Patadas y Gambetas

Sampaoli sinaliza saída de três medalhões diante da Croácia
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Tales Torraga

A Argentina assimilou bem o tropeço da estreia contra a Islândia. O blog apurou que a comissão técnica e os jogadores não tiveram nenhum atrito no dia seguinte ao 1×1 do triste sábado de temperatura quase negativa em Buenos Aires. Pode-se dizer que na seleção o clima até melhorou: o churrasco e o encontro com os familiares no domingo ajudaram na manutenção de um clima que nos treinamentos é sim positivo, mas que em plena competição demonstra as claras dificuldades de uma Argentina que parece não ter evoluído nada das Eliminatórias até aqui.

Mesmo se a estreia contra a Islândia terminasse com uma vitória contundente, a ideia inicial de Sampaoli era mexer na equipe para a partida contra a Croácia. E as suas alterações já planejadas vão ser colocadas em prática nos treinos desta segunda e terça.

A primeira mudança é a entrada de Gabriel Mercado pela direita, no lugar de Salvio, que sai da equipe. Sampaoli ainda tem uma pequena dúvida sobre a saída de Salvio pura e simples ou a sua entrada no lugar de Meza – esta é uma possibilidade que seus assistentes não levam tanto em consideração neste início de semana.

Outra possibilidade estudada pelo Pelado Sampa é a entrada de Mercado no lugar de Rojo. De fato, é um risco que a Argentina corre contra Mandzukic, companheiro de Higuaín na Juventus, especialmente na bola aérea.

Sampaoli percebeu também que o doble cinco com Biglia e Mascherano não tem futuro. ''Contra a Croácia vamos precisar correr mais'', desliza o corpo técnico. Não há mesmo dúvida de que não resta outra alternativa diante para tirar a bola de Modric e Rakitic.

Que ninguém se espante se a Argentina se mostrar contra a Croácia com Banega, Lo Celso e Enzo Pérez no meio – embora esta alternativa ainda precisa ser validada nos treinamentos. É uma mudança radical e que talvez não ocorra na melhor hora – embora não exista ''melhor hora'' em uma Copa.

Com a saída de Biglia e Mascherano, um outro medalhão se vê muito pressionado e praticamente fora da partida contra a Croácia: Ángel Di María, de participação nula contra a Islândia, que cede lugar a Cristian Pavón.

Oferecer uma sintonia Banega-Messi-Pavón. Não dá para querer que Messi faça absolutamente tudo. Embora na estreia ele não tenha sido capaz de fazer nem o mais simples, que era o gol de pênalti.

As três finais perdidas podem tranquilamente somar mais uma: a desta quinta contra a Croácia. Tango, sofrimento, melancolia. Un infierno, nomás.

Caballero; Mercado, Otamendi, Rojo e Tagliafico; Banega, Lo Celso, Enzo Pérez e Messi; Pavón e Agüero. Este, por enquanto, é o time preferido de Sampaoli. É uma equipe mais equilibrada do meio para a frente. Mas a defesa segue assustando demais até contra times fracos. E isto está longe de ser o caso da Croácia.


Argentina corre risco de cair fora logo de cara
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Tales Torraga

A Argentina de Jorge Sampaoli sofreu com Venezuela e Peru nas Eliminatórias. E agora, na estreia da Copa, não conseguiu vencer a Islândia, a adversária teoricamente mais fraca do difícil Grupo D, que tem também Croácia e Nigéria.

Messi lamenta em Moscou – AFA/Divulgação

O cenário é tão óbvio quanto alarmante: ou a equipe melhora bastante desde agora ou o risco de eliminação logo na primeira fase é sim muito grande, como falamos desde o sorteio, ainda em dezembro do ano passado.

O mais preocupante nem é o rendimento da equipe, que não conseguiu ganhar nem este típico jogo do ''ataque contra a defesa''. O que inspira total desconfiança é a linguagem corporal de todos – jogadores e principalmente do apavorado técnico.

Son los nervios, muchachos.

Este jejum argentino de 25 anos sem títulos está transformando qualquer jogo da seleção em um caminhão de cobrança insuportável para esta geração já tão golpeada pelas derrotas e pela desorganização endêmica do futebol do país. Desde a chegada ao estádio dava para perceber que o time ainda carrega uma espécie de bloqueio mental que causa situações bizarras como esta, a de não vencer, em plena Copa, uma adversária que tem apenas 10% da população de Buenos Aires.

