Patadas y Gambetas

Novo Maradona? Quem é Ezequiel Lavezzi, o argentino ‘vida louca’ do momento
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Tales Torraga

Conhecido apenas entre os fanáticos por futebol, o argentino Ezequiel Lavezzi ganhou fama mundial nesta semana e com um tema pouco a ver com o esporte.

Ele esteve no centro do escândalo detonado pela notícia de que teria fumado maconha na concentração da seleção argentina que enfrentou a Colômbia.


Chamado de Pocho – apelido que significa 'estragado, bagunceiro' – na Argentina, Lavezzi é, para muitos no país, a versão 2016 de Diego Armando Maradona (no que diz respeito obviamente aos escândalos, e não ao seu parco futebol).

Além da história da maconha – que não seria a primeira vez, conforme noticiou o radialista Gabriel Anello, responsável por divulgar a informação -, Lavezzi se caracteriza pela frenética vida extra-campo – igualzinho ao que fazia Maradona.

El Pocho coleciona escândalos. O mais comum, o vazamento de fotos íntimas que ajudaram a nutrir o verdadeiro fetiche que as argentinas têm por ele.

Lavezzi é casado com a argentina Yanina Screpante, modelo e designer. Estão juntos há cinco anos, embora o atacante siga na mira da imprensa e de famosas que anunciam romances com ele, como na última Copa do Mundo.

Outro déjà-vu maradoniano: há dois meses, Lavezzi quase bateu e atropelou a imprensa argentina em casamento de amigos realizado em Buenos Aires.

Lavezzi está com 31 anos e joga fora da Argentina desde 2007.

Foi revelado pelo Estudiantes de La Plata em 2003, e do ano seguinte até sua saída à Europa jogou no San Lorenzo. Com o Ciclón, ganhou o Clausura de 2007.

No Velho Continente, defendeu com pouco brilho o Napoli (2007-2012) e o Paris Saint-Germain (2012-2016). Desde a metade do ano está contratado pelo Hebei Fortune, da China, mas ainda não estreou pela equipe. Lavezzi se recupera da contusão que quebrou seu cotovelo na Copa América com a seleção argentina.

Seleção que, aliás, conta com larga lista de peraltices suas.

A mais conhecida foi jogar água na cara do técnico Alejandro Sabella em plena partida de Copa do Mundo contra a Nigéria. ''Foi um gesto de carinho'', se defendeu El Pocho, que seguiu no grupo mesmo depois do histórico ato de indisciplina.

Outra crítica argentina ao seu comportamento é tratá-lo como jogador de ''perfil muito alto''. Sempre bem ativo nas redes sociais, Lavezzi é o que o país chama de mero personagem de ''poses e posses'', alguém que capricha na embalagem porque sabe que tem o conteúdo vazio. Não é impressão: são sim bem ácidos.

No caso do futebol com a Seleção, com uma dose de verdade.

Lavezzi tem apenas nove gols em 51 jogos con la camiseta argentina. Mas compensa sua falta de desempenho sendo galã, estrelando campanhas de moda e comemorando gols arrancando toda a roupa.

Isso Maradona não fazia. Mas se jogasse hoje, bem provável que faria sim.

Revólver e ameaças – Para apimentar ainda mais a semana do escândalo da maconha, outro integrante da família Lavezzi esteve em evidência na Argentina ontem (17): seu irmão, Diego, presidente de um clube de uma divisão menor.

Pois bem.

Diego Lavezzi teria entrado no vestiário e feito – armado – ameaças ao time para perder de propósito e favorecer um amigo.

Assim vai a Argentina, muchachos.


Patrocinadores pressionam contra silêncio de Messi e da seleção argentina
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Tales Torraga

O boicote à imprensa anunciado por Lionel Messi na seleção argentina já rende consequências. E elas são sentidas onde dizem que dói mais – no bolso.


O blog apurou que os patrocinadores da Seleção pressionaram ontem (16) a AFA para reverter o silêncio. A razão é cristalina: as marcas pagam milhões à Associação para aparecer nas mídias que os atletas agora renegam.

O responsável pela mediação entre as marcas e os jogadores é Armando Pérez, líder do Comitê Regularizador da AFA, informado do boicote só quando ele tinha se concretizado – prova cabal do mau comando dos dirigentes argentinos.

