Patadas y Gambetas

Análise: Boca abre era pós-Tevez com “ataque suicida” e disputa interna
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Tales Torraga

Carlitos Tevez já está na China, onde neste final de semana fará um treinamento aberto para ser recebido por uma multidão em Xangai.

Enquanto isso, o órfão Boca Juniors começa a traçar seu 2017 com um amistoso contra o Estudiantes em Mar del Plata às 23h10 (de Brasília) deste sábado (21).

O Boca DT (Después de Tevez), como chamado na Argentina, sonha em ser ofensivo e em ter a forte disputa interna que o técnico Guillermo Barros Schelotto considerava ''tão importante quanto o que comer'' nos tempos de jogador.

O Estudiantes não vai contar com Verón, poupado desta noite para não correr o risco de lesão em uma partida não-oficial (um encontro entre dois times grandes argentinos jamais é tratado como amistoso, daí o número de expulsões ser até maior que o dos compromissos válidos por campeonatos).

O Boca irá a campo com Axel Werner no gol, na falta de um goleiro de maior experiência. O clube tentou Chiquito Romero, da seleção – que não quis sair de Manchester, onde é reserva de De Gea no United.

A defesa terá os de sempre: Peruzzi, Tobio, Insaurralde e Silva, que a princípio vai deixar o colombiano Fabra no banco. Pablo Pérez e Gago são os volantes, um rústico e um clássico, e com o reserva Solís (no lugar de Bentancur, com o Uruguai sub-20) completando o arrojado 4-3-3.

Aí vem o ''ataque suicida'' que tem dado o que falar – como se fosse necessário… – nos bares e cafés de Buenos Aires. A querela da vez é saber se a delantera já é mais forte que a do River, a dupla ''cuestión de peso''Gordo Driussi e Pipa Alario.

O Boca aposta no trio Pavón, Bou e Centurión. Os três fecharam 2016 em alta. E há ainda Darío Benedetto para se recuperar de lesão e estabelecer esta concorrência tão pedida por Schelotto, mas encarada por todos, até pelos bosteros mais fanáticos, como uma desgastada chicana para esconder a pobreza dos cofres e a incompetência da diretoria na busca por reforços.

O Boca lidera o Argentino com 31 pontos, seguido por Newell's (28), San Lorenzo e Estudiantes (ambos com 27). O campeonato será retomado com a disputa da 15ª rodada em 5 de fevereiro. No caso do Boca, visitado o Banfield em Florencio Sola, um dos estádios mais insanos do país, onde 35.000 pessoas ficam literalmente em cima do campo de jogo e onde deram a patada mais feia que já vi, esta aqui, quase afundando o peito de Mascherano, então um chico de 20 anos.


Sem raça e sem graça: Pity Martínez afunda o desinteressado River
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Tales Torraga

A bola do jogo parou no seu pé antes de estourar no travessão nos instantes finais. Nos pênaltis, uma cobrança pouco firme, retrato do que foi o River Plate nesta noite na Florida Cup. A vaga do São Paulo à final do torneio dos Estados Unidos se deve muito ao que (não) fez o camisa 10 millonario Gonzalo El Pity Martínez, muito questionado pela torcida e que já começa o ano sem dar sinais de que virá a trégua.

O 0x0 do River contra o São Paulo foi um sinal claro de como a equipe se portou no amistoso: de maneira pouco combativa e com muitas dificuldades de se encontrar em campo. Gallardo escalou os reservas no início e com o tempo foi colocando alguns titulares – nem todos, é verdade, pois os próximos meses prometem ser intensos demais para queimar cartuchos agora com amistosos.

Quantos 0x0 o River teve nas 14 rodadas de Argentino? Zero. Este dado, e a cara conformadíssima de toda a equipe depois da derrota nos pênaltis retratam bem o que foi este compromisso contra o São Paulo. Parecia que não viam a hora de acabar. Quem assistia ao jogo provavelmente pensava o mesmo.

