Patadas y Gambetas

Loucuras argentinas na Davis: de dedo quebrado a jornalista de joelhos
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Tales Torraga

A Copa Davis enfim é argentina. O feito obtido ontem (27) na Zagreb Arena já está entre os cinco maiores do esporte no país em todos os tempos.

E como não poderia deixar de ser, foi conquistado com a loucura típica que faz da Argentina este país tão peculiar na cultura e no comportamento humano.

(É claro que não passou batido o fato de a Argentina chegar ao inédito título da Copa Davis na mesma campanha em que o Brasil desceu mais uma vez para a Segunda Divisão, mas isso é tema para outra hora.)

A hora agora é de contar dez loucuras desta conquista especial que a Argentina aproveita nesta segunda-feira de buena onda e 27 graus em Buenos Aires:

JORNALISTA DE JOELHOS. Guillermo Salatino, 71 anos, cobre tênis desde sempre na Argentina. E ontem, assim que terminou a final, cruzou a quadra da Zagreb Arena de joelhos. Bancou o ritual sem reclamar: ''O tênis é minha vida''.

EXPLOSÃO MONUMENTAL. O aristocrático River Plate, que já recebeu edições de Copa Davis em suas instalações, explodiu quando houve a definição do confronto em Zagreb. No mesmo horário jogavam River x Huracán pelo Argentino – vitória do River por 1×0. O vídeo da comemoração no Monumental de Núñez está aqui.

(MUITOS) PALAVRÕES. A conquista foi narrada na TV com a habitual paixão argentina, e até o sóbrio Gonzalo Bonadeo deixou escapar palavrões ao fim do jogo na locução que fez à TV TyC Sports. O vídeo deste momento épico na Argentina está aqui. E o jornal ''Olé'', claro, não perdeu sua chance nesta segunda.

Provando que o gosto duvidoso não é destinado só a ingleses e brasileiros, o diário não deixou também de tirar sarro dos tenistas argentinos que estiveram perto de conquistar a Davis e não a obtiveram, caso do lendário Guillermo Vilas.

REVER PARA CRER. Enrique Morea, 92 anos, histórico dirigente da Associação Argentina de Tênis, passou a tarde e a noite de domingo vendo os teipes de Zagreb, contou hoje o jornal ''La Nación''. ''Já posso morrer feliz'', falou.

NA MADRUGADA. Os jogos foram transmitidos ao vivo pela TV Pública para toda a Argentina desde o primeiro serviço na sexta-feira. Ontem, das 22h às 24h, a emissora mostrou um especial sobre a conquista e sobre o tênis no país.

LOCO LINDO. Chamou atenção a escolha de Daniel Orsanic, capitão argentino, por Federico Delbonis para o ponto decisivo contra o gigante Ivo Karlovic. Orsanic não escalou Leonardo Mayer, que vinha de dez vitórias seguidas nas simples na Davis. Mais acertado impossível. Delbonis esmagou o ''fantasmão'' Karlovic.

QUEBRA TUDO, ARGENTINA… De tão desejado, o troféu da Davis simplesmente quebrou quando erguido por Delbonis em Zagreb. Bateu na boca e machucou.

…ATÉ O DEDO DE DEL POTRO. San Martín contou depois do jogo contra Cilic que seu mindinho esquerdo estava quebrado. Ocorreu quando pediu pausa e não viu que o croata já sacara – a 207 km/h! – no começo do quarto set.


PECHO FRÍO? Juan Martín era tratado por muitos na Argentina como tenista sem alma – ele virou contra Cilic um jogo de cinco sets pela primeira vez na vida. Jogou quase 11 horas de sexta a domingo e terminou exausto, deixando tudo.

BEIJO NA MUNHECA. Ao encontrar Maradona, Del Potro pediu antes de enfrentar Cilic para Diego beijar seu punho esquerdo, operado três vezes. O tenista retribuiu regalando ao Diez uma das raquetes que usou no histórico triunfo.

Com o título, Maradona, claro, explodiu na tribuna em Zagreb como só ele sabe.


Davis é a maior alegria argentina desde 1986
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Tales Torraga

E chegou o grande dia: 27 de novembro de 2016 já é um divisor de águas. Nunca, jamais, o tênis e o esporte vão voltar a ser o que eram na Argentina. Ya está.