E se esta pilha de nervos foi verificada logo na estreia, é muito difícil imaginar que a tranquilidade venha na decisiva e complicada próxima partida, contra a Croácia, às 15h (de Brasília) de quinta. O cenário da Argentina é mais que turvo, e sim delicado. E nem por quem está em frente – e sim pelo que ela carrega dentro de si.

Em sua primeira declaração depois do jogo, Mascherano foi direito ao ponto: ''É proibido desanimar''. Resta saber se isso vai ser possível com tamanha estridência dos torcedores e com esta terrível carga negativa que segue sem conhecer seu fim.


Esta Argentina é a maior incógnita desde 1994
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Tales Torraga

E finalmente chegou o dia. Mais do que estrear na Copa do Mundo, a Argentina de Jorge Sampaoli vai enfim mostrar a sua cara. A extensa pesquisa que fizemos para o livro ''Copa Loca'' nos permite afirmar sem sustos: desde os EUA-1994, quando Maradona, Caniggia e Batistuta ainda jogavam, que a Argentina não debutava em um Mundial mergulhada em tantos mistérios e sendo uma incógnita tão gigante.

Ali, a grande questão era o retorno de Maradona. Depois, em todas as Copas, para o bem ou para o mal, a Argentina que se apresentou já era a esperada pelo público e pelos comentaristas – em que pese surpresas negativas como a de 2002, quando foi injustamente eliminada ainda na primeira fase, somando quatro pontos e só levando dois gols (um de falta e outro de pênalti). Terrible, pero ya tá.

Um resquício de 1994 no caminho de Messi na Rússia – Montagem/TyC Sports

Voltando ao presente, precisamos ser sinceros: antecipar qualquer coisa a respeito do funcionamento da equipe diante da Islândia vai ser chute. A partida deste sábado em Moscou vai ser a 12ª de Sampaoli no comando da Argentina, e a sua 12ª formação diferente. Há improviso e há desentrosamento. Só mesmo a argentineada típica pode encobrir esta séria limitação achando que a primeira fase vai servir para ajustar a equipe e os mata-matas vão servir para ratificar o favoritismo azul e branco. Copas do Mundo não toleram mania de grandeza. O grupo da Argentina é difícil e qualquer deslize pode representar um adeus precoce.

O próprio período de trabalho de Sampaoli à frente da Argentina é curto demais – este seu mísero ano de trabalho faz com que ele arranque a Copa com a menor rodagem de um técnico argentino desde o Mundial da Inglaterra, em 1966.

Além deste desentrosamento já citado, o elétrico treinador encara também outro problema derivado: a falta de ritmo – esta Argentina não enfrenta um rival sério desde a surra de Madri e os 6×1 engolidos frente a Espanha em 27 de março. São dois meses e meio sem futebol de verdade. Houve um amistoso de mentirinha no meio contra o Haiti, mas não há o que considerar. Mesmo a presença de Messi precisa ser colocada em suspense – a sua última vez vestindo azul e branco em um jogo digno de nota foi ainda em novembro, contra a Rússia.

Grande exemplo da incógnita que vai ser esta Argentina, o goleiro Caballero estreia nesta Copa com apenas duas partidas defendendo a seleção. Tagliafico, o lateral-esquerdo, tem só três partidas; Salvio, atacante pela direita que vai ser improvisado na lateral, atuou apenas em oito; Otamendi (53) e Rojo (55 jogos) são mais experientes. Otamendi é um líderes em campo, já Rojo, escalado como zagueiro, também precisa atuar no improviso, ala pela esquerda que é. Seu físico gera dúvida. Ficou parado por sete meses depois de uma grave lesão no joelho.

A defesa vai precisar tomar cuidado com o jogo aéreo da Islândia. Os europeus têm média de altura de 1,86 metro, exatos dez centímetros a mais que os argentinos.