Duas baixas: tanto o atacante Alonso como o volante Denis Rodríguez saíram machucados. Uma única alta: o goleiro Bologna, que deu a segurança que o pibe titular Batalla não vinha oferecendo.

A transmissão da TV argentina pouco enfatizou a estreia de Rogério Ceni. Compreensível. O mesmo ocorreria na narração brasileira se um ex-jogador de passado imenso no River fizesse seu primeiro jogo como treinador. Uma atuação sem raça e sem graça dos comandados de Gallardo.


River que enfrenta o São Paulo tem ataque goleador e novo sistema de jogo
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Tales Torraga

Não é jogo oficial, tudo bem, mas quando camisas pesadas como as de River Plate e São Paulo se cruzam, o que está em disputa não é bem um mero amistoso, mas sim uma ótima chance de medir forças contra um adversário da elite continental.

Para o São Paulo, às 22h (de Brasília) desta quinta (19) pela Florida Cup, é esta a condição que deve esperar do River de Marcelo El Muñeco Gallardo, maior técnico da centenária e gloriosa história do clube de Núñez – justamente contra quem Rogério Ceni vai fazer sua estreia no comando do São Paulo!

Gallardo começou 2017 escalando seu time em um 3-4-1-2 que se mexe facilmente para um 3-4-2-1 com o recuo do atacante Driussi.

No ano passado, ainda com D'Alessandro, a Recopa Sul-Americana e a Copa Argentina foram conquistadas no sistema 4-2-2-2.

ATUALIZADO ÀS 14H04: Gallardo demonstrou nesta quinta que deve escalar os reservas e usar titulares só no segundo tempo. O River então começaria contra o São Paulo com: no gol, Bologna; na defesa, Montiel, Arzura e Rossi; a linha de quatro no meio-campo teria Mayada, Domingo, Denis Rodríguez e Medina; como armador, Andrade; como dupla de ataque, Mora e Alonso.  Não é exatamente um time, e sim jogadores que precisam de ritmo porque o River terá um primeiro semestre carregado com uma Libertadores repleta de viagens e o sempre duro Argentino no qual busca sair da sétima posição. 

O River titular que estreou na Florida Cup com vitória de 1×0 sobre o Millonarios e que hoje em algum momento deve enfrentar o São Paulo tem as seguintes peças:

GOLEIRO
Augusto Batalla.
É o ponto que mais preocupa a torcida do River. Tem só 20 anos. É cria das canteras de Núñez, as mais fartas da Argentina com muita folga, mas seu desempenho está aquém das chances oferecidas por Gallardo. Falhou feio em gols do Boca e do Central no fim do ano passado. Cambiar o chip é seu objetivo principal neste janeiro.

ZAGUEIROS
Jonathan Maidana, Lucas Martínez Quarta e Arturo Mina. O trio mescla experiência (Maidana, 31; Mina, 26; ambos com passagens pelas seleções de Argentina e Equador) e juventude – Martínez Quarta tem só 20 anos e é levado pelos pais para os treinamentos. E ele será também pai nos próximos meses. Tem bastante futuro e erra pouco para um jovem ainda tão inexperiente.

LATERAIS
Jorge Moreira e Luis Olivera.
Moreira, 26, pela direita, é o ''Cafu paraguaio''. Corre demais e chega com força ao ataque. Olivera já é mais retraído. Convém. Tem só 18 anos e acabou de ser alçado dos juvenis. Teve passado goleador nas divisões inferiores. É tratado como uma nova jóia enquanto o titular (e selecionável) Milton Casco não se recupera de lesão.

VOLANTES
Leonardo Ponzio e Ignacio El Nacho Fernández. Ponzio, 34, é o bom e velho 5 argentino: corre sem parar e não pensa duas vezes antes de ''se fazer sentir'' em campo (eufemismo para as patadas que desfere quase sempre escapando das expulsões). Fernández, 27, é o motorzinho. Ótimo passe e posicionamento.

