Patadas y Gambetas

Tevez abre Libertadores de olho em recorde de Rogério Ceni
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Tales Torraga

A noite tão esperada pelos xeneizes chegou. Carlitos Tevez e o Boca Juniors reencontram a Libertadores da América a partir das 21h30 (de Brasília) desta quinta (1º), quando enfrentam fora de casa o Alianza Lima, no Peru.

Tevez está com 34 anos e sua participação na partida de hoje foi colocada em dúvida por conta de uma lesão no ombro. A dificuldade com o físico combalido deve ser uma rotina nesta Libertadores. Carlitos repete sempre que ainda só não se aposentou porque sonha em dar a sétima Copa ao Boca, colocando o clube portenho como o recordista de conquistas na competição, ao lado do Independiente.

De olho nesta possibilidade, Tevez abre sua Libertadores também com a possibilidade de ser ''o homem que venceu o tempo'', como dramaticamente chamam os portenhos sobre o recorde que ele tem em vista – e que é, de fato, bastante interessante.

Tevez conquistou sua primeira e única Libertadores até aqui com meros 19 anos. Foi em 2003, quando acabou escolhido como o melhor jogador daquela edição. Carlitos marcou inclusive um gol na final contra o Santos de Leão, Diego e Robinho.

Vencendo também em 2018, Tevez será o jogador a conquistá-la com o maior intervalo de tempo – nada menos que 15 anos.

O feito pertence hoje a Rogério Ceni, que era reserva de Zetti em 1993 e foi protagonista em 2005 – 12 anos de diferença. Doze anos em alta competição é uma eternidade. São quatro Copas do Mundo.

Principalmente para Tevez, que apanha sem parar.

Além de Rogério, o maestro Ricardo Bochini, do Independiente, também ganhou a Libertadores com 12 anos de intervalo, nas edições de 1972 e 1984.

Outros brasileiros vitoriosos e resistentes na Libertadores são Luizão (1998 e 2005) e Danilo (2005 e 2012). Sete anos. Entre os argentinos, destaque para Maidana e Bertolo (2007 e 2015, com Boca e River). Riquelme também fez sucesso por longo tempo – sete anos entre seus títulos (2000 e 2007).

Ever Almeida, goleiro paraguaio do Olimpia e recordista de jogos (113 de 1973 a 1990) da Libertadores, alcançou 11 anos de intervalo entre as suas conquistas – 1979 e 1990.


Opinião: O Flamengo é o adversário perfeito para o River
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Tales Torraga

Os argentinos amam o Rio – ou Río, como grafamos.

Sabem o fetiche brasileiro por Miami? É por aí. Brasileiros-Miami, argentinos-Río.

Não há portenho que não tenha falado dos eternos verões de Claudio Paul Caniggia e sua mulher Mariana Nannis na suíte de ambos no Copabacana Palace. Ou dissecado mil e uma vezes a história de Gustavo Cordera, um dono de loja de carros que passou férias no Rio sem um único peso no bolso e resolveu ficar por lá.

Só voltou um ano depois, apaixonado pelo Carnaval e decidido a virar cantor – e virou um dos melhores do rock do país, autor de uma linda versão de El Tiempo No Para, de Cazuza. Divina. ''A Argentina é amarga, o Rio é Carnaval'', falam e hablan.

O cantor Pelado Cordera, o argentino mais carioca do mundo – Página 12/Reprodução

Pois bem. Esta mudança – positiva – de ares é mais que necessária a um River que tem um timaço, mas que é uma lágrima na Argentina. Só o 20º no torneio local!

O goleiro, Armani, está bem cotado por Sampaoli para ir à Copa. Arqueiro de luxo. Com ritmo, pode ser titular da seleção. Os laterais são uruguaios: Mayada, pela direita, defende mais, ao contrário de Saracchi, de 19 anos, pulmões intactos.

Os zagueiros são Maidana – guerreiro eterno, desde a Segundona – e Martínez Quarta, excelente, mas com ainda muito a provar depois do seu gancho por doping.