Chegou o dia de esquecer das decepções contra a Alemanha, contra o Chile e contra o Brasil. De esquecer as outras finais da Davis. E comemorar, gozarla y festejarla o que fizeram San Juan Martín del Potro e Federico Delbonis para loucura del Dios Maradona, presente, como prometera, até a última pelotita.

Coitados daqueles que não acreditam que esta é a maior alegria argentina no esporte desde 1986, desde o Mundial de Maradona, maior ainda que o ouro olímpico no futebol e no basquete, maior que os títulos das Leonas e dos Pumas.

Exagero?

Pergunte aos 4.000 argentinos que desde sexta pulam e cantam em Zagreb.

Pergunte para eles, porque por algo eles estão aí.

São muito mais que os suíços que há dois anos cruzaram a fronteira dirigindo seus carros para ver Roger Federer enfim ganhar a Davis.

São torcedores muito mais ruidosos, entusiastas, apaixonados e entregues que aqueles suíços corretos. Não são suíços, claro, são argentinos e enfermos, vivem o tênis como ninguém, como em nenhum outro lugar do mundo.

Não existe país em que o tênis tenha o nível de paixão e exposição que há na Argentina, um único fim de semana em Buenos Aires desfaz qualquer dúvida.

O dia em que Rafael Nadal parar de jogar, os espanhóis vão manter o tênis como assunto de terceiro nível. O dia em que Federer e Wawrinka pendurarem as raquetes, os suíços vão voltar a ter olhos só para o esqui e para o hóquei.

A Argentina, o país do futebol, nunca foi assim.

Desde que Guillermo Vilas o fez esporte popular, o tênis sempre esteve aí. Por isso a Davis virou obsessão. Esperamos 25 anos entre a primeira, em 1981, e a seguinte, em 2006, mas das últimas 11 finais, a Argentina esteve em quatro.

E nas quatro voltou com as mãos vazias. Nenhum país quer ser lembrado como o melhor a jamais vencer. Ahora se acabó, Argentina.

Há homens que buscam ao longo de sua vida um destino que não sabem bem qual é. Del Potro e Delbonis, hoje, o tiveram plenamente identificado.

Foram, sem distâncias ou exagero, o Kempes de 1978, o Maradona de 1986, o Fangio dos anos 50, o De Vicenzo dos anos 60, o Monzón dos anos 70.

Foram Ginóbili e Scola.

O tênis argentino hoje deixou uma pegada para as próximas gerações.

E isso não é para qualquer um, isso não ocorre qualquer dia.

Com Sebastián Fest, de Zagreb. Son un Diez, Seba, gracias totales!


Opinião: Argentina chora filme repetido na Davis
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Tales Torraga

Em sua quinta final na Davis, a Argentina pela quinta vez vê o desesperador cenário de precisar ganhar os dois jogos de simples do domingo para finalmente – finalmente! – ganhar a Copa que tanto se recusa a tomar vinhos e comer carnes.

(Por isso é a 'Saladeira', se fosse 'Churrasqueira' a Argentina já teria conquistado.)


Desde que este troféu começou a ser disputado em 1900, nenhum país perdeu tantas finais sem ganhar nenhuma, e os portenhos estão loucos com isso.

O desalento nublou o lindo sábado de sol e 21 graus em Buenos Aires pela arriscadíssima aposta que será depender da vitória de Juan Martín del Porto sí o sí  contra Marin Cilic no primeiro jogo do domingo.

Delpo ficou dois anos sem competir normalmente, e muitos, quase todos na capital portenha, temem pela sua saúde depois de jogar sete sets em dois dias – e em altíssima tensão – como ocorreu nesta sexta e sábado em Zagreb.

Para piorar, o desgaste que Cilic poderia sofrer neste sábado, depois de atuar por cinco sets e 3h30min na sexta-feira, não ocorreu.

A vitória croata por 3×0 nas duplas foi incontestável – quase um trâmite, e nem dá para justificar os dois tie-breaks nos dois primeiros sets como sinal de paridade porque foi exatamente nesta altura do confronto que ficou clara a diferença de nível de Ivan Dodig para Leonardo Mayer. Una paliza. Uma surra.

Assim vai. Como em 1981, 2006, 2008 e 2011.