MEIA
Gonzalo Martínez.
Outra dor de cabeça para Gallardo. El Pity Martínez, 23, é questionado demais pela torcida e já tem a missão de substituir Andrés D'Alessandro. De vez em nunca, brilha. De vez em sempre, some.

ATACANTES
Sebastián Driussi e Lucas Alario.
É a dupla do momento no futebol nacional. El Gordo Driussi, de 20 anos, é o artilheiro do Argentino, com 10 gols. El Pipa Alario, de 24, é o goleador dos momentos decisivos – incluindo a Libertadores – e já passou pela seleção de Bauza. São, de longe, os jogadores com maior potencial de venda desse elenco. Alario está na mira do PSG – sua saída é questão de semanas, senão para Paris, para a Espanha, cravam em Buenos Aires.


Chilavert vai virar estátua no Vélez
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Tales Torraga

José Luis Chilavert, maior jogador da história do Vélez Sarsfield, vai ganhar em breve uma estátua sua no clube. Já há uma movimentação no bairro de Liniers, em Buenos Aires, onde fica a sede da equipe, para estudar onde e como será a marcante homenagem ao goleiro paraguaio que ganhou o mundo pelo Vélez.

Chilavert, poucos lembram, passou pelo San Lorenzo no fim dos anos 80 antes de brilhar no Vélez. Sua ida ao River e ao Boca foi dada como certa por muitas vezes, mas seu temperamento explosivo impediu qualquer saída do ''maior clube de bairro do mundo'', como o Vélez gostou de ser tratado no meio da década de 90.

José Luis, claro, está bem nítido na memória dos torcedores do São Paulo pela sua atuação na final da Libertadores de 1994, conquistada pelo clube argentino em pleno Morumbi. Na ocasião, ele pegou o pênalti mal batido por Palhinha, e foi crucial para sua equipe ficar com aquela Copa ao também converter sua cobrança.


Quem falou sobre Chilavert ontem foi Carlos Bianchi, seu técnico de então. Em entrevista a uma rádio partidária do Vélez, o ex-treinador apoiou a ideia da estátua e disse que conviver com o goleiro era fácil por uma simples razão: ''Se todos iam embora às seis, ele ficava até sete e meia cobrando faltas. Se o jantar era às oito, às quinze para as oito ele já estava no refeitório. Jamais tivemos problemas''.

Chilavert está com 51 anos e é comentarista da Telefuturo, da TV paraguaia. Tem um discurso tão violento quanto seus antigos chutes, detonando sem piedade os ex-treinadores do Paraguai Ramón Díaz  (''é um preguiçoso, parece técnico de escritório'') e Chiqui Arce (''apesar dele, a equipe está ganhando'').


Argentina aplaude volta de Verón: “Melhor que o esperado”
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Tales Torraga

A exigente imprensa argentina avaliou bem o retorno de Juan Sebastián Verón ao futebol. O volante voltou a vestir a camisa 11 do Estudiantes do qual também é presidente. Entrou como titular e jogou o primeiro tempo na vitória por 1×0 sobre o Bahia na Florida Cup, na noite deste domingo.


''Como não poderia deixar de ser, Verón deu qualidade aos passes, à bola parada e aos cruzamentos, além de estar sempre bem posicionado para começar a armar o jogo. Faltou um pouco de ritmo, claro, mas isso virá ao longo dos jogos'', publicou o jornal ''Olé''.

''Verón está exatamente entre a lenda que foi e o jogador que quer voltar a ser'', sintetizou o ''La Nación'', diário com os textos mais bem escritos da Argentina. ''Me senti melhor do que esperava. Bastante bem. Não digo muito bem'', declarou La Brujita depois do jogo.

Outro que aplaudiu o retorno do jogador de 41 anos foi o ''Clarín'', o maior jornal da Argentina: ''Ele rapidamente mudou a cara do Estudiantes. E para melhor''.