Os volantes são Ponzio, que faz Guiñazú parecer um poodle, e Enzo Pérez, que deve pintar na Argentina mundialista como titular. Ojo: Enzo vem mal no Argentino e foi expulso no sábado. Enquanto o Flamengo guardou os seus titulares, o River teve equipe completa na derrota de 1 a 0 para o Vélez no José Amalfitani.

O vai e vem do meio deve ser composto por Zuculini e De La Cruz, que não assustam ninguém. Os titulares Chino Rojas, Nacho Fernández e Pity Martínez estão fora. Rojas e Pity, por lesões; Nacho, pela expulsão no (ay!) 4 a 2 do Lanús.

O ataque terá o uruguaio Rodrigo Mora e Lucas Pratto, que no sábado foi xingado de ''gordo inútil de 14 milhões'' por um narrador de rádio em plena transmissão.

Scocco não está 100% das costas. Deve começar no banco.

O River é, hoje, o time mais copeiro da Argentina. Nos últimos três anos e meio, ganhou sete campeonatos em mata-matas: uma Libertadores (2015), uma Sul-Americana (2014), duas Recopas (2015 e 2016), duas Copas Argentinas (2016 e 2017) e uma Suruga Bank (em 2015).

O desempenho nos torneios longos não chega nem perto. É por isso que a mudança de ares – e de grandeza de adversário – vai fazer bem ao River, obviamente muito mais animado em dividir uma cancha com o Flamengo no Brasil do que com o Olimpo em Bahía Blanca. O clube quer provar que o problema não é ele – é a Argentina, que vive em um caos que faz o Río parecer que continua lindo.

Sorín, Gallardo e a orla carioca em 1997 – El Gráfico/Arquivo

1) Os jogos do Campeonato Argentino vão ser paralisados assim que a torcida começar a insultar o presidente Mauricio Macri. Talvez tenham lido a GQ.

2) O Boca x River da Supercopa Argentina de 14 de março está para ser suspenso ou até mesmo cancelado. O motivo: os muitos indícios de uma enorme tragédia federal envolvendo as duas torcidas que somam 70% da população do país.

Até o intimista Engenhão sem público deve fazer bem a este River que no puede ser feliz con tanta gente hablando a tu alrededor (Charly!). Empate. Firmamos?


O que esperar dos times argentinos nesta Libertadores?
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Tales Torraga

Acá estamos para pintar a cor local argentina e contar o que esperar de cada um dos seis representantes do país nesta edição. Nunca é demais lembrar: a Argentina é o país que mais vezes ganhou a Libertadores – 24 títulos, contra 18 do Brasil.

Dessas 24 taças, nada menos que 21 delas estarão em campo na edição 2018. Argentinos Juniors, Vélez Sarsfield e San Lorenzo são os campeões ausentes.

Os seis argentos que brigam por esta Copa são:

BOCA JUNIORS (no Grupo H, com o Palmeiras)
Seis vezes campeão / Dez vezes finalista / Está na Libertadores pela 27ª vez
Líder do Campeonato Argentino
Técnico: Guillermo Barros Schelotto (desde mar.2016)
Ocupa a ponta do Campeonato Argentino – sem cair – há 15 meses. É um grande time, o melhor do país, mas entra na Libertadores pressionado demais pela distância de sua última Copa erguida  – só em 2007, quando Riquelme bailou o Grêmio. Vai contar com um ataque poderosíssimo com Tevez, Ábila e Pavón, trio que será abastecido pelo pícaro colombiano Cardona. Os pontos fracos são o goleiro, a defesa e a atual falta de capacidade em mata-matas – o que não condiz com sua tradição copeira.

A Bombonera vai ser a jaula selvagem de sempre, enlouquecendo os adversários e os policiais com os escudos. A grande interrogação é Carlitos Tevez: está muy motivado, mas um pouco manco pelos 34 anos e 340.000 patadas recebidas.

