Patadas y Gambetas

Tradição de 95 anos: Peñarol inaugura estádio em amistoso com o River Plate
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Tales Torraga

A noite uruguaia guardará hoje (28) histórico momento às 22h com a inauguração do Estádio Campeón del Siglo – o Campeão do Século, nova casa do Peñarol.

Com capacidade para 40.000 pessoas e campo de 105 x 68 metros, fica na Ruta 102, estrada perto da Ruta 8 e a 45 minutos do Centro de Montevidéu.

Custou US$ 40 milhões, levou dois anos de obras e tem como objetivo sediar a Copa do Mundo de 2030, a que o Uruguai pretende receber com a Argentina.

Para manter uma troca de gentilezas que vem desde 1921, o convidado para a inauguração é o Club Atlético River Plate de Buenos Aires.

River e Peñarol estrearam suas canchas em 1921 (Pocitos, no Uruguai), 1923 (Alvear y Tagle) e 1938 (Monumental), as duas últimas na capital portenha.

Resultados: 1×1 (1921) e vitórias mandantes por 2×1 (1923) e 3×1 (1938).

Inauguração do Monumental em 1938

Peñarol e River são famosos também pela decisão da Libertadores de 1966. Vencida pelos uruguaios de virada – estava 0x2, acabou 4×2 no terceiro jogo -, aquela derrota é conhecida por dali o River ser chamado de ''galinhas''.

Embora amistoso, o Peñarol x River desta segunda terá uma pimenta. O passado de Marcelo Gallardo no Nacional, grande rival do Peñarol no Uruguai.

Ex-jogador e técnico do Nacional, Gallardo deixou o clube pouco antes da Copa do Mundo de 2014 para ser o técnico do gigante de Buenos Aires.

E um dos mais interessados em fazer o gol inaugural do estádio com certeza é o uruguaio Iván Alonso, saído do Nacional há três meses.

Os outros uruguaios do River são Tabaré Viudez, ex-Nacional, Camilo Mayada – ex-Danubio – e Rodrigo Mora – torcedor confesso do Peñarol que defendeu em 2012.

O tour virtual do Estádio Campeón del Siglo está aqui.

Famoso no Brasil, o cantor uruguaio Jorge Drexler gravou música em homenagem ao carbonero – como chamam o Peñarol – e sua nova casa. La Vida Entera. Esta:


Gol de placa (e anulado) de Tevez contra o Palmeiras completa dez anos hoje
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Tales Torraga

Hoje (26) é sábado. Há exatamente uma década, em tarde de sol, domingo e Morumbi, Carlitos Tevez, então 22 anos, fazia seu mais lindo gol pelo Corinthians.


Aos 30 minutos do primeiro tempo, recebeu lançamento na esquerda, driblou Leonardo Silva para o meio e deixou o zagueiro caído. Carregou a bola em diagonal e chutou no ângulo esquerdo de Sérgio. O juiz Cléber Wellington Abade e a bandeirinha Ana Paula Oliveira correram para o meio-campo, validando o gol.

Depois das queixas palmeirenses, que pediram falta em Leonardo, o gol foi anulado.

Estava (e acabou) 1×1, resultado que tirou Palmeiras e Corinthians da briga por aquele Campeonato Paulista de pontos corridos conquistado pelo Santos.


O jogo é lembrado também pela calentura de Edmundo com Tevez e Mascherano.

Com Mascherano (também 22 anos), o Animal, prestes a completar 35, trocou empurrões e xingamentos até ser substituído. Em escanteio, chegou a ser pisado.

''Ele me driblou e ficou dando risada. É craque, mas eu estou na minha casa e ele está longe da casa dele'', disse o Animal. Mascherano retrucou: ''O Edmundo apanhou do Zandoná e não aprendeu. Ele reclama e provoca, provavelmente por eu ser argentino. Mas estou aqui para trabalhar e não para aguentar provocações''.

Tevez também atacou o palmeirense: ''Ele tem de calar a boca. Já está velho, deveria se aposentar. Fala muito. Me provoca porque sou argentino''.

Aquele jogo de 20.000 torcedores no Morumbi teve invasão de campo no segundo tempo por corintiano que resolveu protestar a anulação do gol e provocar os rivais.

E queixa corintiana contra o técnico Emerson Leão. ''Foi ele quem mandou voltar atrás'', disse o então treinador interino Ademar Braga, do Corinthians.