Nada de Bombonera: Monumental vai receber Argentina x Chile em março
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Tales Torraga

Depois de muitas idas e vindas, veio a confirmação: o crucial Argentina x Chile pelas Eliminatórias vai ocorrer no Monumental de Núñez, e não na Bombonera. A reedição da final das últimas duas edições da Copa América será em 23 de março.

A informação veio do presidente do River Plate, Rodolfo D'Onofrio, que está em Orlando acompanhando a equipe na Florida Cup.

O verdadeiro Boca x River que virou a escolha da sede portenha para encarar o Chile começou ainda em novembro, antes mesmo da dupla fecha que colocou a Argentina contra o Brasil e a Colômbia. O primeiro a levantar a voz a respeito foi o técnico Edgardo Bauza, que disse haver uma preferência dos jogadores pela cancha do Boca – o que Javier Mascherano negou pouco antes do Natal.

A questão toda, evidentemente, foi resolvida pelo dinheiro. Afundada em dívidas e sem um peso furado em seus cofres, a AFA fez um leilão entre os dois clubes para definir quem oferecia mais pelo confronto. O blog apurou que o River abriu mão do aluguel que cobraria pelo uso do estádio, daí a escolha pela cancha que há décadas é a casa da seleção argentina em Buenos Aires – não à toa, é a maior e a que oferece mais ingressos para lucrar com o partidazo. A capacidade do Monumental é de 65.000 lugares; cabem 50.000 na Bombonera.

Jogar em Buenos Aires é uma exigência de Bauza, que deixou clara a necessidade de evitar viagens – a seleção fez um tour pelo interior nos últimos meses – e aproveitar o reduzido tempo de treinamento que terá à disposição.

A Argentina é a quinta colocada nas Eliminatórias e está um ponto atrás do Chile. Hoje, jogaria a repescagem. Faltam seis partidas para o fim das Eliminatórias.


River e Estudiantes ostentam na Disney – e a Argentina mal paga salário…
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Tales Torraga

Excelente sacada, a da imprensa portenha neste sábado (14). Enquanto River Plate e Estudiantes de La Plata ''transformam os sonhos em realidade'', como indica o slogan da Disney, e promovem a Florida Cup ao lado do Mickey, o futebol argentino atravessa sua pior crise financeira pós-corralito, o lamentável confisco de depósitos bancários que ajoelhou o país em 2001.

Além do vice-líder Newell's, cujos jogadores quiseram boicotar a pré-temporada por falta de salários, o Banfield surtou nesta semana com o elenco revelando que está acumulando dívidas porque não vê um peso sequer desde outubro – entre os atletas, um grande conhecido do Brasil, o ex-corintiano Santiago ''El Tanque'' Silva.


A realidade de River e Estudiantes dos Estados Unidos é oposta. Ambos têm a melhor das estruturas e estão distantes no espírito e no bolso do colapso financeiro que desidrata a Argentina.

Mesmo o Boca, o poderoso Boca, encontra dificuldades de dinheiro na reposição de elenco depois da saída do goleiro Orión e, claro, depois do sumiço de Tevez, que se mandou para a China sem sequer falar com a imprensa argentina.

Enquanto tudo isso, o atacante Sebastián Driussi, do River, e o volante e presidente Juan Sebastián Verón, do Estudiantes, posavam ao lado do Mickey no castelo mágico da Disney nesta sexta-feira 13.

Engraçado: Driussi tentou colocar um cachecol do River no Mickey, e foi rapidamente freado pela segurança.

Os ''millonarios'' – apelido apropriadíssimo, o do River – estreiam na Florida Cup às 17h (de Brasília) deste domingo contra o…Millonarios, da Colômbia.

Às 19h30, também deste domingo, Verón é esperado como titular para voltar ao Estudiantes, contra o Bahia.

Pré-temporada na Disney de uma temporada que corre risco de sequer acontecer por absoluta falta de dinheiro.