Ou ainda pior, dependendo de um físico frágil como o de Del Potro, que esteve meio pinchado – meio manco – nas duplas, bem menos desgastantes que as simples.

Ganhando Delpo, a Argentina ainda precisaria de um novo milagre pelas raquetes de Federico Delbonis (?) ou do próprio Mayer (??) no confronto decisivo muito provavelmente contra Ivo Karlovic, cujos 37 anos e 2,11 metros são mais adaptados ao ar rarefeito desta instância da competição.

A Argentina de novo contou com cerca de 4.000 torcedores na Zagreb Arena, que mais parecia o Parque Roca ou Tecnópolis. Em vão. Nem um set vencido.

Diego Maradona esteve mais comedido neste sábado – obviamente pela morte de Fidel Castro, que o ajudou nas noites mais escuras em 2000 e 2001, quando El Diez esteve internado em Cuba para largar a cocaína.

Final perdida contra o Chile no futebol, uma nova final perdida no tênis para a Croácia. O orgulho argentino está más bajo que el peso, que lástima, che.

A rezar, eh? A rezarla, Argentina.


Final da Copa Davis lidera audiência na TV argentina
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Tales Torraga

Transmitida pela TV Pública ao vivo para toda a Argentina, a final da Copa Davis contra a Croácia liderou a audiência da TV aberta do país nesta sexta (25).


O pico ocorreu no começo do quinto set entre Marin Cilic e Federico Delbonis, no primeiro ponto da série. A partida foi vencida por Cilic em 3h30min de jogo.

O rating alcançou 7,2 pontos, contra 6,0 da segunda colocada, a América TV, que exibia um programa de fofocas e variedades.

A final da Davis está 1×1 com a vitória de Juan Martín del Potro sobre Ivo Karlovic no segundo confronto do dia. Foram quase sete horas seguidas de tênis em uma sexta-feira na qual a torcida argentina deslizou entre o êxtase e a agonia como habitualmente ocorre nos grandes eventos esportivos no país.

Contribuiu para a massiva audiência da Davis a fraca concorrência no horário, de novelas e noticiários nos outros canais abertos (América, Trece, Nueve e Telefe).

A Copa Davis liderou também a TV fechada no TyC Sports, emissora especializada em esportes que cobre a decisão in loco em Zagreb com toda sua equipe.

O narrador é o especializadíssimo Gonzalo Bonadeo, a voz do tênis na Argentina, com Martín Jaite, capitão argentino na Davis em 2012 e 2013, nos comentários.

Tabela da audiência no ponto máximo do dia, às 14h07 (15h07 de Brasília)

Os jogos foram seguidos com o habitual fervor também nas redes sociais.

O #copadavis foi assunto do momento no Twitter durante toda a sexta-feira, muito também pela performance de Diego Maradona como torcedor.

Muitos argentinos destinaram pesadas críticas ao Diez, tratando-o de pé-frio (''mufa'' ou ''piedra'' na gíria local) e tachando seu comportamento de ''lamentável, favelado e exemplo aos barra bravas'', num incompreensível azedume para uma final na qual a Argentina confirmou as exigências e esteve sempre muito competitiva.

Os demais meios de comunicação argentinos também mantiveram farto espaço aberto ao tênis. As duas principais rádios de Buenos Aires, a Mitre e a La Red, transmitiram o jogo com flashs ao vivo e in loco, o mesmo ocorrendo com as versões da internet dos principais jornais do país.

A audiência da Davis na TV aberta nesta sexta foi comparável a jogos de média importância do futebol argentino – um River x Huracán, por exemplo. Um superclásico Boca x River no domingo à tarde dá 20 pontos, quase o triplo de hoje.

A final de Del Potro na Olimpíada teve média bem superior à desta sexta, com 12,6 e pico de 16,9. Contribuiu, claro, ter sido no domingo. Esta sexta foi dia comum de trabalho, embora já haja na Argentina a sensação de fin de semana largo.

Segunda-feira é feriado, e um bem propício a comemorar a inédita Copa Davis.

Afinal, neste 28 de novembro se comemora também o Dia da Soberania Argentina.