São os patrocinadores que bancam hospedagem e transporte dos jogadores da seleção argentina. É este o fluxo de dinheiro de uma AFA falida e afogada em escândalos financeiros depois da morte do ex-presidente Julio Grondona.

Encabeçada por Adidas e Coca-Cola, a lista dos patrocinadores da Argentina está aqui. Estima-se que a Adidas pague à AFA R$ 108 milhões por ano até 2022.

E o que pensa la gente argentina disso tudo?

A opinião pública em Buenos Aires trata este ''caso Lavezzi'' como demonstração de força do ''núcleo duro'' da Seleção, formado por Messi e Mascherano.

Para a maioria na capital portenha, ambos erradamente protegem Lavezzi, um atleta de fraca qualidade e que humilhou o então técnico da Seleção Alejandro Sabella ao jogar água na sua cara em pleno jogo da Copa do Mundo de 2014.

Para muitos portenhos, o ''núcleo duro'' é ''duro de inteligência''.

Há críticas neste caso também a Patón Bauza.

Consideram que técnico ''sério e responsável'' jamais convocaria um problemático como Lavezzi – ainda mais voltando de lesão e sabendo que não iria jogar.

(Ainda mais preterindo Mauro Icardi!)

Se o Brasil é o país do futebol, a Argentina é o país da crítica. Seguro.


Por que a droga e o doping rondam a Argentina bem antes do “caso Lavezzi”
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Tales Torraga

“Ninguém tem moral para me falar nada sobre droga. Se vamos falar de droga, precisamos voltar a um processo muito largo e muito velho no futebol argentino, um processo de quando eu ainda não jogava, da Libertadores que nunca joguei.''

“Daniel Passarella: se eu conheci a droga no futebol, foi por você.''

O trecho é da autobiografia de Diego Maradona, 'Yo soy el Diego de la gente', e escancara: o esporte argentino lida com as drogas há muchas décadas.

O ''caso Lavezzi'' detonado na noite passada é um desdobramento desta sina que expõe a realidade da Argentina que lidera o consumo regional de álcool, tabaco e demais drogas – não seria diferente neste simulacro da vida chamado esporte.

(Diferente como? Muitos cantos de torcida falam de crack, maconha e cocaína.)

Faz sentido que a linha do tempo (e da droga) aponte como ponto de partida o Mundial de 1978. Esta Copa foi marcada pela grave desconfiança das outras seleções com o doping argentino. Foi Ortiz, atacante titular daquela Argentina, quem confirmou: sim, houve droga e suborno naquela campanha.

Aquela Seleção tinha também dois jogadores que sofreram muito com as drogas no pós-carreira: o primeiro, o lateral Alberto Tarantinicom a cocaína. Outro, René Housemann, que anos depois declarou que precisava beber até para jogar.

Abalados pela Guerra das Malvinas, a Argentina de 1982 passou longe de questões narcóticas, mas aquele Mundial marcou o início da pesada dupla que seria desfeita em 1986, a de Maradona e Passarella. Passarella acusou Maradona de se drogar na preparação para a Copa do México – Diego jura: no pasó nada.

O auge das drogas na Argentina veio em 1990. Primeiro, com o famoso caso da ''água batizada'' dada ao lateral brasileiro Branco. Depois, com jogadores que sofreram com as mais diversas substâncias, casos de Caniggia, Maradona, Monzón e Batista. Nenhum deles jamais admitiu consumo durante o Mundial da Itália.

Algo que sempre intrigou a Argentina: por que tantos drogados se esta Seleção tinha um renomado médico no comando, Carlos Salvador El Narigón Bilardo?

Talvez porque Bilardo também tenha recorrido às drogas nos tempos de jogador, como falou Maradona depois de romper sua parceria com ele em 2010.

No Mundial dos EUA-1994, na reedição do duo Caniggia-Maradona, veio o caso da efedrina de Diego que expulsou Maradona da Copa depois de só dois jogos.

(Falou-se muito tempo na Argentina que Maradona era tão amigo assim de Caniggia porque era Cani quem fornecia sua droga, algo sempre negado pelos dois.)

Na repescagem daquelas Eliminatórias, Maradona já afirmara que não houve antidoping e que Julio Grondona, presidente da AFA, havia mandado o time tomar um ''café veloz'' para vencer a inofensiva Austrália e não ficar fora do Mundial.