Somos Argentina. Ahí vamos (gracias, Cerati).


Opinião: Dybala já é melhor que Agüero e Higuaín
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Tales Torraga

E depois de Messi, quem é o melhor jogador argentino?

Em uma cidade tão desesperada por discussões como Buenos Aires, é esta a pergunta do momento – suscitada, também, pela entrevista de Mario Kempes publicada ontem pelo jornal ''La Nación''. Para El Matador, campeão e grande figura do título no Mundial de 1978, Paulo Dybala, pibe de 23 anos, astro da Juventus, já está acima de Kun Agüero (28) e de Pipita Higuaín (29).


Falta só convencer Patón Bauza, que insiste com ambos na seleção argentina e comete a heresia de votar em Agüero como segundo melhor do mundo – até mesmo para dar uma força para um dos seus queridinhos, mas com nível atual realmente muito pobre e muito abaixo do que El Kun um dia já mostrou.

Por algo acá ele é chamado de Amargüero até pelos niños.

Kempes é de Córdoba – assim como Dybala, e quem conhece a Argentina um pouco que seja sabe como o bairrismo é onipresente. É o sol da bandeira, a carne do prato, o mate da calabaza, o suor de janeiro desta sufocante Bueno Zaires.

Voltando a Dybala, que marcou um golaço de longe ontem pela Juve na Copa da Itália, é ele sim o queridinho da Argentina no momento, a versão 1.7 de Aimar e Saviola, que eram amados até por los de Boca. Pablito é visto de longe ou de perto como o sócio ideal de Messi em detrimento dos muito desgastados Agüero e Higuaín, filhotes das finais perdidas, e quase ninguém aceita como ambos seguem na seleção, daí os surtos de pensar que só continuam porque são amigos de Messi, é Messi quem convoca a equipe e escala seus amigos, dane-se Bauza, Bauza é um empregado de Messi, um secretário de Lio; é incrível que pensem assim, se não pensam, ao menos falam, e como os portenhos falam, chega a dar dor de ouvido e de cabeça, bem faz o Bielsa que se enfia no meio do mato e não ouve ninguém.

Locos son los otros, não Marcelo.

O fetiche por Dybala é tamanho que esperam dele um prêmio de melhor do mundo – algo parecido com o que o Brasil um dia imaginou de Robinho ou de Neymar.

Pablito Dybala, La Bala, claro, está longe desta realidade messiânica.

Tem uma canhota dos sonhos, torcedor do Boca, fã de Riquelme – e tido na Argentina com alguém com capacidade de gol maior que a de Román.

É o futuro e um pouco do presente – presente suficiente que pede espaço na seleção, e é bom que Agüero e Higuaín se apurem e apertem o passo se não quiserem viver de um passado derrotado e não ter a revanche que tanto esperam, sonham e clamam no Mundial da Rússia, mês em que os psicólogos de toda a Argentina vão trabalhar 24 horas, ficar milionários e morar em Punta.

(Alguém quer apostar que logo vai passar o mesmo com Ascacibar x Mascherano?)


Caniggia faz 50 anos – tomando cuidado para não apanhar pelo gol no Brasil
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Tales Torraga

O pássaro mais querido da Argentina segue voando. El Pájaro Claudio Paul Caniggia, o filho do vento, autor do gol que mandou o Brasil de Lazaroni para casa na Copa de 1990, completou 50 anos de vida louca nesta segunda-feira (9).

As segundas são pouco afeitas a festas na Argentina, então percebe-se tal cual que a Buenos Aires futbolera vai comemorar esta data por toda a semana.

O gol de Cani no Brasil em 1990 é um dos mais gritados da história da Argentina – nas Copas, em clubes, picados, lo que sea, che. É um gol que está, seguro, a par com os de Maradona contra os ingleses em 1986.

Depois da inesquecível jogada de Diego, que mesmo todo quebrado gambeteou e humilhou os brasileiros que los cagaran a patadas naquele dia, veio a perfeita finalização de Cani, que colocou Taffarel no chão e a Argentina no céu.