''Deu até risada para mim. Ele sabe que foi a pressão dele que anulou o gol.''

Matreiro, Leão teria aproveitado a confusão do trio de arbitragem que estreava aparelho comunicador naquela tarde.

Leão quatro meses depois assumiu o Corinthians. Sua má relação com Tevez e Mascherano logo culminou na saída de ambos do clube.


Caso raro para um gol anulado, o de Tevez ganhou placa dos torcedores: ''Obras de arte podem ser roubadas, jamais esquecidas''.

Tevez e o Palmeiras não se cruzaram mais. O 10 não atuou na derrota por 1×0 no Brasileiro em 16 de julho. Foram 78 jogos e 46 gols pelo Corinthians (média 0,58).


Ele e a torcida viveram (ou ainda vivem?) o maior caso de idolatria de um estrangeiro no futebol nacional. Intensa e re contra complicada, como toda paixão.

Seu cabelo era imitado por diferentes gerações de corintianos que levavam bandeiras argentinas e camisas do Boca Juniors (mirá vos…) aos jogos.

Difícil também encontrar gol argentino no Brasil mais bonito que aquele. Potrero y potencia, Carlitos la clavó en el ángulo. O vídeo está aqui.

A ficha do jogo daquela 16ª rodada de Campeonato Paulista:

PALMEIRAS
Sérgio; Thiago Gomes, Gamarra e Leonardo Silva; Correa, Marcinho Guerreiro, Alceu (Reinaldo), Marcinho (Cristian) e Lúcio; Edmundo (Enílton) e Washington
Técnico: Emerson Leão

CORINTHIANS
Marcelo; Coelho (Eduardo), Betão, Marcus Vinícius e Gustavo Nery; Marcelo Mattos, Mascherano, Carlos Alberto (Élton) e Ricardinho; Tevez e Nilmar
Técnico: Ademar Braga

Árbitro: Cléber Wellington Abade
Auxiliares: Ana Paula Oliveira e Evandro Luís Silveira
Cartões amarelos: Mascherano, Alceu, Washington, Leonardo Silva, Marcelo, Correa e Marcinho Guerreiro
Gols: Nilmar, aos 8min, e Washington, aos 25min do primeiro tempo

Señal que te he perdido, Carlitos. Pero te voy a buscar.

Abro la puerta, como un poeta
Fertil 
Dandose a conocer
El horizonte no es el rio 
Te voy a buscar

No te encuentro
Sera que me he perdido 
Señal que te he perdido 

Sera que con el tiempo
Esto se cae como una fruta podrida
Sera que aquello era solo el punto de partida 
Sera que estas despierta, sera que estoy dormido 
Sera que no te encuentro
Señal que te he perdido 

Ese es mi destino 
Señal que te he perdido
 
Sera que aquello era falsa alarma 
No era el camino 
Y vos eras el hacha, y yo el arbol caido 
La casa estaba en orden
Y no encontre motivo 
Me equivoque de ruta
Señal que te he perdido

No me opongo
Ese es mi destino 
Señal que te he perdido


Argentina lembra 40 anos de golpe militar. E justamente onde havia tortura
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Tales Torraga

Com Messi, o melhor do mundo, em destaque, os jogadores da Argentina que venceu o Chile por 2×1 não deixaram passar a oportunidade de lembrar que hoje (24) completou-se 40 anos do golpe militar que fez desaparecer 30.000 argentinos.

“24 de março. Dia Nacional da MEMÓRIA pela VERDADE e JUSTIÇA'', era a faixa.


Exposta no vestiário por determinação da Fifa – que proíbe mensagens políticas em campo -, a faixa no vestiário teve significado ainda mais profundo.

Para tentar explicar, traduzimos parte do excelente texto de Martin Macchiavello publicado no diário ''Olé'' desta quinta:

Um estádio de futebol. Sim, o Nacional de Santiago é. Mas é também um templo da injustiça e da barbárie. Em um 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas do Chile derrubaram o socialista Salvador Allende e converteram este estádio, a casa da seleção chilena, na verdadeira casa vermelha. Correu sangue. E muito.


Esse sangue cruzou a Cordilheira e justo em um 24 de março (quase dois anos e meio depois) se cravou como um punhal na Argentina.

Mais que ventos de mudança, hoje, nesses lados, 43 anos mais tarde, sopram brisas. Contará o pecado, mas não o pecador, pelas dúvidas.