O meio-campo será reforçado. Sampaoli nas entrevistas deixou claro que o seu 4-2-3-1 será substituído pelo 4-4-2. Três jogadores vão atuar como volantes: o questionado Mascherano, o também avariado fisicamente Biglia e Meza, do Independiente, que vai atuar um pouco mais recuado, deixando que Salvio avance pela direita. Di María, pela esquerda, vai ajudar a servir Messi e Agüero no ataque.

O poder de contenção é um grande dilema. Se a Argentina tentar sufocar a Islândia, os contra-ataques especialmente pelo alto podem pegar a defesa mal postada. O papel que a Islândia vai assumir para si vai ser essencial. Se ela se der por satisfeita por apenas estar em campo, as chances argentas crescem. Se a Islândia resolver partir para o jogo, aí a chance de partido duro e nervoso aumenta demais.

A Argentina tem histórico de vitórias em estreias, mas vitórias con lo justo, apertadas, mesmo contra países estreantes em Mundiais, como ocorreu em 1998 (1 a 0 no Japão), 2006 (2 a 1 na Costa do Marfim) e 2014 (2 a 1 na Bósnia). Será o caso da Islândia amanhã. Uma vitória mínima deste tipo seria sim um excelente negócio para Sampaoli, Messi e companhia. Quase uma goleada, para ser sincero.

Vamos comentar a estreia argentina na transmissão ao vivo do UOL Esporte, como faremos em todo o Mundial. Todos são muy bienvenidos. O blog está no ar desde o comecinho de 2016 procurando descrever e ambientar absolutamente todos os passos desta louca aventura que começa daqui a pouco em Moscou.

Hoy es hoy, ArgentinaUn lindo Mundial para todos.


Bobby Fischer: o louco elo entre Argentina e Islândia
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Tales Torraga

Nada de futebol, nada de bola, nada de Copa do Mundo.

Fama da Islândia no esporte? Só no xadrez.

Tudo porque a Islândia foi o lar escolhido pelo genial americano Bobby Fischer.

Mas para contar esta história precisamos pousar na Argentina, outra pátria que adotou Fischer como um legítimo hijo seu.

Para os mais novos ou não tão chegados em xadrez: Robert James Fischer foi mais que um jogador, e sim um símbolo do embate americano-soviético na Guerra Fria.

Aos 6 anos, ganhou o primeiro tabuleiro. Aos 14, já era campeão absoluto dos EUA.

Nesta época – 1959, com 16 -, desembarcou em Buenos Aires pela primeira vez.

Amou a cidade. Seu temperamento instável e seus delírios encontraram ressonância portenha. Fischer era mais portenho que os próprios portenhos. Obsessivo e brilhante. E uma pessoa com hábitos tão peculiares como aparecer, sem avisar, na redação do jornal ''La Crónica'' simplesmente porque o lia.

(E de onde saía sem se despedir, por supuesto.)

Fischer, o xadrez e os chicos de River e Boca: Buenos Aires 1971 – Gente/Reprodução

¡Que personaje!

Fischer esteve em outras cidades argentinas como Mar del Plata e Córdoba, mas respirou Buenos Aires outras três vezes, provando seu amor pela capital.

Esta frequência de visitas de Fischer a único lugar foi bastante incomum. Dizia abertamente não gostar de adultos – apenas do xadrez, dos animais e das crianças.

Sorrindo (!) no campo argentino – Gente

Bobby teve tudo isso em terras portenhas em 1969, 1971 e 1996 – a última, para jogar um match de seu xadrez aleatório no qual as peças saíam de posições diferentes das comuns. O dinheiro não apareceu. E Fischer disse adeus.

Sua mais famosa passagem por Buenos Aires foi a de 1971, quando se classificou para enfrentar o então campeão do mundo, o soviético Boris Spassky.

O Torneio de Candidatos, seletiva que designava o desafiante ao trono, ocorreu no Teatro San Martín, a quatro quadras do Obelisco, em uma avenida Corrientes que parava para torcer para Fischer destruir o também soviético Tigran Petrosian.

Bobby retribuía o carinho à sua maneira: devorando pizzas, batatas fritas e bifes (sempre com a mão) e percorrendo as muitas livrarias atrás de obras de xadrez.

Ia, encontrava o que gostava e saía sem pagar ou dizer nada. Tinha horror à imprensa. Uma das mais comentadas matérias de sua passagem está na revista ''Gente'', aquiTenta entender as razões que levavam, por exemplo, Fischer a carregar, dos EUA à Argentina, sua própria televisão para ver lutas de boxe. 