Maradona pula, canta e pendura bandeira na final da Davis na Croácia
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Tales Torraga

O croata Marin Cilic venceu Federico Delbonis em uma batalha de 3h30 e cinco sets no primeiro jogo da decisão da Copa Davis entre Croácia e Argentina, mas o grande assunto foi a torcida argentina outra vez.

Segundo o jornal ''Clarín'', 4.000 fanáticos argentinos marcaram presença na Arena Zagreb que fica a 12.000 quilômetros de Buenos Aires.

Entre eles esteve Diego Armando Maradona, que ocupou o setor B107 das tribunas como um torcedor comum ao lado da namorada, Rocío Oliva.

Maradona esteve feito…Maradona.


Cantando, pulando e estendendo uma bandeira na qual se lia ''Aqui estamos…Família Maradona''. Havia dois seguranças privados próximos ao maior jogador argentino da história – e que deu nova prova de amor ao esporte de seu país.


* Atualizado às 12h34: aumentaram de dois para cinco seguranças temendo confusões com os croatas, também exaltados. Diego mostrava a eles seu punho esquerdo – pelo gol de mão na Inglaterra em 1986.

** Atualizado às 13h57: no quarto set, Maradona passou a ser solicitado para autógrafos e fotos nos intervalos, o que respondeu com bom humor.

Bem diferente dos cantos e gestos furiosos destinados a Cilic dizendo que o croata ''estava todo cagado'' ao errar bolas bobas.

Maradona desembarcou na Croácia na noite de ontem, e quase causou uma briga com os jornalistas que acompanharam sua chegada.


Nesta sexta, em entrevista à TV argentina, disse que ''bancava esses jogadores até a morte e que ficaria em Zagreb até a última pelotita''. Durante o jogo, fez muitos gestos de incentivo a Delbonis e reprovação aos árbitros.

No hino argentino, cantado com paixão pelos torcedores no ginásio, os jogadores quase choraram, vídeo aqui. Os argentinos preencheram cerca de 30% da arena.

É esperada a presença de Maradona também no vestiário para motivar os tenistas do país ao longo do confronto.

A TV Pública da Argentina transmite a Davis para todo o território nacional, e as redes sociais estão lotadas de fotos de pessoas ''matando'' o trabalho para torcer com as partidas desta linda sexta de sol e 27 graus em Buenos Aires.


Da guerra à final: a incrível história do capitão argentino na Copa Davis
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Tales Torraga

Chegou o grande dia, aquele que é chamado em Buenos Aires de ''Día D'' – de Davis, Del Potro e Delbonis. Croácia e Argentina começam hoje (25) a decidir a Copa Davis com a realização de dois jogos de simples.

Marin Cilic x Federico Delbonis primeiro, às 11h (de Brasília); depois, Ivo Karlovic x Juan Martín del Potro na quadra rápida montada na Arena Zagreb.

Ao redor dela estará um dos grandes – talvez o maior dos – personagens desta histórica decisão: Daniel Orsanic, de 48 anos, capitão da Argentina na Davis e filho de um refugiado croata que deixou o país depois da Segunda Guerra Mundial.

É a primeira vez que Orsanic, de sangue croata, pisa no país. E justamente para buscar a grande glória esportiva que a Argentina espera nos últimos anos.

Seu pai, Branko, deixou a Croácia em 1945: ''Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, vieram os russos e tivemos que sair porque ele nos liquidavam. Eu tinha um irmão maior que não pôde vir conosco porque não havia lugar no navio, eram duas famílias inteiras. Ele ficou na Croácia e foi morto'', contou Branko, saudável, lúcido e alegre aos 88 anos, à revista ''El Gráfico''.

''Saí da Croácia aos 16'', segue o pai de Daniel, que originalmente se chamava Orlovich, mas adotou o Orsanic como tentativa de segurança.

''Ficamos três meses em um campo de refugiados na Áustria e outros três anos na Itália, em Udine, até que recebemos um convite para vir para a Argentina. Foram 18 dias de viagem e não esqueço mais: vomitei a viagem inteira. Meu pai era diplomata na Croácia e passou a trabalhar de pedreiro na Argentina. Você precisa ter um pouco de tudo nesta vida. Em 1962, havia pouco trabalho na Argentina, o panorama era obscuro e me dediquei a ser professor de tênis. Acho que éramos só três no país'', segue Branko, ativo e extremamente respeitado no tênis argentino.