O 23 será o número de Tevez nesta Copa – Olé/Reprodução

RIVER PLATE (no Grupo D, com o Flamengo)
Três vezes campeão / Cinco vezes finalista / Participa pela 34ª vez
20º no Campeonato Argentino
Técnico: Marcelo Gallardo (desde jun.2014)
O time está desesperado para enterrar a surpreendente eliminação de 2017. É uma seleção vestida de vermelho e branco – e com o técnico que, para muitos, por mérito deveria estar no lugar que hoje é de Jorge Sampaoli.

Para perplexidade de todos, o time agarrou uma tremenda depressão pós-Lanús e empacou no Campeonato Argentino. Vive sua pior fase desde que voltou à elite no país, em 2012. Uma das razões é a inevitável comparação com o Boca, que está com 24 pontos a mais no torneio local.  Tem elenco e tem raiva. Resta saber se vai ser suficiente para decolar ou explodir de vez.

INDEPENDIENTE (no Grupo G, com o Corinthians)
Sete vezes campeão / Sete vezes finalista / Participa pela 20ª vez
4º no Campeonato Argentino
Técnico: Ariel Holan (desde jan.2017)
O atual campeão da Sul-Americana sobreviveu a um desmanche que parecia fuzilar a equipe. O time está mais fraco depois das saídas de Barco (para o Atlanta-EUA) e Tagliafico (para o Ajax), mas readquiriu a mística copera que sempre caracterizou o clube. Ojo: jogar no Libertadores da América, em Avellaneda, vai ser bem difícil para os brasileiros. O técnico é uma máquina de pensar e tem sempre uma solução para tudo – vide o sufoco do Grêmio na final da Recopa, quando não marcou nem um golzinho sequer no Rojo, que se bancou sempre com um homem a menos.

ESTUDIANTES (no Grupo F, com o Santos)
Quatro vezes campeão / Cinco vezes finalista / Participa pela 15ª vez
10º no Campeonato Argentino
Técnico: Lucas Bernardi (desde set.2017)
É um time que não melhorou nada depois da eliminação na primeira fase na última Libertadores. Pelo contrário: dá para dizer que até piorou. Juan Sebastián Verón já é um presidente questionado, e a equipe levada a campo não tem jogadores que encantem ou ameacem os brasileiros. Destaques? O goleiro Andújar e o zagueiro Desábato (aquele da cena de racismo com Grafite). Pouquíssimo, convenhamos.

Coudet: loco un poco, nada más – Racing/Divulgação

RACING (no Grupo E, com Cruzeiro e Vasco)
Uma vez campeão / Uma vez finalista / Participa pela 9ª vez
5º no Campeonato Argentino
Técnico: Chacho Coudet (desde dez.2017)
O explosivo Coudet, ex-Rosario Central, é um dos treinadores mais malucos da história da Argentina e do planeta. Por enquanto, está brillando e colocando o Racing como uma verdadeira sensação no país. É um time muito forte no ataque, com Centurión em boa fase ao lado do craque Lautaro Martínez, de 20 anos, já de malas prontas para a Europa. Outro grande nome é o guerreiro Licha López, em que pese suas pernas cansadas de já quase 35 anos. Está mordido para não ficar por baixo do rival local Independiente. Arranca esta Libertadores compondo com River e Boca o trio argentino mais pesado para os brasileiros.

ATLÉTICO TUCUMÁN (no Grupo C, sem brasileiros)
Jamais foi finalista ou campeão / Participa pela 2ª vez
12º no Campeonato Argentino
Técnico: Ricardo Zelinski (desde jun.2017)
É o baixinho invocado. Extremamente esforçado, mas extremamente limitado, como mostrou na final da última Copa Argentina, quando perdeu por 2 a 1 para o River. O técnico é excelente, mas o time não ajuda. Chegar ao mata-mata vai ser um milagre. Passar para as quartas, então, um título para Tucumán.


