A mudez de Messi espanta mais que a bobeira de Neymar
Tales Torraga
Bien. Enquanto o Brasil discute o desastroso e desastrado comercial de Neymar, o olhar argentino para o tema é uma mescla do que trouxeram aqui os ótimos colegas Menon e Juca Kfouri. ''Pero qué querés que te diga? Propaganda? Bobeira? Vocês esperavam o quê? Quer algo mais bobo do que rolar no chão? A gente rola no chão quando é criança e não sabe andar. Rolar te pagando milhões de euros, boludo? Os jogadores estão fazendo os torcedores e os chefes de idiotas, loco. Vamos parar com isso, vamos ao cinema, vamos agarrar um livro, o Brasil está cheio de praias, é impossível a vida não ser melhor do que parar para ver um adulto milionário rolando no chão. Coitado de quem engole isso. Coitado mesmo'', me diz o amigazo Juan Saavedra, um dos portenhos com quem mais gosto de conversar sobre fútbol.
Este pensamento é horizontal entre os argentinos – aqueles que se dispõem a falar de Neymar, pelo menos. O Brasil, então, que tenha certeza: as pancadas que Neymar recebe entre os seus compatriotas não são nada perto do que o mudo Lionel Messi está levando na Argentina. O Pulga está fazendo jus à sua lamentável estampa de vestir azul e branco, olhar para o chão, fechar a boca e decepcionar.
Ele, capitão da Argentina, cinco vezes melhor do mundo, veterano de 31 anos, maior artilheiro da seleção em todos os tempos, não deu nenhuma declaração pública depois do misto de vergonha e loucura que foi a Copa do Mundo argentina, enfiando goela abaixo do torcedor a visão certeira do companheiro de UOL Matheus Pichonelli: a única coisa que vale é esta gelada relação padrão-empregado que parece imperar hoje em algumas cabeças pequenas do futebol mundial (as outras modalidades, com estrelas de estratos culturais mais elevados, fogem desta análise).
Exemplos da acidez argentina com Messi?
1) Ser chamado de ''cagão'' por Gustavo Lopez, um dos radialistas mais ouvidos do país, na La Red.
2) E de ''mau companheiro e pessoa tóxica'' por Alejandro Fantino, outro sucesso de audiência entre os argentinos no canal de TV Trece e na própria Rádio La Red.
''Don´t cry for me, Neymar'', cantaria Madonna.
Messi é capitão da seleção argentina há oito anos, desde o ciclo Diego Armando Maradona, e o fato de ele não se dar ao trabalho de se dirigir ao fanático argentino é um golpe pesado demais em uma torcida sofrida e passional e que, voltamos a repetir, não vai derramar uma lágrima sequer se ele não voltar nunca mais a vestir a camisa nacional.
Nem um recadinho no Instagram, nem um comercial oportunista, nem uma entrevista escolhendo o lugar, o entrevistador e as perguntas. Nada. Zero. Cero.
Em Buenos Aires, Messi tem uma estátua e uma estação de metrô decorada em sua homenagem (José Hernández, línea D). É pai de três crianças lindas e preza pelo bajo perfil, pela discrição, pelo silêncio.
Ser silencioso é uma coisa, mas não ter nenhum respeito pelo seu público é outra, é o que dizem os argentinos. E está cada vez mais difícil discordar.