Na Copa de 1998, a imprensa noticiou que Verón testara positivo para cocaína, mas a informação não se confirmou e o volante jogou normalmente aquele Mundial.

O episódio iniciou também a greve (e a guerra) de silêncio contra a imprensa, algo reeditado 18 anos depois, agora com Lionel Messi e Ezequiel Lavezzi.

Naquele time, e no Mundial de 2002, uma das estrelas era Ariel Ortega, de admitidas dificuldades com a bebida, algo que até hoje aflige a Argentina – em seus tempos, foi um caso muito parecido com o de Adriano Imperador no Brasil.

Houve um período de trégua nesta triste e delicada questão – foi no Mundial de 2006 na Alemanha, quando a Argentina era treinada pelo ''paizão'' José Pekerman.

Nesses tempos, o esporte que dava o que falar a respeito do consumo de drogas era o tênis. A ''Legião'', como é conhecida esta camada de tenistas na Argentina, foi flagrada no doping entre 2000 e 2005 com Guillermo Coria (nandrolona), Juan Ignacio Chela (metiltestosterona), Mariano Puerta (efedrina), Guillermo Cañas (diurético), Martín Rodríguez (cafeína) e Mariano Wood (finasteride). Cosa de locos.

Veio depois o Mundial de 2010.

Treinada por Maradona, a Argentina causou polêmica ao incluir na relação para a Copa o zagueiro Ariel El Chino Garcé, que havia testado positivo para cocaína.

Em 2014, o antecipo das polêmicas detonadas na já famosa noite desta terça.

Na prévia para o Mundial, houve suspeita e posterior informação de que Ever Banega e Ezequiel Lavezzi haviam então fumado maconha. Banega foi afastado. Lavezzi integrou a Argentina que só parou na Alemanha e na final.


Opinião: Renegados dão paz à Argentina
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Tales Torraga

As TVs e redes sociais na Argentina enfatizaram mais de uma vez: o Argentina x Colômbia foi um jogo de baixo nível no qual se salvaram apenas Messi e Cuadrado.

Mas a vitória por 3×0 que permite a Patón Bauza imaginar a sequência de seu trabalho se deu também pelo mérito dos mais detonados pós-surra ante o Brasil.


O primeiro deles é o próprio Bauza, que conseguiu encontrar uma formação mais coerente com o momento argentino. Sacou Higuaín – e seu substituto Pratto fez o gol. Colocou Mercado e Más nas laterais e ambos deram total conta do recado.

O mesmo pode se dizer de Banega escalado perto de Messi para fazer as aproximações com o craque. Messi esteve particularmente enchufado – seus defensores na imprensa argentina dizem que depois de hoje os detratores não podem mais acusá-lo de se esconder em finais. Esta era uma. E era mesmo.

Mascherano, ''mentalmente queimado, sem conseguir encontrar caminho de reação, em vias de se aposentar'', foi quem mais roubou bolas na noite de San Juan e mostrou as patas a Falcao García para provar quem mandava em campo. El Jefe.

Por fim, Ángel di María, que passou de potencial deprimido a jogador de positiva atuação e autor do terceiro gol. Mostrou enfim sinais do encantador Fideo – Macarrãozinho, seu apelido – das últimas duas Copas Américas.

A Argentina vai virar o ano na quinta posição – a da repescagem.

Mas já pode enxergar dias menos confusos e mais pacíficos.

E que vêm justamente pelas ideias e pelos pés dos que eram mais questionados.

Não é nada suficiente para garantir o ciclo de Bauza no comando da Seleção – mas hoje, antes da virada do ano e dos próximos capítulos do dramalhão argentino, sacá-lo seria mais equivocado do que tê-lo escolhido para o cargo há só 105 dias.

* Atualizado à 1h16: Como paz e Argentina são palavras que dificilmente podem ser escritas juntas, veio logo depois do jogo o anúncio de Messi de que a Seleção não vai mais falar com a imprensa argentina até segunda ordem.

É a repetição do que houve na Copa do Mundo de 1998. Há 18 anos, noticiaram que Verón havia sido flagrado no anti-doping por cocaína, o que não se confirmou.