Em 1972, Fischer desembarcou na capital da Islândia, Reykjavik, para o Match do Século contra Spassky, um dos eventos dos mais transcendentes da história.

Venceu o duelo de 21 partidas entre julho e agosto daquele ano e tornou-se o herói americano no simulacro do embate entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Enfim campeão mundial, Fischer caminhou para um perigoso ostracismo que o jogou na loucura e o fez sofrer. Recusou-se a defender a coroa, passada por abandono a Anatoly Karpov.

Viveu sentindo-se perseguido.

Só saía para caminhar disfarçado e de madrugada. Numa deles, foi confundido com um assaltante e acabou preso e torturado.

Reapareceu em 1992 para novo match contra Spassky, desta vez na Iugoslávia. Violou sanções dos Estados Unidos e voltou a sumir. Foi reencontrado no Japão em 2004 para logo depois ser preso por usar passaporte inválido.

No ano seguinte, abriu mão da cidadania americana. Decidiu viver na Islândia.

Sua vida dedicada única e exclusivamente ao xadrez terminou em janeiro de 2008, aos 64 – o exato número de casas do tabuleiro.

Fischer hoje está enterrado em Selfoss, a 60 quilômetros da Reykjavik que ofereceu a paz, a reclusão e o silêncio que tanto buscou.

O silêncio deste sábado será interrompido pelo futebol. Por uma boa razão.

Fischer certamente pensaria assim. Milhares diante de TV.

E ninguém para atrapalhar sua eterna busca pela perfeição no tabuleiro.


É mais fácil corromper um brasileiro que um suíço, ataca Maradona na TV
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Tales Torraga

Diego Armando Maradona abriu na noite de ontem (13) o ciclo de programas ''De la mano del Diez'', que será transmitido pela TeleSUR, canal de TV da Venezuela que é transmitido também em Buenos Aires. Maradona é o comentarista da atração que será apresentada pelo uruguaio Víctor Hugo Morales, o locutor da mais famosa narração do seu épico gol contra os ingleses na Copa do Mundo de 1986.

Maradona e Victor Hugo – TeleSUR/Divulgação

Fiel à sua verborragia, Maradona, de 57 anos, com boa aparência, mas confusa dicção, fez pesados ataques aos mandatários do futebol em seus tempos de jogador, principalmente João Havelange e Julio Humberto Grondona, presidentes da Fifa e da AFA, que morreram em 2014 (Grondona) e 2016 (Havelange).

As frases mais importantes de Maradona em seu programa:

''Vou seguir combatendo a Fifa e isso não termina aqui. Faltam muitos dólares que se perderam no ar, que receberam Havelange, Blatter e o velho Grondona. Este dinheiro está com a família Grondona.''

''Você pode corromper um brasileiro, mas um suíço é mais complicado, e ainda assim Grondona conseguiu, de tão corrupto que era. O futebol precisa do dinheiro que Havelange, Blatter e Grondona roubaram. Que não parem de investigar. Há muito para contar.''

''Sobre o escândalo da Espanha, tenho minha posição. O senhor Lopetegui, representando um país, não pode assinar um contrato com uma equipe da Espanha ou seja de onde for. Ele brincou com a ilusão do torcedor. A Espanha e a Alemanha eram as seleções mais encaixadas do Mundial. Hierro não tem muito o que fazer. Xavi, mais que nunca, vai fazer falta demais. Ele é um catedrático do futebol.''

''O Mundial de 2026 no Canadá, Estados Unidos e México não me atrai. Não tem paixão. Os canadenses são bons esquiadores, os americanos querem fazer quatro tempos de 25 pela publicidade, mas quem sai ganhando é o México, sem merecer.''

Maradona no ''De la mano del Diez'' – TeleSUR/Reprodução

''Menotti agora fala que errou ao não me levar para jogar o Mundial de 1978. Por que ele diz isso, se já passou tanto tempo? Eu estava voando. Voando de verdade.''

''Cristiano Ronaldo está brigado com todo mundo, e isso pode ser melhor para Portugal, porque ele entra em campo, faz três gols e já sai para receber o dinheiro, de tão bravo que está.''

