Patadas y Gambetas

Paz: argentinos e palmeirenses torcem juntos e curtem a noite em São Paulo

Tales Torraga

O jornal ''La Nación'' que circula hoje na Argentina tem ótimo texto assinado por Federico Cornali. De tão bom, merece tradução de alguns trechos:

Este texto não deveria existir. E o que aconteceu ontem em São Paulo com as torcidas de Palmeiras e Rosario Central teria que ser parte da regra, não uma exceção. O certo é que ainda que a polícia paulista tenha ligado os alarmes sabendo da chegada de vários fanáticos rosarinos que, se não conseguissem entradas, poderiam gerar confusão, a história foi outra. E bem diferente.

O Palmeiras aceitou o pedido do Central de esticar até 2.500 as entradas para os visitantes (eram 1.700, a princípio). Esse entendimento que começou com os dirigentes continuou com os torcedores do Canalla e do Porco, que armaram uma festa conjunta antes do jogo, dessas que se veem pouco.

Minutos antes do começo do encontro, brasileiros e argentinos se abraçaram, agradecendo mutuamente o gesto e correram para se instalar em seus respectivos lugares.

Jogo terminado, dez palmeirenses pertencentes à Mancha Verde subiram no ônibus N205-11, que une o Allianz Parque com a estação Pinheiros. Duas estações depois, 15 torcedores do Central fizeram o mesmo. ''Isssh, vai dar problema'', disse a cobradora, pressagiando uma jornada de trabalho difícil. Houve murmúrios, olhares cruzados, certa tensão. Alguém tinha que quebrar o gelo.

''Quantos vieram, três mil? Todos de avião?'', perguntou o mais jovem dos locais ao grupos do Canalhas, que levantaram o olhar com desconfiança.''Não, alguns vieram de ônibus. Mais de 40 horas de viagem. Estamos em um hostel na Vila Madalena'', respondeu um dos argentinos enquanto buscava um assento livre. ''Vila Madalena? Eu moro lá. Acompanho vocês'', gritou o de gorro verde, no fundo.

Torcida canalla em São Paulo. Crédito: La Nación

O momento tenso estava desativado. As duas meninas que tentavam se distrair com seus celulares suspiraram aliviadas ao ver como se formavam grupos mistos – com torcedores de ambos times – para conversar cordialmente, enquanto o ônibus avançava pela Avenida Sumaré. ''O goleiro de vocês é muito bom, um pouco ele salvou'', disse com picardia o senhor de bigode e camiseta alternativa do Central.

''Eu acho que foi um tempo para cada um'', foi a resposta que obteve. Português e espanhol são idiomas diferentes. Neste caso, não serviram como barreira.

Um pouco mais atrás, o grupo maior estava formado por quatro torcedores do Central e cinco do Palmeiras. Os paulistas pediam que os rosarinos gravassem insultos ao Corinthians em seus celulares, e eles atendiam. Todos riam, gritavam e golpeavam o teto.

Logo depois, a dedicatória palmeirense para o Newell´s.

Entre tanta diversão, os que precisavam descer na Vila Madalena passaram do ponto de parada. Os brasileiros, aos gritos, começaram a pedir à motorista que parasse o ônibus de imediado, mas ela não obedeceu. ''A motorista é corintiana'', cantaram todos.

Fim da viagem conjunta. Saudações pela janela. ''Esperamos vocês lá'', gritaram os rosarinos, entrando pelas ruas da Vila Madalena. ''Vamos sim, mas não temos onde ficar'', responderam os paulistas, buscando firmar no ar um pacto que não recebeu resposta.

Umas poucas quadras depois, os poucos palmeirenses que restavam desceram no terminal Pinheiros. Em silêncio, começaram o regresso para casa.