentinos sentem por Gallardo no selecionado azul e branco. Mas a diferença de visão aqui é que Marcelo é tido como bom demais até mesmo para a equipe nacional, alguém que por princípios não trataria com dirigentes de condutas tão questionáveis como Chiqui Tapia e Daniel Angelici, os cabeças da AFA que têm notórios vínculos com o Boca.

Por falar em seleção argentina, para quê seleção?, se o River é um verdadeiro selecionado sul-americano em vermelho e branco. Dos 11 titulares para enfrentar o Grêmio nesta terça, nada menos que 10 já foram convocados para as suas equipes nacionais. São oito da Argentina (o goleiro Armani, os zagueiros Maidana e Pinola, o lateral-esquerdo Casco, os volantes Ponzio e Palacios, o meia Pity Martínez e o atacante Scocco) e dois da Colômbia (o meia Juanfer Quintero e o atacante Borré).

A exceção é o lateral-direito Ratón Montiel, de só 21 anos, que já demonstrou plenas capacidades para integrar a azul e branca em listas futuras.