''A Alemanha tem três seleções. E qualquer uma das três, ganha de quem estiver do outro lado.''

''Da Argentina, posso dizer que o técnico não encontrou o time. Não posso falar com liberdade porque não estou na concentração. Hoje dependemos muito de Messi e de Otamendi. E Agüero precisa explodir, de uma vez por todas.''

''O meio-campo da Argentina, para ser sincero e conciso, é muito lento. Se a Argentina sai para pressionar o adversário, como pede o técnico, uma bola lançada por cima e pronto, você fica no mano a mano com os defensores. O retorno argentino é o que temo. Não estamos bem. Muito longe disso.''

O ''De la mano del Diez'' vai ao ar todas as noites, às 22h (locais, 21h de Brasília e Buenos Aires), até 15 de julho.


Argentina é a mais velha das 32 seleções, e idade pode ser fatal para o tri
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Tales Torraga

A decisão de Jorge Sampaoli de chamar Enzo Pérez para o lugar do lesionado Manu Lanzini gerou um dado que rende (ainda mais) discussão nas casas e nos cafés de Buenos Aires nesta quarta-feira (13) fria e chuvosa: a Argentina será simplesmente a seleção com a média de idade mais elevada do Mundial da Rússia.

Lionel Messi e companhia terão amanhã, na abertura do Mundial, média de idade de 29 anos, seis meses e 24 dias, deixando para trás a Costa Rica por um único dia. O cenário não é inédito. A troca de Lanzini (25) por Pérez (31) repete o Brasil-2014, quando a Argentina também foi a mais velha – 28 anos, 11 meses e seis dias.

Agüero, Messi e Sampaoli nas fotos oficiais – AFA/Divulgação

O time que está na Rússia é também a Argentina mais velha de todas as Copas.

Uma das frases mais repetidas pelos argentinos para contextualizar este problema na Rússia foi proferida pelo Cholo Simeone, técnico do Atlético de Madri: ''A Copa são quatro semanas e nada mais''. E este período de alta exigência física vai levar ao limite uma seleção que já está avariada antes mesmo de começar a jogar. Gabriel Mercado se recupera de lesão nas costas, e os estados físicos de Ever Banega, Huevo Acuña, Lucas Biglia e Kun Agüero também despertam cuidados.

(Isso sem falar no cenário mais que repetido da ''lesão da cabeça'', com o corpo acusando o altíssimo estresse mental, como ocorre hoje com Di María e Agüero e ocorreu no passado com o Ratón Ayala em 2002 e o Pájaro Caniggia em 1994.)

A falta de renovação da Argentina é escancarada por um dado em especial: mesmo com esta idade tão elevada, só nove dos 23 jogadores já têm experiência em Copas. É sintomático demais que atletas como Gabriel Mercado (31), Cristian Ansaldi (31), Federico Fazio (31) e, principalmente, os arqueros Armani (31), Guzmán (32) e Caballero (36) façam sua estreia em Copas já com tal bagagem.

O mais jovem do atual elenco argentino é Giovani Lo Celso (22 anos, nascido em 9 de abril), seguido de perto por Cristian Pavón (22 anos, nascido em 21 de janeiro), e no outro extremo aparece Caballero (36 anos, nasceu em 28 de setembro de 1981).

Os que estão abaixo da média de idade da Argentina na Rússia são: Marcos Rojo (28), Nicolás Tagliafico (25), Huevo Acuña (26), Maximiliano Meza (26) e Eduardo Salvio (27), além de Pavón e Lo Celso, ambos com 22.

No Brasil-14, a Argentina também contava com vários medalhões: Campagnaro (33), Maxi Rodríguez (33), Demichelis (33), Orion (32), Palacio (32), Andújar (30), Basanta (30),  Zabaleta (29), Lavezzi (30), Fernando Gago (28) e Augusto Fernández (27) foram convocados há quatro anos, mas não estão na Rússia.

A Alemanha que ergueu a Copa no Maracanã tinha média de 26 anos e 144 dias, contra 28 anos, 11 meses e 6 dias dos argentinos.

