15 anos hoje: Os bastidores do ‘baile’ de Riquelme no Palmeiras em plena SP
Tales Torraga
A torcida do Boca Juniors começou a semana sorrindo e lembrando quando Juan Román Riquelme 'bailou os brasileiros na própria terra', como repetem sem parar.
Foi no Parque Antarctica há exatos 15 anos.
Era semifinal de Libertadores e repetição da finalíssima do ano anterior – vencida pelo Boca também nos pênaltis e também em plena São Paulo, mas no Morumbi.
Década e meia atrás, o Parque Antarctica transbordava ódio.
Além da sede de revanche contra o Boca, outros dois fatores: 1) A arbitragem de Ubaldo Aquino no 2×2 da Bombonera, com pênalti inexistente ao Boca e sem dar penal legítimo ao Palmeiras; 2) A Mercosul perdida para o Vasco no mesmo Parque Antarctica meses antes, um 3×0 virado para 4×3 por um rival com dez em campo.
Nem bem o Boca chegou ao Parque Antarctica e sentiu al calor de las masas. ''Fecharam o portão e a torcida veio para cima do nosso ônibus'', conta Riquelme.
Calenchu, em espanhol, é quem não sabe perder: ''Boca bancou as patadas e até a pedrada que abriu a cabeça de Bianchi, passou à final da Copa e deixou o Palmeiras nervosinho de novo'', destacou o sempre irônico jornal portenho ''Olé''.
As patadas quem bancou foi Riquelme, então com 22 anos. Deu um show de guapeza. Aos 17min já estava 2×0 Boca – o segundo, em histórico lance seu passando por Felipe e Alexandre e chutando rasteiro no canto direito de Marcos.
No primeiro gol, de Gaitán, quebraram o banco de reservas.
O Palmeiras descontou com Fábio Júnior. Em seguida, a loucura.
Dois torcedores deram murro e voadora – patada voladora y puñetazo – no bandeirinha colombiano Daniel Wilson. Seis minutos de paralisação por Oscar Ruiz.
A Argentina até hoje não entende como a partida não foi encerrada ali.
Na sequência, o zagueiro Alexandre levou cartão vermelho direto por duas atitudes insanas, um pontapé no zagueiro Traverso e um pisão na cabeça do volante Serna.
Aí, agrediram o técnico Carlos Bianchi: ''Me jogaram uma lata de cerveja. Voltava do intervalo por baixo de uma arquibancada com dois policiais que me protegiam com seus escudos, eu olhava para cima e vi que vinha uma lata. Acertou minha cabeça''.
Argel, Magrão e Galeano caçavam Riquelme. ''O Galeano me deu um soco na boca. E eu o cumprimentei, apertei sua mão, só queria jogar'', disse Román à TV América.
O 10 do Boca gozou a calentura palmeirense: ''Aquele jogo estava bom, eh?''.
Disse também que as agressões no Parque Antarctica foram ''normais'': ''Com 14 anos eu jogava na favela contra os adultos valendo dinheiro. Era a briga que terminava o jogo. Ninguém me defendia. Por que iria tremer contra o Palmeiras?''.
Dizem que Riquelme, nos tempos de pibe, enfrentava marcadores armados.
Sim – com revólver no calção.
Riquelme converteu seu pênalti e o Boca despachou o Palmeiras com ajuda polêmica: o roupeiro Roberto Prado, atrás do gol, cantou os lados das cobranças para o goleiro Córdoba. Defendeu os de Alex e Basílio. Arce chutou no travessão.
Poucos sabem: o Boca brigava demais entre si, e os jogadores comemoram a classificação no vestiário xingando os dirigentes (entre eles o então mandatário Mauricio Macri, hoje presidente da Argentina) e pintando camisetas com ofensas.
O Palmeiras x Boca de 2001 valia também o Intercontinental para pegar o Bayern. O outro finalista da Libertadores seria o Cruz Azul, e mexicanos não iam a Tóquio.
Por aquele baile, muitos corintianos batizaram seus filhos de Riquelme. Não sabiam depois onde pôr a cara quando o ídolo do Boca surpreendeu Cássio de muito longe e eliminou o Corinthians nas oitavas da Libertadores de 2013 no Pacaembu.
Um compilado da fantástica atuação de Riquelme no Parque Antarctica está aqui.