Branko e Daniel Orsanic

Batata Clerc, vice-campeão da Davis em 1981, foi um de seus alunos.

O filho Daniel, claro, um outro. O resto já é história. O hoje capitão da Davis lida com uma pressão que seus antecessores, bem mais velhos, não conseguiram suportar, e com um plus: sem uma carreira de destaque enquanto tenista.

É assim que tentará, a partir de hoje, justamente no país dos seus antepassados, um título que certamente vai adoçar a Argentina já eletrizada com esta decisão.


É com esta história que o blog abre a cobertura da grande final da Copa Davis.

De agora até o ponto decisivo, traremos o olhar argentino sobre a decisão que está mexendo com o país como poucos outros eventos são capazes de conseguir.

A terra do futebol, da carne e do vinho agora é a pátria da raquete.

Aguante Argentina!

As capas do jornais ''Olé'' e ''Clarín'' nesta sexta:


Simeone, sobre soco que levou de Romário: “Está de parabéns, foi bem dado”
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Tales Torraga

O ano era 1994. Barcelona e Sevilla se enfrentaram em janeiro no Camp Nou em um 0x0 aborrecido que jamais seria lembrado pelo futebol jogado pelos times, mas sim por uma agressão que surpreendeu catalães, brasileiros e argentinos.

Grande estrela do Barcelona, Romário, então com 27 anos, estava entre os reservas. Ele havia feito três dos cinco gols da histórica goleada contra o Real Madrid uma semana antes, mas viajou ao Rio para curtir o Carnaval e foi posto no banco pelo técnico Johan Cruyff. No final do segundo tempo, entrou em campo. E instantes depois deu um violento direto de esquerda na cara de Diego Simeone.

Romário foi expulso na hora, e o Barcelona ficou com homem a menos até o fim.

A pedido do blog, Simeone, de bom humor e um pouco surpreso, relembrou o lance em Buenos Aires no lançamento da sua autobiografia chamada 'Creer'.

''Foi um soco bem dado, não?'', brincou Simeone, com expressão envergonhada por lembrar do jogador agressivo e provocador que foi. Diego tinha 23 anos quando protagonizou este lance. ''Romário estava irritado por um problema no Barcelona, e isso o deixou um pouco vulnerável. Atuávamos no limite. Provocar e testar bons jogadores adversários fazia parte do futebol daqueles tempos'', disse.

No caso de Simeone, provocar, testar…e chutar Romário, o que ocorreu instantes antes de levar o soco que custou uma suspensão de quatro jogos ao brasileiro.

''A gente tanto faz que uma hora te acertam. Fiz minha parte e ele fez a dele, o Romário merece os parabéns'', continuou, rindo. ''Eu e o Romário formamos parte de uma geração que deixava as coisas que aconteciam em campo dentro de campo.''

''É assim que sempre deve ser. Ali no momento nenhum de nós dois falou nada, Cruyff sim falou alguma coisa [o técnico disse que também tinha vontade de socar Simeone], mas nem todo mundo reage da mesma maneira. Já faz tempo, não há nada a reprovar do comportamento de ninguém. Não é nada que eu incentive ou apoie hoje em dia, a mensagem que passo é bastante diferente, mas também não sou hipócrita de negar o que aconteceu. Foi quase uma travessura de crianças.''

Romário também tirou o dramatismo na época: ''Ele me provocou e chutou. Eu revidei e o juiz me expulsou justamente'', disse, também usando a ironia para criticar o comportamento de Simeone: ''A gente conhece bem os jogadores argentinos…''.

Há um termo comum em Buenos Aires que define com perfeição o que aconteceu: Simeone ''atirou uma galinha'' em Romário. É esta a gíria de quando um jogador cava a expulsão do outro com artimanhas ou, em português claro, certas sujeiras.

Isso, claro, Simeone não conta em seu livro. Que merece leitura mesmo assim.


* Com Martín Alonso, de Buenos Aires. Gracias y mates, Matí!


Opinião: Argentinos hoje no Brasil já estão na história e merecem respeito
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Tales Torraga

Atlético-MG e Grêmio decidem hoje a Copa do Brasil em novo duelo argentino.

