Patadas y Gambetas

O que a derrocada do River ensina ao Grêmio

Tales Torraga

O blog está desde a madrugada de quarta (1º) em contato contínuo com o ''Mundo River'' tentando encontrar uma explicação para o que aconteceu em Lanús.

Dois dias e milhares de mensagens e conversas depois, já dá para entender o que fez o time – que avançara nas quartas com um 8×0  – levar a inacreditável virada por 4×2 (depois de abrir 3×0 no placar agregado e 2×0 no campo visitante).

Cacique milionário, Maidana lamenta – Olé/Reprodução

Contextualizamos.

O River vencia em Lanús por 2×0, tranqui tranqui, até os 40 do primeiro tempo, quando ocorreu o lance mais polêmico do jogo, a mão na bola de Marcone, do Lanús. A não-marcação do pênalti e o não-uso do árbitro de vídeo desatou a fúria dos jogadores e do técnico Marcelo Gallardo. Ainda neste estado de cabeza quemada, o River viu Sand, aos 46, descontar para o Lanús: 2×1.

Na ida ao vestiário, uma situação despercebida, mas que ajudou a desconcertar o River ainda mais: atacante do Lanús, Laucha Acosta gritou de tudo na cara do árbitro, e nem amarelo levou. Acosta e Gallardo quase saíram na mão.

O vestiário do River no intervalo de Lanús foi 1000% dominado por críticas à arbitragem. Lembraram do pênalti não-marcado sobre Scocco no Monumental e da voadora criminosa de Sand em Maidana que não significou nem um amarelo em Núñez. Criticaram a mão de Marcone e outra patada brutal, de Bragheri em Scocco, também para vermelho e também para nada – tudo no final do primeiro tempo.

Lembraram também que o Lanús chegara às semifinais contando com outros erros de arbitragem que deixaram o San Lorenzo pelo caminho, com o time do Papa reclamando até hoje de outro pênalti não-marcado.

O gol na última bola do primeiro tempo, claro, acendeu o Lanús, que viveu um clima totalmente oposto no intervalo. ''O técnico nos mandou forçar tudo, que se a gente fizesse um gol logo no começo, o River iria se cagar'', contou o zagueiro granate José Luis Gómez ontem (2) ao canal TyC Sports.

Bingo. Gol na última bola do primeiro e na primeira do segundo tempo.

Neste embate da confiança contra a raiva, o Lanús atropelou o River. ''Eles ficavam se xingando entre si, nem sabiam onde estavam'', arrematou Gómez.

Outros dois fatores fizeram o River se paralisar: primeiro, a saída do importantíssimo volante Enzo Pérez, machucado logo no começo do segundo tempo, sem aguentar as entradas duras do Lanús. Depois, no lance que resultou no 3×2, um soco de Román Martínez na cara de Rojas – também ignorado. Rojas foi o jogador seguinte a ser tirado de campo por Gallardo.

Pelo lado do Lanús, mérito total a Pepe Sand, que acreditou sempre na virada – e tinha mesmo razões pessoais para isso, por ter sido rejeitado pelo River e insultado pelo narrador Hernán Santarsiero, que o chamou de ''corno''. Muito longe de pedir desculpas, Santarsiero comparou Sand a um macaco no fim do segundo jogo: ''O River o tirou de cima de uma árvore, onde só as bananas o conheciam''. Baixaria.

O River jamais absorveu o impacto emocional. Poderia estar vencendo por 3×0, mas se viu com um 2×2 – e tudo em apenas sete minutos de bola rolando entre o penal não-marcado e o segundo gol de Sand. Entrou em um estado de pânico que nublou toda sua qualidade técnica. Apagou suas ideias e perdeu o caráter tão forte e copeiro dos últimos anos. Jogadores muy experientes como Lux, Maidana, Pinola, Ponzio e Scocco realmente não sabiam onde estavam.

É claro que conspirações não faltam.

Alejandro Fantino, um dos apresentadores mais importantes da TV argentina, cravou um mês antes desta partida que o River seria eliminado da Libertadores por uma arbitragem escandalosa. Ele não apresenta provas, mas argumenta seu raciocínio dizendo que a Conmebol não permitiria que uma equipe envolvida com doping chegasse à final. Cita também as constantes brigas entre Rodolfo D'Onofrio, presidente do River, com a AFA e a Conmebol – bem ao contrário de Nicolás Russo, mandatário do Lanús, que nutre uma quase irmandade com os dois órgãos.

A sensação predominante em Buenos Aires é:

Se fizeram de tudo com o gigante argentino River (quebraram o ônibus, lincharam a torcida e foram favorecidos por uma arbitragem tendenciosa e bem omissa com a violência verbal e física), pensem o que não farão com um clube do Brasil.

A resposta virá no dia 29, data da finalíssima entre Lanús x Grêmio, em um estádio dos mais hostis, onde até tiram a roupa para torcer. Todo cuidado vai ser pouco.

Torcedor do Lanús – Olé/Reprodução