Os dez times com as maiores médias de idade na Rússia-2018:

1) Argentina: 29 anos, 6 meses e 24 dias
2) Costa Rica: 29 anos, 6 meses e 23 dias
3) ​México: 29 anos, 4 meses e 13 dias
4) Panamá: 29 anos, 4 meses e 13 dias
5) Egipto: 28 anos, 11 meses e 24 dias
6) Rússia: 28 anos, 10 meses e 3 dias
7) Arábia Saudita: 28 anos, 8 meses e 24 dias
8) Brasil: 28 anos, 7 meses e 8 dias
9) Islandia: 28 anos, 7 meses e 1 dia
10) Japão: 28 anos, 7 meses e 11 dias


O espantoso tabu que espera por Messi na Rússia
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Tales Torraga

Os mais atentos têm tudo na ponta da língua: a Argentina não conquista a Copa do Mundo há 32 anos e não ergue um troféu sequer com a sua seleção adulta desde 1993 – e lá se vão 25 anos desde aquela Copa América disputada no Equador.

Mas há um outro dado, mais escondido, que é um praticamente um golpe baixo no orgulho argentino às vésperas deste Mundial da Rússia que vai ser encarado pela ''seleção de Lionel Messi'', como Jorge Sampaoli já cansou de dizer em referência (e reverência) àquele que considera o ''maior de todos, acima de Pelé e Maradona''.

Messi treina na Rússia com o carinho da torcida – TyC/Reprodução

Pois bem: desde o dia 24 de junho de 1990, quando venceu o Brasil por 1 a 0, que a Argentina não derrota uma seleção campeã do mundo em uma partida por Copas. Aquele encontro mesmo só terminou com vitória azul e branca por milagre. Teve a ''água batizada'' entregue a Branco e os atacantes brasileiros quase amassaram as traves de Goycochea, acertando três chutes nos postes e ainda perdendo um gol inacreditável nos pés de Müller, sozinho, quase na pequena área, no último minuto.

Este tabu sem vencer um campeão em um Mundial já dura 28 anos. E quando falamos vencer, falamos vencer no tempo normal ou na prorrogação, sem contar as decisões por pênaltis para tirar a Itália em 1990 e a Inglaterra em 1998 – e sem somar também a queda ante a Alemanha de Lehmann e o seu papelzinho em 2006.

Desde aquele épico de genialidade de Maradona contra o Brasil no Delle Alpi de Turim, a Argentina enfrentou campeões em Copas sete vezes. São três empates (já mencionados, contra a Itália 1990, Inglaterra 1998 e Alemanha 2006) e quatro derrotas – uma para a Inglaterra em 2002 (1 a 0) e três para a Alemanha, o injusto 1 a 0 de 1990, o lapidário 4 a 0 de 2010 e o cortante 1 a 0 de 2014, com gol de Götze.

A Argentina pode cruzar na Rússia com uma campeã logo nas oitavas, com a França que está no Grupo C, ao lado de Peru, Dinamarca e Austrália. Ou nas quartas, contra a Espanha que atropelou a azul e branca por 6 a 1 em março.

Para deixar tudo ainda mais nebuloso para Messi e companhia, é preciso ressaltar que a Argentina foi a única campeã que desde aquele junho de 1990 não venceu nenhuma outra. As líderes nos aproveitamentos em tais confrontos desde aquelas oitavas de final de 28 anos atrás são Alemanha (69,7%), Uruguai (53,3%) e Itália (50,0%). O Brasil? Duas vitórias (Inglaterra e Alemanha 2002), duas derrotas (França 2006 e Alemanha 2014) e um empate (Itália 1994): 46,6% de efetividade.


Sampaoli vai deixar Argentina depois da Copa
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Tales Torraga

Que o desgaste entre Jorge Sampaoli, jogadores e a AFA é enorme, o blog narra desde março. Mas tudo o que aconteceu nos últimos dias em Barcelona e em Moscou sinalizam que não há mesmo outro caminho para a seleção argentina que não um rompimento do trabalho assim que terminar a Copa do Mundo da Rússia.