O jornalista a informar que Lavezzi estaria fumando maconha na concentração é o locutor e apresentador Gabriel Anello, da Rádio Mitre, a mais ouvida da Argentina. Ele faz toda sua defesa deste episódio no Twitter, aqui, e diz ter vídeos e fotos que comprovam o que contou no microfone. Anello é experiente, premiado e respeitado. Não fosse, não ocuparia um dos cargos mais cobiçados da imprensa portenha.

Além da maconha fumada duas vezes por Lavezzi, Anello noticiou também que os jogadores beberam vinho além do desejado no hotel de San Juan. Fuerte, eh.


Contra crise e contra sua própria torcida, Argentina revê a algoz Colômbia
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Tales Torraga

Em busca de paz e gols, a Argentina recebe a Colômbia às 21h30 de hoje (15) no Estádio Bicentenário, em San Juan, a 1.200 quilômetros de Buenos Aires.

Deveria ser uma mera troca de carinho entre um humilde povo da Argentina e os milionários astros do seu futebol, mas já é um encontro explosivo no qual a Seleção bem sabe que seu próprio torcedor pode virar um cruel e enfurecido inimigo.

O Estádio Bicentenário é acanhado – 25.000 lugares. Uma arma de doble filo.

Se jogar com raça y meter huevos, incentivo.

Se mostrar desídia, a Seleção de Bauza vai mergulhar nas trevas, así de una.

Há três sinais vermelhos nesta difícil relação entre a Argentina e sua torcida.

(Há relações na Argentina que não sejam difíceis?)

O primeiro desses sinais veio no último sábado, em La Plata, no amistoso do River Plate contra o Olimpia, com uma faixa clarita que não precisa de traduções.

A música do baile do Mineirão continua tocando alto por aqui, muchachos.


O segundo veio na chegada da Seleção a San Juan no começo desta semana.

Sempre muito concorrido, o desembarque não contou com a adesão popular – apenas um grande reforço na segurança que, afinal, não teve razão para proteger os astros já golpeados pela surra levada do Brasil em Belo Horizonte.

O terceiro sinal veio de Lionel Messi, quando ele questionou o incentivo da torcida e, sem mais palavras, disse que esperava um acolhimento mais caloroso desta vez.

A situação é muito clara na Argentina: a paixão boleira é toda destinada aos clubes, que contam sim com torcidas que estão entre as mais apaixonadas do mundo.

A Seleção é, claro, seguida com fervor durante a Copa do Mundo.

Nos outros eventos, bem menos. A seleção é praticamente uma catarse apenas para protestar contra tudo o que há de (muito) errado na Argentina.

São famosas em Buenos Aires as brigas de jogadores e técnicos – com Diego Maradona, óbvio, encabeçando a lista – com torcedores no Monumental de Núñez.

A novidade recente é a irritação também das demais províncias nas más fases recentes, e muito tem a ver com o bolso e com um incompreensível – e passível de críticas – distanciamento total da seleção argentina com a torcida provinciana que desembolsa altas quantias para ver um time que considera preguiçoso em campo e com jogadores que fazem questão de não se aproximar dos torcedores.

A tabela de preços convertida em reais: a Popular hoje em San Juan sai por R$ 77; a Plateia mais barata, R$ 220. A mais cara, R$ 616. E o estádio ainda estará lotado.

Como esteve o Monumental no jogo mais sintomático da fúria dos torcedores.

Em 1993, em situação diferente da atual porque a Seleção vinha invicta e bicampeã da Copa América, a Argentina de Goycochea, Batistuta e Coco Basile jogou pelas Eliminatórias justamente contra a Colômbia que recebe nesta noite.

E o que aconteceu está na história dos dois países e do futebol mundial.

A Colômbia de Rincón, Valderrama e Asprilla humilhou a orgulhosa Argentina por 5×0 em Buenos Aires naquela que é até hoje a pior derrota argentina em casa.

Casa que desmoronava aos gritos de ''olé'' a cada toque colombiano na bola.

Atônita e com energia apenas para brigar, a torcida argentina contou com um personagem de peso nas tribunas do Monumental: Diego Armando Maradona, então em atividade, que obviamente ouviu as súplicas para o seu retorno à equipe.

Deu certo.