E também se dirá, entre vozes de corredor, que não houve dentro do máximo coliseu esportivo chileno um lugar mais trágico que o vestiário onde Messi colocou sua nova camiseta 10.

Vestiário com inscrição conservada até hoje / Olé

Nesses camarins usados pela seleção argentina estiveram guardados os prisioneiros políticos profissionais, médicos, engenheiros e os melhores de cada faculdade. Precisaram tirar o conhecimento de circulação. ''Ali, por onde passa Messi, os tormentos eram VIP'', conta ao Olé Wally Kunstmann, presidente da Corporação Estádio Nacional Memoria, ONG que se recusa a esquecer.

O Nacional foi o maior campo de tortura e concentração da América Latina, uma prisão ocasional onde havia gente de todo tipo, cor e tamanho. Mais de 40.000 presos de 38 países sobreviviam fechados nos vestiários e, de vez em tanto, saíam para uma volta nas arquibancadas para sentir o sol de perto.

Hoje, sobre a parte baixa da Tribuna Norte, se vê uma área de 185 metros quadrados que representa todos os presos que lutaram por liberdade. Acima dessas velhas madeiras se vê bem claro: ''Um povo sem memória é um povo sem futuro''.


Muitos jovens ainda não têm noção do que ocorreu. Essas gerações não foram ensinadas a pensar. Não sentem. Vivem suas vidas. Apenas importa que suas equipes ganhem.

Quién sabe Alicia, este país
No estuvo hecho porque sí 
Te vas a ir, vas a salir
Pero te quedas 
¿Dónde más vas a ir?
Y es que aquí, sabés 
El trabalenguas trabalenguas 
El asesino te asesina
Y es mucho para ti
Se acabó ese juego que te hacía feliz

No cuentes lo que viste en los jardines, el sueño acabó 
Ya no hay morsas ni tortugas 
Un río de cabezas aplastadas por el mismo pie
Juegan cricket bajo la luna 
Estamos en la tierra de nadie, pero es mía
Los inocentes son los culpables, dice su señoría 
El rey de espadas

No cuentes lo que hay detrás de aquel espejo 
No tendrás poder
Ni abogados, ni testigos 
Enciende los candiles que los brujos
Piensan en volver
A nublarnos el camino 
Estamos en la tierra de todos, en la mía 
Sobre el pasado y sobre el futuro 
Ruinas sobre ruinas 
Querida Alicia

Quién sabe Alicia, este país
No estuvo hecho porque sí 
Te vas a ir, vas a salir
Pero te quedas 
¿Dónde más vas a ir?
Y es que aquí, sabés 
El trabalenguas trabalenguas 
El asesino te asesina
Y es mucho para ti
Se acabó 
Se acabó
Se acabó ese juego que te hacía feliz…


Caçado, Cruyff durou só 25min em Buenos Aires. Saiu machucado, mas com gol
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Tales Torraga

''A única vez de Cruyff na Argentina: moído a patadas.''

Assim começa um dos relatos publicados hoje no país recordando 6 de outubro de 1972, noite do primeiro jogo entre Independiente e Ajax pela Copa Intercontinental.

Foi em Avellaneda, cidade-quase bairro de Buenos Aires, na Doble Visera, casa do Rojo e chamado de Estádio Libertadores da América desde 2009.

Cruyff fez 1×0 Ajax logo aos 5min. Le dieron de lo lindo, como dizem os argentinos. Bateriam até em uma pacata vaca holandesa. E também na sombra dela. Aos 25min, o atacante Mírcoli acertou o tornozelo de Cruyff e o tirou. Entrou Mühren.

cruyff72

Cruyff deixa a Doble Visera sem conseguir pisar

Tão selvagem, o confronto quase não teve segundo tempo. Os jogadores do Ajax estiveram perto de se recusar a sair dos vestiários. Foram convencidos pelo árbitro, o húngaro naturalizado romeno Stevan Kovács. A nove minutos do fim, Sá empatou.


Era comum o campeão europeu abrir mão do então Mundial justamente pela violência – o vice disputou em 1971, 1973, 1974 (ou seja, a edição anterior e as duas seguintes às patadas em Cruyff), 1977 e 1979. Sequer jogaram em 75 e 78.


Três semanas depois, nem as pancadas frearam aquele Ajax: 3×0 fora o baile em Amsterdã. Gols de Neeskens e Johnny Rep (dois). Cruyff atuou todo o tempo.