O semblante de Sampaoli diz tudo – Olé/Reprodução

O primeiro a dizer que Sampaoli não seguiria no cargo foi o ex-zagueiro Oscar Ruggeri, hoje comentarista do Fox Sports e um dos ''honoráveis'' convidados pela AFA para circular pela Rússia e conversar com os jogadores – ele já havia flanado por Quito, na partida decisiva das Eliminatórias ante o Equador. Quem também cravou a saída de Sampaoli foi Pipi Novello, comentarista da Rádio La Red, de Buenos Aires. E o blog, em meio à apuração do escândalo do suposto assédio sexual do técnico, confirmou a informação do seu iminente adiós.

Em se tratando de seleção argentina, a saída de Sampaoli é das mais naturais.

Das Copas de 1990 até hoje, em apenas uma única ocasião, com Marcelo Bielsa, em 2002, o treinador argentino se manteve no cargo depois do Mundial – o ''Loco'' durou um pouco mais: saiu em 2004, ao pedir demissão por estar ''sem energias''. Todos os demais caíram fora imediatamente, como Carlos Bilardo em 1990, Alfio Coco Basile em 1994, Daniel Passarella em 1998, José Pekerman em 2006, Diego Armando Maradona em 2010 e Alejandro Sabella em 2014.

Sampaoli chegou à seleção há apenas um ano e neste período comandou a equipe em 11 partidas. Mas já percebeu na própria pele o quão difícil é trabalhar em um órgão desorganizado e que não leva em consideração os planejamentos do treinador. Ele foi energicamente contra, por exemplo, a marcação dos amistosos contra Itália e Espanha em março, e não queria também atuar no último fim de semana em Israel, no amistoso que acabou enfim cancelado, para a sua alegria.

A AFA também está desgastada demais com a hiperatividade do técnico e com a necessidade de colocar panos quentes em dois escândalos sérios que já ocorreram com ele no cargo de maior responsabilidade do esporte no país. Em dezembro, na virada do ano, ele humilhou e quase agrediu um policial na festa de casamento da sua filha, e neste final de semana teve – sem nenhuma prova, que sempre se ressalte – a divulgação pela Rádio Mitre, a mais ouvida em Buenos Aires, de que ele assediou sexualmente uma cozinheira em plena concentração da seleção.

Outro tema de preocupação da AFA é a massiva rejeição que Sampaoli sofre hoje em toda a Argentina. Em pesquisa publicada neste sábado (9) pelo jornal ''La Nación'', nada menos que 61% consideram o treinador incapaz.

O Mundial da Rússia, assim, será uma melancólica questão de como encaminhar o final de trabalho e as respectivas multas pela quebra de contrato. O compromisso entre Sampaoli e a AFA dura até o Mundial do Catar, em 2022. Resta saber apenas se ele vai sair por cima, com uma cada vez mais improvável conquista argentina, ou se vai sair por baixo, como Maradona e Passarella, para citar só dois.

Que ninguém se espante se a confirmação oficial vier só lá por agosto: outra praxe da AFA é esperar o treinador se demitir (como Pekerman e Sabella) ou, na reunião para alinhar o trabalho pós-Mundial, forçar a barra em algum detalhe que incomode o treinador de turno para que ele também saia por contra própria. Foi o que ocorreu, por exemplo, com Maradona em 2010, que caiu atirando e chamando, quase aos prantos, o então presidente Julio Grondona de ''mafioso, mentiroso e traidor''.


Como fica a Argentina com a entrada de Enzo Pérez no lugar de Lanzini?
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Tales Torraga

A Argentina partiu hoje (9) da Catalunha para a Rússia para um novo momento na sua muy complicada preparação para a Copa do Mundo. Ya pasó de todo, che.

E que ironia: um titular foi cortado por lesão logo no primeiro dia – Chiquito Romero – e um titular foi cortado no penúltimo – Manu Lanzini. Jorge Sampaoli anunciou nesta manhã o substituto de Lanzini e surpreendeu muita gente em Buenos Aires: será o raçudo volante Enzo Pérez, 32, do River Plate, titular da final da última Copa do Mundo e titular também da partida derradeira das Eliminatórias, ante o Equador.

Outras opções à vaga eram Paredes (Zenit), Perotti (Roma) e Pizarro (Tigres-MEX).