Obsessão? Brasil já virou as costas e deixou de disputar a Libertadores
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Tales Torraga

Inflada e com a pompa de ser uma ''obsessão'' para os clubes grandes do Brasil, a Libertadores arranca sua fase de grupos nesta semana com Grêmio, Palmeiras, Vasco, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Santos como representantes do país.

Quem tem menos de 30 anos talvez custe a acreditar, mas houve um tempo em que o Brasil simplesmente virava as costas para a Libertadores e se recusava a disputá-la, como ocorreu nas edições de 1966, 1969 e 1970.

O Divino Ademir e o Verdugo Pedro Rocha, craques do tempo em que o Brasil sorria e não se estressava com a Libertadores – Foto: Portal Terceiro Tempo/Que Fim Levou?

A primeira ausência, em 1966, foi causada pela discordância dos dirigentes brasileiros com o regulamento, que naquele ano começou a prever a participação não só dos campeões de cada país, mas também do vice de cada nação.

(Quem viveu esta fase deve mesmo custar a aceitar o formato atual…)

O segundo ano em que o Brasil não quis saber da Libertadores foi 1969. Além das barganhas políticas de sempre, a alegação mais forte da época era a impossibilidade de designar seus representantes, pois a Taça Brasil do ano anterior – 1968 – foi caótica e durou simplesmente 14 meses.

Uma das alternativas colocadas em prática foi chamar Santos e Internacional, campeão e vice da Taça Roberto Gomes Pedrosa daquele 1968 – mas ambos abriram mão das vagas.

O terceiro e último ano em que o Brasil ignorou a Libertadores foi 1970. A CBD, que então comandava o futebol nacional, discordou do calendário da competição, alegando que ele atrapalharia a preparação para a Copa do Mundo que seria realizada no México. A Libertadores de 1970 foi de fevereiro a maio. A estreia do Brasil no Mundial contra a Tchecoslováquia ocorreu em 3 de junho.

Outra razão alegada pela CBD era a violência excessiva do torneio – mais uma maneira de justificar a prioridade pela seleção e pela integridade física dos seus jogadores, que naqueles tempos atuavam todos no futebol local.

Além das datas e da violência, as outras três justificativas que faziam parte do discurso anti-Libertadores dos dirigentes brasileiros eram: 1) As arbitragens tendenciosas; 2) A complicada logística para viagens; 3) O baixo retorno financeiro.

Era por isso, por exemplo, que o Santos de Pelé preferia fazer excursões e encher os bolsos pela Europa em vez de bancar as pancadas de jogadores e torcedores argentinos e uruguaios.

O Santos seria o representante brasileiro nas Libertadores de 1966 e 1969 – e encampou as ausências do país em ambas. Em 1967, fez mais: vice da Taça Brasil de 1966, simplesmente ignorou a Libertadores, deixando o Cruzeiro como único clube do país.

As Libertadores sem brasileiros foram conquistadas por Peñarol (1966) e Estudiantes (1969 e 1970).

Hoje, a distância da Argentina para o Brasil em número de títulos é de seis conquistas – 24 a 18. O Uruguai fecha o pódio, com oito troféus.


20 anos depois, filme conta bastidores do ‘outro’ Argentina x Inglaterra
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Tales Torraga

Dura apenas 20 minutos, mas é excelente o documentário publicado nesta sexta (23) pela ''Four Four Two Films'' sobre o estremecedor duelo de oitavas de final entre Argentina e Inglaterra na Copa do Mundo de 1998. A partida é lembrada até hoje em Buenos Aires como a ''Batalha de Saint-Ettiene'', e a euforia argentina acabou sendo tamanha que os torcedores que estavam no Obelisco causaram um dos maiores quebra-quebras da história, desatando uma insana briga com a polícia.

