Livro esclarece ‘racha’ entre Messi e Sampaoli na Copa
Tales Torraga
A campanha desastrosa da Argentina na Copa do Mundo será tema não de apenas um único livro – mas de certamente vários deles. E o primeiro a mostrar um pouco mais do que realmente ocorreu na Rússia é o livro digital ''El Mundial es historias'', do conceituado comentarista argentino Ariel Senosiain, que trabalhou, sempre in loco, em toda a cobertura da seleção na última Copa do Mundo.
Ele reproduz o diálogo entre Lionel Messi e Jorge Sampaoli na noite de 22 de junho, horas depois da derrota por 3 a 0 para a Croácia.
– O que você diz não chega até a gente. Já não confiamos em você. Queremos ter opinião.
– Opinião em quê?
– Em tudo.
– E vocês vão armar o time, dirigir os treinamentos, tudo?
Não é necessário identificar quem é Messi e quem é Sampaoli na conversa acima. A obra de Senosiain esclarece como esta geração tornou a autogestão como uma prática habitual – mas que trouxe sérias consequências na Rússia.
– Você me perguntou dez vezes que jogadores eu gostaria de colocar e quais não, e nunca te dei nomes. Diga na frente de todo mundo se alguma vez eu dei o nome de alguém.
Este foi Messi, tomando para si o controle do que aconteceria na seleção a partir dali.
Na conversa estavam presentes os 23 jogadores, a comissão técnica e o presidente da AFA, Chiqui Tapia, e o mandatário da AFA saiu em defesa de…Messi.
– Jorge, você precisa ceder.
Houve consenso. Sampaoli aceitou o discurso e não se alterou. Os escutou e deu a entender que era até mesmo o que ele gostaria de ter feito em outro momento.
Seu auxiliar, o cabeludo Sebastián Beccacece, disse que iria renunciar e deixar a Rússia com a competição em andamento. Só mudou de ideia ao ouvir Tapia e seu representante, Cristian Bragarnik.
– Diga para ele não ir, que é ele que os jogadores escutam.
Beccacece já vinha em um profundo desgaste com Sampaoli, e uma das razões para as brigas com o Pelado Sampa era o auxiliar dizer a ele, o tempo todo, que um técnico não poderia fazer tudo sozinho.
Com esses detalhes, entende-se os motivos que levaram Beccacece a pedir demissão assim que pisou em Buenos Aires. Fica nítida também a verdadeira recusa da AFA em fazer qualquer coisa diferente com Sampaoli a não ser afastá-lo do próprio ciclo da seleção.