Em 2010, Cruyff contou por que não jogou a Copa de 78: nada com a ditadura
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Tales Torraga

Buenos Aires amanheceu falando da morte de Johan Cruyff e resgatando entrevista sua de 2010 contando as razões por não jogar o Mundial de 1978 na Argentina.

A ausência do craque foi a mais comentada daquela Copa vencida pelos anfitriões justamente sobre a Holanda en la cancha de River.

A versão mais popular indicava que Cruyff havia desistido por repúdio à ditadura militar presidida por Jorge Videla. Outras suposições passaram por brigas por dinheiro e desentendimentos com a Associação Holandesa de Futebol.

Cruyff tinha 31 anos e 1978 foi seu penúltimo ano de Barcelona.

Em 2010, esclareceu as razões à Catalunya Ràdio: em dezembro de 1977 sofreu violento assalto que o fez repensar a vida e as necessidades da família.

''À noite entraram em casa vários homens armados e amarraram a mim e minha família. Chegaram a pôr um revólver na minha cabeça.''

Cruyff contou que se soltou e impediu o sequestro. Era casado com Danny Coster e tinha três filhos no apartamento em Barcelona.

''As crianças iam ao colégio com seguranças, eu ia aos jogos com seguranças. A polícia dormiu em nossa casa por três, quatro meses.''

''Isso me fez mudar de ponto de vista. Há momentos na vida em que outros valores predominam. Queríamos parar um pouco e ser mais sensatos. Era o momento de colocar o futebol de lado. Não podia jogar um Mundial depois daquilo.''

Dali em diante, jamais jogou pela Holanda. Em 1979, foi para Los Angeles.

O eterno camisa 14 comandou a Holanda no 4×0 sobre a Argentina na segunda fase do Mundial 1974 na Alemanha. Na foto, Cruyff e Perfumo (então no Cruzeiro) se dão as mãos. A morte os encontrou 41 anos depois. Com só duas semanas de diferença.


De Rosário às Eliminatórias: Chile x Argentina volta a opor Pizzi a Martino
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Tales Torraga

Difícil transportar para o Brasil, mas muitos argentinos – muitos mesmo – enxergarão Rosario Central x Newell's Old Boys no Chile x Argentina de hoje (24). Técnico do Chile, Juan Antonio Pizzi é lenda do Central. Igual ao argentino Martino no Newell's.

O leproso Tata e o canalla Pizzi / Día a Día

Martino tem 53 anos; Pizzi, 47. Ambos jogaram e treinaram os grandes de Rosário. Tata era meia; Pizzi, atacante. Jogaram um contra o outro quatro vezes em 1989 pelo Campeonato Argentino – uma vitória cada e dois empates. O 1º duelo foi este:


Os canallas viam em Pizzi un Tanque, e os gols a seguir confirmaram. Fez sucesso no Valencia, Porto, Villarreal, Tenerife e River Plate. Formou ataque no Barcelona com Ronaldinho em 1996 e 1997, quando o brasileiro de 24 anos foi para a Inter.

Pizzi e o então Ronaldinho em 1997

Jogou tão bem que se naturalizou espanhol e atacou pela Fúria na Eurocopa de 1996 e na Copa do Mundo de 1998. Chegou a fazer gol de cabeça na Argentina de Daniel Passarella em 2×1 amistoso de 1995 – mas Pizzi esteve longe de vibrar.

Pizzi (9) com look de Raúl (10 naquela Copa) e Luis Enrique (21)

Tata Martino parou de jogar em 1996, no Barcelona do Equador. Sua carreira de técnico engrenou em 2002 no Paraguai. Dirigiu Libertad e Cerro e em 2007 assumiu a seleção paraguaia que chegaria às quartas-de-final da Copa do Mundo de 2010.


A boa campanha no Newell's semifinalista da Libertadores de 2013 o levou ao…Barcelona, também pelo vínculo leproso com Messi. Durou 59 jogos em 2013 e 2014, com 40 vitórias, 11 empates e 8 derrotas. Assumiu a Argentina na sequência.


O cargo que Pizzi estreia hoje pelo Chile é sua primeira experiência em seleções. Os principais clubes que dirigiu foram Central, San Lorenzo e Valencia. Cruzou com Tata em 2013 (Newell´s 1×0 San Lorenzo) e em 2014 (Valencia 3×2 Barcelona).