O futebol em 1998 era extremamente diferente do atual. A Itália tinha o melhor campeonato do mundo, e quase todas as estrelas da seleção comandada por Daniel Passarella jogavam lá. A Premier League era uma então recém-nascida, e os jogadores pareciam vestir camisas emprestadas de um irmão mais velho: extremamente folgadas, foram puxadas e rasgadas naquele confronto que terminou com vitória argentina apenas nas cobranças de pênaltis.

Foi uma verdadeira batalha, como revela o documentário, com trocas de golpes em campo e fora dele. A expulsão de David Beckham ao pisar em Diego Simeone não é o único grande momento resgatado, como também o gol maradoniano de Michael Owen e o ''lance de laboratório'' de Javier Zanetti para empatar por 2 a 2 uma partida que a Argentina merecia estar perdendo por 3 a 1 ainda no primeiro tempo.

Aquele Mundial foi emblemático para a Argentina por ser o primeiro sem Maradona. E eliminar os ingleses em um jogo dos mais ásperos causou no país a sensação de que a equipe de Batistuta e Ortega tinha chances de ser campeã da Copa do Mundo de 20 anos atrás – a Inglaterra, afinal, tinha uma das suas melhores gerações e surgia como real candidata àquela conquista. Mas o sonho no Mundial de 1998 virou pesadelo nos pés do holandês Dennis Bergkamp, que marcou um golaço histórico no último minuto das quartas de final e despachou os ''soldados de Passarella'' em uma das eliminações argentinas mais dolorosas de todas.


Tevez pinta favela na parede da sua mansão
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Tales Torraga

Carlitos Tevez é, disparado, o jogador em atividade na América do Sul que mais acumulou dinheiro na carreira que já está na 17ª temporada de gols e patadas recebidas por Boca, Corinthians, West Ham, Manchester United, Manchester City, Juventus e pelos chineses do Shanghai Shenhua, onde ganhou R$ 400 mil por dia.

Apesar da fortuna e de morar em uma das casas mais luxuosas de San Isidro, cidade chique que fica colada a Buenos Aires, Carlitos faz questão de sempre relembrar suas origens. E o detalhe mostrado pela revista ''Paparazzi'' é dos mais saborosos: o astro do Boca simplesmente transformou o Fuerte Apache, favela onde nasceu e viveu até os 15 anos, em um mural na academia de sua mansão.

Pintura da favela onde nasceu Tevez – Revista Paparazzi/Reprodução

A mansão de Tevez é digna da sua fortuna. Segundo a revista, a casa tem garagem para 15 carros e uma boate subterrânea com isolamento acústico para não incomodar os vizinhos.

O camisa 32 do Boca está com 34 anos e já repetiu diversas vezes que só não parou de jogar porque quer ganhar mais uma Libertadores pelo clube antes de se aposentar. Tevez hoje é visto pelos portenhos como praticamente um dirigente do Boca. Realiza diversas campanhas publicitárias e resolve tudo o que bem entende diretamente com o presidente Daniel Angelici, com quem tem relação estreita.

Mas a fama e a proximidade com os poderosos não o impedem, por exemplo, de seguir regando as amizades da infância. Desde que voltou ao Boca, no mês passado, Tevez tem sido encontrado seguidas vezes jogando com os colegas no Fuerte Apache, onde costuma levar o filho Lito, de três anos. Carlitos criou grande polêmica na Argentina ao dizer que faz questão da companhia do filho para ''conviver com os meninos de lá e apanhar um pouco, para não desmunhecar''.


Opinião: O Independiente não joga com o Grêmio, e sim contra o Boca
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Tales Torraga

O Independiente vive uma noite muy especial. Para quem tem sete Libertadores – o maior campeão da história do maior torneio da América -, esta Recopa Sul-Americana não ''agregaria valor'' no meio de tantas taças importantes.  Quem pensa assim está enganado. Não é a Recopa que está em jogo. É o sabor de voltar a ser o ''Rei de Copas'' da Argentina e empatar com o Boca Juniors no cume das conquistas internacionais, com 18 troféus. É por isso que uma das primeiras falas do técnico Ariel Holan em Porto Alegre foi ''viemos para ganhar ou morrer''.

