Sampaoli é chamado até de ‘cagão’ na TV argentina
Tales Torraga
O 6 a 1 imposto pela Espanha em Madri continua deixando a Argentina perplexa. E o destempero nas TVs do país é digno de estudo para quem quer se aprofundar na linguagem dos meios locais e na maneira como os argentinos demonstram não ter pudores para recorrer aos palavrões – insultos ou malas palabras, como dizem.
O momento de maior acidez veio de Alejandro Fantino, um dos apresentadores mais assistidos do país. Em um editorial (!) no canal de TV América, ele chamou Jorge Sampaoli de ''cagão'' pela extrema sorte de poder contar com Lionel Messi em sua equipe e não ter a coragem de tirar Javier Mascherano do time titular. Fantino lembrou que em 2015 ele já destacava a falta de nível de Mascherano para a função – o que agora, segundo o apresentador, acarreta em papelões como o da Espanha.
Fantino passou 21 minutos (!!) atacando Sampaoli, tratando-o de ''vendehumo'' (gíria para pessoa falsa, que tenta ''vender fumaça'') e ''cuatro de copas'' (o equivalente ao ''Zé Ninguém'' no Brasil).
O novo livro de Sampaoli – que por enquanto está com lançamento mantido para semana que vem em Buenos Aires – não passou em branco. E a consideração do apresentador foi igualmente dura:
''Sampaoli pretende fazer um ensaio filosófico sobre 11 homens correndo atrás de uma bola. O que ele quer, reescrever os ensaios de Montaigne? Deixe de enrolar, hermano, vá treinar futebol…'', finalizou.
As colocações muy pesadas de Fantino passaram longe de ser as únicas.
Em outro programa, o jornalista Luis Ventura, também de grande audiência, e também da TV América, chamou Sampaoli de ''pelotudo'', o equivalente a ''tonto'' ou ''estúpido'', mas com uma conotação ainda mais pesada e negativa.
Em outra análise, o experiente jornalista esportivo Ernesto Cherquis Bialo tratou Sampaoli de ''xavequeiro que não tem nível para dirigir a Argentina''.
Como remarcou o ex-jogador e hoje comentarista Jorge Valdano, o clima da seleção ''é o mais negativo desde 1958, quando a Argentina foi eliminada da Copa do Mundo pela Tchecoslováquia também por 6 a 1 e os jogadores receberam uma chuva de moedas de uma multidão que foi ao Aeroporto de Ezeiza só para isso''.
A falta de tato da imprensa já é vista também na AFA.
O jornal ''Clarín'' traz hoje uma ótima matéria mostrando que há doses preocupantes de cansaço e desconfiança dos dirigentes da associação no trato com Sampaoli – que, hiperativo demais, recebeu dos cartolas o apelido de ''Chispita'', o ''Faisquinha''.
É claro que está embutida a maldosa comparação com a personagem infantil da novela mexicana do começo dos anos 80 que tinha o mesmo nome.
O ''Clarín'' traz também um diagnóstico bastante preciso da atual Argentina:
''A adversidade faz este grupo mostrar o que tem de pior''.