O que pouquíssimos no Brasil sabem é a inacreditável dor de cabeça que este gol gera a Caniggia em pleno 2017.

Tudo porque ele comemorou o maior momento da sua carreira de forma tímida, quase pedindo perdão. Perdão por que, se estamos matando nossos rivais na Copa, algo que Pelé, por exemplo, jamais fez?

Os argentinos até hoje têm bronca com Caniggia por esta comemoração. Seja em encontros com ex-jogadores – Cani sempre participa de jogos de showbol ou futevôlei – ou simplesmente caminhando pelas ruas de Buenos Aires, é comum que ele precise, quase 27 anos depois, que parar e dar satisfações.

Os mais loucos, e eles brotam a cada esquina nesta cidade, ameaçam bater nele – sim, a Argentina ama e ameaça bater em quem ama, e acha tudo normal.

''Não quis fazer papel de tonto gritando com tudo e depois vendo o Brasil empatar ou virar'', declarou Cani aqui, relatando esta disparidade entre a enlouquecida comoção argentina e a alegria comedida que expressou naquele instante.

Nada, porém, que estresse sua cabeça naturalmente relaxada. E cabeluda. A imagem abaixo é de agorinha – de uma revista de fofocas que circula nas bancas de Buenos Aires neste começo de ano. Que pinta a los cincuenta, Claudio, eh?!

El Diego los gambeteó…
El Cani los vacunó…
Estás llorando desde Italia hasta hoy…

Gracias totales y eternas, Pájaro!


Fernando Redondo, “O Príncipe”. Vem aí mais um grande técnico argentino?
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Tales Torraga

Quem viu o volante argentino Fernando Redondo jogar, não esquece e nem vai esquecer da elegância, dos passes inteligentes, dos desarmes, da eloquência ao falar e da…rebeldia ao comprar briga com treinadores.

Treinadores. Exatamente o que ele agora está prestes a ser.

Redondo se inscreveu em um curso em Madri para começar a nova carreira ainda este ano – e de preferência na Europa, onde foi um imponente craque de Milan e Real Madrid. Na Argentina, Redondo suou apenas uma camisa, a do Argentinos Juniors, de 1985 a 1990, antes de se mudar para o Tenerife e iniciar sua carreira de primeiríssimo nível no Real em 1994.

Se o intelecto fosse a única condição para formar um grande treinador, Redondo seria um dos gigantes em pouco tempo. Ele criou muitas rixas na seleção argentina pela sua bagagem cultural, o que lhe conferiu um incômodo rótulo de pedante.

Em 1990, Redondo se recusou a jogar a Copa do Mundo porque queria terminar a faculdade de economia (abaixo), razão que nem a Argentina e nem o então técnico Carlos Salvador Bilardo jamais entenderam. Alguém cogitaria isso no Brasil?

Em 1994, no Mundial dos Estados Unidos, Alfio Basile precisou separar uma briga entre Redondo e Maradona porque Diego queria sair na mão com ele depois de uma discussão na qual para Maradona os únicos argumentos restantes foram os punhos, e não o diálogo, como El Diez descreve em seu picante livro.

Fernando também abriu mão das Copas de 1998 e 2002. Em 1998, encarou Daniel Passarella, que queria fazê-lo jogar de uma maneira que o volante não concordava, e passou para a história a versão de que Redondo se negou a cortar o cabelo, algo que o técnico exigiu de fato de todos os jogadores. Em 2002, apesar do bom trato com Marcelo Bielsa, Fernando disse que precisava poupar o combalido joelho e se dedicar apenas aos clubes – já defendia então o Milan.

Redondo está com 47 anos. Depois de largar o futebol em 2004, aos 33, trabalhou como comentarista, embaixador e empresário. Seu filho, também Fernando Redondo, de 18 anos, é atacante do Tigre, da Argentina.