O Grêmio sim joga por uma taça. Já o Independiente vai guerrear pela sua honra.

Este apelido, Rey de Copas, está colado na história do Independiente, e escrito com sangue vermelho. Não o sangue azul – e ouro – que opacou justamente o período mais obscuro da história do clube de Avellaneda, que precisou esperar 15 anos, da Supercopa de 1995 até a Sul-Americana de 2010, para voltar a dar uma volta olímpica internacional. O Boca, exatamente nesta fase, lotou as suas estantes, e se transformou, na virada do milênio, no que o Indepediente havia sido nos anos 70.

A Recopa desta noite em Porto Alegre pode ser resumida exatamente desta forma para o Independiente. Não é o Grêmio e não é o troféu. É se olhar no espelho e fazer as pazes com o orgulho de ser o maior campeão internacional da Argentina.

Seria o fechamento de um ''ciclo virtuoso''.

Desde sua chegada ao clube, o técnico Ariel Holan, criança de arquibancada quando o Independiente dominava a América nas décadas distantes, se esforçou para reconstruir esta mística. Os jogadores passaram a cumprimentar a torcida como nos bons tempos e os antigos ídolos se aproximaram. As vitórias também voltaram ao alcance vermelho. Estancar este fluxo no Sul vai custar ao Grêmio bem mais que bom futebol. Resta saber se ele vai estar à altura de tal sacrifício.

* Atualizado: As razões da superação com um jogador a menos estavam todas aqui…


Macri favorece o Boca porque quer se reeleger, dispara ídolo do River
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Tales Torraga

E a paranoia explodiu de vez na Argentina.

Como o blog tem relatado, o país mergulhou nas suspeitas de um complô pró-Boca – rival do Palmeiras na fase de grupos da Libertadores, é sempre bom lembrar. E tais suspeitas ganharam contornos drásticos com os erros grosseiros de arbitragem que prejudicaram demais o River Plate no 2 a 2 contra o Godoy Cruz no último domingo (18), em pleno Monumental. O estádio contou com público de cerca de 50.000 pessoas, e todas elas verbalizaram sua raiva insultando Mauricio Macri, o hoje presidente da Argentina que foi mandatário do Boca entre 1995 e 2008.

A fúria é tamanha que um dos maiores ídolos da história do clube de Núñez, o ex-meia Beto Alonso, veio a público para dar um depoimento cru e que deve ter muitas consequências na Argentina a partir de agora.

Beto Alonso e Mauricio Macri – Olé/Reprodução

As fortes declarações de Alonso na última noite à Fox Sports foram:

''A ordem para prejudicar o River vem de cima. Do presidente da nação. Tudo volta. Em 2019, teremos eleições. E Macri é torcedor do Boca e governa para o Boca.''

''Beneficiar o Boca não, porque está muito longe do campeonato, mas sim para golpear o River. Querem que chegue destroçado psicologicamente à final da Supercopa Argentina [contra o próprio Boca, em 14 de março] e que não armem um time, porque se os resultados começam a sair, a equipe ganha corpo e evolui. Mas vamos ganhar esta final da Supercopa da mesma forma, que fique claro.''

Alonso insistiu:

''Macri é torcedor do Boca, nada mais. E governa para o Boca. Menem era fanático pelo River, mas nunca o vi levantar um telefone pelo clube. Não vejo Macri, mas você percebe que o único que interessa a ele é o Boca. Eu o conheço. Há ministros que torcem para o River? Sim, mas eles não têm a mesma força. Olho aberto: vão nos jogar na merda, hein?''

Capa do ''Olé'' nesta terça – Reprodução

''O Boca ganha peidando [gíria grosseira para dizer que vence no sufoco] todos os seus jogos. Mesmo que eles cheguem melhor a esta final, o River vai ganhar.''