Maradona entrou em forma e jogou a repescagem contra a Austrália, e a Argentina se classificou para a Copa de 1994 da qual Diego seria expulso por doping.

Maradona mora em Dubai – ninguém como ele estará nas tribunas de San Juan.

Mas todos os argentinos esperam que em campo alguém renda como ele rendia.

E este alguém é Lionel Messi, o primeiro a certamente precisar lidar com a ira de toda uma nação caso a partida siga para outro rumo que não seja o da vitória.


‘Geração fantástica’ pode ser dilacerada por quem a criou: José Pekerman
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Tales Torraga

(Por histórias como esta é que a Argentina tem uma seleção maluca e sem igual.)

Pelo que o blog apurou, e pelo que a imprensa argentina também informa com alarde, Di María, Agüero, Higuaín, Mascherano e Zabaleta já assimilaram.

Seus ciclos com a Seleção chegaram ao fim. Ya está. Se acabó.

Os cinco estão ''mentalmente queimados'' pelas finais perdidas e pela horrível realidade que a equipe escancarou no cruel e já histórico baile que levou do Brasil.


Todos seguem na Seleção que amanhã 21h30 enfrenta a Colômbia na Argentina, na província de San Juan. Mas dois deles já foram sacados por Patón Bauza.

Zabaleta perdeu sua vaga na lateral-direita para Gabriel Mercado. E Gonzalo El Pipita Higuaín, atacante de 90 milhões de euros, sai para a entrada de Lucas Pratto.

(Os 11 de Patón contra a Colômbia serão Romero; Mercado, Otamendi, Funes Mori e Mas; Biglia e Mascherano; Messi, Banega e Di María; Pratto.)

A ironia que espera a Seleção nesta terça estará em pé, à beira do campo e do banco de reservas da Colômbia: José Pekerman, técnico argentino responsável pelo ''nascimento'' de Messi, Mascherano, Zabaleta, Di María, Agüero e tantos outros no país que agora enfrenta – e que pode simplesmente dilacerar.

Treinador da Argentina na base (1994-2004) e no time principal (2004-2006), Pekerman lapidou a ''Geração fantástica'' que a Argentina acostumou a mimar.

Era consenso em Buenos Aires até meses atrás.

Liderados por Messi, a atual camada de jogadores argentinos era vista como a melhor da brilhante história do país. E é esta camada que dá a Pekerman todas as pistas: fraquezas valem três pontos para a Colômbia que dirige desde 2012.

A Colômbia é a terceira nesta Eliminatória. Se vencer, afundará a Argentina – só a sexta – em crise cujo destino certo é a troca de técnico e a aposentadoria de vários referentes. Se não aposentadoria, pelo menos um descanso daqueles bem longos.

Mascherano, Higuaín, Di María e Agüero lutam para ter a chance, na Copa do Mundo de 2018, de fazer a revanche definitiva de suas carreiras por tudo o que sofreram no Mundial do Brasil e nas últimas duas Copas Américas ante o Chile.

Todos encaram agora uma realidade dura como uma parede. Querer não é poder.

Os quatro estão bem – em maior ou menor intensidade –  em seus clubes. Mas neste outro departamento chamado seleção argentina, não conseguem render o mesmo que nos times ou que em outros tempos com a camisa azul e branca.

Em uma Argentina cada dia mais fatalista e determinante, esta terça será dia de morte ou renascimento de toda uma era. Dia histórico e comovente, señores.

Y ahora, José?

Vale destacar: Pekerman sempre teve profundas diferenças com os dirigentes da AFA. Por isso ele não aceitou o cargo de treinador da seleção principal quando Daniel Passarella foi demitido em 1998. Por isso ele pediu o boné em 2006 sem se justificar. José é de poucas e objetivas palavras. E muitas (e competentes) ações.

As desta terça são esperadas com especial ansiedade.


Carlos Reutemann: “Este não é o meu Interlagos”
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Tales Torraga

Foi um argentino – El Lole Carlos Reutemann – o vencedor do primeiro GP do Brasil de F-1 da história, em 1972. Ele ganhou a prova também em 1977, 1978 e 1981.

Hoje com 74 anos, Carlos cumpre seu terceiro mandato como senador. Dedica-se aos interesses da província de Santa Fé, da qual foi governador por duas vezes.

