Tevez ‘volta a viver’ em favela e preocupa o Boca
Tales Torraga
Carlitos Tevez anda bem diferente. O atacante xeneize de 33 anos está bem mais sério e introspectivo desde que voltou ao Boca. ''Ele parece aquela pessoa que anda bem concentrada em um objetivo importante'', resumiu o meia colombiano Edwin Cardona, um dos mais próximos a ele neste retorno a Buenos Aires.
Uma das mudanças mais claras está no hábito que retomou: Tevez está passando cada vez mais tempo no Fuerte Apache, onde nasceu e morou até os 14 anos.
''Sempre saio de lá com a sensação de que voltei a viver. É no Fuerte Apache que me sinto mais vivo do que nunca. Recuperei uma fome de vida que há anos não sentia. E é isso que quero levar à Bombonera'', comentou Carlitos ao jornal ''Olé''.
A quatro minutos da Avenida General Paz, rodovia que corta Buenos Aires, o Fuerte Apache é um dos bairros mais populosos de toda a Argentina. Cerca de cem mil pessoas moram lá. Embora o seu entorno seja de prédios populares, há muitas casas improvisadas com madeiras e outros materiais. A maioria dos portenhos se refere ao Fuerte Apache como uma ''villa'' – uma favela, no Brasil.
Carlitos foi filmado jogado uma pelada com os amigos por lá justamente na virada do ano. Não são poucos os argentinos que olham a sua volta ao Fuerte Apache como uma forma de ''limpar a barra'' com a torcida do Boca e com os portenhos. Sua saída à China e sua volta ao Boca foi caracterizada por muitas frases vazias – a sensação geral que hoje se tem na Argentina é que tudo o que Tevez faz tem algum interesse escondido por trás. Já faz cada vez mais tempo que ele deixou de ser o Jugador del Pueblo, o adolescente raçudo que encantava o país com sua coragem em desafiar as patadas dos zagueiros e driblar os duros destinos da vida.
O Boca, por vias das dúvidas, está de olho bem aberto na permanência de Tevez no Fuerte Apache. O blog apurou que não há, no clube, nenhuma vontade de controlar a vida do atacante e o que ele faz nas horas de folga. A única preocupação xeneize que já foi posta em prática é com o seu estado físico antes e depois dos jogos – os jogos profissionais e os de brincadeira com os amigos.
Argumentam sempre que é necessário ter uma sensibilidade gigante para evitar lesões e dar ao corpo o descanso necessário. É, afinal, o que a maioria absoluta dos atletas profissionais faz quando está fora da rotina de treinos e jogos.
A grande dificuldade do Boca deste ano vai ser colocar Tevez sob alguma rédea.
O atacante é amigo do presidente Daniel Angelici, com quem tem linha direta para tratar qualquer assunto. Contrariar um ''homem do presidente'' nunca é simples. O clube precisa encontrar o quanto antes um tom a se adotar com este Tevez tão plural e tão desafiador para os próprios colegas de trabalho ainda em pleno janeiro.