Adversários cordiais, hoje comandam as potências que decidiram a última Copa América. Ganhar em Santiago às 20h30 pela 5ª rodada das Eliminatórias vai ser especial. No coração leproso y canalla de cada um, tais clássicos são infinitos.


Chile: Bravo; Isla, Medel, Jara e Mena; Marcelo Díaz e Gutierrez; Orellana, Fernandez e Beausejour; Alexis Sánchez. Técnico: Juan Antonio Pizzi.

Argentina: Romero; Mercado, Demichelis (Otamendi), Funes Mori e Rojo; Kranevitter, Biglia e Banega; Messi, Agüero e Dí Maria. Técnico: Tata Martino.

Árbitro: Heber Roberto Lopes (Brasil)
Estádio: Nacional, em Santiago (Chile)


A superação de ‘MaraBiglia’: dos papos com o pai morto ao auge na seleção
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Tales Torraga

Nada de Messi, Tevez, Agüero ou Di María. Se a Argentina tem sossego para visitar amanhã (24) o Chile às 20h30 é graças ao volante Lucas Biglia, autor do gol do 1×0 na Colômbia em novembro, única vitória do país em quatro jogos das Eliminatórias.

Biglia tem 30 anos e joga na Lazio. E precisou correr muito para eliminar oito quilos e desarmar a fulminante morte do pai, Miguel, em 2008.

“Ele jogou futebol e dormiu. Às 3, 4 da manhã, quando foi ao banheiro, desmaiou. Morreu de infarto”, contou à revista El Gráfico.

Biglia no Anderlecht

“Eu estava em pré-temporada na Bélgica. Voltei ao quarto e vi muitas ligações perdidas. Pensei que era pela saída do Anderlecht. Fiquei contente. Quando liguei ao meu empresário, me disse: ‘Já comprei tudo, venha à Argentina ver seu pai’.''

Miguel Biglia, pai de Lucas, com cartaz de jogo beneficente em 2007, um ano antes de morrer

''Liguei para o meu irmão e para a minha mãe e eles contaram que estava tudo certo. ‘Venha pelas dúvidas. Vê-lo te fará bem’. Jamais imaginei que o encontraria no caixão. E só por dez minutos, porque o corpo já cheirava.”

Biglia tinha 22 anos. “Ia ao cemitério todos os dias para conversar com a foto da lápide. Fiz isso por uma semana. Era injusto demais meu pai sair do mundo assim. Tinha muito o que falar com ele. O Anderlecht me ligava todos os dias para voltar, que eu era importante para o time, que vinha a Champions…”

Lucas viajou. E só transferiu os problemas da Argentina para a Bélgica. “Disse ao meu representante que iria parar de jogar futebol.”

O Anderlecht logo notou. Biglia brigava por tudo. Com o roupeiro, com o flanelinha e com a balança. Engordou oito quilos.

O mesmo que sua mulher, Cecilia, grávida de Allegra,  primeira dos dois filhos do casal. “Ela nos deu felicidade em uma hora muito triste. Meu pai morreu em julho. E em agosto soubemos da gravidez.”

Com a família e um adestrador de aves

A filha equilibrou Biglia por pouco tempo. Em janeiro de 2013, passou dez dias na cama aos cuidados da irmã psicóloga. Estava estressado e deprimido.

O alívio veio ano depois. Já na Lazio, soube que jogaria o Mundial 2014 no Brasil.

“Me tranquei no carro em Roma e chorei sozinho uns dez minutos. Durante a Copa dizia que estar ali uma era homenagem ao meu pai. Ele foi também meu técnico e quem me pôs como volante. Eu era armador.”

Biglia começou na reserva, mas ganhou a posição e foi titular na final contra a Alemanha em 13 de julho – um dia depois do aniversário da morte do pai.

Lucas hoje é chamado na Argentina de ''MaraBiglia'' por homens (pelos arranques e desarmes) e mulheres (pela pinta de galã).


O desempenho que o credencia ao Manchester United e Real Madrid o põe também como titular argentino. Os 11 amanhã devem ser: Romero; Mercado, Demichelis, Funes Mori e Rojo; Biglia, Kranevitter e Banega; Messi, Agüero e Di María.