Reutemann está nos Estados Unidos, onde foi operado semana passada para retirar pedras dos rins. Antes, declarou ao blog que não acompanha a F-1 de hoje e fez ponderadas críticas à ''mesmice'' do traçado atual de Interlagos. Confira:

INTERLAGOS. ''Era nossa pista preferida, e em um tempo onde corríamos em traçados espetaculares como Monza, Silverstone e Nürburgring. A pista de hoje não tem nada a ver com o que era. Hoje as corridas são feitas para contar com o maior número possível de carros que cheguem ao final, por questões econômicas. As corridas são iguais entre si. Antes você via uma competição muito diferente e em pistas diferentes, com interferências humanas muito diferentes das de hoje.''

VITÓRIA EM 1972. ''Lembro que fazia muito calor e que a torcida lotou Interlagos. São Paulo, Rio e Buenos Aires eram cidades que paravam para ver a F-1. Foi uma corrida de poucos carros em uma pista muito longa [8 quilômetros]. Eu estava em segundo, o Emerson quebrou e ganhei. Só soube que ele tinha quebrado depois de muito tempo. Não deve ter sido muito empolgante para quem estava vendo.''

Reutemann (centro) entre Emerson (Lotus preta) e Wilsinho Fittipaldi (perto do muro)

RIVALIDADE BRASIL x ARGENTINA. ''Eu, Nelson [Piquet] e Emerson levávamos sim a sério esta coisa de vencer na casa do outro. Lembro de uma corrida especial de Emerson em Buenos Aires, em 1973, e ele depois brincou que as ultrapassagens que fez eram para mim. Dei mais sorte no Brasil que na Argentina [Reutemann nunca venceu em seu país]. Fui muito amigo também de Pace, um tipo incrível, veloz, fechado, mas muito carinhoso. Era um outro tipo de contato humano.''

F-1 ATUAL. ''Não paro para ver. Não que seja desinteressante. Eu é que tenho pouco tempo para acompanhar. A vida mudou, hoje faço outras coisas e acompanho as corridas pelo noticiário ou por vídeos que me mostram. Pilotar uma máquina de ponta é um mundo à parte. Deve continuar muito interessante para quem corre.''

ROSBERG x HAMILTON. ''São excelentes, ninguém está nesta condição se não for muito bom. São muito parecidos também no estilo. A F-1 de hoje não comporta muitas diferenças. Os carros são muito parecidos, as pistas são muito parecidas, então as chances de fazer diferente são pequenas. O mundo hoje está muito igual.''

PILOTOS BRASILEIROS. ''Sempre me dei bem com todos eles, principalmente com Nelson, que era muito brincalhão, muito engraçado. Até hoje ele me diz que eu perdi o campeonato de 1981, e não ele que ganhou, mas pouco importa. Na época, claro, você corre para ganhar, mas com o tempo passa a valorizar outras coisas.''

''Lido bem com a minha carreira. Fui feliz correndo, e o mais importante é que não sofri nenhum acidente grave. O Brasil não deve se preocupar em perder espaço na F-1, o esporte é feito de fases, só ver o que houve com Itália, França e outras nações que já foram grandes e hoje não tem vagas.  Com a tradição que o Brasil tem, a chama para surgir novos talentos está sempre acesa, não há como ser diferente.''

ARGENTINOS NA F-1. ''Não vejo nenhuma ligação do país com a categoria, o que não é nenhum problema, tampouco. Está muito mais difícil e mais caro para os argentinos. Os esportes são assim, cíclicos, por isso é tão interessante.''

''Os argentinos amam corridas, sem precisar de piloto do país. A paixão aqui é enorme. A F-1 iria se divertir muito na Argentina, como no México e Brasil. Existe sempre porta aberta para a F-1 voltar para cá, mas não sei se é potável, os interesses do governo hoje correm longe do automobilismo, o que é normal.''


#andatepaton: Argentina culpa medo de Bauza por papelão
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Tales Torraga

Nesta sexta-feira deliciosa de 20 graus (e ressaca) em Buenos Aires, veio de Antonio Serpa, do ''Olé'', a visão mais lúcida sobre o papelão argentino.

Trechos:

As redes sociais costumam ter as soluções para quase todos os problemas da humanidade. Sem tantas pretensões, os que escrevem sobre futebol descobriram, há tempos, que os problemas da Seleção são Agüero, Higuaín e Di María.

