Patadas y Gambetas

O dia em que o juiz anulou um gol do River só porque torcia para o Boca

Tales Torraga

River e Boca vão se cruzar às 19h (de Brasília) deste domingo (5) em um Monumental de Núñez lotado de gente e de raiva. A poeira continua bem alta. A Buenos Aires vermelha e branca segue re caliente com a arbitragem ante o Lanús.

Há 28 anos, uma falha bem menos importante – e bem mais famosa – também enfureceu os torcedores do ''millionario'', como o River é chamado na Argentina.

Juan Bava (centro) em um River x Boca dos anos 90 – El Caño/Reprodução

Em 5 de fevereiro de 1989, Boca e River jogavam na Bombonera pelo torneio local. A partida estava 0 a 0, quando Daniel Passarella, de muito longe, cobrou uma falta com perfeição, no ângulo. Era o 1 a 0 para o River, e ainda mais: o gol número cem da carreira de Passarella – uma marca impressionante para um zagueiro.

Mas o árbitro Juan Bava apitou impedimento de Jorge Higuaín, pai do hoje atacante da Juventus, Gonzalo Higuaín. Jorge estava adiantado, mas não participou do lance. Em vão. O golazo de Passarella foi anulado igual. O jogo terminou 0 a 0.

Bava comandou 11 ''superclássicos'' entre os anos 80 e 90, e passou pela curiosa situação de repetir sua autoridade na partida mais importante do futebol argentino sendo um…torcedor do Boca, como sempre reconheceu publicamente.

''Sou torcedor do Boca desde os quatro anos. Me levaram ao estádio e virei torcedor. E o que isso tem a ver? Nada. Passarella é torcedor do Boca e, ainda assim, foi presidente do River'', comparou Bava à revista ''El Caño''.

Ele custa – mas desliza que foi o coração, na verdade, que anulou aquele que seria um gol histórico de Passarella. ''O apito me escapou'', admite na mesma entrevista. ''Passarella ainda hoje me joga esse lance na cara. Já pedi desculpas dez mil vezes e ele sempre volta a falar disso. Basta! Já somos avôs, não podemos seguir assim.''

Bava e Passarella – La Nación/Arquivo

Bava e Passarella tiveram outra grande discussão cinco meses depois.

El Kaiser, na última partida da sua carreira, acabou expulso por ele. ''Bava me tirou porque torce para o Boca! E anulou o gol que fiz porque torce para o Boca!'', repetia o possuído Passarella ao deixar o campo naquela noite de julho de 1989.

''Juntei os dois capitães e combinamos que ninguém reclamaria nem comigo e nem com os bandeirinhas. O Graciani, do Boca, deu um soco na cara do Serrizuela, do River, e Daniel ficou louco com o assistente. Por isso o expulsei'', relembrou Bava.

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Néstor Pitana, 42, que esteve na última Copa do Mundo e estará na próxima, foi o árbitro do River x Boca deste domingo (5), o de número 200 entre as equipes na era profissional. Estava Boca 73×64 River, com 62 empates. Agora a vantagem subiu para 74×64 – exatas dez vitórias de distância.

O Boca jogou melhor e mostrou por que segue o líder 100% neste Argentino, com oito vitórias em oito jogos. O River agora está com metade dos pontos (12 a 24).

O 2 a 1 para o Boca contou com três golaços. O primeiro, de falta, de Cardona, lembrou demais os melhores tempos de Riquelme. Ponzio empatou com um chutaço, e o volante Nandez, ex-Peñarol, deu números finais com um voleio.

Os dois times buscaram o jogo, e o Boca teve a cabeça mais tranquila como virtude. O River pouco antes do fim do primeiro tempo já teve um expulso, Nacho Fernández, por uma voadora no peito de Cardona – que levantou, cobrou a falta e marcou seu golaço de ''Crackdona'', como é enaltecido.

O River desta vez não teve o que chorar – pelo menos com a arbitragem. Há exatamente uma semana, era tido pelos argentinos como campeão mais que certo da Libertadores. E agora está perfilado em um divã cujo desfecho é imprevisível.

Já falamos isso mais de uma vez, e não custa repetir: nada mais argentino.

* Atualizado às 21h12 com o resultado do superclássico