A primeira observação da troca resvala no que sempre insistimos com a fraqueza defensiva desta Argentina – Lanzini é um meia, seria o parceiro de Messi na criação, e Pérez, a princípío como reserva, é o típico volante todo corazón que sabe sair para o jogo. É um jogador limitado, mas um atleta espetacular, competitivo como poucos outros. Leva a campo um perfil que nos encanta: mesmo ficando fora da lista dos 23 convocados, seguiu treinando por conta própria, quieto, sem nenhum alarde, como realmente tudo aquilo que faz. Enzo é un tipazo. Leva este nome porque o pai é torcedor fanático do River e tinha Francescoli como ídolo.

Pérez é tão gente boa quanto o Príncipe uruguaio. E sua dedicação em campo e sua entrega às camisas dos seus amores ficam bem claras na foto abaixo.

Enzo Pérez: uma raça que assusta – La Gaceta/Reprodução

Ele é o típico jogador laburante – ainda mais agora, aos 32 anos. Carrega o piano e rala o traseiro para que os outros brilhem. Sua grande virtude é exatamente esta. Representa a estirpe argentina um pouco abandonada de jogar dejando todo, espantando os adversários pela sua entrega total do primeiro ao último minuto.

Seu nível técnico caiu bastante no River neste 2018 – mas mesmo assim ele entregou o que era necessário na grande data do clube no ano, o título da Supercopa Argentina sobre o Boca. Enzo foi titular e jogou bastante bem.

Outro ponto importante: Lanzini era um dos jogadores mais queridos do grupo, e sua ausência foi bastante sentida por todos. Ocorreu no mesmo dia do aniversário de Mascherano, que mal comemorou a sua data especial. Clima zero para festejos.

A entrada de Pérez, de perfil tranquilo e agregador, e parceiro de viejas batalhas ao lado dos medalhões da seleção, ocorre também por isso, pelo fator anímico.

Sampaoli deve estrear a Argentina no Mundial no seu predileto esquema 4-2-3-1. Pérez estaria habilitado tanto para jogar no ''2'' quanto no ''3''. O time titular treinado hoje na despedida de Barcelona foi o seguinte: Caballero; Mercado, Otamendi, Rojo e Tagliafico; Mascherano e Lo Celso; Messi, Meza e Di María; Agüero foi o atacante titular, com Higuaín entre os reservas. Só uma reviravolta de última hora mexeria nesta formação para encarar a Islândia daqui a exatamente uma semana, quando a Argentina entra em campo pela Copa do Mundo – increíble… – dois meses e meio depois do seu último amistoso relevante, o 6 a 1 imposto pela Espanha em Madri.


Por que Messi nunca foi campeão pela Argentina? Estatística tenta explicar
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Tales Torraga

Fala-se de tudo sobre o martírio de Lionel Messi na seleção argentina. É mesmo intrigante demais que um dos melhores jogadores de todos os tempos tenha um rotundo zero no currículo de conquistas pelo seu tradicional – e exigente – país.

Mas uma estatística muitíssimo bem apurada por Juan Pablo Paterniti – autor do livro ''Messi 10.0'', só com a numeralha do craque – joga uma luz nesta questão.

Messi estreou com a camisa da Argentina em 17 de agosto de 2005, em um amistoso contra a Hungria. São 13 anos incompletos de lá para cá. E nada menos do que oito treinadores diferentes no comando da seleção.

A lista completa:

Os treinadores de Messi na seleção – @libromessi/Reprodução

Com esta rotatividade, como exigir que Messi conquiste um título por uma Argentina que, vale lembrar, já não ganhava nada desde 12 anos antes de ele estrear?

A última vez em que a AFA colocou um troféu em sua estante foi em 1993, com a Copa América disputada no Equador e vencida com um 2 a 1 diante do México. Depois disso, conquistas só nas divisões de base e nas Olimpíadas (2004 e 2008).

Calcular a média de partidas por treinadores de Messi deixa muito claro: o Pulga em momento algum contou com um projeto duradouro na seleção. Pegar seus 124 jogos e dividir pelos oito treinadores dá a quantidade surpreendente de 15,5 jogos a cada técnico – menos do que um mero turno completo pelo seu Barcelona.

Não é não cantar o hino, não é o pecho frio, não é ser diferente de Maradona.

O jejum de Messi na Argentina passa, por supuesto, pelo senhor do banco de reservas (de onde Lio não saiu, aliás, na derrota na Alemanha-2006, vai entender).