A final citada por Alonso é a Supercopa Argentina que será disputada em 14 de março, uma quarta-feira, em jogo único na cidade de Córdoba. A Supercopa cruza o ganhador do último Campeonato Argentino (Boca) contra o vencedor vigente da Copa Argentina (River).

É a primeira vez que os dois maiores clubes do país fazem uma final direta desde o Argentino de 1976, quando deu Boca. O clima em Buenos Aires é terrível, e o Boca x River que se instala desde já faz com que os mais lúcidos realmente temam pela violência que tal decisão pode desatar na capital e em todo o país. Juntas, as torcidas dos dois clubes representam cerca de 70% da população argentina.

O encontro entre Macri e Schelotto – TyC Sports/Reprodução

Macri, pelo visto, não se importa nem com as suspeitas e nem com as críticas. Na tarde desta segunda (19), em plena tempestade de insultos, ele recebeu Guillermo Barros Schelotto, técnico do Boca, na Casa Rosada, a sede do governo.

O jornal ''Olé'' publicou nesta terça (20) que o encontro entre Macri e Schelotto foi um ''mero almoço de amigos que, se cancelado, aí sim criaria suspeitas''.


Por que os argentinos cantam nos estádios contra o presidente Macri?
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Tales Torraga

Nem o 1 a 0 do Boca sobre o Banfield – com gol de Tevez – ou o 2 a 2 do River com o Godoy Cruz, com gol de Pratto. A notícia do esporte nesta segunda (19) em Buenos Aires é o coro das mais de 50.00 pessoas ontem no Monumental de Núñez contra Mauricio Macri, o presidente da Argentina. Nada novo. Só a repetição do que ocorreu há duas semanas no Nuevo Gasómetro, quando um 1 a 1 entre Boca e San Lorenzo desatou uma verdadeira loucura coletiva contra a AFA e contra Macri.

Capa do Olé desta segunda – Reprodução

Como se vê na capa, a arbitragem errou demais contra o River, e a torcida deixou o estádio com uma ''raiva monumental'', como repetiam as rádios na maravilhosa noite portenha de calor e de ruas cheias de gente repetindo ''Mauricio Macri, la p. que te parió, Mauricio Macri, la p. que te parió''.

É algo inédito na história recente do futebol argentino, tão historicamente ligado às altas esferas da política. Nos governos Kirchner, era comum que aparecessem até bandeiras – pagas – de apoio aos presidentes, e agora o que se vê é uma fúria descontrolada que não parece arrefecer tão cedo.

A razão dos insultos a Macri é o complô pró-Boca que o blog citou logo depois do 1 a 1 do Xeneize contra o San Lorenzo. Os erros de arbitragem contra os concorrentes diretos do Boca e contra o River, como na última Libertadores, fizeram o técnico Marcelo Gallardo explodir de raiva neste domingo: ''Vieram para cagar na gente'', como não deixa dúvida a capa do ''Olé''.

Macri foi o mandatário do Boca entre 1995 e 2008, e é presidente da Argentina desde 2015. Com ele à frente, o Boca viveu a sua fase mais vencedora – e é claro que os triunfos em campo serviram demais para que ele ganhar também nas urnas. O Boca é o clube mais popular do país, representando cerca de 40% da população que hoje beira os 44 milhões de argentinos.

O que está gerando esta convulsão social é o fato de a nova AFA, eleita no ano passado, ter como presidente um histórico torcedor do Boca, caso de Chiqui Tapia, o hoje mandatário. Para deixar tudo ainda mais concentrado no azul e ouro, o vice de Tapia na associação é Daniel Angelici, atual presidente do Boca.

Como o futebol está respigando negativamente na popularidade de Macri, é bem capaz que ambos – Tapia e Angelici – venham a público dar explicações, algo que até agora não ocorreu de forma séria. Outra grande pergunta daqui para a frente é saber se haverá repressão policial contra os insultos dos portenhos ao presidente.