Mesmo time, mesmo fardo. Filhos de Rincón e Redondo jogam juntos no Tigre
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Tales Torraga

Quem tem mais de 30 anos vai concordar. O argentino Fernando Redondo e o colombiano Freddy Rincón eram, seguro, dois dos melhores volantes do mundo.

Rincón deixa a Argentina no chão em pleno Monumental

Ambos se enfrentaram em épica partida: o Argentina 0x5 Colômbia de Buenos Aires 1993 pelas Eliminatórias. Rincón fez dois gols. Redondo não fez nada para impedir.

O cabeludo Redondo e o cabeçudo El Cabezón Ruggeri naquela tarde

Rincón e Redondo se cruzaram em outro confronto groso – 2×2 Corinthians e Real Madrid no Mundial de 2000, dos maiores jogos dos 56 anos de história do Morumbi.

Sonho de uma tarde de verão. A classe de Rincón no Corinthians x Real do Morumbi / Gazeta Press

Rincón era o capitão daquele fantástico Corinthians. Desarmava e distribuía o jogo a Vampeta, Marcelinho, Ricardinho, Edílson e Luizão. Un equipazo fatal, de locos.

Edu, hoje Gaspar, derruba Fernando Redondo no Mundial em São Paulo / Getty Images

Aquele Real: Casillas, Salgado, Hierro, Karembeu e Roberto Carlos; Redondo, Guti (Morientes), Geremi (McManaman) e Raúl; Anelka e Sávio. Técnico: Del Bosque.

Pelas voltas da bola e da vida, hoje os filhos dos dois craques jogam juntos no Tigre, da Argentina. Dividem o clube, o ataque e o sobrenome pesado – Fernando Redondo, 17 anos, e Sebastián Rincón, 22. A estreia do Redondo filho foi ontem.

Para a história: a primeira vez de Fernando Redondo, 17

No lugar do volante Cirigliano, jogou os últimos 25 minutos no 3×3 contra o Newell's. Atua em posições defensivas ou ofensivas. Está se descobrindo.

El principito Fernando Redondo – o pai era chamado (e tinha futebol) de príncipe

O Tigre é 12º em seu grupo no Argentino e acabou de contratar treinador: Pedro Troglio, ex-técnico do Gimnasia e colega do Redondo pai na seleção argentina.

Cara do pai: Sebastian Rincón comemora gol ontem contra o Newell's

Ontem lados opostos, hoje juntos. Gerações e gerações, décadas e décadas. As diferenças deste mundo duram solo un momento, como diz o cantante Vicentico.

¿Cual es aquel camino que tengo que tomar?
Si solo hay un destino al que puedo llegar
Si siempre viaje solo
Y siempre vos fuiste mi faro en la ciudad

En la ciudad
Es solo un momento

Es una mirada y saber cual es el camino
Y asi nada mas

Es solo un momento
Es una mirada hacia atras
Yo quiero saber, mi amor, si al llegar
Vas a estar alli
Vas a estar alli

¿Cual es la hora exacta en que tengo que partir?
¿Cuantas son las señales que tengo que seguir?
Si siempre viaje solo
Y siempre vos fuiste mi faro en la ciudad

Es solo un momento
Es una mirada y saber cual es el camino
Y asi nada mas

Es solo un momento
Es una mirada hacia atras
Yo quiero saber, mi amor, si al llegar
Vas a estar alli

Es todo silencio
La ultima mirada hacia atras
Saber el camino
Y asi nada mas

Es solo un momento
La ultima mirada hacia atras
Yo quiero saber, mi amor, si al llegar
Vas a estar alli


Elogiado por Mascherano, ex-técnico de hóquei comanda sensação do Argentino
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Tales Torraga

O nome: Defensa y Justicia. O homem: Ariel Holan. O fato: depois de 18 anos como treinador de hóquei na grama e bronze no Pan de 2003, aos 43 começou no futebol. Hoje aos 54, é o técnico do momento na Argentina de respeitadíssimos treinadores.

Ariel Holan, genial e sereno / La Nación

O Defensa y Justicia é da cidade de Florencio Varella, província de Buenos Aires. Não tem nem dois anos de Série A. Seu estádio de 20.000 lugares – referência da dimensão do clube. E briga diretamente pelo título do atual Campeonato Argentino.

O DyJ é o quarto em seu grupo. Está seis pontos atrás do líder Lanús com ainda nove partidas por jogar. Tem o melhor ataque (19), o artilheiro do torneio (Fabián Bordagaray, 8 gols) e um elenco de média de idade de somente 23 anos.