Desde ontem, surgiu com força a figura de Bauza, que foi trending topic.

O #andatebauza se encheu de adeptos, mesmo que com um diagnóstico equivocado. Atacam, por exemplo, que Patón é um burro. Ou um mau técnico.

E não é nenhuma das duas coisas.

Bauza é um tipo inteligente. Sabe que não merece estar na Seleção.

Não havia ninguém, os bons não quiseram.

Em outro momento, há uma década, por exemplo, apenas a menção do seu nome causaria riso. Não porque seja mau técnico. Não é.

Simplesmente porque não é um técnico de seleção, de elite.

Teve façanhas interessantes, seus times têm uma cara definida, ficam bem plantados, são conservadores, parasitas perfeitos a chupar o sangue dos rivais.

O problema, o verdadeiro problema, é que Bauza tem medo.

Talvez porque saiba que está emprestado neste posto, ele se agarra aos referentes desta geração, ainda que eles estejam em decadência. Mantém todos.

Até o momento injustificável. Convoca-os quando não jogam. Ou jogam mal.

E não os tira, mesmo que sejam um desastre.

Tira Gaitán, Banega, Mercado, Enzo Pérez. Desculpem: tira sempre o boludo.

Nem Pérez – que era um dos melhores – nem os demais salvariam a Argentina. Essas decisões são apenas um símbolo.

Bauza renunciou seus princípios buscando ser complacente.

E perdeu o rumo. Não é confiável para ninguém.

Nem para ele mesmo.

Capas dos jornais argentinos nesta sexta (11)

Outras opiniões interessantes:

– A de Diego Latorre no ''La Nación'', defendendo que a falta de ideias e de força da seleção é resquício das finais perdidas.

Martín Caparrós, no ''Olé'', e sua aposta em uma ''virada de mesa'' da Fifa caso a Argentina não corresponda em campo e fique fora do próximo Mundial.

El Colorado Martín Liberman, no Fox Sports, indicando que Marcelo Gallardo deve ser o próximo técnico da Argentina.

Alejandro Fantino, na América TV, criticando o duplo discurso de Bauza e sua falta de credibilidade ao insistir com os jogadores que não rendem.

– A revista ''El Gráfico'' especial da partida destacando que a Argentina segue na briga mesmo depois da surra que levou.

Aos que querem ver como o baile do Mineirão abalou a Argentina, confiram o desesperado Franko Bonetto, torcedor que filmou suas reações durante o jogo.


Análise: Argentina vai de ‘Neymal’ a pior
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Tales Torraga

Que noite triste, che.

A Argentina não era tão, mas tão, mas tão humilhada desde o 0x4 da seleção de Maradona contra a Alemanha na Copa do Mundo de 2010.

Se a equipe de Bauza jogava pela ''saúde mental'' contra o Brasil, como todos falavam na Argentina, o que vai restar deste cruel baile dançado no Mineirão?

Capa do jornal ''Olé'' do dia seguinte ao 4×1 na Copa das Confederações de 2005 – é o caso de repeti-la amanhã

''Precisamos virar a página, precisamos virar a página…'', repetiram os jogadores.

Deste jeito, o livro vai acabar.

A goleada – sim, alguns 3×0 são goleadas e este foi um – ensina duas coisas.

A primeira é o fiel espelho do futebol argentino.

É evidente, óbvio, claro, transparente até para uma criança: como a Seleção poderia fugir deste cenário tétrico se está tudo um caos e com uma cara ainda pior?

A segunda constatação tem um quê de gratidão. Gracias, hermanos.

A Argentina temeu por longos instantes levar sete e tomar a vingança do 7×1.

Não é a maldição, boludo, é o futebol, este jogo que retrata tão bem a bipolaridade, a depressão e a loucura argentina deste momento: líder do ranking da Fifa e, por instantes nesta noite, só a sétima colocada na classificação das Eliminatórias.

Não há razões matemáticas para desespero. A Argentina segue em sexto e só a um ponto da vaga direita e de ultrapassar Equador e Chile, quarto e quinto colocados.

Desesperador é ir à lona com Messi.

Não seria ele o salvador da Seleção, o que levou a Argentina a vencer os três jogos que disputou com ele nessas Eliminatórias, o melhor que Maradona, o 100%?

