Sampaoli vai deixar Argentina depois da Copa
Tales Torraga
Que o desgaste entre Jorge Sampaoli, jogadores e a AFA é enorme, o blog narra desde março. Mas tudo o que aconteceu nos últimos dias em Barcelona e em Moscou sinalizam que não há mesmo outro caminho para a seleção argentina que não um rompimento do trabalho assim que terminar a Copa do Mundo da Rússia.
O primeiro a dizer que Sampaoli não seguiria no cargo foi o ex-zagueiro Oscar Ruggeri, hoje comentarista do Fox Sports e um dos ''honoráveis'' convidados pela AFA para circular pela Rússia e conversar com os jogadores – ele já havia flanado por Quito, na partida decisiva das Eliminatórias ante o Equador. Quem também cravou a saída de Sampaoli foi Pipi Novello, comentarista da Rádio La Red, de Buenos Aires. E o blog, em meio à apuração do escândalo do suposto assédio sexual do técnico, confirmou a informação do seu iminente adiós.
Em se tratando de seleção argentina, a saída de Sampaoli é das mais naturais.
Das Copas de 1990 até hoje, em apenas uma única ocasião, com Marcelo Bielsa, em 2002, o treinador argentino se manteve no cargo depois do Mundial – o ''Loco'' durou um pouco mais: saiu em 2004, ao pedir demissão por estar ''sem energias''. Todos os demais caíram fora imediatamente, como Carlos Bilardo em 1990, Alfio Coco Basile em 1994, Daniel Passarella em 1998, José Pekerman em 2006, Diego Armando Maradona em 2010 e Alejandro Sabella em 2014.
Sampaoli chegou à seleção há apenas um ano e neste período comandou a equipe em 11 partidas. Mas já percebeu na própria pele o quão difícil é trabalhar em um órgão desorganizado e que não leva em consideração os planejamentos do treinador. Ele foi energicamente contra, por exemplo, a marcação dos amistosos contra Itália e Espanha em março, e não queria também atuar no último fim de semana em Israel, no amistoso que acabou enfim cancelado, para a sua alegria.
A AFA também está desgastada demais com a hiperatividade do técnico e com a necessidade de colocar panos quentes em dois escândalos sérios que já ocorreram com ele no cargo de maior responsabilidade do esporte no país. Em dezembro, na virada do ano, ele humilhou e quase agrediu um policial na festa de casamento da sua filha, e neste final de semana teve – sem nenhuma prova, que sempre se ressalte – a divulgação pela Rádio Mitre, a mais ouvida em Buenos Aires, de que ele assediou sexualmente uma cozinheira em plena concentração da seleção.
Outro tema de preocupação da AFA é a massiva rejeição que Sampaoli sofre hoje em toda a Argentina. Em pesquisa publicada neste sábado (9) pelo jornal ''La Nación'', nada menos que 61% consideram o treinador incapaz.
O Mundial da Rússia, assim, será uma melancólica questão de como encaminhar o final de trabalho e as respectivas multas pela quebra de contrato. O compromisso entre Sampaoli e a AFA dura até o Mundial do Catar, em 2022. Resta saber apenas se ele vai sair por cima, com uma cada vez mais improvável conquista argentina, ou se vai sair por baixo, como Maradona e Passarella, para citar só dois.
Que ninguém se espante se a confirmação oficial vier só lá por agosto: outra praxe da AFA é esperar o treinador se demitir (como Pekerman e Sabella) ou, na reunião para alinhar o trabalho pós-Mundial, forçar a barra em algum detalhe que incomode o treinador de turno para que ele também saia por contra própria. Foi o que ocorreu, por exemplo, com Maradona em 2010, que caiu atirando e chamando, quase aos prantos, o então presidente Julio Grondona de ''mafioso, mentiroso e traidor''.