Pelo Atlético, o atacante Lucas Pratto e, vá lá, Juanito Cazares, de carreira toda desenvolvida no River Plate e no Banfield, embora nascido no Equador.

Pelo lado gremista, o muy competente defensor Kannemann, ex-San Lorenzo.

Eles estão longe de ser os únicos.

Os dois times que pararam na semifinal também contaram com ''argentinhos'', gíria criada pelos portenhos para definir os argentinos que invadiram o Brasil. Cabral, Romero e Ábila pelo Cruzeiro; Nahuelpán pelo Internacional.

Os seis primeiros colocados no Brasileirão também contam com argentinos em seus elencos – Palmeiras, Santos, Flamengo, Atlético-MG, Atlético-PR e Botafogo.

Dos dez melhores na tabela, apenas Corinthians (sétimo) e Ponte Preta (décimo) não têm um ''argentinho'' para chamar de seu.

A invasão argentina no Brasil marca 2016 pelo volume e também pela qualidade.

Não há, hoje, os líderes de outros tempos como Tevez, Sorín ou El Cabezón D'Alessandro  – ou os mais recentes Conca e Montillo.

Mas é preciso olhar o bosque (o conjunto), não só a árvore (os referentes).

A seleção argentina tem hoje técnico de recente passagem pelo Brasil, Patón Bauza. Ele poderia facilmente convocar mais (Carli e Ábila). Ainda assim, chamou para as Eliminatórias dois ''argentinhos'', Buffarini e Pratto – autor de gol.

Há menos de três meses, Calleri fazia o mesmo pela seleção olímpica.

Existe uma certa dicotomia na análise dos argentinos que jogam hoje no Brasil.

Do lado brasileiro há tendência a vê-los como 'medio pelo' – carreiristas razoáveis que só estão no país pela moeda argentina ser fraca como o futebol do Brasil.

Os argentinos, estridentes como quase sempre, cravam que estamos diante da melhor safra de jogadores do país a atuar no Brasil.

Preencho a coluna do meio.

Não dá para exigir dos jogadores de hoje desempenho melhor que o obtido: presença – às vezes protagonismo – em finais e times que lideram o Brasileiro.

Mas não dá para ignorar também que os anos 70 contaram com Cejas, Andrada, Ramos Delgado, Ortiz (o goleiro do Atlético-MG e o atacante do Grêmio), Doval, Perfumo, Sanfilipo, Artime e El Lobo Fischer. Muitos jogaram simultaneamente.

El Negro Ramos Delgado com Pelé

Esta sim foi a melhor camada argentina a jogar no Brasil.

''Os argentinos que hoje atuam no Brasil se caracterizam pela dose exata de qualidade, personalidade e oportunismo'', define Ariel Ruya, editor do jornal ''La Nación'' e autor da biografia do Patón Bauza.

É por aí. A safra atual está nos pôsteres dos campeões – logo, está na história.

História que, vale lembrar, é argentina desde o começo. Foi do santafesino Nestor Scotta, do Grêmio, o primeiro gol da história do Brasileirão, em 1971.

E esta história só aumenta pelos pés discretos e eficientes como os do Comandante Andrés Chávez, entrevistado de hoje, recém-chegado ao São Paulo e já artilheiro argentino no Brasileirão com sete gols, ao lado de Ábila.

Nesta edição do Brasileiro já saíram 40 gols argentinos – mais de um por rodada.

Não enxergar qualidade nisso é brigar com a realidade.


Centurión é criticado por técnico pela briga e expulsão na Bombonera
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Tales Torraga

O domingo picante na Bombonera pelo visto vai invadir a semana. Depois da briga com Téo Gutierrez que resultou em sua expulsão, o ex-são-paulino Centurión foi bastante criticado pelo técnico do Boca Juniors, Guillermo Barros Schelotto.


Schelotto sequer comentou as provocações de Téo.

Depois do gol, o colombiano fez gestos à torcida do Boca tapando o nariz e mostrando, com a mão, uma faixa diagonal no uniforme – ou seja, simulando a camisa do River Plate, clube do qual é torcedor e onde jogou até ano passado.

''Falhamos feio no episódio do Téo. Se ninguém reagisse, ficaríamos 11 contra 10, porque ele seria expulso com certeza. Faltou frieza. O jogo estava servido de bandeja para a gente no segundo tempo'', afirmou Schelotto, bastante irritado.