Em campo, o Campeonato Argentino já está definido, com o Boca nove pontos (40 a 31) à frente do Talleres, o surpreendente segundo colocado. Estamos na 16ª rodada de um total de 27. Fora das quatro linhas, há uma verdadeira guerra pelo poder. Ela está a ponto de explodir. E com consequências impossíveis de prever.


Neymar é um símbolo da justiça capitalista, analisa Jorge Valdano
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Tales Torraga

Atacante titular da Argentina campeã da Copa do Mundo de 1986, Jorge Valdano talvez seja o jogador mais inteligente de todos os tempos. Erudito e eloquente ao analisar qualquer assunto, ele é chamado em Buenos Aires de ''El Filósofo'' – e quem convive com os portenhos sabe perfeitamente o quanto custa a alguém ser reconhecido pelos seus pares de maneira tão elogiosa.

Hoje com 62 anos e vivendo em Madri, onde trabalha como importante comentarista da TV BeIN Sports, Valdano deu, ao jornal argentino ''Pagina 12'', interessantes definições sobre as cifras que o futebol movimenta hoje em dia. Para ele, o projeto Neymar-PSG passa por fatores que não são abalados em nada por resultados como o 3 a 1 do Real sobre o time francês na última quarta (14) no Bernabéu.

Jorge Valdano, hoje com 62 anos – Divulgação

Na semana em que muito se falou de mimos, individualismos e valores humanos, o inigualável El Filósofo Valdano nos ajuda a ler Neymar de maneira mais ampla.

Algumas de suas opiniões:

''É curioso que provoque muito mais indignação o valor de um jogador de futebol do que o de um ator de Hollywood. Isso ocorre porque o futebol é um fenômeno para o povo, e porque ele sempre foi subestimado a nível cultural. Sempre está instalada aquela história de que 'um jogador vale 200 milhões de euros, mas um cientista não tem recursos para investigar isso ou aquilo'. Ao capitalismo, ou lhe aceitamos tudo ou buscamos outra ideologia que o suplante. O que ocorre com Neymar, com Cristiano Ronaldo ou com Messi não é nada mais do que a estrita justiça capitalista. São jogadores que produzem muitíssimo e que, por isso, ganham muitíssimo.''

''O futebol segue tendo a fragilidade de estar sempre submetido ao valor de uma bola [Sobre os resultados em campo]. Mas hoje há muito mais dinheiro que talento. Isso produz uma inflação evidente. Os grandes empresários já entenderam que esse é um jogo de heróis, e que nos tempos de hoje um jogador extraordinário vale mais que um bom jogo ou um bom resultado. Essa é uma das aberrações decorrentes do negócio. Quando se contrata um jogador de futebol, se contrata também alguém para o respectivo departamento de marketing produzir benefícios coerentes com o preço. E não é só vendendo camisetas que se recupera isso. É também com contratos de televisão, com a marca que veste a equipe e com a quantidade de empresas que querem se associar à instituição. No fim, esses grandes personagens te devolvem o preço.''

Valdano e Maradona em 1986 – Instagram Maradona

''A sensação é que o dinheiro ocupa um lugar cada vez maior. E ele representa os benefícios e as taras da globalização. Entre os benefícios, podemos encontrar que o futebol se universalizou mais que nunca. Antes, o negócio se definia no estádio, e agora é gerenciado desde canais infinitos que aproximam o apaixonado do mundo todo a torcer por times de cidades que nunca visitaram. E a parte ruim é a lei do galinheiro que sempre definiu o capitalismo mais feroz: a galinha de cima caga na de baixo. Os maiores estão cada vez maiores. E os menores, cada vez menores.''

''É impossível deixar de acompanhar o futebol. Por muito que a gente crie um refúgio, o futebol é um fenômeno que ocupa um espaço cada vez maior nos dias atuais. Na mídia, nas pessoas, em todos os lados. Vemos jogos permanentemente. Da minha parte, não preciso buscar nada em outro lugar, porque me adaptei à nova situação. As coisas que gosto, defendo. As que não gosto, as critico.''