Não deveria ser surpresa para quem perdeu por 3×0 até final de Copa América.

Ninguém foi expulso, mesmo com Higuaín e Funes Mori pedindo para ser.

Melhor notícia da noite: nenhum dos cinco pendurados levou cartão amarelo e não há desfalques humanos, apenas anímicos, para enfrentar a Colômbia nesta terça em San Juan naquele que será o jogo mais tenso desta geração esfafada e deprimida.

O Brasil conta com o melhor técnico que tinha à disposição, Tite. A Argentina se vira com o que tem – Bauza – depois dos 'nãos' de Simeone, Bielsa e Sampaoli.

Muy mal. De 'Neymal' a pior (gracias, ''Olé'').

Roleta russa é isso, muchachos.

Se a África do Sul é logo ali, a Rússia está cada vez mais longe.


Mario Kempes: “A Argentina vai jogar para empatar”
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Tales Torraga

''El Matador'' Mario Kempes sabe bem o que é enfrentar o Brasil. Era ele, o atacante titular da Argentina nos confrontos contra os brasileiros nas Copas de 1978 e 1982.


A experiência obtida em campo é compartilhada atualmente com os fãs dos Estados Unidos, onde comenta futebol para as TVs. Hoje com 62 anos, Kempes analisou ao blog o Brasil x Argentina do Mineirão e foi rigoroso com sua seleção.

Para ele, a Argentina vai se contentar com o empate. Os principais trechos:

BRASIL. ''Sempre teve seleções históricas que eram favoritas contra qualquer outra, inclusive contra a Argentina. As oscilações são normais no esporte. Mas desde a troca de técnico o time está mais parecido ao Brasil que sempre foi. Está mais solto e com um ataque à altura da sua história. Está em melhor momento.''

ARGENTINA. “Não chega bem ao clássico, seja na classificação ou no rendimento em campo. Mas os brasileiros podem ter certeza que o grupo está se preparando para este jogo desde que terminou o último. A pressão não vai ajudar nem atrapalhar. Contra o Brasil nunca foi necessário nenhum estímulo a mais.''

''Este time da Argentina é muito experiente. Sabe também que se perder não vai ser nenhuma tragédia, pois há muitos jogos pela frente. Não é a última chance. Mas um bom resultado com certeza vai dar ânimo para coisas melhores daqui por diante.''

''O jogador argentino cresce nesses momentos, é bom observar isso.''

Agredido por Chicão em 1978…

''Imagino que a Argentina jogue fechada e buscando o empate. Somar este ponto seria valioso, até para encaminhar tranquilo a próxima partida, contra a Colômbia.''

''A preocupação inicial vai ser não levar gol. Os times de Bauza são assim. Enzo Pérez e Di María vão ser muito importantes para levar a bola ao ataque e também para defender. Levar um gol do Brasil seria muito ruim para reverter no Mineirão.''

RIVALIDADE. ''Brasil e Argentina fazem jogos muito lindos. Para mim não foram tão lindos assim porque nunca venci o Brasil, mas sempre tive muito orgulho em participar desses confrontos e respeito pelo maior rival que tem a Argentina.''

''Um defeito do jogador argentino nesses jogos é se esforçar demais para fazer as coisas bem e acabar se afobando. Não era meu caso, mas há muitos na história que podem ser apontados dentro desta situação, seja antigamente ou hoje.''

…e não vendo a cor da bola contra o Brasil em 1982.

MESSI. ''Ele é humano, algo que a Argentina parece desconsiderar muitas vezes. Ele é o melhor do mundo, mas é humano. A torcida quer que ele faça tudo, que ele defenda o pênalti, drible todo mundo, percorra o campo e faça o gol. Esta pressão não é interessante para ninguém. O time é feito sob medida para ele. A Argentina poderia ganhar sem Messi, mas com Messi tem mais chances. Isso é evidente.''

SEU SUCESSOR HIGUAÍN. ''É um excelente goleador e mostra isso na Itália. Se o técnico confia nele, uma hora esta confiança vai ser retribuída com gols. Ele é muito importante para o time. Seus gols seriam duplamente importantes. Para o time, que precisa ganhar, e para ele, para apagar de vez as chances perdidas nas finais.''