A comemoração enlouquecida de Téo foi ainda mais insólita se lembrarmos que:

1) Este foi o primeiro gol de Téo em toda sua carreira contra o Boca. O colombiano atua na Argentina desde 2011 (passou por Racing, Lanús e River antes de defender o Central), mas tem passagens por Colômbia, México e Portugal neste intervalo.

2) Téo vinha brigando com o técnico Chacho Coudet para ser titular como foi neste domingo em La Boca, e há muitos em Rosário que defendem até a sua expulsão do time depois do que ocorreu. Golaço e confusão. Mais Téo, impossível.


O gesto de tapar o nariz na Bombonera já tem seus 40 anos.

Foi adotado pelo técnico Ángel Labruna, do River, na década de 70, e imitado depois por Ramón Díaz, Fernando Cavenaghi e Marcelo Gallardo. Remete ao mau cheiro em La Boca, algo que historiadores divergem sobre as causas, se as enchentes que entupiam os esgotos ou a fábrica de adubo que antes tinha ali.


Novo Messi é o bom e velho Maradona. E a agradecida Argentina se derrete
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Tales Torraga

Ao pedir a voz, anunciar boicote à imprensa e defender o amigo Pocho Lavezzi, Lionel Messi deu passo crucial para reverter a rejeição que sofre na Argentina.

Em outra análise, começou a fazer o que Diego Maradona sempre fez como ninguém. Começou a manipular as paixões e os sentimentos dos argentinos.

''Assim te queremos, Messi'', vibrou, depois do 3×0 contra a Colômbia, o apresentador de TV Pollo Vignolo, voz muito ouvida do esporte na Argentina.

''Messi está rebelde e mais ativo. Barbudo, venenoso, um pouco mau. Así!''

O golaço de falta e a espetacular atuação contra a Colômbia contribuíram, sim.

Mas a mudança de rota da relação de Messi com a Argentina se caracteriza por:

1) Teatralizar as patadas levadas da Colômbia.

2) A altivez depois da partida.

3) A notícia divulgada ontem (18) no país.

Messi pagou o salário de seguranças e demais profissionais da Seleção que estavam sem receber havia seis meses, o que Maradona também fez.

Houve na Argentina também uma ligação instantânea: Lavezzi-Messi é a reedição da dupla entre Caniggia e Maradona.

Diego encarou a imprensa, a torcida, os técnicos e o mundo para cuidar do amigo durante os anos em que atuaram juntos na Argentina e no Boca Juniors.

Esta nova face de Messi é, por enquanto, exclusividade da Seleção.

''É curioso – e sintomático – que esse Messi mais ativo, com mais personalidade, é muito mais presente na Seleção'', conta o jornalista Thiago Arantes, que vive em Barcelona há três anos – já cobriu mais de cem jogos de Messi.

''No Barcelona, ele continua sendo o mesmo dos últimos anos: é o líder técnico, tem uma força imensa no vestiário, mas não se expõe. Desde 2013, foram apenas duas entrevistas coletivas, ele nunca fala com os jornalistas que cobrem o dia-a-dia do clube, e todas as entrevistas eram justamente para meios argentinos.''

''O que parece é que, na Argentina, Messi precisa ser mais do que o melhor jogador do mundo. Ele precisa marcar o seu território, ter opinião, fazer críticas.''

''Precisa mostrar para todos que ele é humano, com suas angústias e incômodos. Precisa mostrar para os torcedores de um país inteiro que o garoto que mora em Barcelona desde os 13 é argentino, como todos eles'', conclui Arantes.

Olhar semelhante tem o jornalista argentino Tomas Rudich, editor de esportes na Agência DPA e na Rádio Dotcom: ''Messi está se 'Maradonizando', com atitudes mais impulsivas, apelando para o sentimento do público. Afinal de contas, está com quase 30 anos também. Estamos vendo um novo Messi'', afirmou Tomas aos amigos Bruno Freitas e Fabio Aleixo daqui do UOL Esporte.

Na semana em que Neymar se aproximou dos números de Pelé, Messi enfim virou o Maradona que os argentinos sempre quiseram.

A história está aí, muchachos. Bem na nossa cara.