De cuerpo técnico com formação acadêmica e intelectual e de treinador que fala como ser humano capacitado, o Defensa y Justicia contratou Holan no ano passado.

Famoso por inovar no hóquei, segue o estilo nos gramados frequentados há somente 11 anos. Cria tecnologias e treinamentos próprios e propõe coisas incomuns como treinos de movimentos específicos no mesmo dia do jogo.

Sua ideia de time? ''Um que saiba posicionar-se no campo do adversário para estabelecer superioridade numérica e obrigar o erro.''


Trabalhando sempre de forma plural e horizontal, seu corpo técnico é composto por 11 profissionais. Seus jogadores, quase 30.

Holan começou a trabalhar com Jorge Burruchaga, autor do gol da Argentina campeã da Copa de 1986. Estudou, fez estágios ou foi assistente também de Raymond Domenech, Matías Almeyda, Alejandro Sabella e Daniel Passarella.

Absorve referências do rúgbi, basquete e handebol, entre outros, até hoje: ''Há princípios básicos comuns a todos os esportes, como condução de grupo, planificação e metodologia de treinamento''.

Tem no preparador físico Alejandro Kohan uma referência: ''Ele é perito em medição e capacitado no mais alto nível mundial. Enxergamos o futebol da mesma maneira''.


Prefere treinar com bola em pautas específicas e microciclos e jogar com um time vertical que vá ao ataque de forma elaborada e associada.

O trabalho científico de Holan é tão respeitado que pouco importa que ele, às vésperas de jogar contra o Independiente, diga que é torcedor do clube, e que não aconteça nada. Seu site oficial – cheio de vídeos, leituras e referências – é este.

Holan já é comentado na seleção argentina e muito elogiado por Javier Mascherano: ''É muito valioso o que faz o Defensa y Justicia. Eles são uma luz que permite sonhar no futebol argentino'', disse o Jefecito ontem ao canal TyC Sports.

''Eles arriscam e mantêm sua identidade. Isso é o que faz uma equipe diferente. O segredo é o funcionamento e o posicionamento, não apenas a qualidade dos jogadores'', opinou o jogador do Barcelona, mais que descrevendo, detalhando os jogos e as táticas usadas pelo DyJ no Argentino.


Quebrado por Tevez há 6 meses voltou a chutar. Agora, quer voltar a nascer
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Tales Torraga

Faz seis meses que uma brutal dividida com Tevez quebrou a canela de Ezequiel Ham, do Argentinos Juniors. O volante de 22 anos recentemente voltou a treinar com bola e deve estar pronto para jogar em agosto, no próximo Campeonato Argentino.

A chocante jogada de seis meses atrás

Yamil, irmão do jogador, é jornalista. E publicou uma emocionante carta a Ezequiel:

Seis meses já se passaram e nem tudo voltou à normalidade. Nem em casa, nem na tua vida. Porque a normalidade em casa voltou em dezembro, creio, quando você caminhou de novo e começou a ter uma vida mais ou menos como tinha. Uma vida que ainda não está podendo fazer com essa ''normalidade'' porque ainda não pode estar em um campo de futebol cada fim de semana fazendo o que gosta.

Ham e Tevez no hospital dias depois da fratura

Seis meses se passaram desde esse 19 de setembro em que te colocaram uma pausa abrupta em seu sonho. Daquela jogada em que quiseram ''te raspar'' e terminaram te quebrando, com a imprudência de parte de um jogador de quase 15 anos de experiência [nota do blog: são 9 anos] em grandes equipes europeias e até com participações em Mundiais. Passou, porém. O infortúnio tomou protagonismo e o que seria uma picardia, deixar uma marca em você, terminou sendo o que foi.

ezequielham

Ham voltou a chutar no começo do mês

Por sorte, você não guarda rancor de ninguém e se apoiou no carinho sincero de seus entes queridos. Hoje, já pode dizer que sua lesão está curada. Agora falta sacar este medo, voltar à dinâmica de um jogo de futebol e ganhar rodagem em cada treinamento. Até este dia de agosto em que voltará a nascer, e ali estaremos, todos os que estiveram para te apoiar desde o primeiro dia.

hamfamilia

Ham com o filho e a mulher

Sim, nesse jogo você voltará a nascer, e o futuro é muito promissor.